Capítulo 20 Noite de mosquitos e risos

O sofá parecia um refúgio perfeito naquela noite. Eu e Otávio nos acomodamos ali, lado a lado, prontos para finalmente assistir ao filme que tanto queríamos ver. A sala estava mergulhada em uma penumbra confortável, iluminada apenas pelo brilho suave da televisão. Tudo parecia tão tranquilo, como se estivéssemos em um pequeno mundo só nosso, longe de qualquer aborrecimento.

Porém, logo o sossego começou a ser interrompido por um pequeno, mas irritante, zumbido. De início, ignorei, achando que era minha imaginação. Mas logo senti a picada, aquela sensação ardida e irritante que só um mosquito pode causar. Tentei continuar focada no filme, mas não deu. Outro mosquito atacou e logo estávamos ambos nos coçando, tentando inutilmente espantar os intrusos.

Olhei para Otávio, e ele parecia tão desconfortável quanto eu. A coceira começou a tirar toda a graça da noite. Foi quando ele, num gesto decidido, levantou-se de repente do sofá.

— Já volto. — disse ele, com uma determinação que eu não esperava.

Fiquei ali, me coçando e tentando entender o que ele pretendia fazer. Ouvi o som das gavetas sendo abertas na cozinha, o barulho de coisas sendo movidas, até que ele voltou, segurando uma raquete eletrônica. Não pude deixar de sorrir. Só Otávio mesmo para pensar nisso. Ele me olhou, com um ar meio triunfante, como se tivesse encontrado a arma secreta para acabar com nossa tortura.

— Pronto. — ele disse, acenando com a raquete. — Esses mosquitos não vão saber o que os atingiu.

Eu ri, mas era uma risada nervosa, porque a ideia de caçar mosquitos com uma raquete eletrônica parecia, ao mesmo tempo, ridícula e genial. Ele se posicionou no meio da sala, os olhos atentos, como se estivesse prestes a entrar numa batalha épica. O primeiro mosquito foi visto em pleno voo, ziguezagueando como se estivesse zombando de nós.

Otávio ergueu a raquete e, com um movimento rápido e preciso, deu o primeiro golpe. O som do choque, um estalo agudo, encheu o ambiente, seguido por um pequeno clarão azul. O mosquito, que até então parecia imbatível, caiu fulminado no chão. Otávio sorriu como se tivesse acabado de vencer uma grande batalha.

— Um a menos. — declarou, com um orgulho que me fez rir ainda mais.

Eu estava completamente hipnotizada pela cena. Não só pela eficácia da raquete, mas pela seriedade com que Otávio estava levando aquilo. Ele andava pela sala, atento a cada movimento, os olhos seguindo qualquer traço de zumbido. Cada vez que um mosquito se aproximava, lá estava ele, pronto para atacar. E a cada novo estalo da raquete, eu caía na gargalhada. Não era só pela situação em si, mas também pelo fato de que aquilo tinha virado um verdadeiro show.

— Você deveria ser contratado para isso. — eu disse, entre risos.

— Estou no meu melhor, admito. — respondeu ele, sem desviar o olhar do próximo alvo.

A caçada continuava e, a cada mosquito abatido, eu ria mais. O filme já tinha perdido toda a importância; o show era Otávio, e ele estava dando o melhor de si. O jeito como ele se movia, a seriedade em seu rosto enquanto empunhava a raquete, como se fosse uma espada de cavaleiro, era absolutamente hilário.

Num dado momento, ele girou a raquete no ar, como se estivesse finalizando uma performance, e o barulho de mais um choque ecoou pela sala. Eu não aguentava mais de tanto rir. A barriga doía, e eu mal conseguia respirar. Ver Otávio, geralmente tão tranquilo e sério, naquela missão ridícula, era a coisa mais divertida que eu já tinha presenciado.

— Acho que eles estão fugindo. — ele disse, tentando não rir também, mas seus olhos traíam a diversão que ele estava sentindo.

— Devem estar morrendo de medo de você. — respondi, limpando as lágrimas de tanto rir.

Otávio abaixou a raquete, finalmente satisfeito com sua caçada. O silêncio voltou a reinar na sala, agora sem o zumbido dos mosquitos. Ele se jogou de volta no sofá ao meu lado, ainda com aquele ar vitorioso.

— Pronto, agora podemos ver o filme em paz. — disse, como se não tivesse acabado de nos proporcionar uma das cenas mais engraçadas de nossas vidas.

Tentei me recompor, mas a imagem dele caçando mosquitos com tanta seriedade estava gravada na minha mente. Toda vez que eu olhava para ele, começava a rir de novo. E ele, contagiado pela minha risada, também começou a rir.

Aquela noite, que deveria ter sido apenas uma simples sessão de cinema, se transformou em algo que eu nunca esqueceria. Não por causa do filme, que sinceramente nem lembro sobre o que era, mas pela maneira como rimos juntos. Pela forma como uma situação tão comum se tornou um momento especial, cheio de alegria e descontração.

Depois de um tempo, com a sala finalmente livre dos mosquitos e a risada se acalmando, nos aconchegamos no sofá de novo. Coloquei minha cabeça no ombro de Otávio, ainda sorrindo. A raquete eletrônica estava ao lado dele, como uma espécie de troféu de sua grande vitória.

— Sabe, acho que não importa mais o filme. — confessei.

Ele olhou para mim e sorriu, passando o braço ao meu redor.

— O importante é que estamos juntos. — respondeu ele, apertando-me de leve contra si.

E ele tinha razão. Era exatamente isso. A noite não precisava de mais nada. Nem de grandes produções, nem de enredos complicados. Só precisava de nós dois, daquele sofá, das risadas e, claro, de uma raquete eletrônica para espantar os mosquitos. Por aquele momento me permiti aquele momento tão íntimo que era o toque entre nos.

A sala, que antes estava repleta de zumbidos irritantes, agora estava cheia de uma calma reconfortante. O filme continuava a rodar na tela, mas eu nem prestava mais atenção. O calor do corpo de Otávio ao meu lado, a lembrança do que acabara de acontecer, isso, sim, era o que importava.

Olhei para ele novamente e percebi que, por mais simples que aquela cena tivesse sido, ela era uma daquelas que ficaria gravada para sempre. Algo tão pequeno, tão insignificante, tinha se transformado em uma memória preciosa. E isso me fez perceber o quanto momentos assim, de pura descontração e alegria, são valiosos.

Com o coração leve e a mente tranquila, voltei minha atenção para a tela. Talvez fosse a hora de tentar assistir ao filme de verdade. Ou talvez não. Porque, no fim das contas, não era o filme que importava naquela noite. Era o riso compartilhado, a companhia um do outro, e a certeza de que, mesmo nas situações mais banais, a felicidade pode surgir de onde menos se espera.

Afinal, quando se tem alguém ao lado para compartilhar a vida, até mesmo a caçada a mosquitos pode se transformar em algo extraordinário. E eu sabia que, sempre que pensasse em aquela noite, uma risada calorosa surgiria em meus lábios, me lembrando de como é bom estar ao lado de alguém que te faz rir, mesmo nas situações mais improváveis.

Otávio, o caçador de mosquitos, tinha se tornado meu herói daquela noite. E eu não trocaria essa lembrança por nada.

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