capítulo 6 - Miller
Saí do escritório do meu tio e fui direto para o meu quarto, minhas costas latejavam e eu me esforçava ao máximo para não mancar. Entrei no meu quarto, tranquei a porta e me sentei na beirada da cama. Tirei o paletó e comecei a desabotoar a camiseta, doeu um pouco, pois a camiseta grudou nos cortes.
Alguém bate na porta, fico quieto para a pessoa achar que não tem ninguém, infelizmente não funciona
- Sei que você está aí, Miller.É a Keyse - A voz da minha irmã é abafada pela porta que nos separa. Ela percebe que não me manifestei, então continua a falar - Eu escutei atrás da porta do escritório do meu pai... me deixa ajudar?
Keyse é a única no mundo que sabe o que meu tio faz comigo, ela descobriu quando tinha oito anos. Um dia eu cheguei no meu quarto depois de uma "conversa" com meu tio, nesse dia eu esqueci de trancar a porta, minha linda irmãzinha invadiu meu quarto e viu como minhas costas estavam.
Keyse sempre foi muito evoluída para sua idade. Mas parece que depois que descobriu o que vinha acontecendo a muitos anos, ela amadureceu muito mais, hoje ela é uma menina de treze anos com mais maturidade que eu.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria trancado aquela porta e impedido que ela descobrisse tudo. Muitas vezes parece que ela tenta me ajudar para compensar o que seu pai faz comigo, como se de algum maneira aquilo fosse culpa dela, sem contar que deve ter sido um trauma enorme na cabecinha dela.
Me arrasto até a porta para destranca-la. Volto a me sentar na cama de costas para a porta, esperando que minha irmãzinha entre para me ajudar, mas ela não entra . Deve ter achado que realmente não tinha ninguém no quarto ou meu tio descobriu que ela queria me ajudar e...
Cerro os punhos, só de imaginar a mão da minha irmã toda vermelha - como várias vezes já vi -, tenho vontade de acabar com Lachlan com minhas próprias unhas. Mas então lembro que ele ainda é o pai da Keyse. Apesar de tudo, ela o ama, e ainda precisa dele.
Sinto algo gelado nas minhas costas, o que me fez contraí-las
- Calma, sou eu - Diz a voz de Keyse
Relaxo os ombros
- Não ouvi você entrando... - Digo
- Provavelmente estava imerso em seus
pensamentos
Keyse foi até minha cômoda e pegou meu kit de primeiros socorros. Ela se posicionou atrás de mim, em cima da cama, e começou a limpar os ferimentos.
- Ai - minhas costas ardiam com o remédio que ela passava - Isso arde - Keyse ignora minhas reclamações
Ficamos mais um tempo em silêncio, até que Keyse resolveu falar
- O que você aprontou dessa vez? - Ela
pergunta
- De acordo com seu pai eu desrespeitei os regentes e o insultei
Keyse ficou quieta, provavelmente sem saber o que me falar
- Prontinho - Diz ela depois de alguns minutos
- Obrigado - agradeço
Minha irmãzinha guardou o kit de primeiros socorros onde pegou e se sentou ao meu lado.
- Então, como foi seu... - Tentei puxar
assunto, mas ela me interrompeu
- Ouvi os regentes comentando que você
disse que iria dar um baile para escolher sua princesa - Ela falou tão rápido que precisou parar para recuperar o fôlego, então prosseguiu mais devagar - Isso é verdade?
- Está aí, um dos motivos por eu ter apanhado. Eu precisava despistar os regentes, então inventei esse baile.Seu pai gostou da ideia e marcou a data, o resto você já deve imaginar...
- Nunca entendi por quê você não quer se casar - Keyse me olha intrigada, a encaro por um tempo, antes de responder
- Eu quero me casar, Keyse - Respondo
- Então por que você está com as costas
sangrando?
- Porque eu não quero me casar com uma
qualquer
- Mas as filhas dos regentes não são "uma qualquer" - Ela usa as mãos para fazer o sinal das aspas
- São sim! Sei seus sobrenomes e o quanto seus pais são importantes, mas não sei seus sonhos, suas cores prediletas, seus hobbies. Por fora elas são lindas, mas não posso falar sobre seus interiores, pois não as conheço
- Um bom argumento
Sempre gostei do jeito que eu e minha irmã nós abrimos um para o outro, entre nós não há segredo, não há medo de falar o que pensa, desde sempre nós conversamos abertamente sobre tudo.
- Agora me diga irmãzinha, quando vou
conhecer aquele rapazote de quem você tanto fala? - Pergunto a fim de inverter os papéis, Keyse enrubesce.
Dou uma cotovelada leve nela
- É James o nome dele, não é?
Ela da um sorriso bobo e assenti
- Ele tem quantos anos mesmo?- Pergunto
- Quinze
- Ele luta?
- Miller, não começa com o interrogatório - dou risada - E sim, ele sabe lutar
- Ótimo - Digo me levantando
- O que vai fazer? - Pergunta ela quando vê que estou vestindo uma camisa limpa
- Vou ver se esse cara serve para você-
Respondo me colocando a caminho da porta
- Espera, o que ?
A ignoro. Abro a porta, saiu do quarto e fecho a porta para que Keyse não me interrompa
- Soldado? - Chamo um soldado que para a minha sorte estava passando pelo corredor
- Alteza?
- Preciso de um favor
- A seu dispor
- Por favor, peça para o mensageiro ir na casa de James Flocks e lhe avisar que o príncipe o espera para uma conversa na área de treinamento do palácio, amanhã às dez da manhã
- Darei o recado, alteza
- Obrigado, soldado...?
- Jake - completa ele
- Obrigado, soldado Jake.
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