Capítulo 35 - Rachel
Não sei que dia é, não sei quanto tempo estou aqui, só sei que estou morrendo.
Aqui é gelado, fedorento e úmido.Estou acorrentada na parede, deitada no chão tremendo de frio. Para o meu terror, escuto os sapatos batendo no chão de concreto, vejo passando dois soldados, eles estão carregando Miller, tento falhamente me levantar.
Eles destrancam a cela da frente e jogaram ele lá como se fosse um animal abatido, depois vão embora.
- Ele está desacordado - Informa Robert
- Está vivo, pelo menos
- Sim
O silêncio se instalou, afinal estávamos presos, qual era a graça de conversar? Mas naquele momento eu queria conversar, quero me manter acordada
- Robert, como você acha que o Rei ficou sabendo que estaríamos aqui?
- É ... não sei - Disse ele parecendo
incomodado - Você não deveria ficar falando
- Nem você - Retruquei
Robert fica em silêncio, vejo a sombra de Miller se mexer
- Ele acordou
- Sai de perto! - Grita Miller quando Robert tenta ajudá-lo a se levantar
- Calma Miller, não é culpa dele estarmos aqui - Digo
- Será? - Responde ele se sentando em um canto solitário da cela
"Será ?", o que ele quis dizer com isso? Confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha.
Era óbvio que alguém havia nos traído e contado ao rei que estaríamos aqui, mas será que Robert seria capaz de uma coisa dessas? Ele seria capaz de trair a mim, a Alice e a sua família?
Escuto novamente os passos, nunca odiei tanto o som de algo quanto odeio o som desses sapatos batendo no assoalho, cada vez que os escuto fico imaginando o que vai acontecer dessa vez, quem vai apanhar, quem vai ser interrogado, quem vai voltar desacordado, se é que vai voltar.
Dessa vez,a cela a ser aberta é a minha
- Vamos, garota - Diz o soldado caminhando até mim
O guarda solta meus pulsos e puxa meu braço pra cima me forçando a levantar, com dificuldade me ponho de pé, tento dar o primeiro passo, mas minhas pernas falham e caio de quatro
- Rachel - Escuto a voz de Miller
O soldado me pega no colo, quando saio da cela, vejo que Miller está colado à grade atento a tudo que está acontecendo.
O guarda me carregou por toda a masmorra, nossas celas ficavam em uma ponta, já a sala de interrogatório era na ponta oposta. Pelo caminho todos os presos gritavam e chacoalharam as grades conforme passávamos, fico imaginando o motivo de cada um estar aqui, o que cada um fez para conseguir o ódio eterno do rei.
O soldado que guardava a porta da sala de interrogação fez o favor de abri-la para que entrássemos.
A sala era uma verdadeira sala de tortura, era apertada e desprovida de iluminação. Ali tinha uma pequena mesinha com duas cadeira no centro, duas correntes pressas ao teto - as gotas de sangue fresco em baixo delas me indicam que Miller foi o último a usar isso -, uma cadeira com amarras junto a uma caixa com alguns utensílios, só consigo ver um chicote - e sinceramente não quero quero saber o que tem no restante da caixa.
- Sente-se - Ordenou o rei sentado do outro lado da mesa.
O soldado me pôs na cadeia junto a mesa e voltou para seu posto de guarda-portas. Ainda não entendi o motivo de ele ter me carregado, qualquer outro teria só me arrastado.
- O que você quer dessa vez? -Perguntei indo direto ao ponto
- Respostas
- Não sei onde sua filha está
- Mas sabe o nome do seu vilarejo
- Sabe, se me lembro bem, deram um
chute na minha cara esses dias. Acho que isso afetou minha memória.
- É mesmo ? - O rei se inclinou para frente apoiando o rosto nas mãos, um sorriso de deboche dançava em seu rosto
- Sim
- E se a gente brincasse um pouco, será que sua memória volta ?
O rei se levanta e anda até às correntes presa ao teto
- Que tal esse? - Ele me encarou esperando minha reação, mas não reajo - Acho melhor não, você está fraca, esse te mataria
- Ótimo, resolveria o problema de todos
Me ajeito na cadeira, o que me faz gemer de dor
- Menos os meus
Alguém bate na porta, o soldado a abre. Uma senhorinha baixinha e magrela entra na sala, em suas mãos ela traz uma bandeja com remédio e comida.
O rei assente para ela quando para em frente a mesa fazendo uma referência. Ela apoia a bandeira na mesa e fica de joelhos ao meu lado
- A senhorita poderia abaixar a parte de cima do vestido? - Pergunta ela molhando um algodão com anti séptico
Olho para o rei, eu não ficarei só de roupas íntimas na frente dele
- Ok. Eu me viro
E assim ele fez. Afinal, ele não é um monstro a ponto de tirar minha privacidade e meus valores
Puxei o zíper do vestido e abaixei até os joelhos, desamarrei o corpete e puxei me deixando à mostra.
- A roupa te protegeu. Se não fosse por ela, você estaria morta - Diz a senhorinha examinando o ferimento - Isso vai arder
E ardeu, dei um grito que doeu até minha garganta.
A senhora era familiar. Tinha os olhos azuis idênticos aos de Robert.
Um outro grito rompeu pela minha boca
- Me chamo Betri - Disse ela tentando me distrair
- Sinto que te conheço
Ela para o serviço e me encara me analisando e então sussurra em meu ouvido
- Sou a mãe de Robert
Essas palavras fazem meu mundo parar.
Tudo faz sentido agora. Robert andava muito estranho, não queria que Alice viesse para cá pois sabia que daria tudo errado. Ele não me queria com Miller pois sabia que o rei me usaria para atingi-lo e vice-versa. Ele vivia saindo às escondidas para "esfriar a cabeça".
Robert no mínimo estava tentando trocar informações pela liberdade de mãe.
Não acredito que ele foi capaz de fazer isso ...
- Prontinho - Disse Betri finalizando o curativo
Me visto novamente, a senhora me ajuda, depois me entrega um remédio e um pedaço de bolo, e então se retira.
O rei se vira pra mim
- Que cara é essa? Parece que viu um
fantasma - Um sorriso maligno brotou no rosto do rei
- Quem foi que me traiu ? - Perguntei sem rodeios
- Robert - Respondeu o rei de imediato
O rei fez todo esse teatro de propósito, ele não queria informações, não queria me punir, muito menos me fazer um curativo, só queria uma desculpa para trazer Betri aqui e me fazer saber quem me traiu
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