Capítulo 32 - Miller

Quando cheguei no jardim tirei minha máscara e deixei em cima do banco, o lugar é lindo, estar ali me trás lembranças da minha infância. Cansei de correr nesse gramado, de me esconder entre as palmeiras, de brincar na balança com minha irmã, de ficar horas sentado no banco só para fugir de dentro do palácio.

Como todas as pessoas, eu também tinha meu refúgio, todos temos um, um lugar que trás paz e nos ajuda a esquecer um pouco os problemas, sem isso, não conseguiríamos seguir com a vida.

Escuto um barulho de um salto alto batendo no assoalho do corredor, parece apressado

- Miller? - Uma voz chega aos meus ouvidos, conheço bem essa voz, consigo perceber que ela está confusa e assustada

Me viro para encarar minha irmãzinha, ela também já se livrou da máscara e das luvas, corro até ela e a envolvo em meus braços, quero protegê-la, sair correndo com ela e isolá-la dos perigos desse mundo.

Um solução escapa de sua boca, a cara enterrada em meu pescoço, seus braços me apertando como se eu pudesse a qualquer momento evaporar

- Onde você se meteu? - Perguntou ela a voz embargada pelo choro

- É difícil explicar - Digo

Keyse me solta, ela tenta manter as mãos longe de meus olhos, mas eu as vejo mesmo assim, estão vermelhas e cheias de feridas recém abertas com sangue ainda fresco, cerro os punhos

- Me desculpa - Peço, meus olhos fiquiços em suas mãos

- Desculpa? Você some por meses, não me
escreve, não deu sinal de vida e depois ressurge das cinzas e me pede desculpas?! - a cada letra que saia de sua boca era uma lágrima que escorria por seu rosto, me recuso a encará-la - Você sabe como foi difícil para mim ?

- Ele te machucou muito ... ?

- Isso pouco importa! Fui abandonada pelo meu próprio irmão, a pessoa em quem eu mais confiava. Eu ... eu pensei que você tivesse morrido!

Keyse tem a mania de falar com as mãos, porém hoje ela está parada, imagino eu que dói quando ela mexe.

Ela está certa, ela confiava em mim e eu a abandonei, a deixei sozinha queimando no inferno, não ligo se ela quer gritar comigo ou me socar, porém agora não é o momento, preciso tirá-la daqui.

- Keyse... - começo com calma - eu sei que te devo muitas explicações, mas no momento não dá tempo

- Você não veio para ficar então? - Perguntou ela, os olhos desejando que eu falasse ao contrário

- Não. Eu vim para tentar acabar com o
sofrimento de todos, inclusive o seu - ela me encara escutando atentamente para entender tudo

Dou um passo em sua direção e pego sua mãos com todo cuidado, ela reprime uma careta de dor

- Preciso que você confie em mim, ok?

- Ok ...

Olho em meu relógio de bolso, faltam exato quarenta minutos para o início do plano

- Olha, daqui a vinte minutos preciso que você dê um jeito de sair do castelo e vá para o porto. Lá você vai encontrar o barco Mongli, quero que você entre lá e não saia por nada. Entregue o bilhete que você recebeu para quem estiver lá, garanta que ninguém está te seguindo. Combinado?

- E tudo isso é por quê? - Perguntou ela confusa

- Depois eu te explico, prometo

Kayse continua me olhando sem dizer uma só palavra, isso estava me deixando completamente nervoso. E se ela falar que não acredita em mim? Que não vai me obedecer e vai ficar na festa, me achar um louco e avisar para todos que estou aqui?!

- Ok - Diz ela por fim, solto o ar que nem havia percebido que tinha prendido

- Ah Keyse - Dei um abraço apertado nela

- Eu estava com saudades - Ela suspira

- Eu também. Te amo pirralha

Depois de alguns segundos ela se afasta, passo meus polegares para enxugar suas lágrimas, deposito um beijo em sua testa, pego minha máscara e vou embora.

Quando voltei para o salão de baile, Rachel estava quieta em um canto, paro na porta para observá-la, por um momento minha cabeça trás a tona meus pesadelos naquele salão, o que me causa arrepios. Nossos olhos se encontram através do salão, meu coração acelera e quando ela abre um sorriso sinto minha espinha arrepiar, não sei quanto tempo ficamos nos encarando até ela decidir desfilar até mim.

- Gosta do que vê? - Pergunta ela com um sorriso presunçoso

- Você é a coisa mais linda que eu já vi.

As bochechas dela tomam um tom rosado que a deixa mais linda ainda. A orquestra começa a tocar uma valsa, casais vão para o centro do salão e se preparam para uma dança bem ensaiada

- Quer dançar, senhorita? - Pergunto
estendendo minha mão para ela

- Quero - ela aceita e eu a conduzo para o salão

A dança já tinha começado então simplesmente nos enfiamos no meio e bailamos, para a minha surpresa Rachel sabia todos os passos, dançava maravilhosamente bem, parecia uma verdadeira dama da alta sociedade.

- Onde você aprendeu a dançar assim? -
Pergunto

- Meu pai me ensinou. Ele falava que eu era a princesa dele e que toda princesa sábia essas danças - Vejo que seus olhos marejam

- Ele tinha razão. Você é uma princesa, é a princesa dele, e a minha.

A gente para de dançar no meio da música, seus olhos castanhos claros estão vidrados nos meus , com uma das mãos eu coloco uma mecha de cabelo rebelde atrás de sua orelha, seguro seu rosto em minhas mãos e a beijo, um beijo lento e apaixonado, nosso último beijo até tudo isso acabar. Me afasto e encosto minha testa na dela, suas mãos em volta do meu pescoço, acaricio sua bochecha com meu polegar

- Se eu te perder passarei o resto da vida sozinho, nunca encontrarei uma mulher tão perfeita como você. Você é meu primeiro e único amor, sem você não sei viver. Eu te amo Rachel

Ela me abraça, um abraço apertado que tranquiliza e trás paz, um abraço que me fez me sentir finalmente em casa.

- Eu também te amo Miller

E então as luzes se apagaram, estava na hora de colocar o plano em prática, é hora da ação. Me afasto de Rachel, deposito um beijo em sua testa e então nos separamos.

Tudo foi calculado e montado para o plano ocorrer muito bem, a champanhe foi batizada fazendo todos os convidados estarem atordoados, as taças de champanhe dos nossos alvos estão com um tom de verde que brilha no escuro. Um barulho de vidro se espatifando no chão me mostra que um dos alvos já foi alçado.

Escolho uma das taças e ando até ela, tiro do bolso do paletó um paninho e vou por trás do cara segurando-o pelo pescoço junto a mim, com a mão livre tampo seu nariz e sua boca impedindo a passagem do ar, ele se debate um pouco, agarra meu braço e puxa mas a única coisa que consegue é me fazer cócegas.

Mais uma taça vai para o chão, o cara desmaia em meus braços, o arrasto pelo salão tentando não relar em ninguém, o que é muito complicado. Depois de alguns minutos consigo finalmente chegar a porta, dou duas batidinhas na mesma e ela se abre, quando passo por ela Robert está me esperando. Ele tranca a porta e pega os pés do senhor, o corretor continua escuro, a não ser pela faixa vermelha que instalamos para nos indicar o caminho, ela nos leva para o escritório do rei.

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