capítulo 25 - Miller

  O dia seguinte passou rápido, quase nos atrasamos para embarcar as pessoas, à tarde experimentamos as roupas, estavam ficando bonitas, pareciam feitas por costureiras famosas. Eu e Rachel não falamos praticamente nada depois do ocorrido, e eu simplesmente não conseguia esquecer aquilo, ela não me deu uma resposta concreta para a minha pergunta, mas me deu um beijo, e foi melhor que muitas palavras.

  O beijo foi cheio de desejo, de paixão, parecia que fazia meses que ela queria aquilo. Eu precisava sentir de novo, eu precisava beijá-la novamente, a vontade de ter ela em meus braços estava me deixando louco.

  Esfrego as mãos no cabelo e vou até ela, a minha piratinha está encostada na parede do barco lendo um livro

- Precisa de alguma coisa? - Ela tirou os olhos do livro para me encarar

- Sim - Respondi me aproximando

- Pode falar - Eu já estava muito perto, o ar que ela soltava era o que eu inalava - O que você precisa?

  Sinceramente, nunca me achei um cara atacante, mas eu não estava aguentando, eu precisava fazer isso.

  Tirei o livro de sua mão e coloquei no degrau ao nosso lado, coloquei minhas mãos em sua cintura e a puxei para mais perto de mim.

- De você

  Ela sorri

- Achei que você era tímido - Ela me abraça pelo pescoço

- Você me deixa louco

- Isso é ótimo

  E então eu a beijei, como se não houvesse amanhã, afoguei todo meu desejo em sua boca.

- Com licença? - Disse alguém na parte de baixo do barco, encostei nossas testas frustrado

- Eu jurava que ainda tínhamos uns cinco minutos

- Relaxa vossa charisse real, teremos tempo

  Com essa simples frase meu amado pesadelo volta para minha cabeça. E se não tivermos esse tempo?

  Rachel parece ler minha mente

- Ei, esquece esse pesadelo, ok? - Ela
deposita um beijo rápido em meus lábios e então me afasta indo para o convés, vou atrás dela

- Boa tarde - Cumprimenta Rachel

- Boa tar... - O cara se vira e me encara, reconheço o brasão do reino em seu peito

- Merda!

- Vossa alteza? - Pergunta ele se aproximando - O que você faz aqui? Ai meu Deus eu estou diante de uma criminosa, vou chamar reforços

  Ele se vira para ir embora, o que é uma atitude bem idiota, deve ser um novato. Rachel corre até ele e dá uma rasteira, ele cai no chão mas rapidamente se põe de pé e pega Rachel de surpresa dando-lhe um soco no nariz, meu sangue ferve. Aproveito que ele e Rachel estão distraídos e vou por trás, engancho o braço no pescoço do soldado e aperto, ele se debate e me dá cotoveladas, nada me abala, até que ele usa o pé para me desequilibrar fazendo nós dois irmos para o chão.

  O soldado se livra de meu braço e soca meu rosto me deixando levemente atordoado, sinto o gosto de sangue na boca, Rachel tenta tirá-lo de cima de mim mas ele a golpeia também.

  Alguns passageiros gritam quando entram no navio. Empurro ele para o lado e dou alguns socos em seu rosto fazendo seu nariz sangrar.

- Já chega - Diz Rachel - Deixe ele ir

  Não entendo por que ela quer deixar ele ir, mas obedeço, Rachel é esperta, sabe o que faz.

  Me levanto, saindo de cima do rapaz, ele se põe de pé rapidamente e sai correndo aos tropeços.

- Vamos embora - Diz Rachel já erguendo a rampa sem dar tempo de todos embarcarem

★★★★★★

  No jantar, Rachel conta o ocorrido para nossos amigos, todos nós entramos em um consenso de não irmos mais com o barco para o lado leste do reino, provavelmente o soldado contará aos outros e eles ficaram à nossa espera amanhã. Um outro combinado é que Rachel não pode mais ficar pelas ruas e que é melhor eu parar de ir com ela - simplesmente odiei essa ideia! -, vamos também conversar com todo o vilarejo para informá-los de que se os soldados aparecerem aqui, ninguém nunca viu Rachel, muito menos eu.

  Depois do jantar Robert e Alice vão direto para a cama. Rachel termina a louça e vai até mim no sofá, estou sentado a observando

- Posso? - Pergunta ela olhando para minhas pernas

- Pode

  Ela se senta no meu colo, com a proximidade posso ver o machucado em sua boca, segurei seu queixo

- Já limpou isso? - Pergunto

- Já - Responde ela segurando minha mão e tirando de seu queixo - E sua barriga? Vi que ele lhe deu uma cotovelada

  Coloco minhas mãos em torno de sua cintura a ajeitando em meu colo

- Aguentei coisas piores - Digo endireitando as costas me lembrando da dor

- Ok, senhor durão - Diz ela sorrindo para mim

  A beijo novamente, isso faz com que eu esqueça os pesadelos, faz com que eu esqueça a dor do chicote.

- Você poderia me contar quais foram essas coisas? - Perguntou ela segurando meu rosto, o jeito que ela acaricia minha bochecha com os polegares me passa confiança.

- Que tal eu te mostrar? - Ela me olha intrigada

  Dou um leve aperto em sua cintura e ela entende o recado se levantando, levo ela para seu quarto e tranco a porta.

- Sente-se minha piratinha

  Ela me obedece e cruza as pernas na cama me observando atenta, esfrego as mãos no cabelo de nervoso, puxo a camisa de uma vez o que a assusta.

  Nunca mostrei isso a ninguém, mas Rachel me dá confiança o suficiente para fazer.

- Calma aí , vossa alteza - Diz ela com um sorriso malicioso no rosto

- Não é o que você está pensando- Informo

É agora ou nunca ...

Um. Dois.

Três. Viro de costas para ela.

  Não sei quanto tempo se passa, mas parece uma eternidade até ela falar alguma coisa. Foi tempo suficiente para eu pensar em mil possibilidades.

  Seu silêncio podia ser sinal de que ela sentia repulsa, ou ela está pensando em como acabar logo com isso, ou ...

- Como, quem ... ? - Interrompe ela. Tento decifrar sua voz, medo? raiva? pena?

- O rei. Toda vez que eu falava algo que não o agradava ou quando estava estressado, ele me levava para seu escritório e bom ...

Ela se levanta e caminha até mim, sua mão gelada toca as cicatrizes me fazendo estremecer. Nem todas estão completamente cicatrizadas, como não faz muito tempo que levei uma surra e não cuidei as feridas ainda estão abertas e ainda doem, porém por algum milagre elas não inflamaram.

- Dói? - Pergunta ela a voz baixa

- Não - Minto

- E se você não fosse para o escritório dele?

- Ele ameaçava levar minha irmãzinha ou
minha mãe, nunca quis pagar para ver. Eu nunca contei para ninguém, mas Keyse descobriu, era ela quem me ajudava a tratar dos ferimento

- Esse cara é um monstro! - De Repente sua doçura se transformou em pura raiva - Nossa eu nunca pensei que conseguiria odiar tanto alguém como eu odeio ele. Ele vai pagar por tudo que fez com meu povo, por tudo que fez com você.

  Ela me abraça pela cintura, sua cabeça não chega nem aos meus ombros, o que me faz sorrir.

- Ele nunca mais vai encostar em você - Promete ela me apertando forte

- Obrigado - Retribuo

  Uma conversa de alguns meses atrás me vem à mente, isso desperta minha curiosidade novamente.

  Eu me abri com ela, acho que agora é a vez dela.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Acabou de perguntar

- Muito engraçado - não contenho um sorriso - Duas então

- Pode

- Quem foi seu primeiro amor?

  Sei que a pergunta a abalou, ela fica quieta por tempo demais e suspira umas três vezes. Solto seus braços e me viro para ela

- Se não quiser falar, não tem problema

- Não é isso ... - ela respira fundo e então começa - O nome dele era Killie. Conheci ele quando tinha uns treze anos, ele era primo da Alice

- E o que aconteceu com ele?

- Morreu, já faz um ano. Killie era contra essa história de levar crianças para guerra, e um dia os soldados vieram e queriam levar um garotinho de seis anos, ele foi tentar impedir e... mataram ele. - lágrimas grossas escorriam por suas bochechas - Foi uma das piores coisas que eu já vi na minha vida.

  A abracei e dessa vez ela me apertou tão forte, parecia que era como se eu fosse sumir, escorrer por seus dedos.

  Eu sabia o que ela estava sentindo, a dor de perder alguém que a gente ama muito. Só que a dela era bem maior, além de perder Killie, ela perdeu os pais também.

  Pelo visto ela ainda não havia superado ele, não a julgo, ele foi seu primeiro amor, porém eu pretendo ser o último.

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