Assim como na noite passada, acordei com Miller gritando meu nome. Me levanto e vou até a sala, passo pelo quarto dos pombinhos e nada, provavelmente foram para algum lugar mais reservado.

- Rachel ... Nãoooooooo!

  Estremeço com a agonia em sua voz, ele se contorce no sofá

- Ela não!

  O observo, não vou conseguir dormir com ele agonizando desse jeito. Caminho até ele e me ajoelho de frente ao sofá
Miller

- Não pode ser - resmunga ele, percebo que sua bochecha está toda molhada

- Miller, acorda - Chacoalho ele - Eu tô aqui, vamos acorde

  Miller se senta abruptamente no sofá e grita meu nome, ele está chorando e suando frio enquanto seus olhos estão arregalados

- Eu estou aqui - Digo abraçando-o, ele me aperta e segura minha blusa firme como se eu fosse sumir - Está tudo bem

  Depois de alguns segundos, ele se afasta um pouco, parece ter voltado a realidade.

  Penso em voltar para minha cama, mas me lembro de seus gritos de agonia e seria muita maldade deixá-lo voltar a dormir e recomeçar todo o pesadelo.

- Que tal você dormir na cama hoje?

- Com você ? - Sua respiração ainda está acelerada por conta do choro

- Não, com o Robert - Ele me olha confuso, respiro fundo - Sim, na minha cama, comigo

  Ele cora e isso me faz corar. Talvez seja uma má ideia, talvez isso só piore as coisas, mas quem sabe ele não tenha uma boa noite de sono.

  Me levanto e estendo a mão para ele, que a aceita.

  Deitamos um de frente para o outro, não consigo vê-lo muito bem, a única luz é a do luar que entra pela janela, a vontade de agarrá-lo e beijá-lo que está me consumindo, me viro para o outro lado na tentativa frustrada de esquecer esse pensamento e dormir

- Ainda está acordada? - Pergunta ele

- Sim

- Me desculpa, não queria te acordar

- Não tem problema

  Me viro para ele de novo

- Você tem umas cordas vocais maravilhosas - Digo para quebrar o gelo

  Ele sorri, isso me faz sorrir.

- Seu sorriso é tão bonito, você deveria fazer isso mais vezes - Sinto minha bochecha corar

- Sabe, você é diferente do que eu pensei - Digo

- Sou melhor ou pior? - Ele se arrasta um pouco mais para perto de mim

- Melhor - Ele sorri - Eu achava que você era só um rostinho bonito, mas agora eu vi que você é muito mais que isso. Você gosta de ajudar as pessoas, é simpático, empático, cavalheiro...

  Parei de falar quando percebi que ele já estava perto o suficiente para que eu poça sentir sua respiração contra minha pele

- Então você acha que sou bonito? - Perguntou olhando nos meus olhos

- Acho ... não, calma

  Miller sorri, ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás me olhando nos olhos, então ele os fecha, aproxima o rosto do meu e ...

  Chacoalhei minha cabeça, o que eu estou fazendo?

  Me levanto de supetão e vou até a porta

- Onde você vai? - Ele se senta na cama

- Não posso dormir aqui - Digo antes de sair e fechar a porta atrás de mim, as lágrimas já escorrendo pelo meu rosto

  Sento no sofá. Eu já senti muito medo nessa vida, já chorei muito, sofri bastante, mas nada é como o que estou sentindo agora. Só quem já viveu isso sabe como é a sensação de não poder ficar com a pessoa amada, de ter que engolir o sentimento, ter que se afastar quando mais queria se aproximar.

  O beijo dele era o que eu mais queria a dias, sei que se eu provar uma vez, será muito difícil ficar sem. A cada dia que degusto de seu amor e dessa paixão, mais eu sinto que vou me perder nela.

- Rachel? - Escuto Miller se aproximar

  Enxugo o rosto rapidamente

- Pode dormir na minha cama - Falei tentando fazer com que ele vá embora

- Não quero dormir - Ele se senta ao meu lado - Quero conversar

- Ótimo, só que eu não quero

  Me levanto lhe dando as costas

- Rachel ...

- Por favor Miller, só ... vai embora - Peço, tento manter a voz o mais normal possível

- Não! Olha só Rachel, você não pode querer afastar todo mundo por medo. Eu estou percebendo o que você está fazendo, você está tentando me afastar para ser mais fácil de acabar com o sentimento que cresce em seu peito, mas tenho uma notícia, esse sentimento não some. Já desejei que ele sumisse, mas muito pelo contrário, só aumentou.

- Você não entende - Replico

- Realmente, não entendo o que se passa na sua cabeça, mas sei o que se passa na minha

  Miller me abraça por trás, me fazendo esquecer tudo que se passa, por um instante é só eu e ele, não tento me soltar, a verdade é que eu não quero sair de seus braços

- Rachel, eu gosto de você. E eu estou
cansado de esconder isso de você e de mim mesmo.
"Não ligo se você precisa de um tempo m, vou respeitar, esperarei o tempo que for preciso. Mas quero que você me garanta que vai lutar por isso, que vai lutar pelo que sentimos e pelo o que podemos ter."

  Miller me vira de frente para si e segura meu rosto em suas mãos

- Mas se eu estiver completamente enganado, se não for isso que você sente, me fale agora e eu nunca mais te procurarei. Se você não sentir nada por mim, me fala que eu me afasto de você e nunca mais toco no assunto

  E então, tive que decidir em dois minutos o que aconteceria nos próximos capítulos da minha vida, eu seguiria mentindo para mim mesma ou deixaria a vida acabar comigo.

   Amar Miller acabaria com nós dois, eu queria não ser tão egoísta e nos poupar disso. Mas não consigo, ficar longe dele é difícil demais, mentir para mim mesma que não sinto nada por ele é cansativo. Então a única coisa que me resta é aceitar o desafio.

- Me responde... - Começa ele, mas não
deixo-o terminar, coloco meu dedo indicador em seus lábios, a maciez deles aumentam minha vontade de provar teu gosto.
 
  Então eu o faço, essa é a minha resposta. Sinto um frio na barriga, o beijo dele é bom, meu coração acelera e se enche de algo chamado ... amor.

 
  O beijo é longo, cheio de carinho e desejo. Ele se afasta e me encara, passa a mão na minha bochecha e coloca uma mecha rebelde do meu cabelo atrás de minha orelha

- Eu estava esperando por isso - Diz ele sussurrando na minha orelha, apesar de estarmos sozinhos no completo silêncio.

  E então ele me beija de novo, minhas mãos enroscam em seu cabelo e as dele descem pelas minhas costas me puxando cada vez para mais perto.