capítulo 21 - Rachel

Corri de volta para a praça , os pulmões ardendo pela velocidade e a distância que eu corria.

  Quando estava chegando perto desacelerei para encarar os guardas parecendo muito tranquila.

- Boa noite - Disse Chal aos guardas

- Xerife - Cumprimentou um dos guardas

- Soldado. O que fazem aqui?

- O rei nos mandou aqui a procura do príncipe - Respondeu outro soldado puxando o cavalo, meu coração deu um pulo quando ele citou o príncipe.

  As crianças estavam agarradas as pernas de suas mães, algumas senhoras estavam imponente, outras estavam calmas.

- Boa noite, posso ajudá-los? - Perguntei aos soldados

- Boa noite, senhorita - O guarda fez um cumprimento com a cabeça, ignorei - Precisamos revistar a cidade - Disse ele descendo do cavalo e entregando a rédea para o companheiro

- Por que vocês precisam de uma revista na cidade? - Perguntei

- Ordens do rei - Disse o soldado, dei um passo à frente o encarando

- Mas por quê? - Insisti

- Estamos a procura do príncipe Miller-
Respondeu ele

- Ele não está em seu leito quentinho comendo um banquete? - Falei

  Não, ele não estava em seu leito quentinho comendo um banquete, ele estava num porão secreto de uma escola esperando que eu fosse buscá-lo.

- Não, ele está desaparecido a uma semana

- Sério? Nós não estávamos sabendo - Minha facilidade para mentir era incrível

- Sinto muito pela notícia não ter chegado até aqui - O soldado se voltou para Chal - Você não contou para eles, Chal?

- Acabei esquecendo de comentar - Respondeu ele

- Olha, pode ter certeza de que aqui ele não está. Sequestrar um príncipe super legal não está nos meus planos - Repuxo o canto da boca para cima

- Como, senhorita? - O soldado pareceu cético

- Ela quis dizer que ninguém aqui sequestrou o príncipe - Chal tentou consertar, mas não deu certo

- Eu ouvi o que ela falou - Esbravejou ele dando um passo para mais perto de mim e dando um tapa no meu rosto - Nunca mais use de ironia para falar da família real!

  Chal da um passo a frente estufando o peito

- Soldado, você não tem autoridade para bater em uma dama. Reportarei essa atitude aos seus superiores.

  O soldado engoliu em seco

- Saiam da frente, vamos revistar a cidade toda

  Fiquei imóvel, nunca que eu iria abaixar a cabeça para um soldado. Mas apesar disso, sei o que acontece com quem os enfrenta, Killie os enfrentou, e bom, ele não está aqui para contar essa história.

- Venha - Chal me puxou, dei uns passos para o lado dando passagem para os guardas.

  Os guardas revistaram cada milímetro da cidade, cada casa e cada estabelecimento. Eu e Chal acompanhamos eles, muitas pessoas que estavam em suas camas só deixaram eles entrar após eu pedir.

- O que é ali? - Perguntou um soldado
apontando para o imóvel velho e desgastado.

  As paredes do prédio um dia foram azuis, hoje possuem um tom acinzentado, as janelas já não mais inteiras e a porta faz um barulho assustador ao abrir.

- Uma escola - Respondi plena

- Vamos dar uma olhada - Diz ele caminhando em direção ao lugar

  Essas quatro palavras foram suficientes para fazer meu coração disparar. Lanço um olhar para Chal, ele entende o recado, engulo em seco antes de ir atrás dos guardas.

  Destranco a porta da escola dando passagem para os soldados, eles passam as mãos pelas paredes e pelos livros em busca de uma passagem secreta -espertos -, se por um azar do destino, eles empurrasse o tijolo certo o fim seria terrível, eu acabaria enforcada junto com meus companheiros acusados de traição a coroa.

  Um arrepio percorreu meu corpo inteiro, pela primeira vez em muito tempo o pânico estava ganhando espaço dentro de mim.

- Está limpo! - Gritou o soldado saindo

- Agradecemos a cooperação de vocês - Diz um soldado montando em seu cavalo

- Nós que agradecemos pela ... - Começa Chal, ele trava, provavelmente sem palavras para descrever o motivo de ser grato, a verdade é que não éramos gratos a nada e aquilo era uma invasão de privacidade.

- Proteção - Completei dando um sorrisinho amarelo

  Proteção, aquilo era piada, aqueles guardas não conseguiriam proteger nem uma formiga.

  Esperei até que eles já estivessem sumido na noite para correr de volta para a escola.

- Alteza? - Perguntei enquanto corria pelas escadas

  Meu rosto onde o soldado havia batido estava formigando e dolorido e meu coração parecia que ia rasgar o peito e sair para fora de tão rápido que batia.

- Rachel? - Respondeu ele parando ao pé da escada

  Como se fosse algo casual, enganchei meus braços ao redor do pescoço do príncipe e ele abraçou minha cintura, senti um arrepio percorrer meu corpo

- Miller - Sussurrei em seu pescoço

  Ver ele inteiro e ao meu lado me trazia um alívio inexplicável. Aquele abraço, de alguma forma que não consigo explicar, conseguiu me acalmar, calou minha mente bagunçada e aliviou meu peito angustiado. Eu senti uma paz que a muito tempo não sentia.

- Ocorreu tudo bem? Eles já foram embora? - Perguntou ele se afastando

- Sim

  Ele ficou me encarando, como se quisesse se certificar de que eu estava intacta. Depois de alguns segundos ele franziu as sobrancelhas, desviei os olhos imaginando o que ele havia percebido

- O que é isso no seu rosto? - Ele ameaçou de me tocar, mas eu segurei seu braço - Quem te bateu ?

- Ninguém me bateu

  Ele levou a outra mão até meu queixo e virou meu rosto, não o impedi. Seu toque era bom e isso era um grande problema.

- Então por que tem a marca de uma mão no seu rosto?

- Não ...

- Foram os guardas? - Interrompeu ele bravo - Quando eu descobrir qual guarda que foi eu juro...

- Olha só - Interrompi me afastando
bruscamente - Eu nunca precisei de alguém para me defender, não é agora que vou precisar

  Dei as costas para ele e peguei o caminho de volta para a praça, ele me seguia. Sei que fui rude com ele, mas não posso me deixar aproximar, quanto mais me aproximo mais esse sentimento aumenta e isso não podia acontecer, nós não podíamos acontecer.

  As pessoas na praça estavam engolindo suas comidas e voltando para suas casas. Ajudei Alice a entregar os últimos pratos e depois fui me deitar.
Minha cabeça estava girando, eu não sabia o que havia dado em mim para abraçar Miller daquele jeito, não sei o que aconteceu para eu dar a ele liberdade para tocar em mim, não sei o que está acontecendo dentro do meu peito. No meu coração acontecem coisas que eu não consigo entender e explicar, coisas que não sei o que significam, e isso está me matando.

  Miller é bonito, é uma boa pessoa e parece se preocupar comigo. Porém Miller também é o príncipe, o herdeiro do trono.

  Estamos prestes a travar uma guerra, me apaixonar não seria vantagem a ninguém, na verdade, seria um atraso. O amor é uma coisa bela, mas pode ser uma ótima arma.

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