capítulo 14 - Rachel
Acordei com o sol entrando pela janela e iluminando o pequeno quarto, me virei para o lado na cama para checar as horas, eram cinco horas.
Pulei da cama, me arrumei rapidinho e fui para a cozinha preparar o café, andei pé por pé, para não acordar o príncipe que dormia no sofá que ficava dentro da cozinha.
Enquanto a água fervia, fui acordar o Robert e a Alice. Bati na porta, mas ninguém respondeu, então abri a porta e dei um grito:
- Acordem! Está na hora - Olhei em volta, o quarto estava uma zona, e ao julgar pelas roupas jogadas no chão, a noite tinha sido muito boa - E façam o favor de arrumar essa zona
Peguei a calça jeans da Alice que tava perto da porta, fiz um bolo e joguei neles.
Voltei para a cozinha, mas em vez de encontrar a água borbulhando na chaleira, encontrei o príncipe passando o café para mim.
- Bom dia, piratinha - Disse ele, consegui ver pelo reflexo da janela que ele estava sorrindo
- Você já sabe meu nome, não precisa me
chamar assim - Falei abrindo a geladeira e tirando de lá alguns ovos
- Prefiro piratinha - Ele tampa a garrafa térmica e me encara com um sorriso de canto
- Vossa idiotice real, coloque a garrafa em cima da mesa - Digo passando por ele e indo até o fogão, uso fósforo para acender o fogo e quebro os ovos em uma panelinha
- Não pense que você me irrita me chamando assim - Disse Miller
Olhei para ele, seu cabelo compridinho estava todo bagunçado, seus olhos cor de mel estavam um pouco inchados de sono. Ele podia ser um idiota, mimado, mas não posso negar que é lindo.
O príncipe usava uma regata de Robert que marcava seus músculos, em seu ombro esquerdo vi uma tatuagem, o encanto sumiu quando percebi que era o brasão do reino.
Revirei os olhos e voltei a me concentrar no que estava fazendo
- O que vai ter pro café da manhã? - Perguntou ele
- Mexido - Respondi
- Mexido? - Perguntou ele como se eu tivesse falando grego
- É, mexido de ovo
- Nunca comi
- Claro que não, você nunca teve apenas ovos para comer
Virei a panela de mexido dentro de uma forma de bolo enferrujada que eu havia pego. Mostrei a forma cheia para o príncipe que fez uma careta da qual eu não gostei
- Que careta é essa, mimadinho? Parece
lavagem de porco perto dos banquetes do palácio? - Perguntei levando a forma para a mesa, coloquei quatro pratos, talheres e xícaras.
- Não é nada disso, só tô com mal estar- Respondeu ele passando a mão no cabelo
- Então vem comer, comer sempre melhora- Dou um sorriso gentil e me sento à mesa, ele me encara por alguns segundos e depois seguiu meu conselho e se sentou ao meu lado.
Comecei a me servir de mexido, logo a Alice e o Robert apareceram.
- Bom diaa - Comprimentou Alice animada como sempre
- Bom dia, flores do dia - Disse Robert se sentando ao lado de Alice
- Bom dia - Eu e o príncipe falamos juntos.
Estendi uma mão para Alice que se encarregou de dar forma ao pequeno círculo de oração. Eu e Robert estendemos a mão para o príncipe que olhava sem entender o que estava acontecendo.
- Segura as nossas mãos - Sussurrei para ele que obedeceu de imediato, assenti para Alice que sorriu
- Obrigada Senhor, por mais esta refeição em nossas mesa e que esse seja um dia abençoado. Amém
Finalizamos a reza com um coro de "amém".
Quando terminamos o desjejum, já eram cinco e quarenta. Alice e Robert saíram para o trabalho e eu fiquei com o riquinho, na verdade vou ter que ficar o dia todo com ele.
Tirei os pratos da mesa e os lavei, o príncipe insistiu tanto para enxugar a louça que eu acabei cedendo.
- Para a nossa felicidade, você vai ser obrigado a passar o dia comigo - Falei enquanto trabalhávamos
- E para onde vamos? - Perguntou ele parecendo empolgado com esse "passeio"
- Vou te mostrar meu trabalho
- Não sabia que você trabalhava...
- Infelizmente meu dinheiro não cai do céu, igual o de algumas pessoas
O príncipe não falou mais nada, provavelmente entendeu minha indireta.
Depois que terminamos a louça, o mimadinho foi para o banheiro tomar um banho. Aproveitei para pegar uma roupa limpa para ele, afinal ele não podia sair por aí com aquela roupa chic.
Abri um baú que ficava nos pés da minha cama, estava tudo em tacto, as roupas dobradinhas, o perfume, os sapatos, tudo do jeito que eu havia colocado a dois anos atrás. Tirei do baú uma calça, um par de botas, uma camisa de mangas compridas e uma jaqueta de veludo, apesar do sol, estamos no inverno e lá fora deve estar congelando.
Automaticamente levei a camisa dele ao nariz, seu cheiro ainda está nela, minha mente viaja nesse cheiro.
★★ Seis anos atrás ★★
Logo que acordei, percebi que eu estava em um dia péssimo, acordei com vontade de não sair da cama. Eu sei porque estou assim, hoje era para ser o aniversário da minha mãe.
Hoje era meu dia de folga na mina, então me dei ao luxo de levantar só às dez da manhã. Troquei de roupa e fui para a cozinha, preparei uma pequena porção de mexido e tomei meu desjejum. Não tinha ninguém em casa, Alice e os pais dela já estavam na mina. Fui para a pia lavar a pilha de louça que estava lá desde a janta.
O que eu mais estava evitando nesse dia era me olhar no espelho, só que esqueci que a janela nos refletia e acabei vendo minha imagem. Meus olhos estavam inchados de choro, meu cabelo estava cada vez mais ondulado, eu estava cada vez mais parecida com minha mãe. Pensar nisso fez com que as lágrimas escorressem.
- Prima? - Um menino apareceu na
janela, dei um pulo para trás e acabei derrubando um copo no chão, o garoto me olhou assustado e sumiu
Irritada fui até a porta, achei que eu teria que procurar o garoto, mas para a minha surpresa, ele estava parado em frente a porta.
- Me desculpa - Disparou ele logo que
abri a porta - Não queria te assustar, eu só estava procurando meus tios, achei que eles ainda moravam aqui.Posso te ajudar a limpar o chão?
O encaro meio surpresa, sem falar nada dou passagem para ele entrar na casa, o garoto vai direto para a cozinha, parecia que ele conhecia a casa muito bem.
Nos agachamos e começamos a recolher os cacos de vidro.
- Sinto muito mesmo - Repetiu ele
- Sem problemas - Respondi - Como
chama seus tios? - Perguntei, afinal, desde que eu me conheço por gente os Andrews moram nessa casa
- Julio Andrews e Sandra Andrews - Respondeu o garoto
- Então você é o sobrinho do Sr. e da
Sra.Andrews. Eles comentaram que você chegaria, mas achei que era só na semana que vem
- É, acabei conseguindo chegar antes -
Ele sorriu - A propósito, me chamo Killie - Disse ele estendendo uma mão para mim
Coloquei os cacos de vidro que tinha recolhido dentro de uma caixa de papelão que eu havia pegado e apertei a mão dele
- Sou a Rachel, moro com seus tios e
sua prima
Ficamos nos olhando por alguns segundos, até que ele se desequilibrou e caiu de costas me levando junto. Eu estava tão perto daquele ruivinho, seu cheiro era único, ele tinha cheirinho de terra molhada e sabão caseiro. Me levantei de pressa constrangida.
★★ Hoje ★★
- Rachel? - Disse alguém me tirando das
minhas lembranças. Me virei na direção do meu nome, o príncipe estava la encostado no batente de braços cruzados- Tava navegando piratinha?
Revirei os olhos
- Estava pegando uma roupa para você
- Eu já tenho uma roupa
- Vai ficar usando essa roupinha de rico até quando? - Fecho o baú e jogo as roupas na mão dele - Vai se trocar
Miller sai do quarto e se tranca no banheiro, vou até a minha cômoda e tiro de dentro de uma das gavetas duas bandanas com o símbolo do nosso grupo de rebeldes.
Depois de aproximadamente um minuto, o príncipe saiu do banheiro. A roupa tinha servido certinho, até certinho demais… Miller estava me lembrando tanto do Killie, claro que não na aparência, mas os dois tinham a mesma mania estranha de dobrar a manga da jaqueta até o cotovelo e dobrar a da camisa até um pouco antes, eles eram os únicos que faziam isso.
- Tá me olhando assim por quê? Gostou?- Perguntou o príncipe se achando
- Até que não está nada mau - Respondi- Falta só um detalhe
Amarro a bandana dourada em seu braço esquerdo
- Você gosta de usar alguma jóia? - Pergunto tirando uma caixinha de madeira da minha cômoda.
Abro a caixa para ele ver, seus olhos se arregalam.
- Como vocês conseguem comprar isso? -
Pergunta ele mexendo nas jóias
- Pagamos parcelado - Respondo, ele franze as sobrancelhas - Vocês do palácio tem muitas jóias, então compramos algumas…
- Vocês roubaram nossas jóias? - Interrompe ele
- Não! Nós estamos pagando parcelado, o
tanto de impostos que pagamos por ano já pagou umas cinquenta jóias dessa. Um dia a gente quita a dívida. - Pisco para ele
Ele volta a concentração nas jóias, escolhendo duas, uma correntinha de ouro falso e um colar com um pingentinho de caveira
- Essas são do palácio?
- Não, a de caveira o Robert achou jogada na rua da cidade vizinha, e a outra, uma pessoa importante para mim usava, não sei onde ele conseguiu
- Você se importaria se eu usa-se essa
correntinha?
- Não…
Ver ele com aquela correntinha deu um aperto no coração. Desde o dia que o conheci, Killie não tirava isso do pescoço - a não ser para tomar banho -, no dia que ele morreu, eu tirei dele, usei por algum tempo, mas depois acabei guardando pois me lembrava dele o tempo todo.
- Vamos, já estou atrasada.
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