CAPÍTULO UM

Fazia muito calor no Reino Unido na última semana de junho de 2012, mas quem estava mesmo pegando fogo era a carreira do One Direction. Up All Night fora um sucesso e Take Me Home estava em vias de ser lançado. A boyband estava na boca de todos os adolescentes com menos de 16 anos e da maioria dos maiores de 16 anos também. Todos os shows estavam esgotados, uma turnê internacional tomava forma e não havia espaço nem para mijar nas agendas de Harry, Liam, Zayn, Niall e Louis.

Era para ser o melhor momento de suas vidas, o auge de suas carreiras, mas, ao contrário disso, eles estavam exaustos, tanto fisicamente quanto psicologicamente, o que propiciava que o pior do estrelismo de cada um deles aflorasse. Harry estava sempre tentando ser clicado pelos paparazzis, demandando uma atenção quase infantil da mídia. Zayn parecia cada dia mais fechado, mais sisudo e misterioso, saindo de casa apenas para cantar nos shows e cumprir compromissos previamente agendados. Louis reclamava o tempo todo sobre como não recebia crédito algum, sentindo-se como uma grande sombra na banda. Liam aparentava uma carência enorme, que se transformava em autoritarismo, e Niall... Bom, Niall descontava nos comentários desagradáveis pelo Twitter.

Aos poucos, Simon via a perdição de seus garotos, uma vez tão talentosos e carismáticos, agora sem brilho e humildade. 

E foi justamente por isso que ele abriu uma brecha em suas agendas e os convocou para uma reunião emergencial em sua casa, no dia 27 de junho, uma quarta-feira.

Liam foi o primeiro a chegar, sempre o mais responsável.

— Diz aí, Simon — ele cumprimentou o empresário com um abraço rápido, entrando na casa sem ser convidado. — Eles já chegaram?

— Ainda não — Simon apontou para o sofá da sala de estar.

— Claro que não... — Liam resmungou, mas acomodou-se mesmo assim, pegando o celular do bolso da calça e passando a ignorar Simon solenemente.

O empresário olhou para Liam com certo pesar, lembrando de como o garoto costumava ser respeitoso e atencioso com todo mundo ao seu redor, nunca deixando com que ninguém se sentisse de canto, excluído. Parecia que ele havia envelhecido dez anos, mas quanto tempo realmente havia se passado?

Quinze minutos do regime de completo silêncio depois, Harry e Louis chegaram juntos.

— Fala aí, casal! — Liam cumprimentou do sofá, enquanto Simon os guiava para dentro. 

— E aí, Paynee — Louis sentou-se ao seu lado. — Caiu da cama? 

— Eu só cheguei no horário combinado — Liam foi curto e grosso, e os três ficaram em silêncio, mexendo em seus respectivos celulares.

Mais uma vez, Simon observou aquela cena com uma ruga de preocupação na testa. Os seus meninos, tão amigos, sendo ríspidos uns com os outros.

Ele tinha que intervir. E logo.

Niall foi o penúltimo a chegar, e ele estava abraçando Simon quando Zayn apareceu atrás dos dois, um pouco esbaforido.

— Bom, vamos lá, meninos — Simon os rebocou até a sala de estar e os últimos a chegarem sentaram-se ao lado dos presentes. — Eu convoquei essa reunião porque acho que precisamos conversar...

— Olha, Simon — Louis começou, fazendo menção de que iria se levantar —, se essa é mais uma conversa sobre entrar na puberdade, eu tenho outras coisas para fazer e...

— Sente-se, Louis — o empresário foi firme, e o moreno perdeu o sorrisinho debochado dos lábios, ajeitando-se ao lado dos companheiros de banda. — O que está acontecendo com vocês? 

Os cinco garotos olharam para o mentor, empresário e amigo sem entender direito, piscando em sincronia.

— Isso foi uma pergunta. Alguém pode me responder, ou vocês só conseguem se comunicar pelo Twitter?

— O que você quer dizer com "o que está acontecendo com vocês"? — Harry se pronunciou, verdadeiramente confuso.

— Eu quero dizer que vocês já não são mais os meninos que eu conheci. Zayn, guarde esse celular antes que eu o jogue na privada — o moreno tirou os olhos da tela e, meio a contragosto, guardou o aparelho no bolso. — É disso que eu estou falando! Se vocês conseguem desrespeitar a pessoa que pode mandar vocês cinco de volta para o anonimato com um estalar de dedos, como estão tratando os seus fãs? Como estão tratando os seus companheiros de banda?

Pela primeira vez em muito tempo, Harry, Liam, Louis, Zayn e Niall estavam mudos, sem saber o que dizer.

— E, por mais que isso possa soar esquisito saindo da minha boca, eu me importo com vocês... Se não me importasse, nunca teria juntado cinco moleques ranhentos com o propósito de transformá-los em estrelas. Mas existe uma grande diferença entre estrelas e estrelismo. Estrelas brilham, homens com síndrome de estrelismo não passam de farsas com o ego inflado!

— De onde você tirou isso, Simon? — Niall perguntou, com a voz fraquinha pela bronca que estava levando; ele odiava levar broncas. — Nós não estamos diferentes, somos os mesmos caras que sempre fomos!

— Se vocês fossem os mesmos caras que sempre foram, estariam rindo e conversando comigo como um amigo desde o momento em que passaram por aquela porta, implicando um com o outro, sim, mas nunca, nunca em silêncio — o britânico apontou para a porta de entrada e os cinco a observaram em silêncio —, muito menos vidrados em seus celulares e agindo como completos babacas uns com os outros!

— Se, hipoteticamente, você estivesse certo... — Zayn murmurou, logo sendo cortado por Simon.

— Eu estou certo.

— Que seja — ele revirou os olhos. — O que você pretende com essa conversa? Nos dar uma bronca como um professor frustrado com a sala de aula?

— Eu pretendia oferecer uma solução, mas com base nessa sua resposta, agora estou mudando minhas vontades para uma abordagem mais física — o empresário ergueu uma das sobrancelhas para Zayn, que recolheu-se em sua insignificância perante ao homem. — Posso continuar ou serei interrompido mais uma vez?

Sem receber respostas, Simon prosseguiu.

— A minha proposta é a seguinte: uma semana de férias e...

— Não podemos! — Harry exclamou, e Liam o acompanhou nos protestos.

— Estamos com a agenda lotada e o CD será lançando no segundo semestre, não podemos simplesmente...

— Isso é loucura! — Niall concordou, enquanto Louis e Zayn apenas balançam a cabeça em afirmativa.

— Eu posso terminar antes do espetáculo? — Simon falou mais alto, e os meninos se calaram. — Como eu estava dizendo... Uma semana de férias na primeira semana de julho. Não temos nenhum show agendado, só entrevistas que podem ser facilmente postergadas e reagendadas. Além disso, o CD está sendo mixado, e não precisa mais da ajuda de vocês. 

— Acho que... Ok, acho que isso pode ser arranjado, nós vamos nos manter em contato com os fãs pelo Twitter e pelo... — Harry ia dizendo, quando Simon o cortou novamente.

— Uma semana sem celular, sem internet, sem nenhum contato com o mundo. Eu direi que vocês estão descansando para o lançamento do CD e vocês vão desaparecer.

— Onde você acha que nós vamos desaparecer? — Louis perguntou, com uma arrogância subentendida. — Na Lua?

— Na costa oeste da Espanha — o empresário fingiu não se importar com a ironia e abriu seu iPad. Os menino se curvaram e puderem observar a foto de uma praia deserta, com águas azuis cristalinas e um hotel rústico incrível que quase beijava as ondas do mar. — Palma de Mallorca, capital das Ilhas Baleares. Lindas praias, entretenimento no centro da cidade e um dos melhores resorts de férias do mundo inteiro. Uma semana de calor, tomando sol, descansando e se desligando do mundo. O que acham disso?

Os meninos se entreolharam, visivelmente interessados naquela proposta. Por mais que doesse admitir, eles estavam mesmo cansados da rotina imposta pelo fardo da fama.

Simon podia ver o brilho em seus olhos, e sentia-se cada vez mais próximo da vitória.

— Simon, você mais do nós sabe como funciona o mundo no qual vivemos. Se desaparecermos por uma semana tão próximo do lançamento do CD a força do marketing não vai ser a mesma — Harry tentou.

— Além disso, o que irão dizer? Reabilitação, no mínimo! — Liam adicionou.

— E você sabe que a gente não vai conseguir ficar sem os nossos celulares — Niall deu de ombros. — Simplesmente não vamos!

— Olha só, eu sou o empresário de vocês e sei lidar com tudo isso! Marketing, fofoca, o vício de vocês em tecnologia... Esse é o meu trabalho! Mas sem as minhas estrelas, eu fico sem trabalho. Entendem? Sem vocês inteiros e comprometidos, a One Direction pode se desmanchar na primeira briguinha de ego, e é isso o que vocês querem?

Os cinco se entreolharam, parecendo ansiosos.

— Tá bom, eu estou dentro, vai — Niall deu de ombros. — Não é como se estivéssemos indo cumprir pena. É uma semana em um resort. Vai passar rápido. E Deus sabe como eu preciso dormir mais de quatro horas por noite...

— Eu também estou dentro — Louis concordou, recostando-se no sofá.

— Eu não sei... — Harry murmurou, preocupado com a reação dos fãs. Liam e Zayn concordaram com a cabeça, aparentemente de acordo com Harry. — Como vamos deixar o mundo assim, sem mais nem menos, no meio da nossa ascensão? Você sabe muito bem que estrelas muito mais fortes desapareceram por bem menos, Simon.

— Eu já disse, vocês não precisam se preocupar com isso — Simon deu de ombros, fechando o iPad e voltando-se para os seus pequenos aprendizes. — Eu sou Simon Cowell. Não vou deixar com que saiam da boca de todos os adolescentes do mundo nem que vocês fossem passear por Marte.

Harry e Zayn relaxaram no sofá. Somente Liam ainda parecia um pouco tenso. 

— Ok, tudo bem, parece válido — Harry respondeu. 

— Vamos lá — Zayn pegou carona. — Preciso renovar meu bronzeado.

Liam ainda estava um tanto quanto relutante, por isso, reservou-se ao silêncio, dando de ombros, como se já tivesse perdido aquela batalha.

— Ótimo! — Simon se levantou, batendo duas palmas. — Vocês viajam no domingo!

Niall e Louis sorriram, animados, enquanto Harry e Zayn deixaram escapar expressões de ansiedade. Somente Liam permaneceu sério, ainda contra toda aquela história de férias forçadas.

Mal sabiam eles que estavam prestes a embarcar nas férias das suas vidas.

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