CAPÍTULO CINCO
Conforme a noite foi dando lugar a madrugada, todos se separaram. Harry e Courtney foram dar uma volta pelo alojamento, enquanto Liam e Victoria se apossaram da sacada. Louis, Zayn, Anita e Maria ficaram na sala, jogando kings cup, e Ramona pediu para que Niall desse oi para sua irmãzinha pelo skype.
Harry e Courtney andaram por bastante tempo, conversando sobre como funcionava o programa de intercâmbio para trabalhar no resort. Eles pararam no final do conjunto de alojamentos, sentando-se na grama.
— Mas me conte mais sobre você — o músico pediu, genuinamente interessado. — Não sobre o programa, sobre você.
— Não tem muito o que contar — a morena deu de ombros. — Meu nome é Courtney Morris. Eu tenho 22 anos, estou cursando administração de empresas na Universidade de Londres e aceitei esse trabalho para poder sair um pouco de casa e ganhar uma grana.
Hm, uma garota mais velha, Harry pensou, no auge dos seus 18 anos.
— E você? Me conte um pouco sobre você — ele sorriu divertido, e ela o acompanhou. — Ok, certo, essa foi uma pergunta estúpida... Me conte algo que eu não saiba, algo da sua vida pessoal.
— Bom, meu nome é Harry Edward Styles, eu fiz 18 anos em fevereiro e adoro comer tacos — Courtney riu, o que o incentivou a continuar. — Meus pais se separaram quando eu tinha 7 anos, mas eu gosto bastante do meu padrasto, Robin. Minha cor favorita é azul e eu dei meu primeiro beijo aos 11 anos.
— Um garoto como outro qualquer — a morena sorria de um jeito acolhedor, e Harry sentiu como se pudesse confiar nela.
Aproveitando o momento, ele tirou a pequena sacola do bolso da calça.
— Eu fui dar uma volta hoje — ele começou, pegando o colar de dentro da sacola — e lembrei de você quando vi isso aqui. Uma gota, para que você possa se lembrar da nossa terra da garoa.
Courtney gargalhou e esticou o pescoço, para que Harry colocasse o colar. Ele apoiou as mãos nos ombros ossudos da garota, e respirou fundo aquele cheiro de Londres que ela tinha.
— É lindo, Harry — ela agradeceu, voltando-se para ele. — Muito obrigada. Eu adorei.
— Você merece — ele segurou o pingente entre os dedos, sem tirar os olhos dela. — Principalmente por aguentar velhos tarados todos os dias.
Os dois riram, e ela olhou para frente, quebrando o momento.
— É algo com o qual eu tenho que lidar todos os dias... Não é fácil ser uma garota, Harry, disso eu te dou certeza.
— Eu nunca pensei que fosse — ele também olhou para frente, e suas mãos se encontraram na grama molhada pelo orvalho.
Os dois ficaram em silêncio, olhando para a lua que brilhava preguiçosa no céu escuro, rodeada por pequenas estrelas.
— A noite está linda — ela comentou, apoiando a cabeça no ombro de Harry. — Não temos noites bonitas assim em Londres.
— Não mesmo — ele virou o rosto para o lado, e Courtney subiu o seu. Os dois ficaram muito próximos. — Acho que deveríamos aproveitar essa noite tão bonita.
— A é? — ela murmurou, com a voz rouca. — E como você sugere que aproveitemos a noite?
Harry colocou a mão livre na nuca da garota e a beijou. Courtney deixou-se levar, colocando a outra mão na perna do cantor. Eles se beijaram com vontade, aproveitando o clima ameno e o gosto de cerveja um do outro.
Aquele seria um beijo que os dois lembrariam para o resto da vida.
— Eu não acredito em você! — Victoria exclamou, rindo. — Você é um mentiroso compulsivo! Primeiro medo de colheres e agora isso!?
— Quer ver? — Liam se levantou com um pulo, dando dois passos para trás devido a tontura da bebida. — Canta alguma coisa.
— Você é o cantor aqui... Ok! — a ruiva exclamou, depois de receber uma olhadela irritada do garoto. — Ok, ok... Hm...
A ruiva começou a murmurar My Hips Don't Lie da Shakira, e Liam arriscou algumas jogadas de quadril, o que a fez rir tanto que acabou se engasgando.
— Talvez eu seja mesmo um mentiroso compulsivo — ele voltou a se sentar na rede em que eles estavam, abraçando a garota pelos ombros, que nem pareceu notar aquela proximidade. — Mas eu juro que na minha imaginação eu sou um ótimo dançarino de dança do ventre.
— A sua imaginação é muito fértil, Liam — os dois riram, e ela olhou por cima dos ombros dele. — Onde será que a Court se meteu? Estou começando a ficar preocupada.
— Em algum lugar com o Harry — o moreno deu de ombros. — Não precisa se preocupar, ele é inofensivo.
Os dois ficam em silêncio, imaginando o que dois jovens bêbados poderiam estar fazendo sob a luz do luar.
— Ok, eu tenho um jogo — Victoria se ajeitou na rede, olhando para Liam. Seus olhos verdes estavam vários tons escurecidos, mas o músico ainda assim os achava lindos. — Eu vou dizer 3 fatos sobre a minha vida, mas um deles é mentira. Se você adivinhar qual é o falso, eu tomo um shot. Se chutar errado, você toma um shot.
— Me parece saudável — ele pegou a garrafa de vodca pela metade que estava jogada no chão e dois copinhos de shot. — Damas primeiro.
Victoria fez uma careta com a boca, pensando nas suas possibilidades. Depois de algum tempo, sorriu diabolicamente.
— Beleza. Bom, eu fui oradora da minha turma do high school, eu perdi a virgindade aos 17 anos e eu dei perda total no carro da minha mãe aos 15.
Liam analisou bem Victoria enquanto ela falava, tentando pegar algum trejeito que entregasse a mentira, mas as três afirmações pareciam bem verdadeiras.
— Eu acho que... — ele apertou os olhos. — Quantos anos você tem?
— 19 primaveras — ela sorriu.
— Ok, então... Acho que você não deu perda total no carro da sua mãe aos 15 anos. Isso seria bastante irresponsável.
Victoria franziu o cenho, pegando a garrafa das mãos de Liam e servindo a si própria um shot.
— Maldito — ela murmurou, antes de virá-lo garganta abaixo. Depois de uma careta e um arrepio que percorreu sua espinha, ela continuou. — Sua vez.
— Hm... Vamos lá... — Liam mordeu o lábio inferior, pensando em fatos sobre a sua vida, e a ruiva achou aquilo extremamente sexy. Ela só não saberia dizer se eram os seus hormônios falando ou a sua embriaguez. — Eu seria bombeiro se não fosse músico. Eu chorei assistindo Marley e Eu e... Eu consigo segurar a respiração por 2 minutos.
— Você com certeza chorou assistindo Marley e Eu, quem não chorou? Então não é essa — ela começou com a argumentação, analisando bem Liam. — Você é cantor, então sua respiração deve ser bem treinada... Mas, por outro lado, você é o tipo de cara com um grande senso de ética que escolheria a profissão de bombeiro. Ai... Que difícil!
Liam tentou ficar sério, mas observar Victoria quebrar a cabeça era muito divertido.
— Pare de rir de mim, seu sádico! — ela deu um tapa em seu braço, jogando as mãos para o alto em sinal de rendição. — Tá, você não consegue segurar a respiração por dois minutos!
— Infelizmente, Vic... — ele despejou vodca no copo de shot e o estendeu para a garota, que suspirou derrotada. — Você acertou!
Ele virou o shot e ela bateu algumas palminhas de animação, surpresa pelo teatrinho do moreno.
— Eu sabia que você não conseguiria segurar a respiração por dois minutos.
Liam, um pouco alterado pela bebida, piscou para Victoria e murmurou.
— Você quer testar?
A ruiva gargalhou, tirando a garrafa de Liam e a colocando no chão.
— Chega de vodca por hoje.
No meio da segunda partida de kings cup, Maria começou a passar mal. Enjoada, ela saiu correndo da roda e foi até o banheiro. Anita fez menção de ir atrás, mas Louis a impediu, indo ele próprio ajudar a garota.
Quando chegou ao banheiro, a espanhola estava sentada na frente da privada, com cara de nojo.
— Não vai funcionar assim — Louis se aproximou, agachando-se atrás dela e segurando seu cabelo. — Você precisa forçar o vômito.
A morena negou com a cabeça, e Louis aproximou-se um pouco mais, murmurando em seu ouvido.
— Confia em mim, você vai ficar melhor depois que vomitar.
— Eu sei que eu vou, não é a minha primeira vez nessa situação — ela embolou as palavras, com pequenos espasmos de ânsia. — Eu só não quero que você me assista vomitando.
— Por favor, como se eu nunca tivesse passado por isso — ele riu, colocando uma das mãos no ombro direito da garota. — É sério, não se importe comigo.
Maria ainda tentou negar, mas as ânsias estavam horríveis, e ela acabou enfiando dois dedos na garganta, finalmente vomitando toda a vodca que havia tomado.
Louis, rindo, virou o rosto para o outro lado; não queria envergonhá-la mais do que ela já estava.
Assim que ela terminou de botar tudo para fora, acionou a descarga e livrou-se das mãos do músico, levantando-se e enfiando a cara embaixo da torneira. Ficou um bom tempo ali, jogando água no rosto. Depois, escovou os dentes demoradamente, com atenção especial na língua. Quando acabou, caminhou trôpega até Louis, e este a ajudou a se sentar na beirada da banheira.
— Se sente melhor?
— Bastante — ela admitiu, e ele se sentou ao seu lado, com uma das mãos na base das costas dela, evitando que ela caísse. — Obrigada.
— As suas ordens — ele sorriu. — Me desculpe por ter feito você ser suspensa hoje de manhã na praia.
— Tudo bem, meu chefe é um babaca — ela deu de ombros e, não fosse a mão de Louis nas suas costas, teria caído na banheira. — A culpa não foi sua.
Louis estava um pouco zonzo por ter bebido tanto, e sentiu vontade de contar a verdade para ela.
— Na verdade, foi sim. Eu fingi que estava me afogando.
Maria o olhou demoradamente, sem nenhuma expressão no rosto. Após alguns segundos de tensão, ela começou a gargalhar, e o moreno a acompanhou.
— Tenho que admitir que você foi muito criativo — ela apoiou a cabeça no peito do garoto, que tirou a mão de suas costas e a envolveu pelos ombros. — Mas foi idiotice. Você podia ter se afogado mesmo.
— Valeu a pena — ele murmurou, e ela levantou o rosto.
Os dois estavam bem próximos, com os narizes quase se tocando. Louis subiu a mão para a nuca da morena, que fechou os olhos...
...e os dois se desequilibraram, caindo na banheira atrás de si.
Eles riram tanto que seus estômagos começaram a doer.
— Será que eles estão bem? — Anita perguntou, ouvindo gargalhadas vazarem pela porta do banheiro.
Ela e Zayn estavam sentados no mesmo sofá, com o espaço de uma almofada entre eles.
— Bom, eles estão rindo — ele comentou. — Coisa ruim não deve estar acontecendo.
— A Maria nunca sabe quando parar — a vietnamita disse, recolhendo as cartas da mesa. — Ela e a Victoria, são duas malucas...
— Você é a certinha das cinco, então? — Zayn perguntou, analisando o perfil da morena, que embaralhava distraída o baralho.
— Não, a Mona é a certinha... Eu sou só... Eu mesma.
Zayn encostou-se no sofá, fechando os olhos por alguns instantes. Tudo estava rodando, e ele não queria passar mal na frente dela.
— Você está bem, Zayn?
— Sim, só estou um pouco tonto — ele admitiu, abrindo os olhos e sorrindo para Anita. — Você é muito bonita, sabia disso?
A garota sentiu as bochechas corarem. Ela queria ser legal e descolada como Victoria e Maria, mas era um pouco tímida demais para aquilo. Por mais que tivesse aceitado a aposta das amigas, nunca seria capaz de dar em cima de Zayn. Só estava participando para se divertir.
E ele era tão lindo... A cor da sua pele era linda, seus olhos escuros eram lindos, seu corte de cabelo moderno era lindo... E a sua voz parecia ter saído diretamente de um sonho.
E lá estava ele, o cara mais lindo do universo, a elogiando.
Anita só podia estar sonhando.
— Obrigada — ela disse por fim, sorrindo tímida.
— É sério — ele se ajeitou no sofá, segurando um dos braços da garota para que ela parasse de mexer com o baralho. Ela sorriu e virou-se para ele, envergonhada e lisonjeada ao mesmo tempo. — Você é diferente, seus traços não são comuns... Eu sinto como se estivesse protagonizando algum filme estrangeiro ao conversar com você.
— Provavelmente seja o meu sotaque — a morena olhava diretamente para os lábios de Zayn, e ele percebeu, sorrindo.
— Como se fala "linda" em vietnamita?
— Gia Hân — ela murmurou, um pouco rouca e hipnotizada.
— "Zia han" — Zayn tentou, fazendo a garota gargalhar. — Muito ruim?
— Você só precisa de um pouco de treino.
— Eu tenho todo o tempo do mundo — o moreno se aproximou, sentando-se completamente de frente para Anita. — Gia Hân.
Ela mordeu o lábio inferior, tentando não parecer uma pré-adolescente idiota - o que era bem difícil, devido a proximidade de Zayn.
— Isso — ela concordou com a cabeça. — Linda.
No quarto, Ramona e Niall estavam deitados lado a lado na cama, com as costas apoiadas na parede. Ela segurava o tablet na frente do rosto, esperando a irmãzinha atender.
— Qual o nome dela? — ele perguntou, ajeitando o cabelo.
— Karin — Ramona estava um pouco nervosa pela reação da irmã. — Eu sei que você deve estar acostumado, mas ela provavelmente vai gritar um pouco.
— Tudo bem — ele deu de ombros. — É bem difícil uma garota de 13 anos não gritar quando nos vê.
— A humildade mandou um abraço — Ramona comentou, fazendo-o rir.
Depois de alguns toques, a versão mais nova de Ramona apareceu na tela, com olheiras e uma cara irritada.
— Jag sover — ela resmungou.
Niall olhou confuso para Ramona, que sorriu amarelo.
— Eu sei que você estava dormindo — a loira começou, em inglês. — Mas eu tenho uma surpresa para você. Por favor, não acorde o prédio inteiro.
Ela passou o tablet para Niall, que sorriu e acenou.
— Olá, Karin — ele disse, simpático. — É um prazer imenso te conhecer.
A garotinha abriu a boca em espanto, afastando-se da câmera. Ficou alguns bons segundos em choque, só olhando para Niall, que sorria para ela.
Então a ficha caiu, e ela começou a berrar.
Ramona franziu o cenho, diminuindo o volume do tablet até o mínimo — e, mesmo assim, os gritos eram altos.
Niall nem se abalou, completamente acostumado com aquilo.
Karin gritou durante 2 minutos sem parar, pulando na cadeira, derrubando as coisas no chão e murmurando palavras aleatórias em sueco que nem Ramona conseguia entender.
— Ok, ok, Karin, pare de ser louca — a irmã agarrou o tablet do loiro, envergonhada. Ela começou a falar em sueco, para que o irlandês não pudesse entender. —Ele está aqui para conversar, não para te ouvir gritar. Por favor, ele é meu amigo e eu não quero que ele ache que eu venho de uma família de lunáticos! Se você continuar se portando dessa maneira, eu não vou te apresentar aos outros garotos!
Ela passou o aparelho para Niall novamente, e Karin já parecia mais calma, mas tinha lágrimas nos olhos.
— Niall — ela murmurou, prestes a cair no choro. — Niall, eu te amo, você é o meu favorito, eu te amo, eu te amo, eu te amo...
Ramona revirou os olhos. Tinha como a irmã a envergonhar mais?
Tinha. Porque, depois dos milhares "eu te amo", ela começou a chorar.
Niall conversou com a fã por cerca de 15 minutos, e até cantou a sua parte em Little Things para ela, que caiu no mais profundo estado de choque.
Depois que ele se despediu, Ramona prometeu a irmã que pediria aos outros integrantes para conversar com ela. Quando Karin desligou, ela sabia que a irmãzinha dormiria abraçada ao computador até receber outra ligação dela.
— Me desculpe por isso — ela colocou o tablet em cima do pequeno criado mudo que tinha ao lado da cama. — Ela é... Intensa.
— Todas as nossas fãs são intensas — ele comentou. — Deve ser por isso que elas são as melhores fãs do universo.
— Você é muito apaixonado por isso, não é? — a loira perguntou, encantada com a simpatia de Niall pela irmãzinha maluca.
— Isso é tudo o que eu sempre quis, a minha vida inteira — ele estava observando a lua pela janela do quarto, e seus olhos brilhavam de felicidade. — Então, é... Eu sou apaixonado pelo o que eu faço, e por todos os nossos fãs. Os garotos se enchem às vezes, sentem falta da liberdade, e nós andamos brigando muito nos últimos tempos... Acho que eles se esqueceram que isso era tudo o que nós queríamos, desde... Bom, desde sempre! E coisas boas e ruins vêm com o sucesso, né? Eu só acho que recebemos mais coisas boas do que ruins. E eles precisam lembrar disso também...
A sueca sorriu, contagiada pelo bom coração do irlandês. Ele merecia tudo o que estava vivendo.
— A sua voz é muito bonita.
— If I'm louder, would you see me? Would lay down in my arms and rescue me? — Niall murmurou, sem tirar os olhos da loira.
Os dois se aproximaram, mas a porta se abriu e Ramona olhou para o outro lado.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Louis quis saber, com Maria na sua cola. — Vamos voltar para a sala e começar outra partida de kings cup!
Ramona levantou correndo e passou voando pelos dois. Maria foi atrás dela, e Niall levantou da cama, irritado.
— Valeu, cara — ele resmungou, trombando com Louis ao passar por ele.
Zayn, Anita, Liam e Victoria já estavam na sala, conversando. Assim que Louis, Maria, Niall e Ramona se aconchegaram, Harry e Courtney entraram pela porta da frente. Ela estava um pouco descabelada e ele tinha os lábios vermelhos.
— Estava ventando lá fora, Court? — Victoria cutucou, sorrindo com ironia. — Você está um pouco descabelada.
— O que aconteceu com a sua boca, Harry? — Louis entrou na brincadeira. — Parece que você passou batom.
Os dois se sentaram, um pouco envergonhados, e Niall começou a embaralhar o baralho.
Eles jogaram diversos jogos envolvendo bebida alcoólica e, perto das 3h da manhã, Liam desmaiou no sofá, sendo seguido por Niall e Harry. Zayn e Louis decidiram ir embora, mas as meninas não os deixaram acordar os que já estavam dormindo.
Eles acabaram concordando, aconchegando-se nos sofás, e as meninas se recolheram para o quarto.
A quarta-feira começou com batidas sistemáticas na porta da frente. Liam abriu um dos olhos, incomodado com os raios de sol.
— Mas o quê...?
— Shhh — Maria apareceu no corredor, com os olhos arregalados; ela vestia uma camiseta comprida e shorts velhos, e, mesmo assim, continuava gostosa.
Aos sussurros, ela foi acordando um por um dos garotos, tapando suas bocas e pedindo silêncio. Quando a banda inteira estava acordada, com caras de quem não estavam entendendo nada, uma voz do lado de fora gritou.
— Meninas, inspeção, podemos abrir a porta?
— SÓ UM MINUTO! — ela berrou em resposta. — ESTAMOS NOS TROCANDO. Vocês — ela murmurou para os garotos —, rápido, vão ter que pular a janela dos fundos.
Victoria apareceu no corredor, com cara de desespero. Maria fez sinal para que ela ficasse quieta, puxando Louis pelo braço, que havia voltado a dormir. Liam, ao perceber a ruiva parada ali, só de shorts e sutiã, deixou o queixo cair.
— Por quê? — Niall estava muito confuso e de ressaca.
— Só me obedeçam, depois eu explico! — ela implorou, e Louis sentou-se novamente, desejando uma morte lenta e dolorosa por ter sido acordado.
Ela e Victoria escoltaram os cinco até o quarto, onde encontraram as outras meninas ainda dormindo.
Anita estava com uma das pernas para fora do cobertor, e Zayn sorriu sozinho.
— ACORDEM, suas imbecis, a inspeção está lá fora — Maria parecia bastante brava. Ela apontou para a janela do quarto. — É uma queda de um metro, mais ou menos, nada de mais. Vão logo!
Os garotos fizeram uma fila indiana, com medo demais para desobedecer ao furacão espanhol, pulando a janela um por um, enquanto as garotas acordavam assustadas e pegavam as garrafas de bebida pelo chão.
— MENINAS, JÁ SE VESTIRAM? — a voz berrou do lado de fora, e Maria empurrou Ramona para atender a porta, enquanto o resto delas se livrava das provas.
A sueca respirou fundo e abriu a porta, sorrindo. Ela usava uma camisola nada cristã, mas o inspetor estava tão acostumado com aquilo que nem se dignou a olhá-la.
— Bom dia — ela desejou. — Estamos prontas, pode entrar.
O conhecido inspetor Charles, com sotaque texano e cerca de 50 anos, entrou no apartamento no mesmo instante em que Victoria jogava a última garrafa de vodca pela janela, acertando a cabeça de Louis, que murmurou um "porra".
Ele olhou em volta, visivelmente desapontado. A sua vida era deixar aqueles alojamentos apresentáveis para os pais dos intercambistas, para que eles não se importassem em deixar suas crias serem escravizadas durante meses, seduzidos pelas promessas de diversão e férias em um local paradisíaco, e só encontrando trabalho e regras que podavam a felicidade de jovens que só queriam beber e pegar um sol.
Ele começou checando a cozinha. Avaliou a pia, os armários, o fogão, a geladeira... Depois, andou pela sala, e pareceu bastante interessado em uma mancha de cerveja no carpete, anotando alguma coisa na prancheta que trazia.
Do lado de fora, os garotos do One Direction estavam agachados embaixo da janela, com expressões confusas nos rostos.
— Mas o que...? — Louis começou, quando Victoria colocou a cabeça para fora e os mandou calarem a boca.
Charles entrou no banheiro, anotou algumas coisas - principalmente a quantidade de calcinhas penduradas no box do chuveiro -, e, logo em seguida, entrou no quarto.
Victoria estava apoiada no parapeito da janela, impedindo a visão do céu claro ao lado de fora.
— Meninas, meninas — ele negou com a cabeça —, quando é que vocês vão começar a arrumar o quarto? Essa é minha terceira inspeção, e eu só consigo encontrar caos!
— Eu tento — Ramona estava atrás dele, lançando olhares nervosos para a janela. — Mas as meninas não colaboram muito.
Ele circulou pelo quarto, com uma expressão nada contente. Passou por Victoria, que prendeu a respiração, mas continuou reto, abrindo o pequeno armário embutido e crispando os lábios.
— Tudo bem, podem começar a se arrumar para o trabalho, eu já vi tudo o que tinha para ver por aqui — ele guardou a prancheta na pequena mala a tiracolo que trazia consigo. — Não preciso dizer que vocês não vão receber nenhum prêmio por esse apartamento. Meninas... — ele suspirou, massageando as têmporas. — Vocês vão ficar aqui pelo resto de julho! Eu sugiro que comecem a limpar direito a própria moradia. Ah, e srta. Hall?
Victoria concordou com a cabeça, para que ele continuasse, sorrindo de nervosismo.
— Vista uma roupa, os seus vizinhos podem te ver assim.
As garotas olharam para fora, encontrando cinco garotos na janela do apartamento ao lado, acenando e gritando coisas impróprias.
Depois do pequeno sermão, ele saiu do apartamento e elas se jogaram nos sofás da sala.
— Eu achei que fosse morrer — Maria admitiu, suando frio. — Sério, senti como se o meu coração fosse explodir a qualquer momento.
— Como pudermos esquecer da vistoria? Meu Deus, se ele pega os meninos aqui... — Anita comentou.
— EI! — elas ouviram a voz de Harry ecoar pelo apartamento, e ficaram alarmadas novamente. Maria correu até a sacada para ter certeza de que Charles já havia ido embora, enquanto as outras foram para o quarto. — Ei, nós ainda estamos aqui!
Courtney enfiou a cabeça para fora da janela do quarto, prestes a ter um AVC.
— Calem a boca! — ela sussurrou. — E vão embora, se pegarem vocês por aqui nós seremos demitidas. Nos vemos mais tarde!
Os garotos continuaram parados onde estavam, piscando em confusão. Courtney revirou os olhos e Victoria curvou-se ao lado da amiga.
— Agora — ela rosnou, e eles saíram correndo como cordeiros assustados.
Courtney saiu do banheiro já uniformizada. Anita e Maria estavam colocando os biquínis, enquanto Victoria e Ramona ajeitavam as suas malas.
— Momento da confissão — ela sentou-se na própria cama, sorrindo diabolicamente e passando o pente pelo cabelo crespo. — Eu ganhei a aposta.
— VOCÊ TRANSOU COM HARRY STYLES? — Victoria berrou tão alto que Anita derrubou a parte de cima do biquíni no chão.
— Não! — Courtney exclamou, com os olhos arregalados. — Eu só beijei ele! Não era esse o trato?
— Claro que não — Maria revirou os olhos. — Do que me vale beijar Louis Tomlinsom? Eu quero dizer que transei com um popstar!
— Merda — Courtney suspirou, levantando-se. — Bom, mas pelo menos estou mais perto do objetivo do que vocês.
— E mais perto de receber uma advertência — Ramona apontou com a cabeça para o relógio antigo na parede, demonstrando que a morena já estava atrasada.
— Merda! — ela berrou, saindo correndo do apartamento.
— Meninos! — os garotos do One Direction finalmente haviam parado de correr, dando de cara com o dono do hotel no saguão de entrada.
Eles se entreolharam, com medo de que ele estivesse ali para dizer que havia demitido as garotas.
— Meninos, estão se divertindo? — ele abraçou Harry pelos ombros, que sorriu amarelo.
— Bastante — Liam veio em sua salvação. — O seu hotel é, com certeza, o melhor que já visitamos.
O empresário com o aspecto de açougueiro sorriu, demonstrando ser um homem muito vaidoso.
— Fico muito feliz em ouvir isso, principalmente vindo de vocês! Ei — ele soltou Harry e envolveu Zayn e Louis ao mesmo tempo —, eu ouvi dizer que tiveram alguns problemas na praia ontem... Já usufruíram do jantar no nosso restaurante cinco estrelas por conta da casa?
— Ah, ainda não, mas quem sabe hoje? — Louis deu o seu melhor sorriso de bom garoto.
— Ótimo! Agora, eu andei pensando... — ele soltou os dois, cruzando os braços na frente da barriga arredondada. — Sei que estão aqui para fugir um pouco do trabalho, Simon me contou tudo a respeito de vocês, mas o que acham de um lual? Nada muito profissional, só violão e uma fogueira. Acho que todos os hóspedes iriam adorar, e vocês teriam a oportunidade de conhecer pessoas novas! Eu não os vejo fazendo amizade com os outros hóspedes...
— Er... — Zayn levantou uma das sobrancelhas, perguntando por telepatia o que seus companheiros de banda achavam daquilo. — Eu não sei, nós...
— Claro! Seria ótimo! — Liam o interrompeu. — Quando você quiser.
— Ótimo! — ele parecia bastante satisfeito. — Eu os aviso.
Assim que ele se afastou, todos se viraram para Liam.
— Quando é que você vai parar de tomar decisões pela banda, Payne? — Zayn parecia realmente chateado.
— Ei, eu só aceitei porque achei que paparicar o dono do hotel seria bom para a nossa relação com as garotas! — ele exclamou, na defensiva.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra! — Louis estava irritado. — Nós viemos aqui para esquecer do One Direction, você não lembra? Uma semana sem a banda, cara!
— Eu acho que o Liam está certo — Niall entrou no meio. — É uma boa estratégia.
Harry estava quieto, ouvindo tudo. Desde que chegaram ali, não haviam brigado uma só vez. E lá estavam eles, voltando aos velhos e ruins tempos.
— Da próxima vez, converse com os outros músicos da banda. Nós não somos Liam e os garotos, somos o One Direction! — Zayn rosnou, virando as costas e indo embora.
— Ah, pelo amor de Deus, quando é que você vai amadurecer, Zayn? — Liam berrou, mas o moreno já estava longe. — Bom, foda-se — ele virou para o outro lado e também se afastou.
Harry, Louis e Niall se entreolharam.
— Acho que — o irlandês começou, afastando-se — deveríamos tirar o dia de folga de nós mesmos hoje.
— É uma ótima ideia — Louis concordou, também se afastando.
Harry ficou parado no mesmo lugar, pensando em como seria bom se eles pudessem voltar a ser o mesmo grupo de desconhecidos forçados a conviver juntos, navegando no mesmo barco de incertezas e instabilidade e compartilhando os mesmos sonhos, esperanças e ambições.
Ele conseguia se lembrar nitidamente do estranhamento do início, mas também se lembrava da velocidade com a qual eles se tornaram amigos, porque não existia laço mais forte do que embarcarem juntos na mesma jornada. E também porque eles estavam predestinados a serem amigos, e ninguém poderia negar aquilo.
Agora, parecia que eles haviam retornado ao status de desconhecidos... Parecia que haviam se esquecido do significado da amizade que os colocou naquela posição, para começo de conversa. Foi a amizade que os transformou naquele sucesso, mas o sucesso parecia estar ameaçando a amizade.
Harry tinha medo que eles nunca mais voltassem a ser apenas amigos de verdade, e sim uma entidade separada pelos próprios egos.
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