9."Perhaps I'm not be alive until summer"
P.O.V John
Caminhei com Patrick até o quarto dos meninos, que por sinal, ficava no final do corredor onde ficava meu antigo quarto.
"Você irá ficar na beliche." Disse para mim apontando para a cama superior e depois vingiu rir "Espero que não tenha medo de altura."
"O que? Não." Falei tentando conter o riso, Patrick fazia uma cara tão fofa e engraçada, que era difícil pensar como ele havia conseguido um espaço com os meninos, que até então, aparentavam ser os mais durões da escola, creio que ele fosse o mascote do grupo.
"A cama de baixo é a minha, a beliche do lado direito é de Harry e Anderson. E a do lado esquerdo dorme apenas Moriarty, na cama de cima." Patrick falava rápido e entusiasmado, por um segundo pensei que estava eufórico por ter gente nova em seu dormitório ou sua felicidade era decorrente pelo fato de eu estar caindo direitinho em alguma emboscada.
Após Patrick me explicar algumas regras do quarto, informar alguns lugares em que eu não deveria mexer e algumas atitudes dos garotos, atentei-me para a parte do teto em cima da cama de Moriarty, enquanto retirava algumas camisetas da mala.
"O que é aquilo?" Perguntei para Patrick, que lia algum tipo de quadrinho deitado em sua cama.
Havia revistas com notícias sobre a família de Sherlock. Ok. A família daquele garoto deveria ser importante. E pensar nisso me assustou ainda mais. Será que Sherlock era daquele jeito por ser rico e ter uma família famosa? Será que ele tem aquelas depressões que só os ricos tem por não saber o que fazer com o dinheiro? Seria por isso que minha mãe evitou ao máximo mexer no dinheiro do papai, para que eu não acabasse como Sherlock?
Tudo bem, esses pensamentos já estavam me enlouquecendo. Voltei a analisar a imagem do teto repleto de folhas coladas. Em meio às diversas notícias e assuntos relacionados a família Holmes, haviam fotos de Moriarty com dois senhores e algumas poucas com Sherlock.
"São os pais de Sherlock?" Perguntei após uma pausa, devido aos pensamentos.
"Sim." Patrick respondeu, largando a revista e indo em direção a cama de Moriarty para analisar as revistas e fotos coladas no teto.
"Achei que era proibido colar alguma coisa na parede ou em qualquer canto da instituição." Levantei e fiquei do lado de Patrick.
"Se tratando de Moriarty, as regras mudam um pouquinho." Tive certeza de que aquela frase saiu com um certo tom de medo da voz de Patrick. "Não se assuste com os assuntos dos meninos aqui durante a madrugada. Eles são uns idiotas. Mas não diga que eu falei isso."
"Pode confiar em mim." Disse colocando a mão no ombro dele, ele era um garoto legal e estava se mostrando ser um pouco diferente dos outros, até parecia que tinha medo deles também e estávamos no mesmo barco. "Moriarty é alguma coisa de Sherlock?", perguntei e a expressão de Patrick ficou estranha, tinha um certo temor e pena em responder aquela questão.
"Não exatamente." Engoliu em seco, apertava e contorcia seus dedos. "Eles... são apenas próximos demais." Tive a certeza que havia visto uma lágrima ameaçar cair de seus olhos. "Um carma que Sherlock tem que carregar."
"Carma? Como assim? A família de Sherlock deve algo a Moriarty?"
"Creio que Moriarty que deve a eles." Patrick fez uma pausa e sua expressão de tristeza mudou para uma mais confortável, o que foi realmente surpreendente. " Olha, esqueça isso. Não se intrometa tanto na vida desses dois, seus dias ficarão bem melhores neste colégio."
Foi se sentar em sua cama novamente e voltou a ler seus quadrinhos. Achei melhor não fazer mais perguntas e arrumar minhas coisas no quarto, já que as aulas começariam no dia seguinte e eu não gostaria que os meninos chegassem e vissem minhas coisas desarrumadas.
Já haviam se passado algumas horas, que mais pareciam minutos, pois eu estava tão absorvido em arrumar minhas coisas e achar algum lugar no quarto para guardá-las e Patrick nem se quer piscava lendo suas HQs, que nem percebemos quando Anderson, Harry e Moriarty adentraram no quarto, cada um com um sorriso malicioso no rosto enquanto Anderson segurava uma revista em suas mãos.
"Então é oficial! Você agora é um de nós." Harry veio em minha direção. Estava eufórico e cheirava a algum tipo de droga, que era extremamente forte e com um cheiro que me provocava enjoo.
"Não sei. Isso é bom ou ruim?" Tentei rir para descontrair o nervosismo de estar na frente daqueles garotos, apenas Patrick era o menos intimidador, ele era... legal.
"Pare de incomodar o garoto." Foi a vez de Moriarty ter a palavra. Ele era alto, quase da mesma altura de Sherlock, mas alguns centímetros mais baixo. Cabelos negros, barba rala quase imperceptível. Seus olhos eram de uma escuridão que me provocavam um certo incômodo, assim como sua pessoa. Moriarty me incomodava, ele me assustava. "Lógico que ele é um de nós." Veio para perto de mim e pousou a mão em meu ombro. "Se não, não estaria neste quarto. Não é?"
Seus olhos me observavam, parecia que queria extrair alguma informação ou simplesmente me matar com o olhar.
"Sim, claro." O som quase não saiu da minha boca.
Os meninos começaram a se arrumar, alguns foram para os banheiros tomar banho enquanto outros arrumavam ou revisavam seus materiais para a aula, que era o caso de Patrick. Após separar meus cadernos e certificar os horários das aulas do dia seguinte, fui para a ala dos chuveiros.
"Será que o Holmes chega vivo até o fim do ano?" Foi uma das perguntas que um menino fez na enorme fila do banheiro para um de seus amigos. Aquele tema me intrigou, obrigando a prestar mais atenção na conversa dos dois. Desde que saíra do refeitório e a cena com Sherlock havia se passado, ninguém mais havia tocado no assunto e aquilo de certa forma me deixava inquieto, era como se Sherlock tivesse sido um ditador ou algum líder muito ruim no passado e agora qualquer citação de sua pessoa provocaria punições.
"É lógico." Disse o outro garoto. "Ele tem Mycroft."
"Aquele lá nunca dá as caras." Continuou o outro. "É outro estranho da família. Mas se bem que eu gostaria de ter um irmão rico." Os dois riram e logo se calaram ao perceber um dos inspetores olhando com reprovação para eles.
Não pude pensar muito sobre o assunto na hora, devido a uma das cabines de banho se desocuparem e o banho ser de cinco minutos devido a enorme fila que se formava no corredor.
Durante o caminho para o quarto comecei a refletir sobre a carta e a assinatura "M.H.". Só poderia significar Mycroft Holmes, o irmão de Sherlock, o tal milionário que os meninos estavam falando. Será que era ele o responsável por manter a família famosa e pagar os estudos de Sherlock? Com certeza haviam muitas perguntas e apenas Sherlock poderia responde-las. Mas como? Nem mesmo Sherlock estava em sã consciência para responder e eu mal o conhecia.
Quando dei por mim, já estava em frete a porta do quarto. Estava tão absorvido nos pensamentos que percebi Patrick sentado do lado de fora do quarto.
"O que você está fazendo aí?" Disse indo próximo a ele.
"Eles estão conversando sobre aqueles assuntos." Patrick tremia de frio e seus olhos quase se fechavam de sono. "Talvez você goste."
"Do que está falando? Gostar do que?"
Ele não respondeu, me olhava com os olhos pesados e uma expressão confusa no rosto. Tomei coragem e abri a porta, confesso que a imagem que vi me surpreendeu também, tive vontade de vomitar.
Anderson e Harry estavam sentados em posições um pouco exóticas de lados opostos da beliche de Moriarty, este segurava a revista que possuía quando entrou no quarto logo cedo.
"Venha John, veja se não é uma linda foto." Moriarty me encarava, levantou da cama e mostrou uma das páginas da revista. Tive vontade de vomitar no exato momento em que vi uma imagem despida de uma mulher, seguida de outras cafetinas nas páginas anteriores que Moriarty me mostrava.
Anderson e Harry haviam saído de suas posições um tanto peculiares e todos passaram a me encarar, até Patrick me observava da porta. Todos estavam sem entender o que estava acontecendo comigo. Talvez eu devesse comentar algo sobre, ficar eufórico ou fazer algum movimento... sensual?
Mas não, fiquei parado com cara de bobo para a revista e uma tremenda vontade de vomitar. Aquilo não fazia meu tipo e eu acabara de descobrir. O que era comum para os garotos me trazia repulsa, nunca pensei em ver uma imagem daquela forma ou pensar em minha reação durante o processo e isso me assustava. Seria eu um anormal?
"Ok garotos." Moriarty falou, virando-se para o lado da cama e guardando a revista em baixo do colchão, uma vez que aquele tipo de conteúdo era proibido no colégio. "Hora de dormir, teremos um dia cheio amanhã e Patrick já está caindo de sono." Riu e olhou para o garoto com as bochechas ruborizadas na porta.
Não fiz perguntas ou qualquer tipo de questionário, Patrick passou por mim cabisbaixo e deitou-se na cama. Fiz o mesmo, mas ao contrário dos meninos, que dormiram rapidamente, esperei todos dormirem, liguei minha pequena lanterna de bolso e peguei a carta junto com o papel amassado que havia achado na gaveta de Sherlock.
"Não aguento mais, Moriarty está cada vez pior. Não me peça para fazer amizades, porque isso é perda de tempo e todos nessa escola são idiotas.
Ouvi dizer que um menino novo está chegando, parece ser inteligente, quase me alcançou nas notas. Mais um para se juntar ao grupinho de Moriarty.
Oh Deus, quem foi o idiota que inventou a socialização entre humanos? Talvez eu não chegue vivo até o verão, diga a nossos pais que o sonho deles está se realizando e eu ficarei livre deste tédio que é a vida.
Adeus irmãozinho.
S.H. "
Um nó apertou minha garganta, pude sentir lágrimas escorrerem. Aquilo era o rascunho de uma carta de Sherlock para seu irmão, o tal Mycroft, escrita alguns dias antes da minha chegada. Eu podia sentir a solidão e a dor de Sherlock e o motivo das fotos e a obsessão de Moriarty, apesar de não entender muito bem aquela história ou o rumo da situação.
Eu não queria fazer parte daquilo, Sherlock estava querendo se matar e algo estava relacionado a Moriarty, que imaginava ser o grande causador de tudo aquilo. O melhor que podia fazer era me afastar de tudo aquilo e focar em meu real objetivo em Londres. Pela manhã devolveria a carta ao quarto de Sherlock e seguiria minha vida normal, falaria aos meninos que ficaria no quarto deles e nos tornaríamos amigos, sempre tentando evitar aquela revista aleatória e os assuntos que Patrick evitava, quem sabe não viraria melhor amigo de Patrick? Afinal, se ele conseguia viver naquele meio, porquê eu não conseguiria?
E assim o fiz, pela manhã todos acordamos com o som dos despertadores e os inspetores chamando os alunos, misturado ao som dos garotos antando e conversando pelo corredor.
Os meninos ainda estavam no quarto, revisando suas coisas e conversando sobre as matérias do dia. Comuniquei a todos o que havia pensado sobre o quarto e minha acomodação na Harrow School. Nem preciso falar que Moriarty abriu um enorme sorriso e os outros meninos acompanharam, exceto Patrick que me encarava com um olhar desconfiado.
Antes de ir para a aula, após o café, segui para meu antigo quarto e coloquei a carta na gaveta em que havia encontrado, agora, definitivamente, iria me livrar daquela história. Não iria de maneira alguma me intrometer em uma briga, confusão ou seja lá o que era aquilo de muitos anos naquele colégio. O que eu poderia fazer? Não podia abraçar o mundo ou salvar um garoto que nem sequer falava comigo e tinha hábitos estranhos. Estava confiante e decidido a não me importar mais com Sherlock Holmes ou qualquer um envolvido.
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