24."I promisse you"

- Você deve ser John Watson. - A senhora encarou o loiro.

- S-sim. - John gaguejou.

A mulher o analisava cuidadosamente, de cima a baixo. Por um segundo lembrou-se de como Sherlock o olhava quando estava em busca de informações, com certeza o cacheado herdara o olhar da mãe.

- Mycroft nos informou que Sherlock havia feito uma nova amizade. - Foi a vez do pai de Holmes falar, após dar um abraço do cacheado que tentou recusar o afeto. - Estou feliz em ver que meu filho está se enturmando mais.

Olhou para Sherlock emburrado. O pai de Sherlock parecia ser um pouco mais maleável perante a questão, mas as opiniões de sua mãe já eram mais reservadas, ela o encarava e voltava a atenção para Sherlock, que mal a olhava. Por sorte, John já sabia como lidar com essas confusões de expressões.

- Separamos um quarto para ele. - Sr. Holmes disse alegre envolvendo seu braço ao redor do pescoço da mulher.

- Ele ficará no meu quarto. - Sherlock disse convicto olhando para o interior da casa.

- O QUE? - Os pais de Holmes falaram em uníssono olhando para o filho. 

- O que isso quer dizer? - A mãe de Sherlock se aproximou para encara-lo. - A casa tem quatro quartos, não precisa forçar o menino a dormir no seu.

- Exatamente mãe. - Sherlock falou com ironia, olhando rápido para ela e depois para John, que permanecia parado sem reação as atitudes do amigo e ao possível embate entre seus pais. - Estou te obrigando a fazer algo?

- Não... - John começou a falar mas foi interrompido por Sherlock.

- Se caso se sentir desconfortável com essa opção, saiba que é livre para ir embora ou dormir na cozinha. - Sherlock o fuzilava e mexia discretamente seu maxilar, deixando John confuso se ele estava sendo gentil ou passando algum código para ele.

- Bem... - John engoliu em seco. - Não importa o lugar que irei dormir. - Tentou rir amigável. - Afinal, sou um hóspede.

- Meu hóspede. - Sherlock enalteceu. - E é por isso que ele dorme no meu quarto. - Olhou para seu pai. - Por favor, ajude John levar as coisas para dentro.

Sr. Holmes e John ficaram um tempo parados, absorvendo as informações mas logo pegaram as malas e levaram para a casa, deixando Sherlock e sua mãe a sós.

- Sherlock, o que está acontecendo? Aonde está Moriarty? Por que ele não quis vir? - A mãe de Sherlock encarava o filho.

- Moriarty não é uma boa pessoa, Mycroft já te contou o que ele fez comigo! - Sherlock falava alto e irritado.

- Meu deus Sherlock! Você nunca deu uma chance a ele. Ele é um menino, não tem a proteção dos pais e nós queremos apenas ajudar, ajudar um garoto mal compreendido.

- PARE COM ISSO! - Sherlock sentia um choro insano vir, mas era terminantemente proibido demostrar fraqueza perante sua mãe, mantinha o luxo de nunca chorar ou já ter chorado perto dela ou qualquer pessoa, exceto John, nos últimos dias. - A senhora sabe o que aconteceu e o que sempre acontece quando estou perto Moriarty. E a senhora continua o tendo como um filho? É ridículo como ele consegue persuadir as pessoas.

- Cale a boca Sherlock! - Sua mãe gritou. - É ridículo ter um filho viciado em drogas, que mal fala com os pais e vive em seu mundinho estranho de deduções, é por isso que você não se dá bem com Moriarty,  Mycroft é obrigado a encobrir seus erros por toda parte. - A senhora abaixou a cabeça. - Você poderia ser parecido com Mycroft pelo menos. Nunca te criamos para ser assim meu filho. - Fala em tom brando.

- Nem sempre temos aquilo que queremos. - Sherlock respirou fundo e dirigiu-se para a casa. - A senhora vai gostar dele.

- O que houve com ele? - Sra. Holmes perguntou se referindo a John. 

- Perdeu a mãe. Não tem ninguém. - Falou já subindo os pequenos degraus que davam para a entrada da sala.

- Está errado. - Sua mãe gritou recebendo um olhar intrigante do filho. - Ele tem você.

- Desde quando se importa?

- Não me importo. Muito menos admito a ignorância que você tem perante Moriarty, mas estou impressionada.

- Com o que? - Sherlock perguntou.

- É a primeira vez que alguém faz você chegar em casa sem estar sobre o efeito das drogas. - Disse cruzando os braços. 

Sherlock queria sorrir, realmente não havia parado para pensar nisso, todas as férias tentava ficar o mais entorpecido possível para não ter que aturar Moriarty, era a primeira vez que chegava e não pensava em se afogar em um coquetel a base de heroína ou via as árvores girando por algum outro efeito de drogas anteriores, tentou segurar a vontade de chorar e sorrir ao mesmo tempo e permaneceu sério sem nenhuma expressão no rosto. 

- Cuide dele. - Sua mãe disse, vendo o filho dar as costas e entrar na cada seguindo-o logo em seguida.

John já estava no quarto colocando algumas roupas no lugar, enquanto o pai de Sherlock lhe mostrava algumas coisas de que poderia fazer uso e alguns lugares da casa.

- Pai. - Sherlock disse entrando no quarto.

- Olá! Bem... - começou a ficar sem jeito diante do filho. - Eu mostrei algumas coisas para John e... - parou e olhou para John. - Vou deixá-los a sós.

O Sr. Holmes saiu, dando um leve tapinha nas costas de Sherlock. O Sr. Holmes sempre se dera bem com Sherlock, bem no sentido que cada um ficava no seu canto, ele admirava o filho internamente e sabia que ele era mais corajosos e inteligente que ele, mas nunca soube lidar com ele igual sua mulher fazia, toda vez que estava perto dele se sentia sem jeito e um certo nervosismo se instaurava no ambiente.

  Agora a presença de Sherlock estava deixando John sem jeito.

- Seu pai é muito gentil. - John disse, percebendo um leve sorriso no rosto de Sherlock. - Mas sua mãe não gostou muito da ideia. - sentou -se na cama de casal, que ficava no centro do quarto. - Eu ouvi ela falando sobre Moriarty.

- Desculpe. - Sherlock disse cortando a fala do amigo.

- Pelo que? - John olhou para o amigo e viu seus olhos rodarem pelo quarto, logo entendeu o motivo. - Não se preocupe. Acho que tanto tempo dormindo no mesmo lugar que você não iria conseguir me acostumar a ficar em um quarto separado.

Os dois sorriram, mas logo uma expressão de preocupação surgiu no semblante de Sherlock.

- Moriarty está aqui. - Sherlock sentou na cama e encarou John.

- Como assim? Mycroft...

- Sim. Mycroft tentou mantê-lo longe. - De repente Sherlock pegou na mão de John. - Mas eu o conheço, essa trégua, esse afastamento e ontem no enterro.

John percebeu a voz de Sherlock tremeluzir, ele estava com medo, suas feições estavam tensas e seu toque firme. Continuou.

- Ele é esperto e sabe o caminho para cá. Ele está com raiva John, e não vai exitar até me destruir.

Era horrível, Sherlock tremia, suava e sua pele estava mais branca que o normal, ele não se encontrava sob o efeito de nenhuma droga, a não ser o medo.

- Não posso te colocar em um quarto separado. Ele tem passe livre nessa casa. - Sherlock respirou fundo e fechou os olhos.

John não suportou ver aquilo e acariciou os cachos do moreno, abraçando-o em seguida.

- Vamos ficar juntos. Nada vai acontecer. Eu prometo. - John abraçou o amigo com todas as forças.

O quarto era grande, tons de verde e marrom decoravam as paredes. Móveis antigos como uma mesa de cabeceira, uma estante enorme que cobria uma parede, uma janela enorme que dava vista para uma colina repleta de arvores e uma cama de casal no centro.

Ambos dormiram na mesma cama, mas cada um em uma extremidade do móvel, estavam se acostumando com a sensação de sentirem e permitirem sentir algo a mais um pelo outro.

    O dia amanheceu incrivelmente lindo, apesar da temperatura do local, pela altitude, ser um pouco mais baixa que o normal para o verão. Mas nada que afetasse a manhã.

    Sherlock fora o primeiro a fazer sua higiene e tomar seu desejum, fazendo com que John tomasse café com os pais do cacheado e Mycroft que havia chego pela manhã, mas teria que voltar para Londres para resolver alguns assuntos no palácio de Buckingham.

    O café foi agradável, o pai de Sherlock estava se adaptando fácil as escolhas do filho e já começara a considerar John uma boa pessoa. Ao contrário da Sra.Holmes, que apesar de se mostrar uma pessoa neutra nessa reviravolta, volta e meia dava olhadas sarcásticas e sistemáticas para John.

     Mycroft conversava sobre os assuntos e como era a vida em Walmsgate, citou alguns lugares que Sherlock adorava visitar como a velha igreja tombada, a que tornara um símbolo da aldeia.

    Já passavam das dez, quando John tomou coragem para explorar a casa e seu arredor, com muita sorte encontraria Sherlock.

     O céu estava limpo e a neblina da noite passada havia sumido quase cem por cento. John teve uma visão melhor da casa.

     Realmente era grande, uma enorme casa branca de dois andares com sua decoração muito semelhante a art nouveau ou estilo barroco. Janelas marrons davam voltas pela casa, quatro quartos, sala de jantar e visita, cozinha, dois banheiros e vários móveis do século XVIII e XIX formavam a mobília, juntamente com vários quadros do e obras valiosas enfeitando a casa.

     O exterior era o mais campestre possível, alguns bancos de madeira, um jardim na frente da casa e uma pequena horta atrás dela, árvores e sons de pássaros preenchiam o ambiente.

    A aldeia não era composta por muitos moradores, mas a casa de Sherlock era a mais afastada, era como se realmente estivessem perdidos ou em um outro país.

    John caminhou por uma pequena plantação de girassóis e logo encontrou um quartinho de ferramentas e alguém dentro dele.

    Sherlock estava revelando fotos, mas não do jeito comum. Ele havia pego algumas folhas e estava tentando fazer cópias delas.

    - Willian Fox Talbot. - John disse ao entrar no quartinho de ferramentas.

   - O pioneiro da fotografia. - Sherlock complementou sem olhar o amigo enquanto mergulhava um pedaço de papel escuro em uma quantia razoável de nitrato e cloreto de prata. - Não sabia que conhecia.

    - Bem. - John começou. - Tem um museu dele dentro da Lacock Abbey. Eu costumava ir lá. - O loiro observou o moreno e sem perceber complementou o experimento. - Depois de seco as folhas entram em contato com o objeto que será gravado e se obtém sua silhueta.

    Sherlock não respondeu, apenas colocou as folhas de lado, pegou na mão de John e sem lhe informar nada saiu apressadamente com ele.

    John não entendeu, mas resolveu não questionar, adorava ser guiado por Sherlock, suas atitudes repentinas, apesar de ficar um pouco apreensivo.

    Atravessaram grande parte da mata fechada até chegarem em um lago, logo acima havia uma clareira e alguns pinheiros. A grama era verde e algumas pétalas de flores amareladas e rosas, misturavam-se com as folhas verdes que caiam na grama, raios de sol rasgavam o vão das árvores, provocando algumas linhas de luz. Era lindo.

  - Bem vindo ao meu refúgio. - Sherlock disse jogando-se na grama.

  - É lindo. - John disse deitando ao lado do amigo, ambos vendo as folhas das árvores brincarem com a luz do Sol que transpassava entre elas. - Não sabia que gostava de lugares assim?

- Ninguém sabe, só você agora. - Olhou para John e sorriu, sendo correspondido por um outro de John. - Aqui eu criei meu palácio mental. Quase ninguém sabe a existência desse espaço.

- Nem seus pais?

- Eles acham que não tem mais nada depois da mata fechada e Mycroft acha perca de tempo se infiltrar em lugares alheios.

- É um paraíso que só você teve coragem de descobrir?

- Digamos que sim. - Sherlock respondeu.

- Mas porquê está me mostrando isso.

- Porque eu confio em você e não aguento mais guardar esse lugar só para mim. - Sherlock olhou carinhoso para John. - Quero que faça parte dele também.

  Os dois apenas se olhavam, deitados na grama, o vento e o som dos pássaros eram a trilha sonora do momento.

  De repente o espaço entre eles foi diminuindo, suas mãos se tocaram e em segundos não havia mais espaço entre seus lábios.

   O beijo era doce e leve, cheio de desejo de ambas as partes, bem diferente do beijo frenético de Sherlock em Londres.

   John acariciava os cachos do moreno e Sherlock massageava a face do loiro. O beijo persistia, cada um explorando a boca e lábios um do outro. Todo amor e paixão que vinham sentindo se definia em um beijo, que começou com um pouco de medo e receio mas logo ganhou intensidade

    Foram obrigados a parar por falta de ar, mas permaneceram abraçados, sentindo a sensação daquele momento.

  - Não estamos seguros aqui. - Sherlock disse baixinho como se alguém pudesse escutar.

  - Nós vamos nos proteger. - John disse passando um fio de cabelo para trás da orelha de Sherlock e pousando um selinho nos lábios do mesmo.



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