23. "I like to be crazy"
A noite foi curta para os dois meninos. Poderiam estar em quartos separados mas seus pensamentos estavam em conjunto.
John se remexia na cama, pensando no curto momento de alegria com Sherlock naquela noite , na dança desajeitada, mas que fora uma das melhores que já tivera dançado em sua vida, pensava na declaração de Sherlock e no quanto difícil aquilo estava sendo para ele. Ele conhecia Sherlock, ele era um menino calculista, observador e incrível em suas deduções e isso o tornava um ser frio para algumas pessoas.
Era questionador e ignorava cada sentimento seu, nunca experimentara sensações humanas, mais parecia um robô. E aquela noite, aquela conversa, o som gravado do violino, a dança e os olhares foram decisivos para John perceber o quanto Sherlock era sensível a coisas simples como o desejo, ele construíra uma armadura que naquela noite se quebrara sem medo de julgamento.
Isso tinha um efeito mais do que reverso para ele. O que algumas pessoas levariam semanas para fazer, Sherlock fazia sem pensar e via tudo isso como uma experiência, como aquilo iria afetá-lo e depois afastava-se, recolhia-se em sua armadura para sentir as reações que aquilo lhe trazia.
Mas naquela noite ele se mostrou aberto para sentir cada reação e John sabia que Sherlock precisava daquilo, do pedaço humano que faltava e John precisava da parte racional e maluca de Sherlock para sobreviver.
Já o cacheado permanecia sentado na beira da cama, seus olhos permaneciam fixos em um ponto, as vezes se fechavam para penetrar em seu palácio mental e entender o que se passava com ele.
Sherlock permanecia em estado de choque, sem compreender ao certo suas atitudes. Sempre agira por impulso, isso era normal, mas nunca envolvia sentimentos.
Após aquela conversa e a resposta de John indiretamente, indicando que iria para Walmsgate, tentou digerir as atitudes que havia tomado e as ações inesperadas ocorrentes naquele dia.
Ele confiava em John e agora, mais do que nunca, sabia que John confiava nele. Jogou o resto de sua coluna na cama, respirou fundo.
Pela primeira vez estava bem consigo mesmo, suas ações e seus sentimentos não o assustavam mais, poderia conviver com aquilo, desde que John, o causador de tudo aquilo, ficasse com ele.
O dia amanheceu rápido para os dois quartos e logo o cheiro do café da Sra. Hudson inundou o flat.
Como sincronia, a porta dos dois quartos se abriram na mesma hora. Os meninos trocaram leves olhadas, a tensão era inexistente e um sentimento de paz e aconchego no sorriso um do outro era presente.
- Você está bem? - John perguntou, aproximando-se de Sherlock.
- É estranho dizer que sim? - Sherlock ironizou e logo começou a rir, sendo acompanhado por John.
- Vindo de você... é um pouquinho. - John encarou o amigo. Estavam um de frente para o outro e a vontade de beijá-lo era imensa, mas conteve seus ânimos e apenas abraçou o amigo.
Um abraço longo e carinhoso, John enlaçava o pescoço de Sherlock e sentia seu cheiro junto com os cachinhos que faziam cócegas em seu rosto. Sherlock demorou um pouco para reagir ao abraço, mas logo levou cuidadosamente suas mãos a cintura do loiro, massageando levemente suas costas.
- Vamos com calma. Está bem? - John falou em seu ouvido. - Quero que entenda o que está sentindo e não vou culpá-lo por nada que fizer.
Ao ouvir aquilo, Sherlock sentiu uma confiança absurda dominá-lo, John não poderia ser real, ele o compreendia em todos os sentidos e a reação do cacheado foi apertá-lo ainda mais entre seus braços.
Afastaram-se depois de alguns minutos.
- Mycroft passará para nos pegar as sete horas. - Sherlock falou inseguro. O medo de John seguir com a ideia de morar em Londres o assustava.
John percebeu a tensão de Holmes e em um gesto carinhoso, pousou sua mão no rosto de Sherlock, desenhando uma linha que ia de sua testa até seu queixo.
- Não tenha medo. Eu vou com você. - John abriu um de seus melhores sorrisos. - Eu estava louco ao dizer aquilo.
- Você é louco por querer ficar comigo.
- Então eu gosto de ser louco.
Riram, mas a conversa só não foi para outro caminho porque a Sra. Hudson entrara na sala anunciando que o café já estava pronto.
O dia passou rápido, Sherlock e Watson arrumaram as malas. Sherlock conversava sobre a casa de veraneio, que foi uma herança de sua avó materna, que era casada com um pintor.
Dizia do lugar pitoresco e praticamente isolado, uma de suas coisas favoritas daquele lugar. E que o Flat na Baker Street fora um presente de Mycroft para ele, um presente contra vontade, uma vez que este se recusara a comprar aquele flat, dizendo que existiam lugares melhores em Londres, mas por insistência do Holmes mais novo, cedera os pedidos.
John ria e ora ou outra pegava-se olhando para Sherlock, este fazia o mesmo e trocavam breves sorrisos.
John falava de sua infância em Lacock, das lembranças que tinha de seu pai e no quanto queria pensar que sua mãe estava bem. Lógico que Sherlock estava se segurando para não dizer que a morte era algo normal e não entendia o motivo das pessoas ficarem abaladas, uma vez que todos sabiam que iriam morrer.
Mas bloqueou esse pensamento, sabia que se um dia John morresse antes dele, ficaria abalado e voltaria a ser o menino fechado e estranho de antes, talvez até pior.
O relógio marcava 7:00pm quando a campainha tocou e a Sra. Hudson subiu freneticamente as escadas para anunciar a chegada de Mycroft. Realmente a conversa estava tão interessante que mal viram o dia passar.
- Espero que estaja decidido de sua escolha irmãozinho. - Foi a primeira coisa que Sherlock ouviu quando Mycroft entrou na sala.
- Por favor, diga que já fez sua parte. - Sherlock levantou e encarou o irmão.
- Mas é claro. - Olhou para John. - Não se preocupem, Moriarty está fora do caminho e já falei com o papai e a mamãe. - olhava agora irônico para Sherlock. - Eles perguntaram se Moriarty iria com você.
Mycroft olhou sério para Sherlock e desceu para o carro. John e Sherlock se entreolharam nervosos, pegaram suas malas, despacharam no carro, despediram-se de Hudson e em menos de minutos estavam no jatinho particular de Mycroft indo para Walmsgate.
Desembarcaram próximo a cidade de Burwell. Mycroft informara que iria ficar pela cidade para resolver alguns assuntos.
Já passavam das duas da manhã, quando um carro veio buscar Sherlock e John para os levarem para Walmsgate. John estava sonolento toda a viagem, mas quando entrou no carro e a medida que as luzes da cidade diminuiam e as árvores fechavam a estrada, o sono ia se perdendo e uma ansiedade e nervosismo cresciam.
John estava preocupado em como seria a reação dos pais de Sherlock, ele sabia que eles haviam aceitado, mas sabia que prefeririam se Moriarty estivesse com ele.
Já Sherlock como sempre, estava neutro em suas emoções, estava sério e concentrado desde que saíra de Londres e não aparentava ter um pingo de sono ou cansaço. O máximo que fazia era sorrir para John em alguns momentos e apertar levemente suas mãos afirmando estar tudo bem.
O carro parou em uma clareira, não havia sinal de casas ou comércio por perto, um breu dominava o local. Era começo do verão, mas o ambiente aparentava mais o clima do outono.
– O ambiente fica melhor quando amanhece. – Sherlock disse saindo do carro e oferecendo a mão para John sair do carro. Por um segundo a agitação de Lodres estava fazendo falta.
John pegou algumas malas e Sherlock outras, caminharam cerca de dois minutos e logo o loiro avistou uma luz e uma casa enorme de dois andares surgindo em meio as árvores e um senhor alto, magro de cabelos grisalhos acompanhado de uma senhora, um pouco mais baixa do que ele, mas também de cabelos grisalhos, que batiam em seu ombro, andavam na direção deles.
A senhora era um pouco rechonchuda, mas seus olhos azuis brilhavam iguais aos de Sherlock e o sorriso do homem era idêntico ao do moreno. Com toda certeza aqueles eram os pais de Sherlock, o Sr. e a Sra. Holmes, estavam a apenas alguns centímetros a sua frente.
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