Meus enjoados favoritos



Depois de quase dar uns tabefes no Benício pra desocupar minha mesa, onde a tia dele achou que deveria estabelecer o rapaz, viramos colegas de trabalho e QUASE nos damos bem. 

Benício é um cara magricelo, bem mais baixo que eu, tem um rosto comum e interessante, mas tá sempre sério. Sinceramente, acho que é banguela porque seus diálogos monossilábicos não me deixam ver seus dentes.

Só pra dar uma noção de como é conversar com ele em horário comercial, segue:

— Bom dia, Benicião, meu querido!

─ Oi.

— Esfriou né, rapaz? Ué, não veio ontem, avisou alguém? Não me passaram nenhum recado e tentei te ligar.

— Avisei a tia. 

— Ninguém me avisou. Ela não é empregada da empresa e você sabe que precisa conversar comigo. Na boa... eu não curto isso de chefe e subordinado, mas respondo pelo setor e não sabia onde te achar. Nós trabalhamos juntos e não, um contra o outro. Me avise quando acontece algo e assim vamos manter um bom relacionamento profissional. Você tem meu número, meu whats?

— Aham.

O que esse cara tem? Olhando no sistema da folha, descobri que tem vinte e quatro anos, não é velho, nem tão criança para se comportar desse jeito. Tipo de pessoa que não tá a fim de fazer amizade. Dá vontade de dar um gelo nele, mas não vou bancar, eu, o crianção.

RH é sempre a mesma coisa. Começamos a fechar a folha lá pelo dia 25 do mês, somando o ponto, lançando hora extra, atestado e faltas. Mesmo que o pagamento possa ser feito até quinto dia útil, dia primeiro tá na mão do pessoal. Depois disso, até dia 05 tem muita coisa pra fazer, guias para pagar e informativos da folha.

Tá pensando que trabalhamos só dez dias no mês? Nada, meus jovens... tem rescisão, contratação, faz multa de FGTS, faz aviso, lança um atestado do cidadão que adoeceu, agenda a perícia do INSS pro outro. Tem funcionário que de vez em quando pisa num prego, lá vai o Charles mandar a CAT, informando acidente de trabalho e levar o cara pra tomar uns pontos e limpar o machucado. Fim. 

Não é o fim. Tem trocentos exames periódicos pra agendar. Merda, esqueci de encaminhar um funcionário para o exame de retorno ao trabalho depois do fim do benefício previdenciário, tava encostado há quase seis meses e voltou agora... ah vai dar merda. Porra, o que o Benício tá fazendo aqui? Eu costumava multiplicar por três essa loucura toda, mas quando ele foi contratado, me aliviou um bocado. Agora tá lá... com cara de cu, só porque comentei que ele precisa me avisar quando não vir. Acho que podemos manter a cordialidade no trabalho, mas o que é devido, precisamos falar. 

— Benício, agenda o exame do Carlão, faz favor.

— Que exame? Que Carlão?

— Quem que retornou ao trabalho sexta? O Carlos Henrique que tava encostado. Cara, não tem isso agendado? Precisa controlar, meu nego, a gente sofre fiscalização direto.

— Tô sabendo.

— Tá sabendo? Então marca o examezinho dele, meu jovem. —  Falo "quase" estressado".

Que vontade de tacar um grampo na testa dele, mesmo que faça um estrago naquela pele que parece um copo de leite. Preciso confessar que ele ficou fofinho sem aquele cabelo de Emo na testa, agora que cortou. Pior que ele dá um "caldinho pra sopa", tão magricelo, retinho, mas tem uma bundinha boa que eu notei. Melhor nem olhar muito, até porque o moleque comentou que namora. Namora o que mesmo? Nunca saberei. 

—  Ei, quer um bombom? — Pra amenizar, eu amacio a voz e pergunto.

— Hã? — Ele me olha e não deixo de perceber, até por que é nítido, que esse cara quando cora fica uma graça. — Marco.

— Quem é Marco?

— O exame. 

— Ah entendi, tu marca o exame. Quer um chocolatezinho? Pra adoçar a vida... — Final de ano, na sexta de Natal, ganhamos uma caixa de bombom e não levei pra casa, assim todo dia tenho um doce na gaveta. Benício parece ter medo de pescar um bombom na caixa. — Gosta de Lancy?

— Tanto faz.

Esse cara parece minha mãe quando recebe o salário e paga as contas, fica insuportável como se a culpa fosse da gente que tá em volta. Ele fica olhando pra caixa indeciso e me faz sorrir, tadinho, pelo jeito ele tá sem graça. Com o dedo, ele remexe procurando aquele de certo gosta e eu incentivo:

— Pega uns dois ou três, chocolate é tudo de bom, né.

— Não tem aquele que eu gosto. — Enjoado! E ainda esnoba. — Só gosto da Cacau®.

Não dá uma vontadezinha de ser malcriado com ele? Dá né. Mas não preciso disso, tenho estresses suficientes e na suavidade, sorrindo de boas, eu respondo:

— Bom pra ti. Mas Cacau Show tá lá na loja. Aqui tem essa caixa azul que dá pra matar a vontade.

— Nem gosto tanto assim de chocolate.

— Então vai te cagar... Chega de papo e vamos trabalhar.

Ah, cara chato. Fica sério o restante do dia e pra não ouvir o barulho do silêncio, eu coloco um samba bem baixinho pra não atrapalhar "certas" pessoas e quando olho para o lado, ele está de fone de ouvido. Estranho, coloquei tão baixo que eu quase não escuto. Tá fazendo por implicância mesmo. Tem tantas coisas para acertamos de forma profissional, mas não há diálogo. Eu deveria estar acostumado com isso, porque voltei há uns três meses aqui para Balneário e juro que estou tentando me entrosar com ele.

Não é fácil e o ambiente fica pesado pra trabalhar quando você não sabe como abordar o colega e pior, é não saber como ele vai te abordar.

...

— Graças a Deus é SEXTA-FEIRA! — Quem nunca surtou às quinze para as dezoito horas de uma sexta-feira, quando não precisa trabalhar no sábado e domingo??? Levanta a mãozinha!!!— Hoje vamos reunir um pessoal na casa do primo da mãe, é aniversário da mulher do cara, bora Benício?

— Ainda faltam doze minutos. — Ele responde concentrado no que faz, olhando para o monitor.

— Não, rapazi, tô convidando pra ir comer um churrasquinho, tomar cerveja e dar umas risadas. Tens compromisso?

Convidei só pra ver se esse cara dá um sorriso. Sei não, eu ainda acho que ele é banguela.

— Ah... — Ele olha nos meus olhos e reparo que os seus não são castanhos, mas verdes de um tom escuro. — Não... capaz... eu não conheço as pessoas. Não sou de sair. Não saio e... obrigado, Charles.

— Não posso te obrigar e também não gosto que fiquem me insistindo para fazer algo contra minha vontade, mas pensa bem. Lá é tudo gente simples, bacana e alegre.

— Sim. Quem sabe um dia.

— Opa! Vou cobrar.

Ele sorri então, pela primeira vez. Aleluia, irmãos!

Reparei três coisas no seu sorriso:

Coisa número 1: Não é banguela

Coisa número 2: Sorriso bonito

Coisa número 3: Deu vontade de morder o lábio inferior dele

...

Lá vou eu, me amarrar num branquinho de novo. Oh peste pra gostar de sofrer, esse Charles. Pior que me dá um baita medo de descobrir que esse cara gosta de alguém e... sabe né. Eu já passei por essa de me apaixonar por alguém que sofria por outro e sofri pra caralho pra esquecer o guri. Tô pior que cachorro quando toma picada de cobra e sobrevive, fica com medo até de linguiça depois.

Mas como não sou cachorro não, vou me acabar na linguiça hoje. Linguiça na brasa né! Já maliciaram. Festinha de família, aniversário da Suzi, melhor pessoa. A nega Suzi é travesti e vive junto com o primo da mãe, o Valdizão, um paredão que bota medo quando a gente olha pra ele, mas em trinta segundos de conversa, conquista uma pessoa, pois é a pessoa mais engraçada que conheço. Lembra o Mussum dos Trapalhões e até imita o falecido artista.

— Quéquéisso! Charles, tá vestido de patrãozis. — Valdizão pega no meu pé porque ainda estou com o uniforme social da empresa. Sequer me dei o trabalho de ir pra casa ou acabaria por demorar demais.

— Oxi, meu rei... Patrão, eu?

Não tem como ficar sério na presença desse homem e não tem como ficar triste no meio dessa família, família bombom, a melhor de todas.

Se teve pagodeira na sexta de noite? Mas é claro! Teve de tudo.

Cheguei pedir um short, camiseta e havaiana emprestada, ajudei assar a carne, tomei muita cerveja, pinga com gengibre, uma caipira de schweppes citrus com vodca e fiz uma misturança que foi feio de ver. Linguicinha, coração e coxinha de asa de frango, pão e a maionese da mãe. Tinha uns doces, sagu, chico balanceado e um negócio verde que não entendi o que era, mas comi também, nem lembro o nome, tava bêbado. Ninguém paga minhas contas, bebi mesmo.

Eu cantei muito, bebi mais gelada, sambei na garoa com minhas primas, fazia tempo que não bebia tanto. Anos e anos, pra ser honesto. Não sei quem levou meu carro e nem como cheguei na cama do quarto de visita da mãe, dona Rochelle... ops, dona Terezinha.

... Acordei com o crânio a pesar uns dezesseis quilos. Dor de cabeça até 2069. 

Ânsia de vômito? Isso não era nada. Vomitar alivia, apesar do nojo que é. Deu diarreia? Deu também, deu de tudo, irmãozinhos, deu de tudo e quase que morro. Não é exagero, não!

Passei mal? Não. Eu passei péssimo de mal. Mas graças a Deus, não sujei fora do vaso da mãe, ou a nega surtava. 

Passei a madruga, vomitando e cag...... até quase me esvair e a minha mãe só disse: 

— Desde que deixe o banheiro limpo, pode passar mal o quanto quiser. — Parece aquele gatinho preto lixando a unha, mesma expressão soberba. 

E se tivesse morrendo? Ela calmamente diria: 

— Morrer, pode morrer, mas não suja meu tapete.

É mole ou quer mais?  

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Oioioiii  Pessoal, lindo! Mais um capítulo de bombom pra vocês!!!

Tem mãe que é assim mesmo, kkkkkkkkkkkkk, mas são uns amores. 

Estou gostando de escrever esse conto, porque o Charles somos todos nós. E agradeço muito pela oportunidade de estar aqui e compartilhar mais uma história com vocês.

Muitos beijins, um bafinho de gato e abraços 🤗🤗🤗🤗🤗🤗🤗🤗🤗🤗♥

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