"Espada de Jedi"



Benício é um carinha que não se mede pelo tanto que fala, então, o silêncio dele no caminho até a casa da minha mãe, me deixou tranquilo ou pelo menos, não preocupado. Espera, porque eu estaria preocupado? Com o ex foi tranquilo, a reação dela (mãe) foi bem amistosa, então vai dar tudo certo.

— "Bença" mãe. — Tá, não pode rir, mas é assim que eu chego na casa da mulher até hoje. E sempre vai ser. 

— Deus te abençoe, "mundiça".

— Mãe esse daqui é o Benício, meu namorado.

— Opa, espera... eu conheço ele do 1,99. — Ah pela misericórdia, lá vem ela querendo dizer que já conhece o meu guri. Tadinho, roxo, feito um... negócio que é roxo mesmo.

— Mãe, ele deve se parecer com alguém que a senhora viu no 1,99.

— É que a minha mãe tinha uma lojinha de 1,99 quando eu era mais novo. Aí eu tinha que atender lá. 

— Ah. — Aprendi com ele a ser "monossilábico". 

Calei-me. Mas foi tranquilo, não houve aquele calor de quando eu apresentei o Davi, porque a mãe se apaixonou, mas foi bem amistoso, principalmente com o Alan meu irmão. Descobri que o Benício também gosta de Bob Marley pelas conversas deles. Deu nojo.

Bruna me cutucou e chamou pro lado pra comentar:

— Lindinho, heim. Não, é só bonitinho na verdade, mas ele tem aquele jeito de namorado.

— Mas é tola, jeito de namorado?

— É, que começa tímido. Esses dão mais certo do que os muito enturmados.

— Não existe regra dona Moça. Mas notei que a mãe não deu muita bola pro Benício, tu reparasse?

— Ela sofreu por tua causa. Eu lembro que nunca tinha te visto chorar depois de adulto e... foi foda, lembra?

— Passado, Bruna. Que dá medo, dá, mas vou deixar de viver a vida se pensar só nesse lado.

— Vai com calma dessa vez.

— Vou no ritmo que precisar. Esperei uns bons anos pra me arriscar e abrir o coração, o que tiver que ser vai ser.

— A gente tá torcendo pra dar certo, mano.

Minha mãe também me chama pro canto e enche de conselhos e fico baita sem graça com a pouca atenção que ela deu pra ele, fosse na chegada, no durante e no almoço. Deu de notar que depois do almoço, ele ficou meio perdido mesmo comigo segurando a mão dele.

— Quer ir lá pra casa?

— Mais tarde, não fica bem ir tão rápido.

— O que achou da minha família?

— São gente boa. Gostei.

— Desculpa o jeito da mãe, tô meio sem graça. Ela é brincalhona, doida, deixa te conhecer melhor que vais ver que pessoa incrível que ela é.

— Ah Charles... eu gostei dela. Também não sou de muita conversa, tá de boa.

— Queres conhecer meu quarto de solteiro?

— Vamo.

— Ah safado...

— Dois safados, xô... não quero safadeza na mesa. — Minha mãe volta a ser a Rochelle e brinca com a gente nos espantando para o quarto de visita, meu ex quarto de solteiro. — Ei moço, esqueci teu nome...

— Benício.

— Benício fica a vontade, meu querido. Tu já é de casa —  Assim melhorou, mas então ela olha pra mim com aquela sobrancelha erguida e diz —  E tu, negão, nada de ficar de safadeza que vou puxar um ronco e meu quarto é do lado, ali ó... 

— Mãe, depois nós dois conversamos. — Nossa, fiquei sem graça? Fiquei sim. 

No final foi bem positivo o encontro. A hora que me afastei, ela puxou assunto com ele e foi bonito de ver, tava conversador que só vendo pra crer.

— Tua mãe vendeu a loja? Ué, porque? Deve ser cansativo ter um comércio, né.

— Aham.

— O que ela tá fazendo hoje? Ainda trabalha em loja?

— No shopping.

— E tu é formado igual o Charles?

— Sou.

— Não fica preocupado, logo tu arruma outro trabalho e nem vai ficar se lamentando que foi despedido, tem mais Deus pra dar, Benício. O diabo tira, Deus dá em dobro pra nós, confia.

— É...

Ele não quis retrucar a mãe e dizer que era ateu, se comportou bem e ela no final disse, ainda não sei se foi com sarcasmo...

— Gostei de te conhecer, Benício. Vem mais vezes pra gente conversar mais.  

......

Mas... passaram alguns *muitos* dias em nossa rotina, eu buscava e levava em casa, ele dormia no final de semana comigo, a família dele estava mais tranquila, dissipando um pouco o boato da separação dos pais dele, o aviso prévio indo para a metade e da metade para o final.  

— Charles, o seu Hercílio perguntou se posso ficar mais uns dias, porque não teve tempo de contratar outra pessoa.

— Bonito pra cara dele.

— Eu assinei o aviso e optei por sair sete dias antes, então dia treze de janeiro(2017), depois de amanhã é meu último dia né?

— Sim, meu lindo.

— Não posso perder aquele serviço que apareceu.

— De jeito nenhum. Lá na Palhoça tem uma mulher no RH que dá conta e o empreendimento tá nos finalmente, aqui é que o bicho tá pegando com esse monte de registro.

— Poxa... eu só vou ficar mais dois dias aqui.

— Benício, nem esquenta. Eu não vou arrancar meus cabelos por causa do acúmulo de serviço não.

— Tá.

— Faz o que der agora pela manhã e a tarde precisa fazer teu exame demissional. Vai na boa. Se eu ver que vou surtar, aperto o velho e ele contrata ou transfere alguém pra me ajudar uns dias.

E foi assim... no meio disso nós marcamos um mês e uns dias de namoro e eu nem lembrava mais do Douglas, ou se lembrava, não sentia falta e até ficava mais tranquilo por ele não ter me procurado. Tivemos outras "pausas" dessas antes e por esse motivo eu imaginei que seria sossegado quando ele soubesse que eu estava comprometido com outra pessoa. Achei... 

Um mês após receber o aviso, eu e Benício não éramos mais colegas de trabalho e ele foi trabalhar numa empresa de suporte de algum sistema operacional. Sabia que ele levava jeito pra trabalhar em algo dessa área, pela afinidade dele com os programas e a facilidade em resolver qualquer problema na área de TI. Me fiz de forte nos primeiros dias de ausência dele, mas sabia que ele ansiava por me encontrar depois das seis e eu também me sentia assim. 

Havia dias em que dava muita saudade e vontade de desaparecer dali. Estava difícil de acostumar e precisei discutir com o patrão para que contratasse alguém e no fim ele me autorizou a entrevistar, decidir e assim começou a trabalhar o Micael no lugar do Benício. Desde o começo gostei do profissionalismo dele e até hoje é parceiro na empresa.

Dois meses de namoro, Benício e eu estávamos naquele clima gostoso de início de relação. Ficar em casa era sempre o mais fácil, mais prático, mais gostoso, mais barato e por ele, deixei de fazer meu social com os amigos, só falando pelo whats, prometendo de fazer um encontro, um churrasquinho, essas coisas, mas só adiando. Contentava ele, mas quem estava de fora começou a pegar no meu pé. Tipo:

* Namora e deixa os amigos de lado?;

** Não deve deixar de ter uma vida social, enturma ele;

*** Se ele confia em ti, mas não gosta de samba, deixa ele em casa e sai com a gente;

**** Hoje o casal moderno sai separado, precisa ter confiança;

***** Se ele não se enturma com seus amigos, não é a pessoa certa;

****** Onde tu arrumou esse cara?

Realmente, eu penso, opinião minha é claro, que tendo um relacionamento as coisas mudam sim. Desde o início eu sabia que o Bê era um cara calmo que não me acompanharia nas baladas e eu gosto de sair, então precisaria me acostumar a não sair ou convencer o guri a ir comigo. Quanto aos amigos, só falam as coisas acima, aqueles que ainda não estão casados ou "juntados", porque esses sumiram no nosso círculo social (parece coisa de rico, mas somos tudo chinelão, tá). Então, o que sucede é que vamos ter que socializar mais com casais de amigos e menos com os amigos solteiros. 

Devido ao meu novo status no face, "Em um relacionamento sério", acabei recebendo uma ligação de alguém que sempre tive muito carinho e deixei que ele me falasse o que eu gostaria muito de ouvir. Bruninho, meu ex, não é ex amigo, então quando soube que eu me amarrei, comemorou comigo.

— Ai não acredito, viadooooo! Um dia vamos marcar alguma coisa de casal, por favor, por favor. Quero ver se aprovo ele.

— Haha, tolo. Ele é a coisa mais querida, Bru. Mas a gente marca sim, marcamos pra depois do pagamento, sabe como é. Mandei fazer um guarda-roupa sob medida, e tá apertado o orçamento.

— Ih, só não vai ficar metido.

— Ah tá, por causa de um guarda roupa? Tu é demais, Bruno.

— Pois sim, menino, tem que comemorar mesmo, nessa crise... Mas eu vi a fotinha dele contigo, é gatinho. Então é por isso que você tá mais escondido? Tá certo, namorado tá difícil de conseguir, pra sair tem trocentos que estão afim, mas na hora de ficar junto, eles pensam que estão perdendo a liberdade e não querem.

— Verdade, Bru. Os amigos se afastam um pouco né?

— Afastam sim, Charles, amigos de balada principalmente. Mas os amigos pro que der e vier, se achegam de novo porque aprendem a respeitar isso. Não vais querer viver de balada e pagodeira pro resto da vida, né?

— Vai dizer que tu nãos gostaria, haha.

— Até ia gostar, mas meu mozão me faz bem demais.  

— Então os dois tiveram sorte.

— Tomara que você também tenha com esse rapaz, porque mereces muito, Charles. Eu torço muito por você!  

Bruninho também me faz bem e esse cara merece mesmo fazer parte da minha vida sempre, então pergunto ao Benício o que ele acha quando busco ele na quarta-feira.

— Beleza.— Ele me interrompe sério como se não curtisse muito a ideia desse encontro.

— O quê? 

— É que queria ficar mais juntinho contigo durante o final de semana, passa muito rápido.

— Sim, meu lindo, eu também quero ficar mais juntinho. A gente faz alguma coisa nesse sábado à noite.

— Nesse não.

— É que é semana de pagamento, aí posso comprar uma carne pra assar e chamar um casal de amigos.

— Não conheço esse Bruno, fico sem jeito e sem assunto. Daqui a pouco você vai começar a querer sair e eu não saio. — Ele fica vermelho e range o dente. Depois fica triste. — Eu nem tenho amigos, tenho uns dois três primos e poucos conhecidos...

— Ah, lindo, tu sabe que eu andando na linha contigo, sua coisa braba. 

— Lógico, tu tá namorando agora, não pode fazer só o que você quer.

— Olha Benício, a gente não pode deixar de ter uma vida social e ficar só malocado em casa. Eu até concordo em reduzir o meu ritmo, sair sempre acompanhado por você, só que me proibir ou querer me manipular do seu jeito não dá.

Benício parece meio triste. Mas eu não consigo segurar a real só pra mim, sou sincero. 

— Desculpa, Charles. Sempre fui meio antissocial, mas adoro você e...

— Já tá esquecido. Gosto demais de você e adoro ficar sozinho contigo também. Mas faz bem a gente sair de dentro de casa. Nem que seja apenas caminhar, dar uma volta de carro... Receber alguém, conversar umas besteiras, tomar umas cachaças, dar umas risadas.

— Não bebo.

— Não precisa beber, come churrasco. Bebe refrigerante.  

— Tá.

— Não precisa ficar com essa cara triste, meu lindo.

— Não tô triste, tô com sono.

— Vamos dormir bem grudados hoje.

— É.

Ai que vontade louca de trazer ele pra morar comigo. Passamos horas tagarelando, eu na verdade, começando na crise econômica e terminando no preservativo que brilha no escuro.

— Hahahaha... — Ele ri, ri muito na verdade. —Meu pau parece a espada de Jedi.

Olha isso, filho da mãe comprou essa merda e não para de rir. Não vai parar?

— Tira, isso Benício, até me broxei todo aqui.

— Mas eu não...  — Ele me prepara e quando chega mais pertinho da minha entrada, dá outra gargalhada. — Charles, minha barriga tá doendo de tanto rir. Não consigo parar...

No fim, nosso sexo divertido foi só pra dar risada mesmo. Nunca tinha visto ele assim, rindo completamente descontraído. Não consigo brigar e me junto a ele até a quinta tentativa de parar de rir.

— Tá doendo aqui do lado.

— Mas que ideia comprar esse troço, Bê. O teu pau ficou neon, cara.

— Ah e tem mais duas ainda.

— Vou te dar uns tapas na bunda se usar de novo.

— Aposta o que, como tu deixa eu usar as outras duas?

— Oxi, seu peste. Já vi que vou me lascar com essa maldade felina.

— Charles, aposta?

— Não aposto não, tenho amor à minha vida. Tem só mais duas, manda brasa.

— Rá!!! Ganhei, eu sabia que tu arregrava. — Ele é perigoso, vocês notaram? Melhor eu dormir de pé.

Perfeição não tem não, mas é gostoso demais do nosso jeito. 

Sobre o Davi, já vi ele várias vezes depois que casou, hoje posso dizer que tá absolutamente na paz. Bruninho está namorando um bofe louco de bonito, educado e gentil com ele. Precisa ver como se dão bem. Sinto muita felicidade em estar com eles e no sábado, Benício se enturma legal, assim... do jeito dele. Melhor que eu esperava. 

........

Oii Pessoal, coisa mais querida!

Esse conto não vai muito longe (isso quer dizer que está na reta final, kkkk) e tem poucos capítulos pela frente, não vou estender muito porque acaba ficando maçante e ainda tem o Papai Urso 2 e os Mini Romances para prosseguir. Então "isso é tudo pessoal" hehe. Beijos e um findi maravilhoso! Amanhã tem capítulo novo!!!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top