Bicha ariana!
Olha o que achei, kkkk. Já de cara, falam do Cley!
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A folga daquela semana (ainda a três ano no meu "pretérito" não muito perfeito) foi na quinta, dia em que a minha miga ruim, Liseu Mafra, lembra que ainda não morri e me liga.Já aproveito pra perguntar.
— Mana, onde o Marçal malha? Porque o macho tem um corpaço que só Cristo na causa.
— Tá afim de morrer?
— Ah vai se fuder... espera... onde? Tô interessado num dos amigos dele.
— Quem?
— Não sei o nome, mas ele é uns seis ou sete centímetros mais baixo que o Marçal, tem canela grossa, bunda bonita, uma tatuagem estranha numa das panturrilhas, cabeça raspada, gato, marombado e namora uma crente.
— Tu não é de reparar muito, né?
— Tá sendo sarcástico?
— Tô dizendo que não é característica suficiente, tipo, falta o formado do olho, se tem boca carnuda, barba de quantos dias, cor dos pelos da canela, medida aproximada dos bíceps dele.
—Gente, só vi o macho uma vez.
— Mas tu é lentinha, menina.
— Tá casada, tá cagando nas amigas né, cachorra.
─ Te amo, viado.
— Te amo também.
— Se eu descobrir alguma coisa com essas informações "parcas", eu te ligo.
Quase morri de tanto esperar uma ligação de retorno, sério, achei que o Eliseu tinha se esquecido de mim pela demora. Então finalmente, porque eu tava quase caquético, o tempo passando impiedosamente... e dois dias depois ele me liga.
— Marçal não conhece não, não tem muito amigos fora da profissão e os maromba, na maioria curtem mulher sarada.
— Tá, mas e esse corpinho divino que eu tenho?
— Sarado é uma coisa, seco é outra. Tu parece que passa fome.
— Como mais que tu, cretina.
— Eu sei e por isso que te odeio ainda mais. Vai tomar no rabo e tchau!
— Olha a audácia, sua bicha dos infernos, isso é jeito de se despedir de um amigo, que mal educado, seu viado pau no cu.
Eliseu me manda a merda e eu xingo mais um monte. E antes de encerrar, combinamos um jantarzinho pra apresentar nossos respectivos namoridos. Só falta o "canela grossa" se render aos meus encantos. Na verdade, preciso achar esse cara.
....
Na loja, eu atualizo as amapôs com os babados, conto sem poupar detalhes e acho que vai dar merda... o patrão tava saçaricando aquelas pelancas no ambiente. Me olhou dentro dos olhos e não disse nada. Se não fosse dono desse comércio, eu já desafiava e xingava um monte.
Calma Cley, porque você é princesinha. Mostro um pouco mais de classe na praça de alimentação, depois da pequena dica do Cidinho.
— Evangélico gosta de pessoas mais discretas, que não falam palavrão e que tratam bem as pessoas.
— Isso é muito tranquilo pra mim. Sou...
— Não, tu não é! Cala essa boca!
Ai, eu ia dar uma bofetada nele, juro, mas então o céu se abre e três lindas pombas aparecem... três meninas crentes, glória ao Eterno.
— AH!
— Para de gritar, Cley.
— Olha lá, três irmãzinhas. Preciso ir... ai me solta! Eu faço barraco já, já!
— Chega dessa coisa desrespeitosa. Sério, eu vou me aborrecer contigo. Vão pensar que tu tá tirando uma com a cara delas. Viado, para com essa palhaçada, senão fico uma semana sem falar contigo.
— Xau, amore. Até semana que vem, Cido.
Me solto do Cidinho, pessoa inconveniente, credo! E ando decidido, lindo, até minhas futuras colegas, só pra tirar umas informações, sem muito interesse.
— Oi, posso interromper? — Sonha que não me olharam de cabo a rabo, mas cumprimentaram de volta. — Ai, meninas, eu tô com vergonha de pedir, sou uma pessoa tímida, sabe, mas onde que vocês vão na missa?
Uma delas sorri e duas tentam me ignorar depois disso.
— O culto?
— É, isso, isso... é que vocês andam com aqueles folhetos com endereço de igreja né? Aqueles, tipo uns convites com endereço e aqueles bla bla bla...
— Ah Bia, tem algum desses contigo? — A tal da Bia fica mais simpática quando me entrega o "trocinho" da igreja. — Tem culto toda a quarta, sábado e domingo. Vem conhecer, vamos receber o pastor distrital, vai ser lindo, lindo.
— O pastor é lindo?
— O culto. — Bia me olha torto.
— Verdade, ele tem o dom da palavra. Um homem muito ungido. — Outra das meninas acrescenta.
— É.
— Ai, meninas, obrigado. Vou guardar esse folheto com minha vida, ele é muito importante pra mim.
.......
— Para, é sério, Cley! — Agora é o Abi quem vem no meu trabalho, querendo me encher a paciência. — Já disse que tá ficando ridículo isso. Fora que ficar debochando dos evangélicos é feio.
— Não tô de deboche. Vocês todos se amasiaram aí praticamente, torcem pras migas ficarem solteiras e morrerem encalhadas. Que foi que eu te fiz, pra me tratar desse jeito?
— Cala boca, besta. Só Jeová na causa!
— Jeová? AHHHH Jeová!
Faço um escândalo dentro da loja e Celso me chama pra conversar... Sei lá, eu já esperava que não ia ficar barato depois daquele ex-estilista de Nabucodonosor e dono da loja, ter me olhado torto.
— Cley, tu sabe que é um bom vendedor, faz um valor alto de comissão. Os cliente te adoram, os colegas e até eu, o seu Aparício também... Mas ele me detonou esses dias quando veio aqui. Vocês estavam dobrando umas camisas e conversando... — Ele recapitula os meus palavrões e disse que cerca de 82,7% do que eu falei, foram palavras de baixo calão. — Precisa cuidar com o que fala, porque tem cliente na loja, tem os próprios colegas e uns não gostam desse furdunço que tu faz.
— EUUU? QUE EXAGERO!
— É disso que tô falando, essa mania de se exaltar e nesse nível de decibéis que chega doer o ouvido.
— Aposto que tu é dos que não gosta de me escutar falando.
— Cley, não distorce. Eu dou muita risada com suas "exaltações", mas realmente tem gente que não gosta disso. Seu Aparício, entrou aqui e me "juntou" na hora: "tu não vê esse tipo de coisa? Controla esse vendedor ou dispensa."
— Ele que vá tomar no cu! — Falo e já dou as costas. Não quero saber se aquela múmia pode estar certa, eu não gostei dessa afronta.
— Eiii, volta aqui! — Celso me puxa pelo braço e nossa senhora, quando esbarro no peitoral e sinto o perfume do gerente, quase esqueço do homem da minha vida. Quem? Ai meu Deus. Celso fica sem graça e eu também. Afinal, como eu disse, sou princesinha. — Cley, calma. Desculpa.
Ele levanta as duas mãos achando que cometeu um ato repudiável.
— Tô pedindo demissão.
— Larga de ser impulsivo, Cley. Pelo seu próprio bem, usa um filtro e absorve aquilo que pode te ajudar a melhorar como pessoa, colega e profissional.
— Só falta me dizer que o fato de eu ser gay, incomoda.
— Ninguém mencionou a palavra com G. Da sigla GLS, sou S.
Ele me faz sorrir e me acalma um pouquinho só.
— Vou segurar a onda, mas só 17,3% entendeu?
— Já me deixa feliz. Agora, bora vender, que "eres el mejor" vendedor desta boutique.
— AH! — Ele não quer que eu grite, mas me dá um tapão na bunda e sai bem quietinho.
...
— LUIZ APARECIDO! MINHA VIDA, MANA! FALA COMIGO OU TE BLOQUEIO NO ZAP.
No ônibus tem quem já se acostumou com meu "jeitinho", é o pessoal da facul, inclusive a mana S. do Abi.
— Tua semana já passou?
— Esquece isso, Cidinho, que tenho um babado pra te contar. Mana, o Celso...
Conto a ocorrência, desde a conversa ao tapa na "busanfa" . Isso faz o povo mais próximo rir feito louco. Porque esse povo metido não cuida da sua vida?
— Ah, preciso dar os parabéns pro Celso, fez tu esquecer o "evanzélico".
— Tu não tem que dar nada pro macho. Fica bem quietinha.
— Tá certo, tá certo. Eu te aturo se me perturbar pelo Celso que é um boy interessante, não bonito, mas gostoso.
— Repete!
— Eu quis dizer, "passável". Bicha ciumenta.
...
Pra se redimir, Celso me dá o domingo de folga. O PIOR DIA DA SEMANA. O que se faz num domingo? Nada pra assistir, todo mundo trampando porque o shopping enche e eu estarei aqui perdendo grana em casa.
Dormir até meio dia? Eu odeio ficar embromando na cama, sou muito agitado e na cama só enrolo quando tenho companhia. Espera! Domingo é dia de visita!
Vou ficar de plantão esperando. É infalível, domingo, entre nove às onze horas, passam as testemunhas de Jeová e tenho a segunda parte da missão.
Nove e cinquenta! Cadê o povo? Tô na janela, feito uma Fifi Fofoqueira e nada.
Nove e cinquenta e nove! Preciso mijar, mas eles podem aparecer e eu não atender.
Dez e dez! Foda-se, preciso mijar. Mas volto correndo.
Dez e trinta e nove! Nem sinal.
Dez e quarenta e nove! Passou dez minutos que olhei no celular.
Onze e meia! Não acredito que vão me deixar plantadaaaaaa!
Meio dia! Não fiz almoço, esperando eles e agora preciso comprar uma marmita no restaurante do Clóvis, hétero tarado por biba, que é o mais próximo.
Saio arrastando a chinela, braba e com vontade de dar na cara de todo mundo!
Cidinho tá certo! Celso ta certo! Canseyyyy!
— Ô louco, Cleyton! Mas tu come! — Clóvis, o dono do pequeno restaurante tenta fechar o meu marmitex.
— Querido, não fica pegando no meu pé que vou no concorrente agora mesmo.
— Hahaha, pode ir. Tu dá prejuízo, guri.
Eu não sei se ele tá brincando, mas eu não!
— Vai dizer que não sobra comida no final do dia. Tá miguelando comida porque?
— Calma, Cleyton!
— O CACETE, CALMA!
— Dormiu com a bunda destampada, só pode.
— Não fala da minha bunda.
— Porque não? Quer a marmita de graça?
Pessoas educadas pegam duas testemunhas e processam um babaca desses.
Pessoas desesperadas dão a bunda, ganham a refeição de um babaca desses.
Pessoas de Áries, jogam a marmita na cabeça de um babaca desses.
Foi o que eu fiz!
— TÁ ACHANDO QUE SOU PUTA!
— Tu tá louco? Eu devia chamar a polícia.
— CHAMA! SÓ QUE ANTES, VOU TE DAR MOTIVO PRA CHAMAR.
Quando avanço no Clóvis e o barraco tá feito, alguém me "gruda" por trás. E sopra no meu ouvido:
— Calma... calma...
— MEU CU, CALMA! ESSE ESCROTO PENSA QUE VOU DAR A BUNDA POR UMA MARMITA...
— Calma...
— AHH! — É o que eu digo quando me viro. —Você?
— Eu, o quê? — Ele pergunta confuso, me soltando.
— Tá fazendo o que aqui, Celso?
— Comprando um frango assado. Só isso! Tá afim? — Ele levanta a sacolinha. Meninas, isso é um convite!!!
Por esse frango assado eu até pensava no caso, em ceder minha parte traseira... com o Celso, obviamente.
....
Melhor dia da semana é... aquele em que estou de folga. Tá, tá... eu sei que acabei de falar mal do domingo. Preferia receber em hora extra, porque depois do "faz-me rir", em vez de carne, tive que esperar e torcer pra passar o carro do ovo com preço antigo.
"Trinta "ovo", somente 7,99, eu disse, trinta "ovo" somente 7,99. Venha, aproveite, tá passando o carro dos "ovo"."
Passou a desgraça, mas os trinta "ovo" já estavam custando 9,99. Misericórdia Jesus, onde que vamos parar?
Bora descer do (micro) apartamento pra comprar ovo, durante a semana isso vai ser o meu bife.
— TU TÁ FICANDO TOTOCA DAS IDEIAS, OLHA O TAMANHO DESSE OVINHO! — Gente, eu me obrigo a reclamar com o cidadão que vende ovo. Pra mim, quem botou esse ovo, foi alguma codorna com o cu mais folgado.
— Vais querer ou não?
— Atendimento não é teu forte. — Largo os dois pés no peito dele.
— Não quer, meu bem, ó... — O homem faz um sinal me mandando vazar porque supostamente eu estaria espantando a freguesia daquele poço de simpatia. Troglodita!
— Me vê uma bandeja com ovo maior.
— Tem, mas daí é 12,99.
— Vai tomar... tá, tá me dá essa do ovinho de garnisé.
Mudei sutilmente de assunto, pra não contar que almocei com Celso e...
Porque não contei? Porque sou ruim mesmo, sou uma bicha ariana!
...
Acho que ele tá mais calmo... sei não. Pra mim, Cley tá tentando me enganar, fazendo a sonsa só pra ver se sinto pena e coloco o Claudinho na reta dele, kkkk
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