Agro Doll


Ai que ódio que me dá quando eu choro! Eu sou assim quando a raiva transborda. Ou eu mato um ou choro e a vontade de matar acumula com a próxima raiva.

Lógico que o Celso sacou que chorei, porque quando eu saí do banheiro, ele já estava até vestido e sentado numa poltrona que tenho no quarto. (depois da limpeza que deixou ela vazia, claro.)

Não tinha clima e eu consegui ficar um pouco sem graça ao passar pelado por ele pra pegar uma roupa no meu armário. Queria estar quebrando o barraco, mas não senti ânimo nem pra isso. As energias estavam meio esgotadas, sei lá.

— Cley, desculpa. — Ele só falou o necessário, melhor assim. Eu ainda me vestia de costas para o Celso e assim, ele aproveitou pra me abraçar por trás. Se fosse em outra situação, eu estaria rebolando pra animar o cara, mas não naquele momento. Eu tava muito canceriano, me sentindo sensível.

— Nem sei de mais nada, Celso. Tá esquisito isso. Eu ficava dando indireta quando te conheci na loja, mas era de brincadeira, lembra? Eu fazia tanta putaria e falava besteira, mas sabia que tu tinhas compromisso com uma moça, aquela primeira lá que terminou contigo, depois tu começou com essa outra e tava tão certo...

— A culpa não é sua. Se fosse pra ser, teria sido desde o começo. Depois, eu entrava na brincadeira, ria junto com o pessoal da loja e com você. Não levava a sério e sei que você também não. Não sei precisar quando foi que comecei a me sentir atraído... e não vou mentir que já tinha curiosidade. Mas pensei que ia rolar um beijo e só isso, mas daí tu espalhou pra metade do estado...

Ele dá uma risadinha e em momento algum me parece arrependido.

— Eu não tô apaixonado pelo teu cunhado. 

— Ex...

— Que seja. Eu não consigo levar um fora e nem sou de desistir fácil de alguma coisa, mas fiquei muito puto com ele. Sou de Áries e quando a gente gosta, a gente gosta muito e quando odeia, odeia muito. Não tem meio termo com um ariano. Então não pisa na bola comigo. — Me viro e aperto o peito dele com maldade e dou um tapão, uia macho gostoso. — Se pisar na bola...

— Já sei, tô morto.

— NÃO ME AFRONTA! EU TE CASTIGO MUITO.

— Ih, voltou ao normal.

— Viado, já disse que teu tapa é forte, tadinha da minha bunda.

— Não gosta duns tapinhas assim... — Ai, pela misericórdia, ele aperta e dá mais uns tapinhas.

— Gosto muito, cachorro, cretino, infiel.

— Puta sem vergonha.

— Teu cu. AH!

— Voltou mesmo ao normal. — Zeus do céus, Celso tem essa coisa de me beijar e falar quase ao mesmo tempo, meio sussurrando, tipo —  polaco safado... vontade de... pegar tu ali na cama... sabe... te beijar inteiro... beijar e ... meter a língua no teu... cara que tesão...

— Não...

— Cley... deixa... depois eu durmo quieto.

— Dorme onde? Vai dormir aqui? Melhor tu ir pra casa depois... — Pela minha alma, gente, essa piroca dá um cansaço, posso pular a cena de sexo?

Dois minutos depois tô pelado e de bunda pro ar.

— Segura com a mão, abre...

— AH... — Porra, até a cuspida assusta. Cadê a delicadeza que um cara magricelo merece? Mereço, mas não quero, xô. — Puta merda, calma lá com a língua, isso, me arregaça, mete, não para...

Valha-me, tomei linguada, dedada e quando achei que ia dar gostoso, fui desvirginada pela segunda vez, sim porque nem quando perdi o cabaço doeu tanto. Mas como somos aquelas passivas guerreiras a gente dá e quando reclamamos e fazemos um dengo, o macho acha que é tesão e soca até o talo, se enterra todo e fica estocando forte. Perdi o fôlego, juro, até meu travesseiro deve estar surdo.

Esse cara espaçoso não ia pra casa dele? Tá aqui porque?

Depois do banho, o folgado me puxa, abraça, amassa, beija, fala que é louco pelos meus olhos e blá blá blá... depois joga o coxão pesado em cima dos meus cambitos, dá aquela amassada na minha cintura...

— EI CARALHO, SOSSEGA, CELSO! TU NÃO PARA QUIETO, COMO QUE EU DURMO?

— Shh... — Ele aperta meus beiços pra fechar minha boca e cochicha. — Dorme aqui abraçadinho.

Tá bem, é fofo. Tô me sentindo o Carlinho, credo. Só falta eu miar:

"Ai, Celsinho, amanhã bem cedinho preciso levantarzinho, pra pegar o ônibusinho."

Ushh, credo. Começo a me revirar com medo de ficar fofo também. Isso nunca, sou uma demonha, quero fama de amorzinho não.

— Cleyton Kevieczynski! Para de se mexer! Parece que tem pulga rapaz. Tem coragem de reclamar de mim.

— Reclamo mesmo. A cama é minha, eu disse pra tu ir pra casa.

— Mas eu não vou. Espera... tá querendo ficar sozinho porque?

— Que? Não entendi. Só porque tu pulou a cerca, não quer dizer que vou fazer o mesmo. E para de me encarar. Tu não tem cachorro ou gato? Olha, eles sentam falta do dono. Celso, que cara séria é essa?

— Hum. Aquele dia tu conversou o que com o Claudio?

— Já contei tudo pra ti. Boa noite.

— Não pegou o telefone dele?

— Olha a paranoia comigo, chega!

— Não vai contar, eu descubro depois.

— Cala a boca e dorme ou vai embora já!

Celso é meio fora da casinha, eu heim, eu nunca fiquei com um macho assim ciumento e não sei se gosto. Eu sou porra louca, mas nem por isso sou tãoooo puta. Sou uma vagabunda comportada e fiel... um pouco...

Deu trabalho pra me livrar do cara e embarcar no ônibus. Só relaxei depois de uns cinco quilômetros.

Já vou deixar avisado, quando eu voltar, vou dar um chega pra lá nesse ciúme. Odeio isso.

— Cobrança demais e desconfiança eu não aturo. Vai tomar no cu. Tô dizendo que foi só isso que falei e o cara fica achando que ainda tô escondendo coisa. Ele que se acalme. Não vou morrer se não der certo isso, né Cidinho.

Cidinho já é décima mana que ligo e nenhuma delas curtiu a parte do ciúme. Só o Carlinho, mas esse nem conta.

Virando a página do troço, estou indo pra Pomerode, terra dos alemon, tem uns polacos misturados, tem de tudo hoje em dia por lá, tem até os haitianos. (Meodeosss).

Saindo de Itajaí, que parece que só tem viado, de acordo com o autor, o ônibus não é aquele de viagem que vai direto pela BR, mas sim pela rodovia Jorge Lacerda e passa pela cidade de Ilhota. Haha, eu transava com um cara de Ilhota, cala-te boca.

Depois passo pela cidade de Gaspar e me lembro do meu primeiro trio, ahhhhh que tosse, eu, o Abi e um coroa que achamos que era ativo e... abafa o caso também.

Uau! Blumenau, gente como tá calor dentro dessa merda. Eu amo essa cidade, aqui eu tinha um esquema, o Duim... de "amenduim" mesmo. Melhor eu não falar sobre detalhes. Sorte que ele nem sabe desse apelido, mas era um código que usávamos dependendo do tamanho da neca.

Ai minhas costas, que viagem longa de duas horas, tô falecida. Preciso pegar um coletivo pra chegar na casa da dona Hilda e o seu Xande, ou papi Alexandre Kevieczynski.

Pomerode é uma cidade colonizada por alemães, tem muita gente mais do interior que só fala em alemão e minha mãe era uma dessas quando moça. A vovó Frida era uma pessoa diabólica, senhor, nem é bom difamar a coitada e ainda bem que não puxei a ela, mas era uma velha orgulhosa que não misturava, só alemão é que prestava e se tivesse viva, morreria do coração por minha causa. Conheci a vovó e nunca entendi o que ela dizia, porque meu pai proibia a minha mãe de nos ensinar a língua germânica.

Preciso dizer que o seu Xande é um negócio pra lá de fofo? Gente, eu não entendo como meu pai, um agricultor com pouca instrução, só trabalha e paga conta, trabalha e fuma os cigarros de palheiro que fedem pra diabo, como que ele foi me aceitar sem fazer a cena que dona Hilda fez? Alguém me explica, porque eu não entendo.

Eu sempre fui assim, bichinha mesmo, aquelas que já dava indícios muitos cedo e tudo isso que envolve casos iguais ao meu. Minha mãe tinha vergonha e o meu pai jamais me tratou diferente.

Ai, me dá um aperto no peito quando vejo aquela região verde e a casa amarela parte de madeira, parte de alvenaria. A cor que o pai sempre gostou, amarelo. Pra mim, amarelo só é bonito quando o Toni Garrido canta Girassol.

O ônibus me larga há uns trezentos metros da casa e faz um poeirão que fica parecendo aqueles filmes de western com entrada dramática.

Gente, cadê o glitter?

Nessa hora, eu queria ser uma drag, só pra chegar causando: Conchita Wurst! Não, não... Raja Gemini. Mas a única casa por ali é a deles e não tem ninguém pra eu desaforar se me ver chegando.

— Mãe? — Procuro minha mãe na horta, na cozinha, no barraco onde tem um fogão a lenha e de repente, escuto a descarga. Ai deixa eu comentar um troço, nesse sítio na época do meu vô, diz o meu pai que o banheiro era fora de casa, uma casinha de madeira, lá que o povo obrava... — Oi mãe!

— Cleyton? Porque não avisou que vinha?

— Pra que? Pra vocês se mandarem pra casa do tio Wagner? Deu uma chuva e eu quase me caguei de medo dos raios.

— Tu sempre foi medroso.

Baixo os braços, porque ela não entendeu que eu queria um abraço.

— O pai...

— Não tá. — A mãe continua a limpar, cozinhar e fazer suas coisas como se eu não estivesse ali. Aí o que eu faço?

— Ô DONA HILDA, SERÁ QUE EU TENHO QUE MORRER PRA DERRETER ESSA PEDRA DE GELO?

— Mas que mania de berrar, Cleyton. — Ela se vira e me dá uma bronca, então me abraça e disfarça aquela lágrima teimosa. — Senta, menino. Já tomou café?

— Manhê, até parece que eu vou rejeitar café, pode por a mesa.

— Tô fazendo polenta de almoço.

— Bastante, né?

— É, tem que ter porque teu pai parece que não tem fundo.

— Até lembrei do dia que eu e o pai fizemos campeonato de quem comia mais cachorro quente e eu perdi. Até hoje não superei isso.

— Que exagero, filho, é até feio comer demais. Quantos que tu comeu daquela vez?

— Treze e o pai quinze. Se fosse salsicha de mercado e sem chucrute, eu comia muito mais.

Acomodado e com o celular vibrando, tocando, relinchando, piando e cacarejando perto de mim, eu atendo o chefe taurino.

— Cara, tu quer me matar de preocupação? Onde

— Pode parando chefinho "jiboiúdo", tua esposa aqui, tá na mesa com papi e mami.

— Hum... minha sogra e sogro? — Celso dá uma risada tão gostosa... — Tô cheio de saudade, seu polaco sem vergonha. Ainda faço uma loucura... Você me deixa todo tarado, sabia?

— Espera, deixa eu tirar do viva-voz. Minha família não gosta de ouvir essas coisas.

— Cley! Tu é louco!

— Brincadeiraaaaaaa... pode falar mais. Fala...

— Seu putinho nojento! Ei, não demora aí. Fica só uma semana, hum?

— Me dá um motivo bom e bem grande.

— Bem grande... duro... bem babado

— Seu tarado. Só?

— Como assim?

— Não é só de pica que um homem viverá. Quero outra coisa bem mais profunda.

— Tá... eu te adoro.

****

Tô dizendo, alguém já viu um protagonista fracassar na missão? Com quem foi que eu disse que eu tive um affair? Aquele outro... pois é, já viram que minha "relação" com o evangélico é complicada. Tem chão pela frente ainda... Beijos

****************************************

Tá virando gente esse menino, deixamos ele no sítio por uns dias, Cley precisa mesmo recarrefar as energias. ♥

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top