Kate

Enfim, chegou o dia tão esperado por toda turma concluinte do ensino médio do Nudgee St Joseph's College, e claro que eu estava super ansiosa. Finalmente tinha conseguido convencer meus pais a me deixarem ir, e depois de prometer inúmeras vezes que teria juízo, que não faria nada do qual fosse me arrepender depois e principalmente me manter longe dos garotos.

"Como se isso fosse possível."

Chegamos em frente ao colégio, tinha uma aglomeração de pais se despedindo dos filhos e dando as últimas recomendações.

Amigos eufóricos com a perspectiva de liberdade pelos próximos quinze dias. Essa sensação era muito excitante.

"Ai que emoção!!!"

— Kate! — viro-me para a voz que conheço tão bem — Amiga... que bom que você chegou, não imagina o que eu descobri, nossa, estava louca que você chegasse logo, por que demorou? — Nick fala tudo de uma vez, sem nem mesmo parar para respirar.

— Não demorei nada, cheguei no horário, você que é agoniada. O que descobriu? — pergunto olhando para meus pais que estão um pouco afastados, conversando os coordenadores que vão nos acompanhar no acampamento.

— A turma do time de futebol toda vai, mas não é só isso... Alguns ex-alunos também vão — fala com um sorriso de um canto a outro. Arregalo os olhos ao constatar o que aquela informação significa. Não pode ser...

— Santo Deus, ele vai? — pergunto receosa e já imaginando a resposta.

— Sim, os dois, e mais um que não conheço, e claro, a praga da Cassandra — faz uma careta.

Nesse momento, nervosa, olho em direção aos meus pais novamente, e então, eu o vejo cegando com uma mochila nas costas, e como se fosse mágica nossos olhares se cruzam. Pronto, começou as batidas frenéticas do meu coração.

Desde o dia no clube, há uma semana, procurei evitar cruzar com o Josh. A Nick sempre chamava-me para ir na praça com ela e Matt, para tomar sorvete, ou fazer algum passeio, alegando que o Josh poderia aparecer, e em todas as vezes arrumei uma desculpa para não ir.

Depois do nosso quase beijo, que rondou meus pensamentos por dias e noites, cheguei a conclusão de que deveria evitá-lo.

Ele era bem popular no colégio que estudo, e mesmo já tendo se formado, vez ou outra, estava por lá.

Sua faculdade era no campus ao lado, por isso sempre o via, rodeados de amigos e garotas, e claro a Cassandra a tira color para todos os lados. Sem contar nas outras garotas babando sempre que ele passava.

Ele é lindo, totalmente descolado, ou seja, o oposto de mim que sou muito tímida e só me sinto à vontade com minha família e a Nick, que na realidade era minha única amiga mais próxima, claro que conversava com outras garotas no colégio, mas só algo relacionado as atividades escolares e nada mais.

Por isso resolvi evitá-lo, somos completamente incompatíveis, mesmo que meu coração fique acelerado todas as vezes que o vejo, ou nutra algo por ele, minha mente diz que isso é loucura.

Lembro-me como se fosse hoje quando fomos apresentados naquela festa. Meu coração batia tão forte, que eu tinha a impressão de que ele poderia ouvi-lo.

— Kate, você está me ouvindo? Em que mundo você está? — Nick fala abanando a mão na frente do meu rosto.

— Ah! Desculpe, me distraí. O que disse? — pergunto, piscando os olhos.

— Eu disse vamos pegar nossas coisas e ir para o ônibus, todos já estão embarcando.

— Vamos — falo já puxando minha bolsa e colocando minha mochila nas costas. Olho na direção em que Josh estava e já não o vejo. Vou ao encontro dos meus pais e despeço-me deles, mas, não sem antes prometer mais uma vez ter juízo.

— Não se preocupem, amo vocês.

— Nós também te amamos querida, se cuide e não deixe de se alimentar — mamãe fala abraçando-me e eu reviro os olhos devido ao seu exagero.

Subimos, eu me sentei na cadeira da janela, não quis saber onde Josh sentaria, com certeza a Cassandra estaria com ele. Como era uma viagem um pouco longa acabei pegando no sono. Sonhei com olhos cristalinos me observando.

Acordo com alguém chamando meu nome e sacudindo meu braço, abro os olhos com dificuldade e vejo que é a Nick.

— Kate, acorda, já chegamos!

— Que horas são? — esfrego os olhos. Sinto minhas pernas dormentes pelo tempo prolongado na mesma posição.

— São 10 horas, você dormiu as três horas de viagem inteira.

— Nossa, estava mesmo com sono. Fiquei até tarde conversando com a Chloe e tive que acordar mais cedo que de costume hoje.

— Sei, agora vamos — puxa meu braço.

— Ei, calma, estou com câimbras — digo.

Assim que chegamos ao campo, o coordenador pede a atenção de todos e começa a dar as orientações. Apresenta toda a equipe que é composta de professores e ex alunos, e alguns contratados, explica que todos estarão nos auxiliando durante todo tempo e explica as regras que devem ser seguidas à risca por todos. Ouço com atenção e logo somos encaminhados para nossos quartos para guardar as nossas coisas e em seguida todos devem ir para o refeitório, onde será servido um lanche antes da hora do almoço.

E assim que chego lá vejo logo o Josh e mais uma vez nossos olhares se cruzam, tímida, eu trato logo de desviar, devo ter ficado vermelha, sinto meu rosto todo quente.

"É, esses quinze dias prometem."

Nick e eu lanchamos rapidamente, o Matt logo se aproxima e entramos em uma conversa animada. Ele é muito divertido e inteligente, não perde a oportunidade de fazer piada.

Depois seguimos para a área de lazer que assim como o refeitório eram um ponto em comum para todos, mas os dormitórios eram separados — meninas de um lado e meninos do outro.

Agradeci mentalmente por essa providência por vários motivos. Tenho certeza que isso era exigência dos pais dos alunos.

Com o passar dos dias, a Nick e o Matt estavam cada vez mais juntos e eu sobrava, então pra não ter que ficar de vela e nem vendo a Cassandra atrás do Josh e os carinhos trocados entre eles, eu me enfiava no quarto sempre com a desculpa de ler um livro.

Porém hoje ta difícil. Nick não me dá trégua, quer me tirar daqui de qualquer jeito.

— Ai amiga, vamos, que coisa, se era pra ficar enfiada dentro do quarto o tempo todo não precisava ter vindo — fala com a cara emburrada. — Vamos nos divertir.

— A culpa é sua que me trocou pelo Matt — falo brincando com ela que fica vermelhar e não diz nada.

— Estou brincando sua boba. Quero mais é que vocês sejam felizes, vejo que ele tem lhe feito muito bem.

— Sim amiga, acho que estou apaixonada. Será loucura isso?

— Amor a primeira vista? — pergunto rindo. — Não sei, mas acho que não, e ele parece gostar muito de você também.

— Sim, o que sentimos é mutuo. Ele vai lá em casa, falar com meus pais. Mas não quero falar disso agora. Venha, vamos sair desse quarto.

— Se não se importa prefiro ficar aqui.

— Mas de jeito nenhum, me importo sim e não quero ver você aqui sozinha...

— Nick, a verdade é que eu não sabia que ele viria, se não nunca teria vindo. Apesar de querer muito estar aqui. Mas não sei como agir quando ele está por perto, pareço uma idiota — digo soltando um suspiro.

— Sei  muito bem disso. Por isso que não te falei — deixa escapar sem querer e logo coloca a mão na boca.

— Não acredito que você fez isso comigo. Você é minha amiga, poxa — reclamo.

— Por isso mesmo. Não poderia ficar esses quinze dias aqui sem você, amiga — se justifica.

— Você tem o Matt — falo de má vontade.

— Não é a mesma coisa — diz me abraçando. — Agora, vamos que está um dia lindo lá fora, e você já perdeu tempo demais aqui dentro enfiada. Só nos resta dez dias que, com certeza, passará voando. E tem mais, com quem vou falar mal daquela coisa que vive pendurada no Josh?

— Ta bom, vamos — acabo cedendo, rindo de sua língua solta. Ela sorri e me dá um beijo na bochecha.

Foram dias incríveis, a Nick realmente se esforçou para que nos divertíssemos, e até o Matt era muito engraçado e com frequência estava com a gente, o Josh participou de uma atividade ou outra, junto conosco. Apesar de o nervosismo quando ele estava por perto, foi muito legal. Nem acredito que já vamos embora amanhã. 

Os dias passaram-se muito rápido, e poucas foram as vezes em que vi o Josh, pois ele sempre participava das várias atividades que tinha, trilha, pescaria, rapel, cachoeira. Isso fora toda estrutura que o acampamento dispunha, como área de lazer, salas de jogos, quadra esportiva, tudo para ninguém ficar parado. Foi maravilhoso.

Mas hoje resolvi não fazer nada, só descansar mesmo. Logo após o almoço, peguei meu livro, do qual estava amando a história, mas que tinha o abandonado esses dias, e segui o caminho que dava acesso à cachoeira por ser uma área mais tranquila. Sentei-me e comecei a ler de onde tinha parado dias atrás.

Josh

Estou na quadra de vôlei, quando vejo Kate passar. Não tenho certeza, mas acho que ela tem me evitado esses últimos dias.

Demoro mais do que o necessário olhando em sua direção e Cassandra chama minha atenção.

— Vai jogar ou ficar que nem um cachorro babando por essa garotinha mimadinha?

— Em primeiro lugar, ela tem nome. É Kate. E em segundo, não estou babando por ninguém.

— Olha aqui Josh, não vou aceitar ser feita de idiota embaixo do meu próprio nariz — faz drama.

— Cassandra, eu já falei uma vez e vou repetir. Não temos nada um com o outro. Somos amigos com benefícios e é só — digo saindo da quadra. Para mim esse jogo já deu. Ela vem atrás e eu continuo. — Eu poderia ser um canalha, já pensou? Te usar e depois te largar. Mas não, sempre fui muito claro com você e antes costumava ser o suficiente.

— E ainda é, mas você tem estado muito diferente. Acha que não percebo a forma como olha para ela? 

— Já chega! Está vendo coisas onde não tem. Nada mudou. Se você tivesse isso em mente, muita coisa poderia ser evitada, inclusive essa conversa — não ligo para seu olhar insatisfeito e continuo. — Agora volte para o jogo, eu vou tomar um banho.

Ela fica me olhando contrariada, mas não diz nada. Sigo o caminho do dormitório. 

Depois que tomei meu banho, a imagem de Kate surgiu em minha mente. Fecho os olhos por um instante e parece que posso vê-la em minha frente.

Assim que saio próximo a área de lazer, olho o caminho em que momentos antes ela seguiu, me direciono para lá. Olho em volta e o jogo tinha acabado, nem sinal de Cassandra, ótimo. Vou andando por dentro da trilha que leva ao caminho da cachoeira, então eu a vejo sentada com um livro nas mãos. Concentrada não percebe minha aproximação.

Kate

Estava tão concentrada na minha leitura que não percebi que alguém se aproximava, e só notei sua presença quando ouvi sua voz bem próxima do meu ouvido.

— Não deveria ficar sozinha num lugar tão isolado chapeuzinho — diz com um sorriso de lado.

— Meu Deus, Josh, que susto que você me deu — falei tentando acalmar meu coração que estava descompassado dentro do meu peito — Você quer me matar do coração? Tenho muito que viver ainda. E para sua informação não tenho medo de lobo mau — digo afoita.

— Desculpe princesa, não foi minha intenção — fala com um sorriso discreto nos lábios. — E o lobo aqui só é malvado com quem pede.

— Será? Porque não se anunciou de longe? — desconverso, ainda tentando controlar as batidas do meu coração, mas agora por estar afetada tanto por sua presença, como pelo duplo sentido de sua última frase.

— Justamente para evitar isso. Você estava tão distraída que poderia pensar que era um animal e sair correndo pra dentro da floresta e me obrigar a ir atrás de você, pois presumo que não conheça nada por aqui — fala, me olhando com aqueles lindos olhos claros e um sorriso preguiçoso. Amo esse sorriso. — E então, aceita minhas desculpas?

— Tudo bem, mas só porque seu argumento é válido — ele abre mais ainda o sorriso e acabo sorrindo também.

— Quase não te vi esses dias, acho que só nos vimos mesmo naquela atividade do Sr. Trent, acaso tem me evitado? — pergunta, sendo direto e sentando-se ao meu lado, o que me deixou um pouco desconfortável, não estava acostumada com sua aproximação.

— Evi... Evitando você? — gaguejo. — De forma alguma, só estive muito ocupada aproveitando as atividades, acabou que não nos encontramos em nenhuma delas — ele não precisava saber que eu conferia a lista dos participantes do dia de cada atividade e escolhia a que não constava seu nome.

— Sei... — fala não acreditando nem um pouco. — Que pena que acabou? Amanhã partimos rumo a realidade. 

— Verdade, foi realmente muito bom. É uma pena que acabou — digo concordando.

Acabamos conversamos durante um tempo sobre vários assuntos. 

Josh era extremamente inteligente e bem-humorado, tinha uma desenvoltura que me deixava encantada. Parecia dominar vários assuntos, expondo seu ponto de vista e conhecimento. Falou sobre suas viagens ao redor do mundo e as aventuras que viveu. 

Nunca tínhamos tido esse tipo de aproximação, nem trocado mais do que poucas palavras. Eu estava adorando sua companhia. Estava cada vez mais encantada. 

"Isso é perigoso." — eu parecia ouvir a voz da minha mãe. Sacudi a cabeça, dissipando esse pensamento. 

Como estava escurecendo, resolvemos voltar para o acampamento, de repente desaba um temporal sob nossas cabeças, como, eu não sei, Josh pega minha mão e me puxa para lateral da trilha que estávamos, no sentido contrário ao caminho que devíamos ir.

— O que está fazendo? — pergunto quase gritando por causa do barulho da chuva que devido à intensidade está muito alto.

— Tem uma cabana aqui perto, não vamos conseguir chegar ao acampamento, está chovendo muito forte e escurecendo rápido.

Assinto e o sigo ainda de mãos dadas com ele.

— Chegamos — ele gira a maçaneta e a porta não está trancada. — Podemos esperar estiar um pouco.

Olho para fora, pela janela, ficando preocupada. A chuva está muito forte, não dá indício de que parará tão cedo. Ele percebe meu olhar e fala.

— Não se preocupe, daqui a pouco passa, é uma chuva de verão, logo nós poderemos voltar — não digo nada, apenas continuo olhando e pedindo a Deus que sintam nossa falta e venham nos procurar. Não sei se saberemos voltar.

Confesso que estava envergonhada de ficar sozinha com ele num lugar tão isolado, nossas roupas estavam encharcadas, e na minha mente, vinha a todo instante as recomendações dos meus pais.

Sou tirada dos meus pensamentos ao perceber que ele estava cada vez mais próximo a mim.

— Temos que ficar juntos, está fazendo muito frio e não quero que você fique congelada.

— Estou bem — menti. Mas ele percebeu um tremor que passou pelo meu corpo e me abraçou.

— Precisa se aquecer, quando melhorar um pouco iremos embora.

Como não tinha outra opção, porque realmente estava com muito frio, me aconcheguei ao seu peito e o silêncio dentro da cabana era ensurdecedor. Ele ficou ali fazendo movimentos para cima e para baixo em meu braço, na tentativa de passar calor pra mim. Eu não ousava dizer uma palavra. Eu mal respirava.

Meia hora se passou e a chuva continuava forte, porém menos intensa. Estava bastante apreensiva, e ter Josh ao meu lado, ao mesmo que tempo que me tranquilizava, me deixava nervosa, pois por vezes tive a impressão de que ele iria me beijar. Mais um tempo se passa e assim como começou, a chuva parou.

— Kate?

— Hum?

— Creio que já podemos ir, a chuva está mais fraca. É melhor irmos agora antes que escureça muito e não irá melhorar mais que isso.

— Tudo bem, então vamos, todos devem ter sentido nossa falta e devem estar preocupados.

Já de pé, olho a procura do livro, percebo que está arruinado, resolvo deixá-lo ali mesmo. Josh pega na minha mão me puxando pra fora. Sou atingida por um vento frio e estremeço involuntariamente. Ele me abraça mais uma vez com um sorriso de lado, que eu acho lindo.

— Vamos, não vou largar você.

Fizemos todo o caminho para o acampamento com muita dificuldade, além de escuro, ainda chovia e o caminho estava escorregadio. Por duas vezes, teria ido de cara no chão se Josh não tivesse me segurado. Depois do que pareceu ser uma eternidade chegamos ao acampamento e percebi uma pequena aglomeração de pessoas logo na entrada, mas duas delas se deslocaram até nós, Nick em minha direção e Cassandra em direção ao Josh.

— Meu Deus Kate, você está bem??? — Nick pergunta bem aflita.

— Josh meu querido, eu estava tão preocupada — ouço Cassandra falando abraçando ele, que me olha de lado.

— Estamos bem Cassandra — ele fala a afastando pelos ombros. — Paramos para estiar a chuva que começou a cair de repente e muito forte, não tinha como virmos pra cá naquele momento — Josh fala se dirigindo ao senhor Alfred, um dos coordenadores que aproximou-se de nós.

— Vocês estão bem? Estão feridos? — pergunta o Sr. Alfred.

— Estamos bem, só a Kate que está com frio, melhor entrar pra tomar um banho quente e se agasalhar.

— Pessoal dispersar, eles estão bem e nada aconteceu, vamos todos circulando — o coordenador orienta e a cada um começa tomar seu rumo.

Eu também sigo com Nick para nosso quarto, olho pra Josh e o vejo indo em direção contraria junto com Cassandra e Matt. Não sei por que mais me sinto incomodada com isso.

Nick me bombardeou de perguntas, mas não estava com vontade de conversar. Corri para o banheiro para tomar um banho bem quente e me aquecer. Resolvi que não iria para o refeitório jantar, preferi arrumar minhas coisas, pois amanhã logo cedo partiremos de volta pra casa. Tudo que eu quero agora é dormir.

Continua...

Eu sei, eu sei. Mas não me matem.

Sei que existiam muitas expectativas acerca desse passeio, mas pensem comigo. Kate é uma menina romântica e sonhadora, associado a isso, está sua criação. Então não condiz com o comportamento dela agir diferente do que foi.

Mas eu prometo que no próximo sai o beijo tão esperado. rsrsrs

Espero que tenham gostado. Votem e comente bastante.

Até lá! Bjsss...