Capítulo 10
Josh
Estou de pé em frente ao janelão de minha sala, que me permitem uma visão privilegiada da fervilhante e cheia de vida, Nova Iorque, em seu entardecer, quase noite. Estou perdido em pensamentos e só me dou conta do tempo que estive ali, naquela posição, quando o interfone toca em minha mesa, olho em sua direção soltando um suspiro, deve ser a Srta. Lin, uma jovem asiática muito eficiente, que trabalha como minha assistente, avisando da próxima reunião. Em passos lentos vou até ele e o atendo.
— Sim...
— Sr. Ferrell, o Sr. O'Malley está aqui e deseja lhe falar, avisei que sem agendar é impossível, mas ele insiste — Matt? O que ele está fazendo aqui? Penso. — Deixe-o entrar, obrigado.
Desligo e continuo de pé esperando a entrada do meu amigo.
— Matt, por que não disse que viria — falo assim que o vejo. Ele fecha a porta atrás de si e vem até mim.
— Resolvi de última hora. Vim por que precisava fazer duas coisas.
— E o que seria? — digo com um sorriso, mas estranho sua postura que está muito séria, diferente do habitual.
— A primeira é confirmar se o meu amigo vai mesmo ser o meu padrinho — ele diz muito sério.
— Não vai mesmo desistir? Ainda está em tempo — brinco, tentando descontrair.
— A única forma de eu não chegar aquele altar, é se eu estiver morto — por sua resposta, percebo que está muito firme e não está afim de brincadeiras. Desmancho o sorriso debochado.
— Claro que sim. Jamais deixaria de estar com você no dia mais importante de sua vida — respondo firme o encarando. — E a segunda?
Ele chega mais perto de mim e diz.
— A segunda é isso aqui...
Pego de surpresa, não tenho reação para o soco certeiro que ele desfere em meu rosto. Com o impacto, acabo caindo por cima da mesa, esbarrando no copo que estava sobre ela, derramando todo líquido por cima do contrato que eu deveria estar revisando minutos antes se não estivesse perdido em devaneios.
— O que foi isso, porra? Está louco? — pergunto irritado, me aprumando, aperto o maxilar pra ver se não quebrou nada.
— Isso é para o grande e poderoso Sr. Ferrell, deixar de ser um babaca e agir como um homem — eu o olho confuso, e ele completa. — Sumir sem dizer nenhuma palavra e deixar a garota como se fosse uma qualquer é coisa de moleque.
— Ah, isso. Eu...
— Espero você no dia e hora marcados, no altar como meu padrinho. Até lá — diz e vai embora sem me dar a chance de dizer mais nada.
Aperto meu queixo mais uma vez o sentindo dolorido, movimento de um lado para o outro. Filho da mãe. Vou até o telefone, apertando um botão.
— Srta. Lin, cancele a reunião de logo mais, peça para que alguém venha limpar minha mesa e por favor, diga para trazerem gelo — ouço o que tem a dizer. — Sim, providencie outra minuta do contrato, só isso, obrigado.
Vou até minha cadeira, sentando em seguida, giro para as janelas, contemplando o anoitecer lá fora. Pego o celular olhando para a tela. Soltando um suspiro, eu o desbloqueio e procuro o contato dela.
Kate
Durante o tempo em que Josh se manteve longe, em viagem a Nova Iorque, eu procurei ficar calma e não me desesperar pela falta de contato. Nem ao menos uma ligação ou uma mensagem foi enviada. O fato de estar ajudando Nick, com os preparativos do casamento, tem me mantido ocupada e não me deixa muito tempo para pensar tanto nele. Mas quando chega a noite, é difícil não pensar, não lembrar. É como se eu me fortalecesse durante o dia inteiro, só pra me esvair a noite em lembranças e lágrimas.
Tentei convencer-me de que esses dias deviam estar muito corridos para ele e que somente por isso que não havia me ligado. Quando a quinta feira enfim chegou e nenhum contato foi feito, e eu sabia que ele já estaria aqui em Calgary, arrisquei enviar uma mensagem na esperança de obter uma resposta positiva de que poderíamos nos ver. Foi frustrante olhar a cada minuto a tela do celular e ver que a resposta não vinha.
Três dias depois, que eu havia enviado a mensagem, como uma tola, eu tentei me iludir, criando mil historias para justificar o que estava acontecendo. Mas no fim de todas elas, eu constatava que não passei de uma diversão para ele. E chegar a essa conclusão doeu demais.
Mais uma semana se passou, e como uma idiota, mandei mais duas mensagens que foram completamente ignoradas. A dor em meu peito era tanta que chegava a ser uma dor física.
Certa manhã, depois de passar boa parte da noite chorando, acordei totalmente inchada, o que chamou a atenção da minha mãe. Aleguei alergia, ela pareceu não acreditar muito, mas aceitou minha resposta.
"— Querida, eu sempre estarei aqui para você. Sabe disso não é?"
Cheguei a pensar em conversar com mamãe, mas acabei desistindo para não deixá-la preocupada.
"— Sim mamãe, é só alergia mesmo. Não se preocupe." — respondi naquele momento.
"— Apenas lembre-se de que eu estou aqui. Talvez você não queira falar disso comigo, ou talvez não agora, mas eu sempre estarei aqui." — a abracei quase me rendendo e expondo tudo que me afligia, mas me segurei.
Estava sendo bem angustiante também não poder desabafar com minha melhor amiga, que tem estado tão ocupada esses dias, não quero levar nenhum peso para ela nesse momento tão único em que está vivendo. Dentro de quinze dias ela estará se casando com seu grande amor, e tudo o que quero é que ela esteja linda e plena, sem preocupações. Se ela souber que estou escondendo as coisas dela, vou levar um sermão daqueles, mas neste momento vale o risco.
Quando eu já tinha perdido qualquer esperança de uma resposta às minhas mensagens ou de um contato com Josh, meu celular apita indicando a chegada de uma mensagem. Imaginando ser Nick, com mais alguma ideia maluca para seu casamento, pensei em ignorar, mas no fundo uma esperançazinha de que fosse ele falou mais alto e eu acabei me esticando para pegar o aparelho em cima da mesinha.
Assim que vi o remetente da mensagem, meu coração disparou e a boca ficou seca. Movida por uma coragem que eu não tinha, abri a mensagem.
"Kate, sei que falar por mensagem não é a maneira mais digna de se fazer as coisas, ainda mais quando se trata de algo que foi tão especial como o que nós tivemos. Mas eu sinto muito. Essa foi a única forma que encontrei de dizer tudo o que eu quero sem precisar encarar o seu olhar doce e meigo. Talvez se fosse diferente eu não tivesse coragem. Há muito tempo venho tentando buscar as palavras certas para falar! Mas é tão difícil...
Tudo que sempre almejei e lutei para conseguir, enfim está se concretizando e minha vida a partir de agora será em Nova Iorque. Você também tem seus planos na Califórnia e eu não acredito que uma relação a distancia dê certo.
Então, por isso mesmo, eu espero que você entenda, mas nós ficamos por aqui, estou colocando um fim nessa relação. Seja lá o que nós tivemos, acaba por aqui. Por favor, não me procure, neste momento eu preciso ficar longe de tudo que comprometa meu futuro ou cause alguma distração.
Saiba que eu sempre terei um carinho enorme por você.
Desculpe-me qualquer coisa, sei que você vai me achar um covarde, e talvez eu seja mesmo, mas eu acho melhor assim. Espero que você seja feliz e me esqueça, eu pretendo fazer o mesmo"
Quando terminei de ler, eu estava me desmanchando em lágrimas, joguei o aparelho para o lado e me encolhi em posição fetal para ver se de alguma forma diminua a dor que estava sentindo. O que eu imaginava e mais temia, estava acontecendo. Sim, ele foi um covarde. O que pensei ser o meu grande primeiro amor, não passou de uma ilusão.
Eu fui ingênua, acreditando em suas palavras ternas, acabei me apaixonando e pior, imaginei que sentisse o mesmo por mim, só não tinha encontrado o momento certo de se declarar.
Inconformada por ter sido tão tola, eu chorei tudo o que tinha para chorar e a qualquer pequena lembrança, as lágrimas retornavam com força mais uma vez.
Durante muito tempo eu fiquei deitada, imóvel, olhando para um canto qualquer do quarto, com a mente como um borrão, sem pensar em absolutamente nada. Por fim, tentei adormecer, mas insone, rolando de um lado para o outro, acabo desistindo de tentar dormir e resolvo descer para tomar um leite quente. A casa está silenciosa, todos dormem e eu procuro não fazer barulho e como consequência acordar alguém. Já com a caneca em mãos, caminho em direção à varanda e fico contemplando a noite tranquila lá fora, tão diferente do meu interior que se encontra agitado.
Um tempo depois, percebo um movimento e olho em direção a porta que dá acesso à varanda, vejo meu pai, em seu roupão de flanela, listrado, encostado ao umbral da porta, ele me olha por alguns segundos e pergunta.
— O que a minha menina tem? — sua pergunta feita de forma tão carinhosa, me faz levantar e abraçá-lo, acabo caindo no choro sem que eu consiga controlar. Ele me envolve em um abraço acolhedor, alisando meu cabelo, fica em silencio, permitindo que eu coloque para fora toda angustia que tenho sentido esses últimos dias.
Quando por fim o choro dá lugar a pequenos fungados e eu me acalmo um pouco, ele me puxa para nos sentamos.
— Quer conversar sobre o que está acontecendo? — pergunta enxugando meu rosto. Como não digo nada, ele insiste. — Tem haver com aquele rapaz, estou certo?
Eu afirmo com um leve movimento de cabeça e a vontade de chorar me toma novamente, eu luto para evitar sucumbir ao choro mais uma vez, sem sucesso. Quando consigo me acalmar, relato em poucas palavras o afastamento do Josh sem ao menos um motivo que justifique sua atitude. Falo também da mensagem que recebi hoje e o que senti com tudo aquilo. Ele ouve tudo pacificamente sem alterar sua fisionomia enquanto falo. Por fim sentencio...
— Eu o amo tanto, papai. Está doendo muito, não sei se um dia amarei novamente.
Meu pai segura em minhas mãos, beijando uma de cada vez, falando com a voz baixa e calma.
— Vocês dois... — ele pigarreia, e meio sem jeito continua. — Vocês avançaram... digo, tiveram algo mais sério?
Sei perfeitamente o que ele quer saber. Envergonhada, apenas aceno afirmativamente. Depois de um tempo em silêncio, ele fala.
— Eu vejo minha filha se tornando uma linda mulher, e qualquer rapaz se sentiria atraído por você, e se ele tivesse um pouco de bom senso, saberia valorizar a raridade que teria nas mãos.
Ele olha para frente contemplando a paisagem do jardim, não demora muito e ele continua...
— Aqui nesse jardim, eu a ensinei a andar de bicicleta — fala me lançando um olhar nostálgico. — Você sempre foi desafiadora, Kate, e queria andar sozinha, sem rodinhas e sem que eu segurasse para lhe ajudar a equilibrar-se. O resultado eram os joelhos ralados, arranhões, e mesmo com dor, após eu fazer os curativos, lá estava você na bicicleta novamente. Corajosa.
Ele volta a contemplar o jardim, onde as flores balançam com um vento um pouco mais forte.
— Lembro como se fosse hoje a frase que me convenceu a te soltar mais uma vez depois de tratar dos joelhos todo esfolado — ele sorrir. — "Eu preciso fazer isso sozinha, papai. Não poderá me segurar para sempre" — imita uma voz infantil. Acabo sorrindo e ele também.
— Eu era uma criança teimosa.
— Você era determinada e ainda é — ele volta-se para mim colocando meu cabelo por trás da orelha. — Eu sempre soube que um dia, aquela garotinha iria se apaixonar e mesmo desejando com todas as forças que não acontecesse, eu sabia que uma desilusão seria possível. Se eu pudesse, eu traria para mim tudo o que você está sentindo agora, aliviaria essa dor em seu peito, mas eu não posso — ele segura em meu queixo me fazendo olhar em seus olhos. — Certa vez, eu ouvi a seguinte frase: "Ostra feliz não produz pérola" e analisando a frase eu vejo que essas emoções precisam ser sentidas, pois serão elas que irão alicerçá-la, lhe moldar para a vida adulta. Você é muito jovem, tem uma vida inteira pela frente, essa é apenas uma experiência, de onde você irá tirar lições valiosas para o enfrentamento da vida. E assim como você fez quando criança, com dor, subiu na bicicleta e foi em frente. Fará agora, por que você é forte, Kate.
Eu o abracei, emocionada, meu pai era maravilhoso e por toda minha vida eu agradeceria a dádiva de ser sua filha.
— Obrigada papai, não sei o que seria de mim sem você. Gostaria muito de poder conversar assim com mamãe...
— Sua mãe ama você, Kate — ele me interrompe. — Ela está tentando, dê uma chance a ela — eu aceno que sim, com um sorriso singelo ele fala. — Agora vamos dormir que daqui a pouco amanhece.
— Vamos!
Seguimos abraçados para dentro de casa e eu me sinto mais tranquila depois de termos conversado.
Uma semana se passou desde que tive aquela conversa com meu pai, onde me senti menos angustiada e um pouco mais confiante. Apesar de ainda pensar muito em Josh e lembrar-me de tudo que vivemos naqueles poucos dias, que agora parecem tão distantes, eu tratei de focar minhas energias em Nick e no seu casamento.
Ela acabou percebendo que eu estava diferente e que não mais tocava no nome dele e eu terminei falando do nosso fim sem ao menos ter começado.
"— Sabe que ele, como amigo do Matt, virá ao casamento não é?"
Sim, eu sabia e não queria pensar muito. Lidaria com a situação quando ela chegasse. Não adiantava antecipar o momento.
Não bastasse todo conflito interno que tenho vivido esses dias, a Nick está me deixando louca com todos os preparativos para o casamento. Cada dia é uma novidade diferente. Certo dia, ao abrir minha rede social, quase caí para trás com a mensagem de seu status.
Embaixo do seu post estava a seguinte legenda.
"Resolvi mudar tudo!"
Minha amiga só pode ser louca e quer enlouquecer a todos com ela. Durante os últimos vinte e um dias, desde que anunciou seu casamento com Matt, nós dormimos, acordamos e respiramos casamento. A tia Melanie é tão louca quanto à filha, se não fosse mamãe a colocar um pouco de juízo nelas eu nem sei. O tio Ottavio só sabe dizer que está enfartando e que vai deserdar as duas.
Hoje acordei bem cedo. Falta pouco mais de uma semana para o casamento de Nick. Daqui a pouco ela liga para irmos resolver alguma coisa, e eu confesso que não estou com o mínimo de disposição. Tenho sentido um sono que não é meu... Sempre gostei de dormir muito, mas está além do normal. Será que estou doente de novo?
"Não pode ser, não agora tão perto do casamento."
Faço uma oração mentalmente para que eu não fique doente por esses dias. Corro para tomar meu banho e depois de pronta pego o celular e desço para tomar café. Essa é outra coisa que esta bem estranha esses dias, acordo com muita fome e depois de comer feito uma louca, acabo colando tudo para fora. Definitivamente devo estar ficando doente.
Quando já estava chegando ao ultimo degrau da escada, uma tontura muito forte me abateu, tentei me agarrar ao corrimão para evitar a queda, mas não fui rápida o bastante. Quando a escuridão estava me envolvendo, ouvi a voz do meu pai...
— Kateeee...
Acredito que ele tenha me alcançado, pois não sinto nenhuma dor, o que fatalmente estaria sentindo se tivesse caído. Abro os olhos assim que sinto um cheiro horrível de álcool entrando por minhas narinas.
— Querida, o que está sentindo? — ouço a voz da minha mãe.
— Eu... Eu estou bem... — digo tentando me sentar.
— Você não está bem, Kate. Fique deitada. Mick, temos que levá-la ao médico, faz dias que venho notando o quanto está abatida, sonolenta e se alimentando pouco. A anemia pode ter voltado e temos que tratar o quanto antes.
Há alguns anos eu tive uma anemia profunda, acabei ficando internada para fazer um tratamento mais intenso.
— Mamãe, realmente não é necessár... — antes que eu termine de falar ela me interrompe.
— É necessário sim, você está pálida que nem um papel.
Ainda tentei argumentar mais uma vez sem sucesso. Como meus irmãos ficaram agitados, minha mãe resolveu me acompanhar, afirmando que daria notícias e meu pai ficou em casa com eles, resolveu não ir trabalhar até que estivéssemos de volta. Sem alternativa, eu a acompanhei em silencio. Minha mãe também estava muito calada, concentrada no transito.
Assim que chegamos ao pronto atendimento, o médico de plantão me examinou, fez algumas perguntas e solicitou alguns exames de sangue. Enquanto aguardava, eu fiquei sentada em uma poltrona de couro bege, aproveitei para olhar todo ambiente e um calafrio me passou pela espinha.
Era um local muito bonito, mas o que representava, assustava-me. Depois de quase uma hora de espera dos resultados, eu ouço meu nome. Sempre acompanhada por minha mãe, vou até o balcão impecavelmente branco, e a recepcionista me direciona para um corredor onde está a sala que serei atendida, segundo ela, o médico já está com os resultados.
De repente sinto um nervoso que não sei explicar o motivo, entro junto com mamãe, cumprimentamos o médico e sentamos em frente a sua mesa. A apreensão é tanta que fixo o olhar nele sem me importar de observar ao redor.
— Então doutor, o que a minha filha tem? É muito grave? Estamos há horas aqui e ainda não sabemos o que ela tem — minha mãe vai logo perguntando.
— Então Sra. Welsh, como eu suspeitava na avaliação preliminar, a sua filha está grávida — diz, de forma direta.
"Como assim, grávida?"
Sinto meu sangue fugindo de mim como se eu estivesse no brinquedo mais radical de um parque de diversões. Não pode ser. Olho para minha mãe que parece em estado de choque. Viro-me novamente em direção ao médico e pergunto.
— O senhor leu direito? — falo pela primeira vez, com a voz tremula.
— Não há erro, está aqui. Se preferir podemos repetir os exames, mas o resultado será o mesmo.
Pego o papel que ele me oferece com as mãos tremulas, começo a ler sentindo minha vista ficar turva pelas lágrimas que vão se formando em meus olhos e acabam transbordando pelo meu rosto, mas isso não impede que siga com a leitura até me deparar com o resultado escrito POSITIVO no canto da folha.
Como se saísse de um transe, minha mãe pega o papel da minha mão, correndo seus olhos pelas letras ali e em seguida ouço sua voz.
— Kate faz uso de anticoncepcional, como isso é possível?
— Senhora, nenhum método é cem por cento confiável, e mesmo que sua eficácia seja de 99%, ainda existe aquele 1% que pode falhar — ele explica e eu só consigo chorar. — Ainda mais aliado a outros fatores, acaso ficou doente por esses dias? — pergunta olhando para mim.
Eu não consigo pronunciar uma palavra. Minha mãe responde por mim.
— Sim, ela teve um resfriado muito forte e uma inflamação de garganta que teve que ser tratado com antibióticos.
— Então está explicado. Alguns medicamentos interferem no resultado de anticoncepcionais, inutilizando sua eficácia. O uso concomitante de contraceptivos orais, adesivos ou injetáveis com determinadas classes de medicamentos pode trazer efeitos mais do que indesejáveis, como a diminuição ou até mesmo a anulação do seu efeito. Teve relações sexuais nesse período? — novamente se dirige a mim. Minha única reação é afirmar com a cabeça sem coragem de encarar nenhum dos dois que estão presentes na sala.
— Vi aqui que você está com um pouco de anemia, vou receitar umas vitaminas e quero fazer um ultrassom para saber de quanto tempo está, ok?
Ele faz mais algumas perguntas, vai anotando as respostas em seu computador e ao final de tudo me encaminha para uma sala para eu colocar uma bata. Eu vou fazendo tudo no automático, estou em choque. Quando já estou na maca e a sua assistente coloca um gel frio em minha barriga, olho para minha mãe em um canto da sala com o rosto banhado em lágrimas, não me seguro e choro também.
Ele começa a passar um aparelho em minha barriga e uma imagem preta e borrada surge no monitor ao lado da minha cabeça. Fico observando na intenção de ver alguma coisa e não consigo enxergar nada.
— Olhe aqui, está vendo esse pontinho? É o seu bebê — ele aponta um local na tela. — Você está com três semanas e um dia de gestação, srta.!
Isabelle
Por amor, eu me obriguei a temperar o instinto avassalador de protegê-la e usar de compreensão para dar-lhe espaço, ciente de que ela precisava crescer e ser quem é, sozinha, sem a minha constante interferência.
E aonde isso nos trouxe? Ao que tanto temi desde que soube que o meu bebe seria uma menina. Durante muitos anos, eu sofri a angustia de um dia ela vir a passar por toda dor e desilusão que eu passei com o seu pai.
E agora, depois de ver minha filha sofrer em silencio todos esses dias pela ausência daquele rapaz, eu sei que não existe a possibilidade de ele querer assumir a responsabilidade de um filho.
O fato de não ter sido capaz de protegê-la e evitar passar pelo o que eu passei anos atrás, me destrói.
Tantos sonhos e planos foram feitos quando ela ainda estava em tenra idade. E agora a um passo de concretiza-los, tudo vai por água abaixo.
Sinto as lágrimas escorrem por meu rosto sem que eu tenha qualquer controle sobre elas. Desde o momento em que ouvi as palavras do médico, uma angustia se abateu sobre mim e a minha vontade é de gritar e extravasar tudo o que estou sentindo nesse momento.
Busco por um autocontrole que não tenho, em um canto da sala de exames, eu observo toda movimentação para que Kate possa fazer o ultrassom, nossos olhares se cruzam e eu posso ver o medo estampado neles.
Sua atenção logo se volta para o médico que começa o exame. Ele aponta para a tela mostrando um pontinho, que seria o bebê e fala.
— Você está com três semanas e um dia de gestação, Kate — mais uma vez, nossos olhares se cruzam.
Mais uma vez nossa atenção se volta para o médico quando ele diz.
— Ainda não é possível ouvir o coração do bebê, mas na próxima consulta com certeza. Vou encaminha-la para um acompanhamento de pré-natal.
— Vou leva-la a minha ginecologista doutor, muito obrigada — eu digo.
— Tudo bem, como à senhora preferir. O importante é fazer o acompanhamento.
Depois que saímos do consultório e estamos a caminho do estacionamento, Kate tenta falar comigo.
— Mamãe, eu não queria te causar essa dor e decepç...
— Agora não, Kate! Em casa conversamos.
Ela se cala na mesma hora e entramos no carro. Todo o trajeto de volta para casa é feito no mais absoluto silêncio. Assim que chegamos e entramos em casa, eu digo.
— Mamãe... — eu a corto.
— Vá para o seu quarto e me espere lá — sem dizer uma única palavra, ela vai em direção às escadas.
Ouvindo toda movimentação, Mick aparece na sala, vindo logo em minha direção.
— Belle, vocês demoraram. Onde está Kate? O que ela tem?
— Ela está grávida — digo sem rodeios. Ele fica mudo, apenas me olhando... Por fim fala.
— Belle...
— Não, Mick! Agora não... — eu digo de forma incisiva e sigo o mesmo caminho de Kate, minutos antes.
Vou até o lavabo que tem no corredor e me permito chorar toda angustia que estou sentindo, quando me sinto mais calma, lavo o rosto, enxugo e vou de encontro ao inevitável.
Quando abro a porta do seu quarto, eu não acredito no que vejo diante dos meus olhos...
— Kate! O que está fazendo?
Continua...
Viva o Matt. Quem acha que o Josh teve o que mereceu?
Eu não me canso de admirar o Mike, que pai maravilhoso.
A Nick doidinha como sempre... Quer mudar tudo. rsrsrsrsrs
Kate grávida 😨 meu pai amado... o que vai ser da vida dela agora?
O que será que a mãe dela vai fazer? A propósito, o que foi que ela viu quando entrou no quarto?
Eu não digo é nada...
Até quinta. Beijinhos...
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