4. Terapia do Diabo
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No capítulo anterior Jimin encontrou com Jungkook novamente e finalmente fez e selou o contrato. Como será a relação dele com o capeta.... 🤭 Veremos.
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Jimin é acordado por uma batida na porta de seu quarto de hotel, pensando que é o serviço de limpeza, até que abre a porta e vê um homem idoso vestido de terno e gravata. Jimin está com o capuz puxado para esconder o rosto.
— Boa tarde. — Diz o homem.
Tarde? Jimin olha para o relógio na sala. Oh. Já passa do meio-dia.
— Fui enviado para buscá-lo. — Ele continua. — Jeon Jungkook está esperando por você. Você é Chim Chim, certo? Eu estou falando com a pessoa certa, não é?
O olhar vazio no rosto de Jimin e sua falta de resposta são provavelmente o que deixa o homem confuso. Ele pesca o telefone do bolso e vê, para seu horror, que Jungkook havia lhe enviado cinco e-mails separados, começando às 8h, um para cada hora. Cada um deles é mais insistente que o anterior.
8h: Bom dia, Jimin! Ou devo chamá-lo de Chim? Chim Chim? ;) ;) Só queria avisar que esvaziei minha tarde, então vou mandar alguém buscá-lo às 12h30. Por favor, deixe-me saber que você recebeu isso.
9h: Bom dia de novo! Você recebeu meu último e-mail? Você ainda está hospedado naquele hotel, não é? Eu percebo que deveria ter perguntado. Estou animado para começar a trabalhar com você.
10h: Oi Chim Chim! Como está indo sua manhã? Espero que não mal. O nome do meu motorista é Donghae. Não contei a ele quem você é, então não precisa se preocupar. Ele é leal de qualquer maneira, então não vai dizer nada a ninguém, eu garanto. Vejo você em breve!
11h: Acabou de me ocorrer que você pode não estar acordado? Ou está sendo enviado para o seu spam? Ou você está apenas me ignorando? Devíamos trocar números. Isso tornaria a comunicação muito mais fácil. Vejo você em algumas horas, Jimin!
12h: Meu motorista acabou de sair para buscá-lo. Você poderia me informar se está recebendo esses e-mails? Obrigado Jimin. Vejo você em breve!
Jimin olha para quem ele presume ser o motorista de Jungkook, Donghae.
— Você pode me dar vinte minutos? Eu só preciso... me tornar apresentável.
— Claro. — Diz Donghae, curvando-se e dando um passo para trás. — Vou esperar aqui fora.
— Ah, você não...
— Eu insisto.
— Claro. Tudo bem.
Jimin fecha a porta, a palma da mão apoiada nela por um segundo enquanto suspira. Honestamente, ele não imaginou que teria uma resposta de Jungkook tão cedo. Faz apenas um dia desde o encontro deles na sede da JinHit Entertainment, e Jungkook sendo um ídolo complica as coisas, uma delas é que ele provavelmente tem uma agenda lotada e pouco tempo para ele (JM).
Obviamente, Jimin estava errado.
Jimin veste roupas adequadas, mantendo um visual casual, já que não é como se ele estivesse tentando impressionar alguém. Em vez de um chapéu, ele joga um gorro para cobrir o cabelo, terminando com um par de óculos escuros.
Donghae está esperando do lado de fora como disse que faria, e ele escolta Jimin até os elevadores, depois até o estacionamento e até segura a porta do carro aberta para Jimin entrar. Jimin não consegue deixar de sentir que está de volta aos seus dias de ídolo, sendo atendido em cada esquina.
No passeio, Donghae não diz uma única palavra, e Jimin não teria ouvido de qualquer maneira. Ele fica olhando para a tatuagem em seu pulso, imaginando quanto tempo tudo isso levará e como será sua vida depois.
Ele voltará para Seul? Seus fãs o amará como antes? Sempre pareceu um sonho improvável, um que Jimin não gostava de pensar, mas ele percebe que se tiver forças sobrenaturais do seu lado, esse sonho poderá se tornar realidade, ele se sente melhor nas mãos de algo que ele não consegue entender totalmente.
Jimin é escoltado de seu hotel até o complexo de apartamentos em Seongsu-dong. Eles param em um complexo de apartamentos fechado e Jimin olha pela janela e vê vários prédios se elevando acima deles, as janelas brilhando com o reflexo do sol. Este lugar deve custar milhões de dólares para se viver. Ele engole em seco, lembrando-se de que já tinha ficado em um lugar como esse.
Donghae estaciona o carro e leva Jimin a um conjunto de elevadores. Seu cartão-chave lhe dá acesso a tudo, e logo eles estão se aproximando de um conjunto de portas duplas de madeira. Donghae toca a campainha e engancha uma mão atrás da outra na frente dele, esperando.
Dez segundos depois, Jungkook aparece.
Ele usa um hanbok moderno cinza e seu rosto está sem maquiagem, mas de alguma maneira ele ainda é bonito, talvez até mais. Assim que ele vê Jimin, seu rosto se abre em um sorriso e ele o puxa para um abraço.
— Obrigado, Donghae-ssi, você pode ir agora. — Diz Jungkook, seus braços ainda em volta de Jimin como se fossem velhos amigos.
Jimin percebe o pequeno sorriso no rosto de Donghae enquanto esse se curva e se afasta. É estranhamente reconfortante ser segurado assim, e não apenas porque ele não faz sexo há três anos. O corpo de Jungkook está quente e ele cheira, novamente, como algum tipo de perfume floral. Embora os braços de Jimin esteja presos ao lado do corpo, ele de alguma maneira consegue levantá-los para poder abraçar o diabo de volta.
— O passeio até aqui foi bom? — Jungkook pergunta, saindo do abraço.
— Sim, tudo bem.
— Bom.
Jungkook o leva para dentro. O apartamento está bem iluminado, as cortinas abertas para revelar uma vista da cidade. Jimin nota imediatamente que Jungkook usa bem o espaço, ao contrário dele com sua grande casa sempre vazia. Não só os móveis, mas vasos de plantas bem colocados fazem o lugar parecer aconchegante.
— Café ou chá?
— Café, por favor. — Responde Jimin. — E café da manhã, talvez. Ou almoço. Seu motorista meio que me acordou esta manhã.
— Dormiu tarde da noite?
— Jogando e correndo. Eu corro em horários opostos à maioria das pessoas.
— Você pode ter que mudar isso se quiser ser um ídolo novamente. — Jungkook fala. Ele vasculha a geladeira em busca de comida e liga a cafeteira. Jimin o observa trabalhar, maravilhado com o quão humano ele age. Sua mente zumbe com perguntas, mas ele irá esperar pela cafeína primeiro. — Você pode se sentar na mesa. — Jungkook diz. — Vou demorar apenas um minuto.
Jimin assente, mas em vez de se sentar, ele caminha pelo apartamento, caminhando ao lado da janela para que a luz o banhe. Ele passa a mão pelo encosto de um sofá de couro, avançando pelo apartamento até chegar a um quarto escuro. Ele apenas espia para dentro, vendo que o chão é acarpetado e há uma televisão em frente à cama.
Normal. Nada de poções, chifres ou fogueiras. Quando Jimin vê uma foto emoldurada pendurada na parede, ele abre a porta ainda mais, acende a luz e entra. Que porra!, Jungkook, o ídolo, é lindo. Jimin só teve um vislumbre de seu rosto no prédio de escritórios ontem, mas aqui, ampliado assim em HD e vestido todo de branco, seu cabelo preso em cachos e em um palco com fãs ao seu redor, ele parece uma estrela.
— Você gosta do que vê?
Jimin pula ao ver que Jungkook se juntou a ele. O diabo olha para ele com um meio sorriso nos lábios, e Jimin dá um tapinha em seu peito, murmurando baixinho:
— Que porra, não se esgueire atras de mim assim.
— Desculpe.
Jimin morde o lábio com o sincero pedido de desculpas. Ele quer rir e dizer a Jungkook que não está com raiva, mas o outro já está pegando sua mão e levando-o para fora da sala.
— Sua comida está pronta. — Diz ele.
Certo. Jimin senta-se em frente a Jungkook e começa a comer, acelerando o ritmo ao perceber o quão faminto está. Ele não comeu nada desde o serviço de quarto na noite passada. O hotel tem boa comida, mas ele rapidamente percebe que a comida de Jungkook é melhor.
— Então, — Jungkook começa enquanto Jimin come. — para nossa primeira sessão juntos, eu queria começar com algo que gosto de chamar de Terapia do Diabo.
Jimin quase cospe sua comida.
— Terapia... do diabo?
— Eu só quero entender algumas coisas sobre você e sobre o que aconteceu há três anos. Isso ajudará enquanto tento formular um plano para verificar as coisas em sua lista.
— E quanto tempo tudo isso vai levar? — Jimin pergunta com a boca cheia de comida.
— Depende de quanto dano temos para reverter.
— Você não pode simplesmente estalar os dedos e realizar meus sonhos? — Jimin sabe que é uma ilusão, Jungkook já havia dito a ele que seus poderes culminam na capacidade de ler os desejos das pessoas, fazer seus olhos brilharem vermelhos. E deixá-lo sóbrio novamente.
— Isso seria muito fácil. — Diz Jungkook. — Então, por que você não contou a ninguém que foi falsamente acusado?
Jimin engole um pedaço grande demais e tem que beber um pouco de café antes de responder.
— E-estamos começando agora?
— Sim. As pessoas especularam, sabe, que talvez você tenha sido falsamente acusado, mas você não disse nada sobre isso. Por que não?
— Eu... eu... — Sua comida não parece mais tão apetitosa. — Não fazia sentido. Eles iam me arrastar para baixo de uma maneira ou de outra.
Essa não foi a única razão. Naquela época, ele foi pego de surpresa, acordou com uma enxurrada de notificações sobre algum vídeo dele beijando Byungho. Ele não teve tempo de processar nada. No minuto em que ligou para seu empresário, ele foi convocado para uma reunião com um advogado e obrigado a ouvir Byungho falar sobre como Jimin o forçou a beijá-lo. Que Jimin esteve fazendo coisas assim por um ano inteiro e ameaçou arruinar sua chance de estrear se ele falasse sobre isso.
— Então você achou que essa era a sua saída? — Jungkook pergunta. — Você odiava ser um ídolo ou algo assim?
— Não. Eu... adorava.
— Então por que você não fez tudo ao seu alcance para manter seu status?
Os olhos de Jimin está queimando de vergonha. Antes de acertar as coisas com Byungho, ele conversou com seu gerente e o CEO da empresa. Isso está ficando fora de controle, eles disseram. A mídia pegou as acusações de Byungho contra você, Jimin. Sinto muito, mas não podemos mantê-lo ligado e fingir que nada aconteceu. Alguém tem que ir.
A mídia já havia colocado a culpa nele. Seus fãs estavam começando a questioná-lo. Sua empresa não parecia se importar se era verdade ou não, eles só queriam manter a reputação. Agir os ajudaria a fazer isso. Mas o pior golpe, talvez, foi ver Byungho olhá-lo nos olhos e chamar de falso cada beijo compartilhado entre eles.
E por um momento, Jimin se perguntou, e se eu fiz? E se eu dei em cima dele e ele simplesmente não soube dizer não?
— Não havia nada que eu pudesse fazer. — Responde Jimin. — Todo mundo acreditou. Todo mundo pensou que eu fiz isso. Foi mais fácil simplesmente... sair de tudo.
— Então você se sentiu traído por seu namorado e seus fãs, e então você pensou em se isolar para puni-los?
— Não é isso que eu...
— Como você pode esperar que alguém tenha fé em você se você nunca esteve disposto a lutar por si mesmo?
Jimin não consegue olhar para Jungkook, aqueles olhos de julgamento tentando se intrometer em algo que ele não entendia.
— Talvez eu não tenha nascido para a fama. — Diz Jimin, surpreso por conseguir manter a voz firme enquanto fala.
— Você foi um ídolo por quatro anos.
— Sim, e toda vez que alguém me insultava, doía pra caralho. Mas você sabe o que? Não importava depois que eu conheci Byungho. Porque ele me disse que eu era lindo mesmo quando minha maquiagem estava borrada de tanto chorar. E ele me disse quando minha voz falhou no palco que isso não significava que eu era um cantor ruim. Significava apenas que eu era humano. Ele foi minha rocha em toda a loucura, mas quando o vídeo vazou, ele me deu as costas e eu…
Os olhos de Jungkook nunca deixam seu rosto. Há preocupação ali. Um demônio está preocupado com ele.
— Eu estava com o coração partido. — Jimin sussurra.
— Eu sinto muito.
Jimin dá de ombros, mordendo o lábio trêmulo.
— A empresa queria alguém para culpar. E eu não podia vê-lo. Eu não conseguia olhar para ele sem sentir como se meu coração estivesse sendo despedaçado. Eu queria fugir de tudo, então aproveitei a oportunidade e fui embora.
— Quando as coisas se acalmaram, por que você não disse nada?
— Não sei. — Jimin poderia ter dito. Quando ele encontrou Hoseok, eles conversaram um pouco sobre isso, mas Jimin não estava pronto naquela época. Disse a si mesmo que ainda estava se recuperando. E logo os meses se transformaram em anos e ele se acostumou a uma vida de isolamento.
Ninguém para ele machucar. Ninguém para machucá-lo.
— Mas agora você quer lutar. — Diz Jungkook.
Jimin franze os lábios. Assente.
— Por que a mudança de coração?
— Você é um maldito demônio. Você pode fazer qualquer coisa, não pode?
Jungkook parece surpreso, novamente, embora Jimin não tenha certeza do porquê. Jimin não colocará sua confiança em mais humanos, mas demônio é um jogo totalmente diferente. Pela primeira vez, ele sente que tem a vantagem. Talvez uma maneira distorcida de olhar para isso, mas dá a ele a confiança de que precisa.
Jungkook limpa a garganta, um pequeno sorriso nos lábios.
— Certo. Eu posso fazer qualquer coisa.
— Bom. — Jimin respira fundo e solta o ar. Ele sente como se tivesse tirado um peso do peito. Afinal, a terapia do diabo não é tão ruim assim. Ele olha pela janela, imaginando se será capaz de voltar a ser como era antes. Ele continua a imaginar se apresentando nos palcos novamente, interagindo com seus fãs no twitter.
— Não... — Jungkook interrompe quando Jimin olha para ele.
— Hum?
— Não olhe para isso como um retrocesso. Este é um novo começo para você. Não quero que você pense que tudo será como antes.
Jimin franze a testa.
— Você pode ler minha mente ou algo assim?
— Não, apenas... seu rosto. Você parecia meio nostálgico.
— Não sabia que nostálgico era uma expressão.
— É, e eu li sobre você. — Jungkook insiste.
Jimin sorri.
— Sim, tudo bem, JK.
Os dois pulam ao ouvir um barulho na porta, indicando que alguém está tentando entrar.
— Oh merda, eu esqueci que ele disse que estava vindo. — Jungkook se levanta, puxando Jimin de pé. — Você pode se esconder no meu quarto, se quiser. Vou afugentá-lo.
Jimin não discute. Ele não quer outro encontro como ontem com Kim Seokjin. Alguns segundos depois, ele está sentado na cadeira da escrivaninha de Jungkook, girando em círculos lentos enquanto olha para o teto sem pensar. É meio bom ver um conjunto diferente de paredes, uma visão diferente, ele se sente como uma pessoa diferente.
E então uma voz flutua pela porta, um pouco abafada, mas alta o suficiente para Jimin entender o que está sendo dito:
— Você tem companhia?
— Eu o que? — Jungkook pergunta.
— Sapatos na porta. Tem alguém aqui?
— Oh. Oh! — Jungkook fala. Jimin quer gemer. Para ser justo, ele também não havia pensado nisso, mas ainda assim, Jungkook não parece ser o melhor mentiroso. — Eles são, uh, eles são meus! — Diz Jungkook. — Eu os comprei online, mas eles acabaram sendo do tamanho errado.
Uma risada se segue. Uma risada assustadoramente familiar que faz Jimin pular da cadeira um segundo depois para pressionar o ouvido contra a porta.
— Você está mentindo, Jungkook-ah. O que está acontecendo?
E aquela é uma voz assustadoramente familiar.
Jimin abre a porta. Jungkook se vira para ele como um cervo pego pelos faróis, mas é o olhar de surpresa pura e não adulterada no rosto de Hoseok que faz Jimin sorrir. Um pouco maldoso, talvez.
— Que porra é essa? Park Jimin?
— Sentiu minha falta? — Jimin pergunta.
Hoseok atravessa a sala, dando um abraço curto e apertado em Jimin.
— Sinto como se estivesse em uma realidade alternativa. O que você está fazendo aqui?
— Eu estou... — Jimin quase diz que está fazendo um acordo com um demônio, mas ele tem certeza absoluta de que Hoseok não sabe de nada sobre isso, então acaba dizendo: — Estou visitando.
— Visitando. Como se isso não fosse grande coisa. Vamos, sente-se, vocês dois têm algumas explicações a dar.
Eles se instalam na sala. Jungkook continua mexendo em um ponto em suas calças como se estivesse desconfortável, mas honestamente Jimin não sabe o que dizer, então olha para Jungkook para esse assumir.
— Lembra daquela viagem que fizemos para Hadong na semana passada? — Jungkook diz a Hoseok, ao que o último assente, enquanto Jimin franze a testa. — Fui passear uma noite e encontrei com ele. Começamos a conversar e eu o convenci a vir para Seul.
— Você o convenceu? Que porra! Estou tentando tirá-lo de Hadong há dois anos!
— Ele é muito convincente. — Diz Jimin, e Hoseok se vira para ele lentamente. — Só precisei de algumas palavras e uma curta caminhada antes de decidir que era hora de fazer alguma coisa.
— Uh-huh. — Hoseok está com o queixo na mão agora, os olhos cavando, ao que parece, a alma de Jimin.
Mas tudo o que Jimin faz é sentar-se divertido, querendo ver até onde ele poderá levar isso.
— Ele simplesmente sabia exatamente o que dizer. — Jimin fala. — Acho que só precisava de um empurrão da pessoa certa.
— É mesmo.
É um pouco maldoso, mas o brilho no rosto de Hoseok vale a pena. Depois de todas as intromissões ao longo dos anos, quando Jimin queria ficar sozinho, e aquele comentário sobre sexo que ele havia feito da última vez, ele pensou que o outro merecia. Mas então Hoseok de repente está olhando entre os dois, o brilho desaparecendo enquanto ele estreita os olhos.
— Jungkook é alguém especial para você, Jimin? Há algo que você não está me contando?
— O que? — Jimin pergunta, piscando em surpresa.
— Ele foi convincente. Ele sabia o que dizer. O que Jungkook tem que eu não tenho?
— N-nada. Ele apenas...
— E você, Jungkookie, raramente convida pessoas para sua casa. — Hoseok continua. Há um pequeno sorriso em seu rosto como se ele soubesse que está descobrindo algo, e a maneira como Jungkook fica vermelho faz Jimin pensar que sabe o que é.
— Não está acontecendo nada entre nós, nossa. — Jimin diz, desviando os olhos.
— Uh-huh. — Hoseok mexe as sobrancelhas algumas vezes, claramente incrédulo, mas deixa o assunto de lado. Por que diabos Jungkook tem que parecer tão envergonhado? Não está ajudando a já baixa auto-estima de Jimin.
— Hyung, — Jungkook diz de repente, olhando para Hoseok. — você acha que Seokjin PD-nim estaria interessado em deixar Jimin assinar como artista em nossa empresa?
— O que?? — Jimin pergunta. Ele sente como se estivesse sendo mergulhado em gelo. Algum aviso teria sido bom. Ele quer ser um ídolo novamente, ele realmente quer, mas não está pronto, ainda.
Os olhos de Hoseok ficam arregalados.
— Sim, porque? Jimin, você quer ser um ídolo de novo?
Jimin dá de ombros, desconfortável em admitir isso para o rapper. Ele foi tão teimoso nos últimos anos; parece um pouco hipócrita pedir algo do que vinha fugindo há três anos. De todos, Hoseok é o que mais sabe, embora suas visitas tivessem sido curtas e poucas, Jimin havia deixado bem óbvio o quanto este mundo o machucou.
Voltar é como pedir para ser machucado novamente.
— Ele quer. — Diz Jungkook. — E eu vou ajudá-lo.
Hoseok ainda está olhando para Jimin, seus olhos escuros procurando seu rosto. Jimin olha para cima, sem saber como se explicar, mas acaba que não precisa porque Hoseok já está dizendo:
— Isso é… incrível, Jimin. Estou orgulhoso de você. Eu... eu também posso te ajudar, se você quiser.
É o que ele (HS) vinha dizendo há anos. Jimin sente seus olhos arderem com lágrimas, e quer se chutar por ser tão fodidamente sensível o tempo todo. Mas ele é tocado, a realidade do que ele está fazendo o atinge mais uma vez.
— Obrigado Hoseokie. Eu... eu gostaria disso.
— Eu posso te dar aulas de dança! Sempre quis dançar com você. Ah, você quer aprender a fazer rap? Talvez você possa estrear como cantor-dançarino-rapper. Todo o pacote. Que tal isso?
Jimin ri, escondendo seu sorriso atrás de uma mão. A perspectiva dele fazendo rap o faz estremecer, ele sabe que não será bom nisso, mas o resto trás uma nova onda de excitação. Ele poderá fazer música novamente. Ele poderá se apresentar novamente. Ele poderá e fará e Jungkook irá ajudá-lo a conseguir.
— Você parece muito mais feliz de alguma maneira. — Diz Hoseok.
— Acho que foi a terapia do diabo, para ser honesto. — Ah Merda. Jimin quase cai da cadeira quando percebe o que acabou de dizer. Merda, merda, merda. Que porra há de errado comigo. Ele não deveria ter permissão para falar.
— O que? — Pergunta Hoseok.
— Não, quero dizer... — Merda. — É só uma piada que eu.. Ah, bem, você não...
— Hoseok-hyung, você não tinha um lugar para estar? — Jungkook pergunta suavemente, levantando-se como se nada incomum estivesse acontecendo. Ele começa a conduzir o mais velho até a porta, claramente tentando tirar o melhor proveito de uma situação ruim. Jimin tem que concordar com isso, embora tudo o que está fazendo seja deixar Hoseok ainda mais desconfiado, olhando entre Jimin e Jungkook com perplexidade em seus olhos.
— Não, eu...
— Obrigado pela visita. Podemos combinar uma refeição juntos em breve. — Jungkook diz enquanto abre a porta da frente. Há uma finalidade em suas palavras que faz Hoseok ficar em silêncio por um momento.
— Foi bom ver você. — Acrescenta Jimin.
— Certo. — Hoseok diz. Ele dá um sorriso e ergue as sobrancelhas uma vez em brincadeira. — Vocês dois querem ficar sozinhos.
Jimin não tem tempo de corrigir a insinuação, não quando Jungkook já está acenando com os dedos e fechando a porta.
— Jimin, Hoseok não sabe que eu sou um demônio. — Jungkook diz, soando como um professor castigando seu aluno.
— Sim, não, eu sei. Deslize da língua, desculpe. — Jimin morde o lábio, tentando encontrar sinais de raiva no rosto de Jungkook. O que acontece quando um demônio fica com raiva? Ele de repente não quer descobrir. Ele segue para outro tópico. — Então, hum, eu tenho uma pergunta. Algo que você disse antes. Você estava em Hadong com Hoseok na semana passada?
— Sim. — Jungkook responde, voltando para a sala de estar para que eles não fiquem parados desajeitadamente na porta.
— Oh. Então você não apareceu? Tipo, quando eu mais precisei de você?
— Demônios não fazem isso. — Jungkook fala com um sorriso. — Bem, talvez os velhos que comeram muitas almas possam, mas eu não. Eu sou jovem.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e quatro.
Jimin espera que Jungkook continue e explique, mas tudo o que ele faz é fixar Jimin com um olhar vazio.
— Tudo bem. — Diz Jimin. — Tipo... seu corpo tem vinte e quatro anos, mas você é muito mais velho, certo?
— Não. Tenho vinte e quatro anos.
— Você é mais jovem do que eu!
— Isso é um problema?
A mandíbula de Jimin parece que está prestes a cair no chão, e ele quer chorar de frustração, a porra de sua vida está nas mãos de um bebê. Talvez seja sua própria culpa por fazer suposições, mas, porra, Jungkook parece tão sábio às vezes, como se soubesse mais do que ele (JM) sabia ou jamais saberá.
— Preciso de tempo para processar. — Diz Jimin, a cabeça caindo em suas mãos.
— Ei, você pode confiar em mim.
Jimin abre as mãos o suficiente para poder olhar para Jungkook por entre os dedos. O diabo está fazendo beicinho. Jimin baixa as mãos, segurando o pulso com a tatuagem.
— Acho que não tenho escolha, tenho?
— Vou fingir que não estou magoado com seu comentário. — Jungkook diz, ao que Jimin se vê sorrindo. — Eu tenho um plano. Eu gostaria de fazer algo hoje, se você não se importar. Você tinha karaokê em sua lista.
— Oh. — Sim, Jimin colocou isso na lista. — Faz um tempo que não vou. Costumava ser um passatempo favorito, mas, bem, você sabe... na verdade, não sei se estou pronto para cantar ainda.
— Você não canta há três anos?
— Não. Só no meu chuveiro.
O olhar no rosto de Jungkook é um cruzamento entre pena e choque.
— Jimin… porque? Se você não se importa que eu pergunte. É que pensei que você sentiria muita falta ao deixar tudo para trás.
— Não é como se eu não tivesse tentado. Foi difícil. Depois que Byungho estreou, eu me afastei ainda mais de tudo isso. Parecia estúpido amar algo que me machucou. — Jimin desvia o olhar de Jungkook com uma carranca, cruzando os braços. — De qualquer maneira, pensei que tínhamos acabado com a terapia do diabo. Podemos falar sobre outra coisa?
— Tudo bem. Mas ainda estamos fazendo karaokê.
A cabeça de Jimin levanta, um argumento em seus lábios, mas de repente Jungkook está de pé, caminhando para seu quarto com propósito. Ele já havia decidido. E, honestamente, Jimin não tem
ninguém para culpar além de si mesmo, foi ele quem pediu isso, afinal.
Quando Jungkook volta, ele tira o gorro de Jimin, dizendo:
— Isso vai mantê-lo melhor disfarçado. — Antes de jogar um grande chapéu de balde na cabeça de Jimin.
Jimin não consegue ver o rosto de Jungkook a menos que estique a cabeça, mas de certa maneira isso o faz se sentir seguro. Ele não consegue ver ninguém. Ninguém consegue vê-lo. Como ele gosta.
— Obrigado. — Ele diz.
Jungkook vai se trocar para algo menos atraente, combinando com o jeans e o suéter de Jimin, antes de chamar Donghae para buscá-los. É uma viagem de vinte minutos até o local. Jimin passa a maior parte do tempo olhando pela janela, ocasionalmente olhando de relance para Jungkook, que parece ocupado com algo em seu telefone.
— Preparado? — Jungkook pergunta quando eles chegam. Jimin assente.
Ele se esqueceu de como Seul é movimentada, mesmo durante a semana, quando a maioria das pessoas deveria estar trabalhando. Ele fica perto do lado de Jungkook, e se o diabo está incomodado com a proximidade deles, não diz nada. Na verdade, quando um grupo particularmente grande passa por eles, Jungkook o puxa para o lado, com a mão protetora em sua cintura.
Jimin cora, feliz que o chapéu de balde está escondendo seu rosto.
O lugar do karaokê é pequeno e sujo e escondido em um beco que Jimin nem teria olhado duas vezes. Mas Jungkook parece conhecer bem o lugar. Quando eles pegam uma sala para duas pessoas, ele explica a Jimin:
— Eu e alguns outros da empresa costumávamos nos esgueirar aqui quando éramos trainees. Eles serviam álcool sem checar as identidades, então era o lugar certo.
— Parece meus dias de trainee, — Diz Jimin. — sempre tentando ver o que poderíamos fazer a seguir.
— Por quanto tempo você foi trainee?
— Dois anos.
— É isso?
— Acho que a dança me colocou à frente dos outros. O canto... Lutei muito com isso no começo. Não achava que havia encontrado minha voz até começar a contribuir com letras e melodias para minha música.
Jungkook está mexendo em um tablet, digitando algo na barra de pesquisa e percorrendo as opções de música. Jimin pode vê-lo adicionando-os a uma lista, mas Jungkook angula o tablet de uma maneira que dificulta a visão de Jimin.
— Que músicas você está adicionando? — Jimin pergunta.
— Boas. Eu queria começar com esta, para que você possa encontrar sua voz novamente.
Assim que os instrumentais soam pelos alto-falantes, Jimin sente sua boca secar. Seu corpo fica pesado no assento acolchoado, os olhos não vendo as imagens na tela. Porque é ele, um clipe de uma de suas apresentações ao vivo. Vagamente, ele percebe Jungkook lhe entregando o microfone, mas Jimin não consegue pegá-lo. Ele não conseguia se mexer.
A música pretendia ser uma homenagem aos fãs, uma forma de expressar sua confiança neles e vice-versa. De certa maneira, é a pior música que Jungkook escolheu, porque tudo o que faz é lembrar Jimin da confiança que ele havia perdido e a confiança que ele havia quebrado, não fazendo o que eles pensavam que ele tinha feito, já que não era verdade, mas fugindo.
— Jimin?
Ele irá fugir de novo?
Jungkook leva o microfone aos próprios lábios então, os olhos nunca deixando o rosto de Jimin, e de repente uma voz enche a sala. Não é a de Jimin, mas ouvir aquelas palavras dos lábios de outra pessoa toca algo nele. Jimin não consegue dizer o quê. Seus olhos estão ardendo de vergonha, de arrependimento, de tristeza, mas por baixo de tudo há outra coisa.
Ele a compara a uma flor desabrochando no meio do inverno.
Tão inesperado.
Tão bonito.
Quando Jungkook termina de cantar o primeiro refrão, ele pega o tablet e aperta a pausa. Então ele se aproxima de Jimin, as coxas quase se tocando, a mão ainda segurando o microfone. No silêncio, Jimin recupera o fôlego.
— Você sabia toda a letra. — Diz ele.
— Eu não menti quando disse que sou seu fã.
Jimin olha para seu colo, fungando pateticamente.
— Achei que não tinha sobrado.
— Você tinha. Você tem. Jimin… não sei o que você viu escrito sobre você online, mas nem todo mundo estava contra você. Você realmente nunca olhou?
— Eu só vi as coisas ruins. — Jimin foi atraído por isso, deixando cada palavra cortar mais profundamente até que ele não soubesse o que fazer consigo mesmo, como se estivesse pedindo para sofrer.
Jungkook pega seu telefone, tocando na tela algumas vezes enquanto abre o twitter.
— Fiz esse tweet quando ainda era trainee. — Ele fala. — Ele surgiu novamente recentemente depois daquele artigo 'Inside Look' sobre você. Você sabe desse?
Jimin conseguiu evitar quase tudo, mas alguns artigos escaparam pelas rachaduras. 'Uma visão interna da carreira do ex-ídolo e sua espiral descendente.' Ele assente.
— Meu tweet foi odiado, mas me recusei a excluí-lo mesmo depois de debutar. Eu pensei que talvez se eu crescesse o suficiente, você poderia ver que ainda havia algumas pessoas do seu lado.
Jungkook entrega o telefone a Jimin e, em um comentário abaixo do link para o artigo, havia um retuíte citado do tweet de três anos de Jungkook: 'Por que estamos condenando Jimin antes mesmo de ele ter a chance de falar?' A garganta de Jimin fica apertada, mas é a mensagem de apoio do estranho online que faz suas lágrimas caírem livremente: 'Parece uma história muito unilateral para mim'.
É tudo o que diz. As respostas abaixo são uma mistura de amor e ódio. Jimin desliga a tela, olhando para o nada enquanto tenta processar o que aquilo significa. Se é que isso significa alguma coisa. É bom saber que as pessoas, aquele Jungkook, o defenderam, mas parece superficial confiar nelas para se sentir melhor consigo mesmo. Ele é o único além de Byungho que sabe a verdade, e ele a trancou como um segredo precioso.
— Eu... fui burro por fugir? — Ele pergunta.
— Você fez o que achou melhor no momento.
— Eu escolhi a saída covarde.
— Mas você está aqui agora.
— Não é muito tarde?
Jungkook enxuga uma lágrima perdida, o dedo leve como uma pena na bochecha de Jimin.
— Nunca é tarde demais, Jimin.
— Obrigado. — Jimin sussurra. — Sinceramente, Jungkook, obrigado.
É a primeira vez que ele diz o verdadeiro nome do diabo. Parece certo. Melhor do que apenas 'JK'. Como se eles fossem mais do que apenas demônio e cliente que vendeu a alma. Jungkook sorri, levando o microfone até a boca de Jimin.
— Agora você vai cantar para mim? Seu maior fã está esperando há anos para ouvi-lo ao vivo.
Jimin ri em meio às lágrimas, pegando o microfone, empurrando seus pensamentos negativos para o fundo de sua mente, onde eles poderão ficar até que ele esteja pronto para enfrentá-los novamente. Por enquanto, pela primeira vez em três anos, ele quer cantar.
CONTINUA ☾ ◌ ○ °•
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O que acharam desse capítulo? Espero que tenham gostado. Foi lindo esse final. Emocionante.
Pobre Jimin, ele praticamente assumiu ser verdade. Se ele tivesse negado teria tido uma investigação ou algo do tipo. E iam descobrir que o cara ficou porque queria e não por ameaça, um ano é muito tempo para alguém viver sobre ameaça todo feliz e risonho. Mas Jimin se calou, e como diz o ditado, quem cala consente. Infelizmente não foi o caso e como vimos muitos acreditaram e acreditam em JM.
Mas aqui está a realidade de muitos ídolos. Uma notícia falsa criada por alguém, os noticiários caem em cima, as empresas vira as costas, alguns fãs abandonam. Resumindo, o que levou anos para construir pode desmoronar num piscar de olhos. Como vimos recentemente o caso do ator que se suicidou. Triste que uma mentira terrível destruiu a vida dele.
Por isso não acredito em tudo que é postado na internet. E se eu ficar na duvida, espero até a empresa falar algo e ainda dúvido em alguns caso. Temos tanto exemplo, Hyuna e E'daw, wonho do monstaX, que até hoje não acredito que ele quem decidiu sair. Lucas, do nct. Eu amo tanto ele. E muitos outros. É triste ver a empresa virar as costa para eles no momento que eles mas precisam. Então cuidado com o que acredita, curte ou compartilha. Não seja a arma que destrói uma vida.
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