Meu pior pesadelo

América


Acordo com o celular vibrando e marcando 5:00 a.m., levanto e esfrego o rosto para me adaptar ao ambiente, pego minha toalha e vou para o banheiro unissex.

Por incrível que pareça, era o banheiro mais limpo do prédio, inclusive mais limpo que o feminino e a essa hora da manhã era ótimo tomar banho nele pois ele estava vazio e cheiroso.

Ou qualquer hora, já que eu era a única que vinha aqui.

Entro em um dos chuveiros e tomo o meu banho, alguns minutos depois eu saio e percebo que esqueci a roupa, piso no corredor e olho para ver se tem alguém e graças aos céus não há ninguém acordado a essa hora. Volto para o quarto na ponta dos pés e ouço vozes quando paro na porta.

- Caiu da cama, América? - Joana perguntou.

- O que vocês duas estão fazendo no nosso quarto a essa hora? - pergunto me referindo a Joana e Stela que estão sentadas na cama da Carla. - Cadê a Carla?

- Estou aqui. - ela gritou do banheiro.

Tínhamos nosso próprio banheiro, mas eu me recusava a usá-lo pois sempre que eu demorava Carla fazia um auê dizendo que eu estava presa lá dentro há horas e isso fazia todo o prédio ficar preocupado.

- Por que vocês têm que vir tão cedo para cá? - pergunto enquanto procuro uma calcinha.

- Você deveria nos agradecer por a gente te amar tanto. - Joana diz e deita na cama.

- Isso é um chupão? - Stela pergunta apontando para uma marca rocheada na parte interna da minha coxa.

- Droga! - xingo baixinho e recolho a toalha que tinha deixado cair.

- Você transou, América? - Joana pergunta e se senta olhando para mim.

- Transou? - Carla surge do nada escovando os dentes.

- Transei, transei. - deixo a toalha cair novamente e procuro um sutiã.

- Eu sabia que isso iria acontecer. - Carla fala e dá gritinhos.

- Não é nada demais. - falo enquanto abotoou o sutiã.

- Lógico que é. - Stela fala e eu fico surpresa com o seu entusiasmo. - Quer dizer, é bom para você.

- É. - falo sem dar importância.

Vou até o closet e pego uma calça moletom junto com uma blusa preta.

- Achei que tínhamos combinado de que você não iria se vestir assim. - Carla fala olhando a minha roupa.

- Joguei as roupas que compramos no lixo. - falo e o queixo dela cai enquanto as outras duas gargalham.

- Isso é sério ?

- Sim. - dou de ombros.

- Quem é o cara, América ? - Joana pergunta.

- O nome dele é Christian, ele é amigo da minha irmã. - paro e lembro que eles ficaram. - Estão mais para ficantes.

- Pegou o cara da sua irmã? - Carla pergunta me olhando.

- Não, eu não sabia. - falo e vou pentear o cabelo.

- Às vezes o seu jeito me dá calafrios.

- Por quê ?

- Você fala sem emoção alguma.

- Já a mim não, queria ser como a América. - Joana fala e se levanta. - É tipo "Antes eu sofria e hoje eu sou fria". - ela faz aspas com os dedos.

- Meio clichê. - falo.

- Melhor do que nada. - ela diz e ri. - Vem Stela, vamos nos arrumar.

- Tchau meninas. - Stela sai.

- Quero saber tudo. - Joana fala antes de sair.

Joana era a mais velha de nós quatro, às vezes agia como se fosse a nossa mãe, outras vezes como alguém que tinha sete anos. Stela era a típica garota puritana, ela era cristã e ficava nos julgando o tempo todo, depois de um ano brigando ela finalmente aceitou o nosso jeito e se juntou ao bando.

- América, temos que resolver o problema da porta. - Carla fala enquanto tira o pijama para tomar banho.

- Temos nada, por que não podemos deixar assim ? - falo e sigo ela até o banheiro me encostando na porta.

- Você não tem medo de alguém entrar e pegar as nossas coisas ? - ela pergunta já em baixo da água.

- Eu não e você?

- Lógico que tenho! A gente poderia falar com os caras da engenharia.

- Tá, por que não fala com o Nick?

- Por que eu falaria com ele?

- Ele faz engenharia. - falo e saio da frente para ela passar.

- Eu não sabia. - ela fala enquanto se veste.

- Namorou com o cara por um ano e não sabia ?

- Nós não conversamos muito. - ela foi passar a maquiagem. - Igual você e o Chris.

- Te espero lá fora, florzinha.

- Sempre fugindo...

Saio do quarto e me deparo com o corredor cheio, gente correndo para lá e para cá, era sempre assim no início do período, todo mundo queria chegar cedo no primeiro dia de aula, os calouros nem sabem o inferno que isso aqui é. Calouros... isso me lembra os trotes, espero que a turma desse ano participe, passei um pedaço das férias planejando um bom trote.

Passo a mão no pescoço e sinto que a minha correntinha não está ali, procuro no estojo e ela também não está. Será que a perdi no rancho ou foi por aqui? Droga, eu sempre a tinha comigo. 

- Pronta para começar o dia com o pé direito? - Carla sai do quarto toda produzida, estava realmente bonita. 

- Por que está arrumada? - pergunto e me espremo para andar no corredor cheio de gente.

- Primeiro dia, baby drive, vai que tem uns novatos bonitos.

- Para de me chamar assim. - falo e reviro os olhos. - Você sabe que estamos no terceiro período e não tem essa coisa de novatos né?

- Você dirige igual a ele. - ela fala e rimos. - Não custa sonhar com um príncipe né.

- Certo, branca de neve. - falo e entro na aula do Sr. Carl.

- Não entendi. - ela falou e eu dei risada.

Joana já está sentada no lugar em que sentamos sempre e hoje era o meu dia de ficar no corredor. Temos esse esquema desde o primeiro dia de aula, sentamos as três sempre juntas e já que a cadeira do corredor era a pior, nós fazíamos uma reserva. Começar com o pé direito hein Carla?

- Vamos começar, queiram sentar senhoritas, por favor. - o Sr. Carl falou e nos sentamos. - Antes de começar a aula nós temos um novo aluno que veio transferido de Iwoa para cá.

- Eu sabia! Acho que sou médium. - Carla fala vitoriosa.

- Pode entrar senhor Dale. - o professor fala e ele entra.

Sinto um calafrio quando ele passa pela porta e vai cumprimentar o professor.

- Fudeu! - falo e abaixo a cabeça na esperança de passar despercebida.

Lá se vai a minha ideia de evitar problemas.

Alguém para na minha frente e pigarreia, levanto a cabeça só um pouco e vejo seu tênis preto, levanto mais e paro na altura da pelve, aquela pulseira com o nome Jesus estava lá, realmente era ele, por fim olho para o seu rosto e ele dá um sorriso que me faz pensar "se os cabelos não estivessem tapando a maior parte da visão, eu teria ficado cega".

- América. - ele diz e me olha.

- Oi. - puxo o cabelo da frente do rosto e olho diretamente para ele.

Ele passa por mim e senta atrás da minha cadeira. Seu perfume amadeirado invade as minhas narinas.

- Quem é ele ? - Joana pergunta baixinho.

- No momento, é o meu pior pesadelo.

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