Piadinhas

Olá, olá cerejinhas.

Consegui postar dois capítulos na mesma semana! Esse é um recorde pessoal, escrevi durante a aula de Matemática.
  Piadinhas! Título bonitinho né? Esse é um capítulo mais descontraído com os pais da Valentina, simplesmente amo a dinâmica entre eles e é sempre divertido escrever essas partes.

Aproveitem ⏳

  Quando completei 17 anos comecei a ser atormentada pelas recorrentes perguntas de qual carreira seguiria, em qual faculdade entraria, quais eram meus planos para a vida adulta...

  A escola parecia um caldeirão fervilhando de adolescentes que não faziam ideia do que fariam quando terminassem o terceiro ano.   

  Dezembro já estava chegando. Grupos de estudos e confraternizações eram rotina para quem queria garantir uma boa nota nos exames finais e se despedir em grande estilo de pessoas que provavelmente nunca mais veriam. Eu não era diferente da maioria.

  Para tentar me distrair de toda essa pressão acabei recorrendo a métodos dos quais não me orgulho.

  Alastor.

  Como sempre, ele sabia o que dizer para me deixar tranquila e ter autoconfiança para arriscar. Pensando bem, em vez do namorado deveria ter criado um coach.

  Meus pais me conheciam, sabiam como eu ficava antes de uma prova importante. Não foi surpresa estranharem quando entrei cantarolando na cozinha como se nada estivesse acontecendo.

† Sexto Flashback - Piadinhas †

  Uma das coisas que mais gostava de fazer com meus pais era cozinhar, minha mãe fazia parecer fácil e meu pai contava péssimas piadas, o que deixava tudo mais divertido. Vinho, comida e piadas, essa era nossa reunião em família, pena não deixarem eu beber também.

— Tina — meu pai me notou. — Não deveria estar estudando?

— Mais? Estudei o dia inteiro.

  Meus pais trocaram olhares confusos.

— O que aconteceu com você? Sempre passa as noites antes das provas revisando matéria.

— Estou confiante, não preciso temer a prova, a prova é quem precisa me temer — fiz uma pose qualquer para demonstrar o quanto sou incrível.

  Eu iria chegar naquela sala, sentar na minha cadeira e responder todas as questões sem precisar parar para surtar silenciosamente ou gritar em desespero, e no final ainda iriai esfregar minhas notas altas na cara do professor de Física que nunca acreditou em mim.

— E de onde vêm toda essa confiança mocinha?

  Minha mãe entregou uma das facas, sinalizando para que cortasse a calabresa. Era sempre assim, não podia pisar na cozinha que já tinha trabalho.

— Efeito Alastor eu diria.

— O bom e velho Alastor, faz tempo que não fala dele.

  Rápido! Precisava pensar em uma mentira.

  Quando visualizava Alastor fora da minha mente passava muito tempo falando e gesticulando com as paredes, o que provocou a curiosidade dos meus pais.

  Para evitar mais terapias em grupos de doentes mentais expliquei que Alastor era um amigo virtual, da minha idade, um ótimo conselheiro e que existia de verdade, é importante destacar que ele era um humano real.

  Meus pais nunca compreenderam os amigos imaginários, da última vez tomei remédios por meses e frequentei semanalmente à igreja. O pastor tentou a todo custo me convencer da minha ligação com o demônio, até hoje imagino a cara dele se tivesse conhecido meu irmão, praticante assíduo do ocultismo.

  Esquizofrenia, sobrenatural ou imaginação fértil foi sempre a melhor opção deixar meus pais no escuro.

— Ele — tentei pensar em algo. — anda ocupado com o trabalho, escola, cachorro, gato, papagaio, ciúmes, essas coisas.

— Acho a amizade de vocês tão bonita, se conhecem há quanto tempo mesmo? Três anos?

— Cinco.

— Já faz tanto tempo assim?

— Sim — precisava mudar de assunto, Alastor era um tópico que vinha tentando evitar. — Por que estou cortando calabresa?

— Qual o SPA te faz engordar?

— O quê?

— O SPAguete — meu pai disse entre gargalhadas.

  Ele nunca conseguiu contar uma piada sem rir na metade.

— A calabresa é para o espaguete.
  Me agarrei as piadas do papai e torci para que Alastor fosse esquecido da conversa.

— Ei, Tina.

— Sim?

— Qual o país que mais produz vinho?

— A Vinlândia?

— Uva ticano — mais risadas do papai.

— A resposta da Tina foi melhor.

— Acho que você não sabe apreciar um bom trocadilho, querida.

— O Alastor gosta de piadas Tina?

  O quê? Por que ela estava tão interessada no Alastor?

  Eu só queria esquecê-lo. Haviam tantas teorias na minha mente e nenhuma parecia legal de se acreditar. A mais tranquilizadora era a de que Alastor era um parasita alienígena que estava sugando minhas energias negativas.

— Por que quer saber?

— Curiosidade filha, você vive conversando com ele — mamãe se virou para mim com um olhar preocupado. — Seu pai e eu achamos que vocês namoram.

  Era só o que me faltava.

— Deveriam parar de "achar" então.

— Vocês brigaram?

— Não! Quer dizer, eu não sei — bebi um gole do vinho enquanto estava de costa. — Alastor é só meu amigo.

— Chame Alastor para almoçar com nós, tenho certeza que ele vai gostar. Todo mundo gosta da gente!

  Não pude evitar de pensar em como seria esse almoço. Alastor ficaria feliz em saber que meus pais gostavam dele, se acharia uma pessoa de verdade e traria um buquê de flores para minha mãe. Eu criei um cavalheiro, senhores.

  Mas Alastor não existe. Ele não poderia vir almoçar com meus pais nem se quisesse.

— Eu posso te acompanhar Valentina — ouvi sua voz surgir no fundo dos meus pensamentos. — Eles vão gostar de mim.

  As vezes eu tinha certeza de que ouvia Alastor falar comigo. Tentava não pensar muito nisso, era melhor acreditar que estava no controle de tudo.

— Diga a eles que quero comer o Vatapá que só a sua mãe sabe fazer — sussurrou em tom decidido, não era um pedido ou uma sugestão.

— Ele iria querer provar o seu vatapá, eu sempre falo de... — por que eu estava dizendo isso? Alastor não mandava em mim.

— Sabia que o vatapá é a única comida que não se pode deixar aberta? Por que ele fala muito, então as outras comidas dizem, "vatampá" pra ele calar a boca.

— Acho que vou voltar a estudar — murmurei em um misto de alegria e desespero.

  Amava passar o tempo com meus pais. Nossa relação, que já se baseou em brigas e correções constantes, agora era repleta de carinho e companheirismo, mas eles ainda eram meus pais, preocupados demais com minha intimidade.

  Do outro lado, minha relação com Alastor vinha ficando a cada ano mais problemática. Estava chegando a hora de dar um fim a isso tudo.

— Tiiinaaa!! O jantar vai ficar fantástina!

  Não preciso nem falar quem gritou.

  A decisão de destruir Alastor finalmente começou a ser uma ideia palpável. O vestibular estava chegando, eu não tinha tempo para fantasias de criança, era hora de crescer.

  No entanto, se apegar à memórias pode ser a perdição de alguém. Não poderia fazer isso com ele, não com quem por tanto tempo foi meu melhor e único amigo.

  Eu fui fraca, portanto, não destruí Alastor, mas encontrei um jeito de afastá-lo da minha mente e da minha vida.

Acabou! Espero que tenham gostado.
  Se tudo der certo posto o próximo no domingo.
  Obrigada por lerem e beijinhos caramelados ⌛

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