Capítulo 4

Cris olha no rosto de cada pessoa presente no salão e eu tento desesperadamente sair sem ser notada. Para a minha sorte estou perto da porta então tenho que passar somente por mais uma cadeira e serei livre, pelo menos por agora. Me viro de costas para o meu novo chefe e vou andando passo por passo. Estou a dois metros da bendita porta quando esbarro em Carol do RH que também estava de pé e ela por sua vez esbarra no Jorge da contabilidade que esbarra na mesa derrubando varias coisas pelo caminho. Eu fico tão quieta que pareço até uma estátua e eu bem que poderia sair correndo, mas a essa altura todos já viram a minha gafe. Escuto um "pigarro" vindo do outro lado da sala e me viro lentamente até ficar completamente de frente para a pessoa que eu queria evitar.

Cris me olha fixamente e por alguns segundos não percebe quem sou até que eu vejo a luz piscando nos seus olhos: ele me reconheceu.
—D-desculpe senhor Swansen - digo tremendo mais do que vara verde — eu... eu só queria tomar um copo d'água.
Ok! Essa foi a desculpa mais ridícula que dei na minha vida inteira.
— Tudo bem senhorita...?
— Regins, Amélia Regins. Estou bem sim, obrigada.
Por um milésimo de segundo fico triste por Cris se fazer de desentendido comigo, mas depois lembro de que supostamente não nos conhecemos, então ele tem que manter a linha.
Nos olhamos fixamente por uns minutos quando o senhor Medeiros olha de mim para Cris e vice-versa.

— Então Cristopher parece que já conheceu alguns dos nossos empregados? -mas o quê?
— Amélia é uma das nossas melhores trabalhadoras.

— Sinto muito senhor Medeiros, mas eu ainda não conheço ninguém da empresa.

Agora, isso sim doeu. Caramba esse golpe foi direto na boca do estômago e acho que ate me dobrei um pouco. Tudo bem que ele faça de desentendido mas o sr Medeiros deu a chance pra ele dizer que já nos conhecíamos. Eu não sei se ficar triste ou com raiva.
— Muito bem Cristopher. Agora eu tenho algumas recomendações para vocês: tratem bem ao seu novo chefe e continuem fazendo o trabalho tão competente que eu sei que vocês fazem. E para aqueles que não sabiam, Cristopher é um dos melhores CEOs do mercado então aproveitemos esta oportunidade. Vamos para que conheça a sua nova sala. - diz ele falando com Cris mas olhando para mim com aquela cara de travesso que eu conheço muito bem.

O sr Medeiros era muito mais do que meu chefe, ele foi meu amigo durante o tempo mais difícil quando eu ainda sentia o luto por Jonah. E por isso ele sempre me dava alguns dias livres quando chegava perto do meu aniversário, porque eu sempre ficava, na verdade ainda fico, muito triste pelo que passou. Alguns diziam "mas porque o dia do teu aniversário, porque não o dia do acidente ou dia do aniversário do próprio Jonah?"
O motivo é simples, no meu aniversário o Jonah acordava bem cedinho e com a ajuda do Pat eles faziam o meu café da manhã recheado de coisas gostosas e de muito amor, Jonah pulava na minha cama e gritava "feliz aniversário mamãe" até que eu acordasse. Eu fico triste também no dia do seu aniversário que casualmente é o dia do acidente, mas eu fico mais triste ainda pelos dias lindos que perdemos e os que poderiam vir, tudo por uma estupidez minha.

— Amélia? Você está ai?

Carol me encara com algo de preocupação no rosto.
— O que foi Carol? - pergunto impaciente, quero dar o fora dessa sala o quanto antes possível.
— Nada é que você estava olhando para o nada com o rosto estranho sei lá... enfim você viu o nosso novo chefe? MEU DEUS QUE GATO! Agora ela estava quase gritando.
— Ele é muito lindo, tem carinha de sério, mas aposto que deve ser o maior safado na cama.

Agora, eu não estou afim de fazer parte dessa conversa, principalmente se o assunto é o meu novo chefe que por acaso dormiu três dias na mesma casa que eu.
— Olha Carol deve ser, agora eu tenho que voltar lá para o meu escritório tá? Se cuida viu. -Digo já indo até a porta e saindo em direção ao lugar que por enquanto considero seguro.
A Carol era uma pessoa legal, mas ela era muito curiosa e sempre sabia de todas as fofocas da empresa e até do prédio todo então eu tenho que ficar o mais longe possível dela para não soltar alguma gafe, porquê eu sei que cedo ou tarde ela vai descobrir o meu mais novo segredo.

                         ******

Já está quase na hora de acabar o meu turno quando recebo uma mensagem do e-mail corporativo.

[email protected]
Reunião em 10 minutos na minha sala.

Isso é novo. Será que eu respondo ou vou direto? Opto pela segunda opção. Passam exatamente oito minutos e estou parada na porta do mais novo CEO da empresas Sofer.
Peço para a secretária me anunciar e ela me pede para esperar alguns minutos. Ótimo.
Dez minutos depois, uma mulher loira super elegante vestida em um terno que eu posso garantir é de marca, sai da sala seguida por um Cris com o cabelo meio desarrumado e a gravata meia torta. Estranho porque a loira estava impecável.

— Entre senhorita Regins. -diz ele naquele tom sério.

— Claro. -sigo Cris até a mesa de mogno cor vinho e me sento na elegante e confortável cadeira de couro preta que ele indica.

— Amélia, primeiro eu queria me desculpar por dizer que eu não conhecia ninguém ainda da empresa, mas quero que entenda que não quero nenhum empregado pensando que possa existir algum tipo de protecionismo ou de vantagem entre nós.

— Tudo bem Cris, eu entendo perfeitamente.
— Aqui somente sr Swansen por favor.
E lá vem outro soco no estômago. Mas eu compreendo, deve ser difícil ser chefe de uma empresa tão grande.

— E Amélia, por favor, que ninguém saiba que eu me hospedei na sua casa está bem?
— Tudo bem, -respondo meio triste meio com raiva -ninguém ficará sabendo e nunca aconteceu nada, para todos os efeitos você ficou em um hotel não é mesmo?
— Sim, fiquei em um hotel. Então estamos bem, você pode ir agora.
— Adeus Cris, quer dizer sr Swansen.
Saio com a cabeça baixa e triste com a situação, porque bem na hora que eu encontro alguem que acho que posso gostar, esse alguém é inatingível.

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