Capítulo 31

POR AMELIA

Acordo novamente com a boca seca, olho para os lados e não vejo nem meu primo nem Joe. Tusso e alguém se levanta e vem parar rapidamente do meu lado.

-Oh, você acordou! Pega, bebe essa agua... -Marcela me passa o copo com agua e bebo devagar lembrando das instruções da enfermeira.

-Eu não percebi que você estava aqui...-minha voz sai rouca.

-Sim... Pat me ligou e eu vim correndo... eu sinto muito Amélia, muito mesmo! -Ela se aproxima e eu me encolho, um reflexo por tantas coisas que passei entre ontem e hoje. -Eu não vou te machucar, você sabe disso não é mesmo?

Vejo a sinceridade no seu olhar e me sinto um pouco mal pelas coisas que disse dela. Ainda mais depois de saber quem estava por trás daquilo tudo... Oh meu Deus!

-Marcela, você tem que ir avisá-los, Cris está correndo perigo! Ele vai mata-lo. Por favor! Me ajuda!

Marcela me olha assustada, que droga! Tento me levantar, mas ela me empurra de volta para a cama. Estou entrando em desespero.

-Amélia, você tem que se tranquilizar, por favor! A Martha já foi presa!

-Não é a Martha, é o...

Nesse momento, Pat e Joe entram no quarto, e quando meu primo vê meu desespero, ele corre para o meu lado e me abraça.

-Amélia, está tudo bem! Fica tranquila, Martha já foi presa, você está segura agora! -Ele repete exatamente o que Marcela acabou de dizer.

-Não Pat... -Me sinto um pouco zonza. -Ele está vindo! Ele quer machucá-lo! -Eles precisam me escutar droga!

-Quem? Não tem ninguém mais, fique tranquila por favor!

Meu coração está a mil, como faço para que entendam que ele está vindo? Escuto a máquina do lado da maca apitar e um médico entra rapidamente no quarto, preciso avisar a Pat, senão tudo estará perdido.

-Preciso que todos saiam! -O médico grita e meu desespero aumenta.

Pego a mão de Pat e com todas as forças que possuo, o puxo para baixo e digo suplicando.

-Por favor Pat! Acredita em mim, ele quer matar a Cris! Não o deixem sozinho! Ele corre perigo... ele.... -Sinto que tudo começa a ficar escuro novamente. Não!

[************]

Estou de volta naquele lugar, o mesmo que conversei com Jonah. Mas porque será que voltei? Será que... não pode ser, não estou morta.

Sinto um vazio no peito, como se... oh, não! Cris... não me deixa por favor!

-Me desculpa... -sua voz sussurra de longe.

-Não Cris, você tem que lutar! Por mim, por nós, pelo seu irmão...

-É tão difícil... dói tanto... -um vento sopra meu cabelo e me viro em outra direção.

-Não meu amor, fica comigo, por favor! Onde você está? Não posso vê-lo!

Corro sem rumo, não sei onde estou indo nem aonde quero chegar, o único que sei, é que preciso ver Cris, saber que ele vai ficar bem, eu não sei o que farei sem ele, eu....

-Eu te amo, Amélia!

-NÃO! -Grito, mas já não estou naquele lugar.

-Amélia? Você está bem? -Marcela continua do meu lado.

-Marcela... ele está... ele...

Não consigo terminar a frase, as lagrimas descem incontrolavelmente pelo meu rosto. Nesse momento Pat e Joe entram novamente pela porta e percebo a tristeza nos seus olhares... aquilo não foi um sonho.

-Meu anjo porque você está chorando? -Como da primeira vez, Pat está do meu lado em dois segundos.

-Eu posso sentir... ele... ele está me deixando. -Choro ainda mais quando percebo que é verdade.

-Não meu amor, não se preocupa! O Cris não vai te deixar tão cedo!

Ele tenta me tranquilizar, mas posso ver o medo em seus olhos. Aquele filho da mãe! Eu vou mata-lo.

-Eu falei com Jonah. Ele disse que tudo ia ficar bem, mas eu posso sentir... Cris, por favor não me deixe... -Olho para o céu e peço à todas as divindades existentes que não levem meu amor para longe de mim. Fecho os olhos e Pat continua acariciando meu cabelo.

Ficamos em silencio por pelo menos uma hora, até que um médico entra na sala. O medo volta com força e espero que ele dê a notícia.

-Senhor Swansen? -Ele olha para todos esperando saber quem é parente de Cris.

-Sou eu. -Joe diz, sua voz fraca e sem vida.

-Podemos conversar no corredor? -Oh céus, odeio essa sensação.

-Não, pode dizer aqui mesmo. Somos todos família.

Até Marcela se aproxima de mim me apoiando.

-Bom, se o senhor diz... O seu irmão teve uma parada cardiorrespiratória, conseguimos controlar a situação, mas ele ainda está muito fraco e em zona de risco. Eu liguei para a polícia e o homem que tentou... bem, ele foi preso. Há uma escolta do lado de fora do quarto do senhor Swansen, e também vamos colocar uma aqui nesse quarto, não sabemos o que aconteceu, mas a polícia virá dentro de algumas horas para tomar a declaração da senhorita Regins.

Joe não consegue se controlar por muito tempo e acaba chorando novamente. Pat olha para mim em dúvida e assinto em uma resposta silenciosa para que ele vá apoiar ao namorado. Ele solta minha mão ainda em dúvida e eu sussurro um "vai". Estou muito triste, mas Joe deve estar pior. Cris é seu irmãozinho afinal...

O médico diz mais algumas coisas e logo nos deixa todos com o semblante triste. Não prestei muita atenção no que ele disse, minha cabeça estava em Cris. Olho para Marcela, e percebo algumas lagrimas caindo pelo seu rosto. Ela apreciava o chefe e torcia por nós dois. Pego na sua mão e faço a palavra "desculpa" com a boca sem emitir nenhum som. Ela começa a chorar ainda mais e me abraça.

-Oh, Amélia... sinto tanto.... Agora entendo sua preocupação e desconfiança... -ela sussurra no meu pescoço.

Aperto mais o abraço percebendo que ganhei uma amiga que nem sequer mereço.

Mas é como dizem... não somos perfeitos.

Depois de algum tempo e de muita insistência por minha parte, todos acabam indo para suas casas, cada um prometendo voltar nem bem seja possível. Peço que Marcela não diga nada ainda na empresa, para não criar problemas.

Estou quase dormindo, quando dois policiais entram no quarto, seguidos pelo médico responsável.

-Olá senhorita Regins, desculpa lhe incomodar, mas como disse mais cedo, os policiais estão aqui para pegar sua declaração. -Concordo com a cabeça e o médico nos deixa a sós.

-Senhorita Regins, eu sou o tenente Soares e essa é minha parceira a tenente Moreira. Eu sinto muito pelo seu acidente, mas precisamos esclarecer algumas coisas... -O homem fala primeiro, e a mulher me olha com algo de pena.

-Tudo bem...

-Bom, para começar, a senhorita conhece a mulher que tentou matá-la?

Escutar essa palavra me faz dar uma respiração profunda, e a tenente Moreira dá uma olhada furiosa para o parceiro.

-Eu conheço ela sim, ela é a ex namorada do meu namorado... estávamos voltando para minha casa, quando ela começou a bater no nosso carro, depois nos perseguiu por alguns minutos... acabamos batendo e capotando o carro... havia outra pessoa... o nome dele é Rafael Menezes.

O tenente anota tudo o que digo, conto como Martha tentou me matar, o que ela disse antes de injetar o veneno no meu soro...tudo.

Quando eles finalmente parecem satisfeitos com a declaração, me deixam sozinha novamente.

Agora tenho tempo para pensar. Como fui tão cega? Estava na minha cara e eu não vi. Rafael é técnico de informática, ele podia ter acesso à informação que quisesse, ele sabia onde era minha casa e agora que penso bem, quando pedi carona para a casa de Cris, ele nem sequer me perguntou o endereço, ele sabia para que eu estava indo, e sabia muito bem com quem Cris estava. Como eu pude ser tão burra?

O que eu ainda não entendo, é porque ele fez tudo isso...

Eu sempre o tratei bem... ele nunca demostrou ter raiva de mim, ou pelo menos não parecia.

Minha tristeza aumenta ainda mais quando lembro que ele é jovem e tinha toda a vida pela frente, mas foi pego em flagrante tentando matar o Cris, meu Cris e agora vai pagar por isso.

Sou tirada de meu devaneio por uma batidinha na porta.

-Pode entrar... -Respondo sem olhar, imaginando ser Pat ou Joe, ou até Marcela. Mas a pessoa que entra no quarto, me pega de surpresa.

-Oi... está tudo bem com você, Mel? -Alex me chama pelo apelido carinhoso que costumava usar.

-Sim... -Digo simplesmente, não por querer trata-lo mal, mas por não ter mais forças para manter uma conversa normal.

-Eu sinto muito por tudo o que aconteceu... eu vi no jornal sobre o acidente, e quando vi seu nome e o de Cris, fiquei muito preocupado. Quis vir antes, mas não me deixaram entrar porque não sou.... da família.

-Tudo bem. Obrigada por vir, Alex. Obrigada mesmo.

Conversamos sobre algumas coisas aleatórias, e Alex se despede quando a enfermeira entra para revisar os remédios e pede que ele se retire.

Ela olha o soro, me aplica outros anti-inflamatórios e algum remédio para dor. Depois uma senhora entra com um carrinho contendo um prato de sopa e a enfermeira praticamente me obriga a comer tudo, dizendo que se não comer vou acabar desmaiando de novo.

Obedeço e como toda a sopa que estava deliciosa e depois de ser deixada sozinha mais uma vez, engato em um sono profundo.

-Cris, você está me escutando? -Sou levada de volta para o lugar que já me é estranhamente familiar. -Cris? Meu amor? -Caminho sem rumo à procura de algum sinal de que ele está comigo.

-Amélia... -Sussurra.

-Você precisa voltar para mim, por favor. Eu preciso de você, eu te amo Cris! Não me deixa! -Imploro para o vazio, como é difícil não poder vê-lo, muito menos tocá-lo.

-Eu estou tentando... mas dói demais... -Ele reclama.

-Você tem que continuar tentando, tem que lutar! Por favor...

Posso sentir as lagrimas descendo pelo meu rosto e de repente um vento fresco me acaricia a bochecha pelo caminho molhado e fecho os olhos sabendo que é ele me consolando, talvez, se despedindo.

[**************]

UMA SEMANA DEPOIS

-Bom, senhorita Amélia, hoje temos uma ótima notícia para você. -O médico diz com certa alegria na voz. -Hoje você vai receber alta!

Joe, Pat e até Marcela comemoram a notícia que o médico acaba de dar, mas eu só consigo pensar em uma coisa.

-E sim, você vai poder ver a Cris. -O doutor parece ler meus pensamentos e só nesse momento, me permito realmente sorrir.

Pat junta todos os meus pertences que ele foi trazendo no decorrer da semana, e os coloca em uma pequena mala de mão. Joe o ajuda e seu semblante é cansado e triste. Quando ele se aproxima de mim, seguro na sua mão e sussurro para que só ele possa ouvir:

-Ele vai ficar bem. Eu vou trazê-lo de volta.

Joe concorda com a cabeça, talvez sem acreditar em uma só palavra do que disse, mas como todos já sabem, eu sempre cumpro minhas promessas.

Depois de arrumar tudo e nos certificarmos de que não estamos esquecendo nada, chegou a hora de finalmente me levantar e quero sair correndo em busca do amor da minha vida, mas infelizmente o gesso pesado e as muletas me impedem de fazer isso.

-Agora, você tem que andar com cuidado, não colocar muito peso na perna engessada, e sempre usar as muletas, senão teremos problemas depois, está entendendo senhorita? -O médico diz brincalhão.

-Sim, doutor. Nada de peso na perna quebrada e sempre usar muletas, anotado! -Faço o sinal de "checado" com a mão e ele dá um pequeno sorriso.

Joe e Pat anotam todos os remédios que tenho que tomar e o doutor repete as mesmas instruções que acaba de dizer a mim, como se não acreditasse que fosse segui-las. Depois de me despedir das enfermeiras que cuidaram de mim com tanto carinho e de prometer que vou visitar cada uma delas, finalmente posso sair da sala e ir para o quarto onde Cris está.

No começo sinto certa dificuldade em andar e em levantar a perna por causa do peso do gesso, mas depois de alguns minutos praticando, acabo pegando no jeito.

Depois de cruzar quase todo o hospital, enfim chegamos ao quarto 618. Quando os médicos trouxeram a Cris de volta, eles o trocaram de quarto, nem quis saber o motivo, só quero poder vê-lo e beijar o seu lindo rosto.

Ele ainda está em coma, e o médico disse que agora só depende dele querer acordar.

Coloco a bata o gorro e lavo minhas mãos com álcool em gel e só depois de fazer tudo isso, posso entrar e ver meu namorado.

Sua figura pálida me recebe e eu sinto um aperto gigante no meu coração. Sua barba está incrivelmente comprida para quem só esteve uma semana em coma.

Aliso seus cabelos e pego na sua mão. Ela está fria. Porque sua mão está tão fria?

Coloco o ouvido delicadamente em seu peito e sinto seu coração batendo debilmente e seu peito subindo e descendo graças à ajuda dos aparelhos de respiração.

-Vamos meu amor, acorda para mim... eu preciso de você. Não me deixa.

Não obtenho nenhuma resposta dele e uma lagrima escapa pela minha bochecha. Essa semana chorei tanto que nem imaginava ser possível que pudesse chorar ainda mais, mas pelo visto me enganei.

Fico ali alisando seu cabelo, suas mãos, dando beijos na sua bochecha, no seu peito aonde a bala passou e graças a Deus não acertou o seu precioso coração.

O médico disse que se ela tivesse ido um centímetro mais para a esquerda, teria perfurado o coração de Cris e ele teria morrido na hora, mas a bala milagrosamente entrou e saiu sem machucar nenhum órgão vital.

Eu sei que tive uma ajuda de alguém muito especial, que ama tanto o Cris como eu.

Sinto a sala ficar um pouco fria então o cubro com mais um lençol tendo cuidado de não relar em nenhuma agulha do soro e de não o machucar.

Fico quase uma hora velando o seu sono, até que a enfermeira diz que o horário de visitas acabou e infelizmente tenho que ir para casa.

Pat e Joe praticamente me obrigam a ficar na sua casa. Eles estão com medo de que mais alguém possa me perseguir então preferem que eu esteja sob sua proteção. Eu agradeço e aceito de bom grado sua oferta, no momento não quero ficar sozinha.

Me despeço de Cris com um beijo e com a promessa de que vou voltar cada dia até ele acordar, não importa se demorem meses ou anos, eu vou esperar por ele, não vou permitir que ele me deixe.

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