Capítulo 25


POR AMELIA
-Eu não acredito que ele fez isso! -Foi a reação exagerada de Pat depois que contei para ele o que Cris tinha feito, não esperava menos. -Isso é tão romântico! -QUE? Agora todos estão contra mim?

-Do que diabos você está falando seu doido? -Tive que rir da cara que meu primo fez, obviamente indignado, por eu não seguir sua linha de pensamento.

-Sua bobinha. Cris não terminou com você por que ele já não te quer, todo o contrário. Ele terminou com você para te proteger!

Agora ele estava pirado de vez.

-Pat, me explica, porque eu sinceramente me perdi de vez, me proteger do quê, seu maluco? -Nesse ponto minha paciência estava a um fio de acabar.

-Veja bem, meu anjo. Cris viu o que a Martha te fez, e deve ter ficado com tanto medo de que algo pior acontecesse com você, que ele preferiu terminar tudo o que tinham, com tal de te manter segura...

-E o qual é o sentido disso tudo? -O interrompo, estou muito cansada de tanto drama.

-Você vai me deixar continuar? Porque senão... -Assinto com a cabeça, resignada. - Então, como eu estava dizendo, ele deve ter ficado com medo daquela biscate fazer algo contra você, e a única solução que pareceu fazer sentido -ele frisa a palavra para demostrar que está chegando a algum lugar- foi terminar com você, porque se a Martha souber que já não estão juntos, ela vai deixar de te importunar. E isso inclui também que as ameaças vão acabar. Ai meu Deus, eu sou um gênio. E sinceramente nunca pensei que Cris fosse tão romântico. Que fofo. -Pat finalmente lembra que precisa de ar para continuar.

-Como você consegue ficar tanto tempo sem respirar? -Observo espantada enquanto ele levanta os ombros, como se fosse algo normal.

-É um dom, querida. Mas isso não vem ao caso agora. -Ele bebe um pouco do café que o servi e se arruma elegantemente na poltrona marrom. -Você não vê? Cris, ele... te ama. E está na cara que o sentimento é correspondido.

-Você só pode estar louco! Ele não me ama! E eu não o amo. Nós nos conhecemos a algumas semanas, por Deus!

-Se você quer seguir acreditando nessa mentira... por mim tudo bem. Mas eu preciso te dizer, que qualquer um que os veja juntos, percebe na hora que os dois se gostam.

-Pat, eu vou dizer uma última vez, eu não amo Cris, ele não me ama, no mínimo temos uma química sexual e gostamos da companhia um do outro. Ele pode ter terminado comigo para me proteger, mas no final das contas, não é só a minha carreira que está em jogo. A dele também. Então não pense que de repente, ele decidiu me "proteger" da Martha, porque se essas fotos chegam a cair nas mãos de alguém da empresa, os dois estamos na rua. Ponto final.

-Meu anjo, como eu faço para você entender bem, deixa eu ver... ahh, acho que o fato de Cris ter me ligado desesperado, praticamente gritando que você tinha escapado, e que não conseguia te encontrar, pode dizer algo não é mesmo? Ele parecia estar chorando, Amélia. Joe me disse que Cris NUNCA chorou, nem quando ele descobriu o pai com a noiva.

Vai me dizer que isso não significa algo?

Olho cética para o meu primo. Ele sempre foi um romântico incurável.

Ele percebe que o olho estranho e decide parar de tentar me convencer de que Cris magicamente se apaixonou por mim.

-Bom, já que você está aqui, me conte o que Joe te disse da audiência, Cris... ele não me disse muita coisa.

Se meu primo percebe que estou mudando de assunto descaradamente, ele não demonstra nada. Mas vejo o seu olhar de reprovação. Ele sempre tem seu olhar quando não consegue o que quer. Ele bebe mais um gole do café e faz uma careta. A esse ponto, já deve estar frio.

-Bom, o que Joe me contou, foi que o pai deixou a herança para eles, Martha ficou com um casebre, acho que assim se chama... -Um chalé - o corrijo- Isso! E Erick deixou duas cartas, uma para cada um. Joe chegou em casa em shock, abraçando sua carta como se fosse um salva-vidas. Ele nem bem entrou em casa e começou a chorar, eu fiquei desesperado, achando que o pai teria feito algo pior a eles, mas quando li a carta, confesso que até eu chorei. O pai deles não era um homem ruim, só fez escolhas erradas com relação aos filhos.

Vejo a tristeza no olhar de Pat. Ele ama muito Joe, e vê-lo sofrer assim, deve ser difícil.

Imagino o que o pai de Cris deve ter escrito na sua carta. Mas infelizmente não posso pergunta-lo... não mais. Imagino quão duro deve ter sido para os dois ter de escutar alguém ler palavras escritas pelo pai, sendo que ele nem está mais entre nós. O que deve ser poder ter uma última parte do pai e poder guardá-la? Quando mamãe morreu no acidente, obviamente não estava preparada para isso, então não deixou nada além da casa onde vivo. Essa é a única coisa material que tenho dela e isso me deixa tão triste. Se eu soubesse que de uma hora para outra já não a veria, teria a abraçado mais, dito mais vezes que a amava... mas quem pode prever o futuro não é mesmo?

-Amélia? Ainda está aí? - Vejo uma mão sacodindo bem na minha cara, e quando assinto, Pat volta a se sentar.

-Sim, estou aqui... só me perdi em alguns pensamentos.

-Bom, prima, eu sei que hoje não foi um dia bom para você, mas também não foi para Joe, eu adoraria dormir aqui hoje, mas tenho que estar com ele... você entende não é mesmo?

Ele obviamente está se sentindo dividido, mas eu nunca pediria para ele ficar aqui, sabendo da situação de Joe.

-Pode ir tranquilo, primo. Eu estou bem, sério. Estou um pouco triste, mas já passa.

O abraço e agradeço por ele ter se preocupado comigo e ele dá um tapinha no meu ombro dizendo que ele sempre vai se preocupar comigo, que mais que uma prima, eu sou uma irmã para ele. Pisco algumas vezes para impedir as lagrimas que insistem em cair e o levo até a porta.

Ele para e se vira de repente.

-Ah, com que amigo você estava quando te liguei? -Droga, pensei que ele havia se esquecido desse detalhe.

-Hum... um que você não conhece, nem adianta eu tentar te explicar quem é. -Respondo vagamente e espero que ele caia nessa conversa fiada. Meu primo que não é nada bobo, me olha torto como se soubesse que estou mentindo descaradamente, mas ele prefere não me pressionar, só que eu sei que isso não vai durar por muito tempo, ele é muito curioso.

-Bom, eu vou nessa, por favor não faça nenhuma besteira!

-Pat! -O repreendo- O que eu poderia fazer? Vou tomar um longo banho quente, que o dia de amanhã vai ser bem longo. -Prolongo as últimas palavras com algo de humor.

-Oh, Amélia. Amanhã não vai ser fácil, mas se concentra no seu trabalho que o dia vai passar rápido, você vai ver.

Pat me dá um último abraço carinhoso e finalmente se vai. Imediatamente sinto um vazio. Seria muito egoísta da minha parte pedir para ele ficar e o colocar em um conflito interno, mas isso não indica que eu não quisesse e muito fazê-lo.

Tranco a porta e estou prestes a subir para tomar o banho que prometi a Pat, quando meu telefone fixo começa a tocar. Fazia tempo que não recebia uma ligação nesse telefone. As vezes algum que outro telemarketing liga, mas no geral ele quase não toca. Poucas pessoas têm acesso a esse número. Era o antigo número da casa da minha mãe, eu não quis trocar, nem cancelar, sentia que se o fizesse, seria como descartar uma parte dela e não estava confortável com isso.

Me livro desses pensamentos e corro para atender o aparelho já considerado primitivo, antes que ele desligue, com a vaga esperança de que possa ser Cris.

-Alô? -Atendo ofegante pela pequena corrida.

-Alô. Oi Amélia.

Fico calada alguns segundos. Nem lembrava que Alex tinha esse número.

-Amélia, está aí? -O escuto murmurar alguma coisa, algo como "será que errei de número? "

-Sim, Alex. Estou aqui. Só... me surpreendi pela ligação. -Decido ser sincera.

-Me desculpa. E-eu só queria saber se você estava bem.

Ele novamente parece genuinamente preocupado.

-Sim, estou bem. -Sinto que estou sendo um pouco seca com ele, mas o que ele esperava? O fato de eu tê-lo perdoado, não indica que eu deva trata-lo como se nada tivesse acontecido.

-Okay... então eu queria saber se a oferta do café ainda está de pé? Amanhã tenho todo o dia livre, e queria saber se você não gostaria de ir até algum restaurante. Eu realmente quero saber sobre Jonah... mas se você não quiser, tudo bem... eu vou entender.

Sinto a expectativa na sua voz. Tampouco posso fingir que ele não tem direito de saber de Jonah, ainda mais depois de tudo o que me contou.

-Tudo bem, tem um restaurante perto de onde eu trabalho. Podemos ir la na hora do almoço e levo tudo para você.

-Sério? -Ele está surpreso com minha resposta positiva.

-Sim... vou separar algumas que tenho repetidas e alguns vídeos também, assim levo tudo de uma vez. -Tento parecer o mais casual possível, mas ele percebe o que essa última frase quer dizer, que eu não pretendo sair com ele novamente.

-Tudo bem. Nos vemos amanhã então. Você pode me dar o endereço do seu trabalho? Assim te espero na hora do almoço.

Sinto esse frio na espinha. Não quero que Alex saiba onde trabalho.

-Olha, Alex, não me leva a mal, mas eu prefiro te encontrar direto no restaurante. -Ele suspira e depois de alguns segundos me responde.

-Tudo bem, vou pegar um caderno e uma caneta. -Escuto ele se mover e depois de alguns minutos ele está de volta. -Pronto, pode falar.

Digo o endereço do local para ele, e depois de uma despedida incomoda, eu finalmente posso desfrutar de um banho quente e de chorar tranquila.

***********

São cinco horas da manhã quando me levanto. Quase não consegui dormir à noite toda, então porque seguir insistindo. Aproveito para demorar no banho, preparar um delicioso café da manhã, bem elaborado, o que me faz lembrar dos cafés da manhã que Cris costumava preparar para mim. Sacudo minha cabeça para dissipar esses pensamentos autoflagelantes e começo a me preparar para o dia de hoje. Cris é meu chefe, então não posso fingir que não vou vê-lo na empresa, mas posso evitar esse encontro o máximo que consiga.

Chego cedo na empresa e vou direto para minha sala. Alguns minutos depois, Marcela bate na porta, e quando a abro, vejo na sua mão duas xicaras de café.

-Pelo visto, mais alguém decidiu chegar cedo hoje. -Ela me entrega a xícara fumegante e por mais que eu já tenha comido, o cheiro delicioso me faz dar agua na boca.

-Obrigada. -Tomo um gole do liquido negro. -Você chega a essa hora todos os dias?

Como quase sempre chego em ponto, não sei quem chega antes na empresa.

-Sim, mas eu estava falando de você e de Cris. Os dois chegaram bem cedo hoje, e eu preciso te perguntar isso. Aconteceu alguma coisa entre vocês?

Decido por alguns segundos se devo confiar na pequena mulher sentada em uma das minhas cadeiras. Tem alguém aqui dentro que proporciona informação a Martha. Decido ser evasiva.

-Não, nada, porque? -Faço a melhor cara de paisagem que consigo.

-É que... -ela olha para os dois lados como se de repente fosse surgir alguém de dentro de algum armário ou gaveta do pequeno escritório- ele chegou bem cedo, como te disse, e eu já estava aqui, por que tinha algumas coisas que queria adiantar para hoje, quando ele passou por mim, nem me cumprimentou, as vezes ele não o faz, mas hoje vi que ele estava muito triste. Seu rosto estava sombrio e os olhos um pouco inchados, como se tivesse... chorado.

Ela faz uma pausa para que eu possa absorver essa informação. E de repente vejo claramente o click na sua cabeça. Provavelmente eu estou com o mesmo aspecto.

-Oh, por Deus! Vocês brigaram?

Eu ainda não sei se devo confiar nela, mas, o que de pior poderia acontecer? Além do mais, se ela é quem está ajudando a Martha, se eu disser que terminamos, ela vai nos deixar em paz e o plano de Cris, de acordo a Pat, vai dar certo.

-Ele... nós... terminamos. -Bebo mais um gole do café para esconder meu rosto de tristeza ao dizer essas palavras e também para tirar esse gosto amargo da boca. Que ironia. Tirar o gosto amargo, com café.

-Eu não acredito! Oh, Amélia, eu sinto muito. -Ela pega na minha mão e o seu olhar é sincero. Pelo menos é o que penso ver.

-Eu estou bem, não se preocupe, Marcela. De qualquer jeito, eu não o... ah quer saber deixa pra lá.

Recebo outro olhar, mas esse é de pena, misturado com compreensão. Conversamos algumas amenidades, Marcela me perguntando coisas ridículas em uma clara tentativa de me animar, até que o telefone da minha mesa começa a tocar.

-Escritório de Amélia Regins, em que posso ajudar?

-Bom dia, Amélia. Eu só estava ligando para saber se a minha secretaria está na sua sala, preciso dela urgente.

Olho para o telefone na minha mão, como se de repente Cris fosse se materializar bem ali no fone preto e grande. Só lembro de respirar, quando Marcela tira o objeto pesado da minha mão e responde à pergunta do meu chefe, porque ao parecer eu não sou capaz de fazê-lo.

-Sim, chefe, estou aqui. Vim trazer um cafezinho para minha amiga. Não, já estava voltando, mil desculpas, chego aí em um minuto.

Ela me defere um olhar interrogatório e solta um suspiro resignado.

-Pelo visto, você não superou ainda o termino, não é?

Do que adianta mentir a essa altura do campeonato? Balanço a cabeça e de repente tudo que sei é que estou chorando e Marcela corre para me abraçar.

-Eu te falei amiga, que se ele te machucasse ia se ver comigo. Caramba!

-Não se preocupa comigo, Marcela. Já vai passar, é que foi tudo muito recente sabe. Não coloca seu emprego em risco por mim, eu me sentiria muito mal se você fosse demitida por brigar com o chefe por minha causa, sério.

Ela balança a cabeça concordando, mas posso ver suas engrenagens girando.

-Bom, tenho que ir, senão já sabe. Mas olha, se você quiser conversar, ou sair para tomar um café que seja, pode me chamar, tá?

Assinto. Pelo visto hoje só consigo balançar a cabeça. Com essas atitudes, Marcela me faz duvidar se ela teria coragem de nos prejudicar. Mas eu aprendi que não se deve confiar em ninguém, então vou manter a guarda alta.

Ela se despede com um aceno e sai da sala. Imediatamente me enrosco no trabalho, para esquecer que meu chefe/ex-namorado está literalmente do outro lado do corredor.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top