Capítulo 19
Quando Joe me pediu para cuidar do "irmãozinho" nunca imaginaria que minha vida tomaria esse rumo, quando Cris veio até mim, o susto que levei... pensando bem começo a pensar que Joe fez tudo isso a proposito. Ele sabia que se tivesse dito que o tal irmão era um adulto (e que adulto), eu não iria aceitar hospedá-lo na minha casa e nunca o teria conhecido antes de saber que ele era meu chefe.
Já está quase na hora de sair do trabalho e lembro do bendito envelope que Marcela deixou mais cedo. Com todo o sexo quente com Cris, até tinha esquecido dele. O coloco na minha bolsa, e pego todos os meus pertences para trancar o escritório e ir embora. Verei o que tem dentro em casa. Estou muito cansada e não quero ficar mais do que o devido aqui na empresa.
Tranco tudo e vou até o escritório de Cris para agradecer a Marcela pelo favor e me despedir do meu namorado, por mais que saiba que vamos nos ver em algumas horas, mas quando chego lá, ela já não está. Pelo visto saiu mais cedo.
Olho para todos os lados para ver se não tem ninguém olhando, e quando estou segura que estou sozinha, bato duas vezes na porta do chefe. Espero alguns segundos, mas não recebo nenhuma resposta, bato novamente e nada. Cris deve ter saído mais cedo também. As vezes ele tem reuniões com alguns sócios ou aqueles que querem ser sócios, e acabam indo a algum restaurante. Resolvo que vou ligar para ele quando chegar em casa. Dou meia volta e vou para o elevador. Passo pelo segurança e marco minha saída e acontece um milagre porque não demora nem dois minutos e meu ônibus aparece.
Finalmente chego em casa e vou direto tomar um banho quente. Demoro quase uma hora na banheira e saio tão relaxada que visto meu short e blusa de dormir e praticamente apago na cama.
-Mamãe, eu tenho papai?
Jonah me fita com os olhinhos curiosos, eu sabia que essa pergunta ia surgir cedo ou tarde, mas não sabia que seria tão cedo.
-Claro que você tem papai meu anjo.
-Então cadê ele? Ele não me ama?
-Não fala assim. Ele... ele teve que viajar quando você nasceu...
Eu não consigo dizer a verdade para meu bebê. Eu sei que é errado, mas eu simplesmente não posso dizer que o idiota do seu pai o abandonou. Quando ele estiver mais velho e entender as coisas, aí sim direi tudo o que ele tem direito de saber.
-E quando ele vai voltar mamãe?
-Eu não sei amor... aonde ele trabalha, eles têm que viajar e viajar... mas porque você quer saber uh?
-Porque na escolinha, todos os meus amigos dizem que os papais levam eles para passear e compram doces... e levam eles na escolinha... e eles zombam de mim porque meu papai nunca me levou...
Meu coração cai em pedaços quando escuto essas palavras. Eu entendo que hoje em dia não existe essa coisa de que a família tem que ter o pai e a mãe, mas as crianças ainda não compreendem isso.
-Bom mamãe, então quando o papai voltar, eu posso conhecer ele?
-Claro que pode meu anjo.
Me viro para que ele não veja uma lagrima solitária que escapa dos meus olhos. Se depender de Alex, Jonah nunca vai conhecer o pai e isso me traz uma dor no coração.
O que foi tudo isso? O sonho foi tão real que acordei com lagrima nos olhos. Eu nunca consegui entender o porquê deles. São pequenos fragmentos dos momentos vividos com Jonah, mas nenhum tem relação com o outro. Fico deitada na cama por alguns minutos, mas o sono não quer aparecer. Sempre que sonho com Jonah, acontece isso. Ainda bem que da última vez comprei bastante chá de camomila.
Desço até a cozinha e preparo o liquido quente para ver se consigo dormir. Minha cabeça está a mil. As únicas vezes que não tenho esses sonhos é quando durmo com Cris.
Uma ansiedade toma conta de mim com essa constatação. Não quero estar tão ligada a uma relação que não sei quando pode terminar.
Mas ao mesmo tempo, sinto que sem Cris eu ficaria perdida. Quão louco pode ser isso? Eu apenas o conheço a algumas semanas...
Meu telefone toca e quando vejo o nome de Cris na tela, sinto um arrepio, como se ele soubesse que eu estava pensando nele.
-Alô? - Digo tentando controlar minha respiração.
-Amélia, onde você está? -Ele parece preocupado.
-Em casa, vim direto para cá, antes de sair da empresa, passei por sua sala para me despedir, mas você não estava...
Ele não responde nada e escuto apenas sua respiração por alguns minutos.
-Cris? - Verifico a tela do telefone para ver se a ligação não caiu e a respiração que escuto não é a minha.
-Sim, estou aqui. Eu... tive que sair mais cedo... uh... tinha uma reunião com um sócio... acabei de chegar em casa.
Ele está estranho... sinto como se estivesse perdendo alguma coisa.
-Tudo bem. -Respondo um pouco insegura.- Eu estava indo dormir de qualquer maneira. Amanhã nos vemos na empresa.
Essa sensação estranha não sai de mim, e de repente não quero conversar com Cris.
-Amélia, espera. Eu... nada, tenho que ir... nos vemos amanhã.
Uau. Se tinha alguma dúvida, agora tenho certeza. Ele estava super estranho. Antes mesmo que eu perceba, um monte de paranoias começa a surgir na minha cabeça. Preciso de mais chá pelo visto.
Depois de quase três xícaras, decido que realmente preciso dormir, mas meu cérebro parece não pensar o mesmo, pois não consigo pregar o olho a noite inteira.
Chego na empresa atrasada. Fui dormir era quase cinco da manhã e como consequência, acordei quase uma hora depois do horário de entrada. Droga! Espero que não descontem do meu salário. A partir dos noventa minutos de atraso, começam a descontar e acho que hoje ultrapassei esses noventa minutos.
Sento na minha cadeira e começo a tirar meus objetos da minha bolsa: celular que percebo está sem bateria, deve ser por isso que acordei tarde, não escutei nenhum alarme, caneta, bloco de anotações, agenda... e lá no fundo está o envelope de ontem. Nem lembrava dele. Começo a abrir a parte de cima para ver o que diabos é isso, quando Cris irrompe na minha sala.
-Mas que merd... - quase caio da cadeira com o susto.- Droga, Cris, não te ensinaram a bater nas portas antes de entrar?
O repreendo com o coração acelerado. Odeio levar susto.
-Desculpa Amélia, te liguei a manhã inteira e você não atendeu.
-Meu celular estava sem bateria, acabei de perceber. Acordei tarde hoje, tive que sair tão rápido que nem vi meu celular. Vi o horário no micro-ondas...
Enquanto respondo ao homem na minha frente, percebo que ele está assustado. Algo está acontecendo bem debaixo do meu nariz e eu não estou vendo, tenho quase certeza.
-Mas porque essa preocupação toda? - Pergunto desconfiada.
-Nada, eu só... senti saudades. - Ele olha para minha mesa como se estivesse procurando algo.
-O que está acontecendo Cris? Você está estranho desde ontem. Por favor eu já estou ficando sem paciência.
Ele finalmente me olha nos olhos, e parece cansado. Vejo a batalha no seu olhar, para ver se me diz a verdade ou não.
Eu sustento seu olhar com rigidez. Não vou ser feita de idiota. Não mais.
-Ontem, Martha veio novamente... - Droga, essa vaca não vai nos deixar em paz? - Ela me disse que se não fosse na abertura do testamento, haverá consequências. Eu fui direto para casa de Joe para conversar com ele... ele está de acordo em ir na audiência, é amanhã... eu não queria te preocupar... quando voltei para casa já era tarde, por isso te liguei, queria saber se você estava bem...
Espera um momento que merda é essa que ele está me dizendo? Consequências para quem? De repente um click soa na minha cabeça.
Abro o envelope o mais rápido que consigo e quando finalmente vejo o que tem dentro, quase caio da cadeira.
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