BONUS
POR CRIS
Tudo o que aconteceu hoje, me fez pensar no que diabos eu estava pensando quando me envolvi com a Amélia. Não me entenda mal, eu a-gosto dela, muito. Mas sem querer, a coloquei em um perigo desnecessário.
Tudo piorou quando sai da sala de audiência e vi Martha totalmente fora de si a agredindo. Ainda bem que Joe a segurou, senão não sei o que teria feito. Amélia não precisa passar por isso. Ela é doce e tão amável. E linda. Ela é tão linda. Seus cabelos castanhos que agora estão meio bagunçados só fazendo com que ela pareça ainda mais sexy. Seus olhos azuis, ingênuos a pesar de ela já ter sido mãe. E sua boca... ah eu mataria por essa boca. Estou dando voltas a propósito. Preciso fazer isso. Não sei se suportaria que algo de ruim passasse com ela. Pelo menos por um tempo, precisamos nos distanciar, fazer com que Martha pense que ela terminou comigo. Que não estamos mais juntos. Mas para isso, Amélia precisa realmente se distanciar de mim. Eu não sei se vou conseguir aguentar tanto tempo sem sentir seu cheiro, nem acordar do seu lado e escutar seu leve ronco. Mas eu preciso. Ela tem que estar a salvo. Eu sei do que Martha é capaz. Vi com meus próprios olhos. Se a única maneira de proteger a mulher que eu gosto, é terminando com ela, é isso que eu vou fazer. Estaciono em um lugar qualquer. Chegou a hora.
-Amélia, quero te pedir desculpas por hoje. -Não resisto e a puxo para cima de mim. Quero sentir uma última vez o calor do seu corpo. Suas mãos quase que automaticamente vão parar no meu cabelo. -Eu não disse nada naquela hora, porque não queria continuar com a confusão, mas quero que você saiba, que eu não amo a Martha. Não mais. Ela foi parte do meu passado e você é parte do meu presente. Eu... eu não sei o que dizer para que você esqueça do que ela disse, eu só... eu não... me desculpe. -Passo a mão no meu rosto para tentar me acalmar um pouco. Estou exasperado.
-O que aconteceu para ela ficar tão brava? -Sei que ela está com medo, por isso muda de assunto.
- Erick simplesmente deixou tudo para mim e meu irmão, além do que a lei exige, o resto deixou para uma instituição que apoia a causa LGBT, para Martha, deixou um chalé caindo aos pedaços. Pelo visto ela não gostou muito. -Ela solta uma risadinha. Se ela soubesse o rumo dessa conversa...
-Bom, parece que seu pai surpreendeu a todos nós. -Ela beija minha testa e eu sinto que estou à beira da loucura. -Eu sinto muito, meu amor. Parte desse problema todo, é porque estamos juntos e ninguém na empresa pode saber. Se você estivesse solteiro, não teria que ir à audiência porque ela não poderia te ameaçar... -Droga! É exatamente disso que eu tenho medo.
-Amélia, entenda que a Martha ia dar um jeito. Ela sempre consegue o que quer. Ela é assim, uma cobra, preparada para dar o bote. -As lembranças daquela maldita noite me vem à cabeça.
-Bom, pelo menos o pior já passou. Você cumpriu o prometido, veio até a audiência, não podia adivinhar o que seu pai faria, ela já não pode nos prejudicar.
-Não é tão simples. Ela vai tentar algo, eu sei que vai. Temos que ter muito cuidado. Por isso eu te trouxe até aqui, precisamos conversar.
Seu rosto fica serio de repente e ela sai de cima de mim como se eu fosse uma chama ardente e a estivesse queimando. Olho para a placa desgastada de um velho restaurante. Preciso fazer isso. Preciso protege-la.
-Amélia... nós... vamos ter que terminar. -Seu rosto vira de repente. Vejo de soslaio sua expressão de surpresa.
-O-o que você quer dizer com isso? -Sua voz embargada, me desestabiliza, mas eu preciso continuar. Preciso ser forte, ainda que por dentro isso esteja me matando.
-Pelo menos por um tempo. Entenda, por favor. Não quero te colocar em perigo. Nem ao seu emprego. Se alguém na empresa descobre que estamos juntos, ambos estamos na rua. E não quero que você fique com uma má reputação por minha culpa. Menos ainda que Martha te persiga, achando que você teve algo a ver com tudo isso... eu... pensei nisso enquanto estávamos vindo. Eu não sei o que faria se algo acontecesse com você. Por isso prefiro que nos distanciemos por algum tempo. Pelo menos até a poeira baixar.
Agora estou olhando para ela, vejo uma pequena lagrima escorrer pelo seu rosto. Levanto minha mão alguns centímetros, na intenção de limpar sua bochecha molhada, mas me contenho. Não quero piorar essa situação.
Estou quase dizendo para ela esquecer de tudo o que falei, e que eu estava louco quando pensei que poderia ficar longe dela, quando ela abre a porta e sai correndo do meu carro. Grito desesperadamente para que ela volte, mas ela não me escuta. Eu tento sair, mas sou puxado de volta para meu assento pelo maldito cinto de segurança, que pensei tivesse tirado. Fecho a porta do carona, e saio derrapando do estacionamento vazio, não conheço essa zona e me aterroriza saber que Amélia pode estar se colocando em uma enrascada. A procuro por todo lado, mas não a encontro. Como não conheço bem o lugar não sei para onde ir. Volto para o estacionamento abandonado e quase não consigo desligar o carro antes de sair de dentro dele. Preciso de ar. Coloco minhas mãos na minha nuca. Como pude deixar isso acontecer? Acabei de terminar com Amélia para não a colocar em perigo, e olha no que deu?!
-MERDA! -Grito para o vazio. Alguns pássaros saem voando assustados com minha interrupção de sua tranquila vida. -MERDA! MERDA! MERDA! -Repito. Preciso me acalmar. O que eu faço? Se ligar para Amélia, com certeza ela não vai atender. Sento no meio fio e coloco minha cabeça entre as pernas. Vejo algumas gotas caindo no chão. Nem percebi que estava chorando. Nunca o fiz, nem por Martha, nem na morte do meu pai. Preciso fazer alguma coisa. Entro de novo no carro e procuro mais uma vez Amélia. Deve ter passado mais de meia hora então me ocorre uma ideia obvia: Pat.
Pego meu celular tremendo, procuro seu nome nos contatos e aperto o dedo na opção "ligar". Depois de uns quatro toques ele finalmente atende.
-Alô, Cris? -Ele diz parecendo sonolento. -Está tudo bem? -Pergunta quando não consigo pronunciar uma bendita palavra. -Cris, por favor, você está me preocupando.
-E-eu... briguei com a Amélia, e ela saiu correndo do meu carro, não consigo acha-la. Pensei que ela poderia ter ido até a sua casa.
-Como assim? -Agora parece que ele está bem acordado.
-Eu a perdi. Não sei onde ela está. Estou muito preocupado Pat. Não sei o que fazer. Se ela se machucar nunca vou me perdoar. -Minha voz sai meio cortada pelo aperto que sinto na garganta. Percebo que novamente estou chorando. O que você fez comigo, Amélia?
-Fica calmo Cris. Vou ligar para ela nesse instante e te aviso, ok? Volta para sua casa e sei lá toma um banho quente.
Percebo que por mais que ela não queira demostrar, meu cunhado e quase primo, está preocupado.
-Tudo bem, vou voltar para casa, mas por favor, nem bem você saiba onde ela está, me ligue.
-Fica tranquilo, Cris. -Ele desliga e eu dou a partida no carro pegando a rota para meu apartamento. Chego alguns minutos depois, por sorte o transito não estava tão caótico como em outros dias. Faço o que Pat disse e tomo um banho quente, depois me deito na cama com um milhão de coisas passando pela minha cabeça e devem passar pelo menos mais de duas horas até que Pat finalmente me liga.
-Cris, primeiramente, eu quero dizer QUE VOU TE MATAR! -Afasto o telefone da orelha para não sofrer uma hemorragia pelo grito de Pat. -Mas eu sei porque você fez isso.
-É. -respondo simplesmente.
-Mas não disse que era uma boa ideia. Cris, no que diabos você estava pensando? Amélia já sofreu muito nessa vida, para ter outra decepção como essa.
-Você não entende, Pat. Martha é louca, eu não duvido que ela possa tentar algo contra a Amélia e eu não poderia viver sabendo que isso foi culpa minha.
-Eu sei Cris, mas isso não é desculpa. Eu... eu não sei, ela é minha única família, e estava muito triste quando falei com ela.
-Você conversou com Amélia? Como ela está? Ela está bem? -Preciso saber que ela está bem!
-Calma aí, desesperado. Sim, fisicamente ela está bem. Mas emocionalmente não. Enfim, vocês devem resolver isso sozinhos, mas eu te aviso Cris, se você a machucar novamente, não me importa se é irmão de Joe, você vai saber o que é uma pessoa furiosa de verdade.
Eu não duvido de Pat. Ele engana com seu carisma e sua digamos personalidade, mas o homem quase do meu tamanho tem uma força bruta que quando é provocada, coitado do que se atreve a entrar no seu caminho. Joe me contou que quando Pat o encontrou ele estava em uma enrascada e quase apanha de alguns cobradores, não fosse Pat salvá-lo.
Desde aí começou o romance deles. Eu nunca soube que cobradores eram esses, mas devo muito a Pat. E agora sinto que o decepcionei.
Seguro o celular no peito, na esperança de que Amélia me ligue nem que seja para me xingar, mas o aparelho não emite um som sequer durante toda a noite, até que já não aguento ficar acordado e sucumbo em um sono profundo.
******
Acordo com o som estridente do meu alarme. Faço toda minha rotina matinal no piloto automático. Tomo banho, preparo meu café da manhã e automaticamente a lembrança de fazer o café para Amélia me vem à mente. Não posso evitar sorrir, ela adorava isso.
Sacudo a cabeça enquanto tomo um café forte e vou para meu quarto para colocar meu terno para o trabalho.
Chego na empresa bem cedo, não consegui dormir muito de qualquer jeito. Passo por Marcela sem a cumprimentar, sei que ela não tem culpa de nada, mas hoje não estou de bom humor para formalidades.
Entro no meu escritório e começo a revisar alguns documentos, aproveitando que cheguei cedo. Preciso me distrair de qualquer jeito.
Depois de alguns minutos, vejo que há um contrato que não foi assinado e precisa ser corrigido urgentemente. Ligo para o ramal de Marcela, mas ela não atende. Sei exatamente onde ela deve estar.
Aperto o número de Amélia e ela atende quase imediatamente.
-Escritório de Amélia Regins, em que posso ajudá-lo?
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