Capítulo 6
Os olhos castanhos-claros estavam fixados no teto branco de seu quarto e o corpo esparramado sobre o leito. Não havia conseguido dormir a noite inteira, e nem tinha como. Como poderia dormir sabendo que seu irmãozinho estava lá fora? Sozinho e quem saber os perigos que estava enfrentado.
Em seu desespero, havia ido a delegacia com Gustavo, mas o delegado disse que poderia presta queixa de desaparecimento após 24hs. Daniel encontrava frustrado e irritado. Ah, quando achasse aquele menino iria surrar tanto sua bunda que ficaria sem sentar duramente uma semana.
O jovem de um físico invejável moveu no leito deitando-se de lado e encarou seu guarda-roupa. Daniel não era tipo de homem que chorava, mas o medo que assolava sua alma fez seus olhos arderem. Mesmo que uma solitária lágrima transbordou de seus olhos marcando sua pele.
Olhou para o relógio no criado-mudo, reparando que era 6:20 da manhã. Logo o despertador gritaria anunciando que teria levantar. Não tinha forças para nada, mas precisava enfrentar a vida. Seu irmão era precioso, porém precisava ir para o estágio, pois era contribuinte importante para sua profissão. Seus pais sempre foram estáveis financeiramente, e quando faleceram no acidente, deixaram tudo na responsabilidade de Daniel. Claro, quando completou 18 anos, pode finalmente gerenciar a herança.
Como bom administrador, fez a herança duplicante ao fazer investimentos sábios e razoavelmente seguros, o suficiente, para dar a ele e Lucas uma vida confortável. Havia comprado aquele apartamento de classe média, um carro e moto para seu irmão. Mantinha todas as despesas de casa, além de sua faculdade. O estágio não pagava bem, não, era praticamente menos que salario mínimo, mas iria ajudar muito em ganhar experiência em sua carreira, e por isso o fazia.
Ele reprogramou o despertador e levantou da cama. Seguiu para o banheiro em sua gloriosa nudez para que pudesse tomar um banho. O jovem tomou demorando e gelado banho, tentando inutilmente arrancar aquela dor de seu peito.
Mas foi quando Daniel saiu do banheiro, com os cabelos úmidos, com apenas precária toalha branca enrolada nos quadris, que seu celular tocou.
Angustiado e esperançoso que poderia ser Lucas, correu para atender, perdendo a toalha no caminho, mas não deu importância. Não havia ninguém perto, e estava em seu quarto.
— Olá?
— Ah, oi... E Daniel?
Daniel olhou para visor, contudo não reconheceu o numero. Temeu que fosse de algum hospital ou pior, necrotério. Por Deus, que esteja bem. — Sim, e ele! Quem falar?
— Foi, sou Davi. Sou amigo de Luc, bem, andamos de skate às vezes. Olha, ele me pediu para não dizer, mas acredito que esteja preocupado. E só para falar que ontem ele ficou aqui...
— Ele está ai? — Daniel sentiu certo alívio por saber seu irmão não dormiu na rua.
— Não, ele ficou apenas um dia... E ontem a noite foi embora. Disse que não iria para casa, por isso acha que esteja na casa de outro amigo. — Davi disse no outro lado da linha.
Daniel ficou mais alguns minutos conversando com jovem. Ele garantiu que Lucas estaria bem, que não seria doido de dormi na rua, e que logo voltaria para casa. Sabia como seu irmão imaturo era... Tao teimoso e demorava entender as coisas. Igual quando era criança. Queria acreditar que Lucas realmente voltaria.
Um pouco mais aliviado, Daniel foi capaz termina de arrumar-se para ir ao estágio. Antes de sair de casa, avisando Gustavo que havia tido uma pequena notícia, e prometeu que quando soubesse de algo mais, ligaria.
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No recinto, vários jovens se levantaram, meninos de treze anos a vinte anos saíram do quarto, menos um, sobre o leito estava Lucas, o ruivo estava todo esparramado na cama, ressonava tranquilamente, sem perceber que estava sendo observado.
Na outra cama, que era próximo ao do ruivo, tinha um garoto que parecia que tinha uns dez anos a doze, o mesmo ria pelo jeito todo esparramado de Lucas. Guilherme, o pequeno garoto tinha uma pequena cicatriz na sua sobrancelha, e um pequeno hematoma perto da sua boca, mesmo estando ferido, o mesmo sorria.
Guilherme viu a hora no relógio na parede e percebeu que estava perto de começar a servir o café da manhã. Ele desviou o olhar para o ruivo, eles eram os únicos que ainda estava no dormitório. Se levantando da sua cama, ele se aproximou do ruivo, caraterística que o pequeno moreno dos olhos castanhos achou fascinante e irreal.
— Garoto, moleque! Levanta, se você não quiser perder o café da manhã, é melhor você se levantar daí! — Gritou.
Lucas que estava todo tranquilo no seu maravilhoso sono, com o grito o mesmo quase que caia da cama, o fazendo praguejar, sem saber de onde viera ele tentou tirar as cobertas e escutou uma risada infantil, com cuidado, ele olhou para cima e visualizou um menino gargalhando o fazendo bufar.
— Ta rindo de que cria? Ta vendo algum palhaço aqui moleque?
— Estou sim e ele tem cabelo de cor de palha! — Disse rindo mais, mesmo estando um pouco com raiva por ser acordado, mas com aquela risada contagiante ele acabou sorrindo.
Lucas bufou.
Ele sentou na cama e olhou ao redor, tentando situar onde estava. Recordou da declaração de seu irmão, de depois Miguel. Que estava fora de casa cerca de dois dias... Então ele... Aquele homem lindo. Ops. Acorde Luc., Ditou em pensamento.
— Quem é você?
Guilherme parou de rir e coçou a nuca. — Eu sou Guilherme... Um... Como muitos dos garotos que moram aqui. — O menino disse.
Lucas coçou os olhos. — Tem banheiro?
Guilherme apontou para uma porta. — Ali, mas é bom se rápido. A comida aqui acabar rápido. — A criança disse. Não esperou para o ruivo dizer nada e saiu do quarto.
Lucas suspirou. Acabou saindo da cama e indo para onde o menino indicou. O local era amplo, pareciam àqueles banheiros de escola, onde havia vários chuveiros, mas cada cabine tinha porta, e do outro lado uma bancada com pia e espelho. Havia outros cantos sanitários.
Lucas fez sua higiene matinal, e saiu do local. Seguiu para fora do quarto, mas viu-se perdido no corredor, pois não sabia onde ficava o refeitório ou cozinha.
— Para onde...
Foi quando sua camisa foi puxada. Ele olhou para o lado e deparou com aquele menino novamente. — Venha!
— Para onde? — Lucas perguntou, mas seguiu o garoto.
O menino deu os ombros. — Refeitório... Ou não está com fome. — Guilherme ditou. — Aqui é bando de gente esfomeada, e fora comida da tia Adriana é muito gostosa, rola até briga por ela.
Eles caminharam por alguns corredores, quando eles ficaram perto de uma porta dupla, barulhos de pessoas falando, cadeiras sendo arrastadas eram escutadas. Lucas olhou um pouco surpreso, mas continuou a andar, passando entre as portas ele visualizou uns adolescentes, crianças e até algumas pessoas adultas no grande refeitório. Aquela cena ele teve uma pequena nostalgia da escola na hora da merenda.
— Você vai ficar ai parado igual uma mula? Se você não se mexer logo vai ficar sem a melhor comida do mundo, eu vou logo indo, estou com uma fome de leão! — Disse se afastando, por instinto Lucas o seguiu, ele viu o pequeno pegar uma bandeja, seguindo o garoto, ele fez tudo que o garoto fez.
Eles entraram na fila, até que chegou a vez que deles pegarem a comida, e para a surpresa e felicidade do seu estomago, tinha um monte de sanduíches, salada, frutas, sucos, bolo fofo, de leite, de cenoura e o melhor, de chocolate, e parece que ele o moreninho tinha o mesmo gosto, pois neles pegaram o bolo de chocolate, com um copo de vitamina de goiaba, dois sanduíches, coxinhas e uma enorme empanada de frango.
— Vejo que temos mais um jovem ao abrigo Arco-íris, seja bem-vindo meu jovem, sou Adriana, cozinheira... Gui meu amor! — Ela sorriu simpaticamente, e acariciou a bochecha de Guilherme, e viu que o mesmo tinha um pequeno ferimento. — Você andou se metendo em que amore? Esta com um pequeno ferimento aqui? Diga!
— Tia Adriana, não foi nada, eu juro! Eu só que sou muito distraído e acabei dando de cara na parede! — Disse rindo sem graça. — Vai falar não Lucas? Ou perdeu a língua? — Disse desviando o olhar de Adriana.
— Ah, moleque! — Sussurrou. — Eu só estou aqui de passagem, vim parando aqui sem querer! — Disse sorrindo.
— O.k meu jovem, se sinta a vontade, e você senhor Gui, tome cuidado, e leve essa pequena sobremesa para ti! — Disse dando uma serenata ao saliente moreno.
— Brigadão tia! — Guilherme ditou. Adriana rio pelo jeito de Guilherme. — Agora vamos pegar uma mesa, ruivo, até mais tia, — Disse guardando a serenata no bolso do short, ele pegou a bandeja e seguiu para uma mesa vazia, dando um sorriso de adeus a Adriana, Lucas o seguiu.
Quando ele colocou a sua bandeja em cima da enorme mesa ele olhou ao redor, ele viu algumas pessoas conversando, outras não, outras afastadas, viu homens e mulheres.
Lucas suspirou e o seu olhar recaiu no pequeno garoto do seu lado, que estava muito distraído comendo o seu bolo de chocolate, as palavras de Henrique e Carlota ecoara na sua mente.
— Escuta menino... E verdade que aqui... Abriga pessoas... — Lucas mal conseguia pronunciar.
— Homossexual? — Guilherme disse com naturalidade. — A sua maioria, mas tem héteros também. Todas as crianças ou adolescentes, ou jovens que foram abandonados, expulsos ou maltratados.
Lucas olhou abismado. — Mas não seria mais fácil não ser? Se trás tanto dor.
Guilherme soltou gargalhada, que assustou o ruivo. — Não tem como alguém decidiu se é ou não gay. Não acho que exista isso essa genética ou algo assim. Assim como a pessoa criar personalidade, ela criar desejos e sonhos. Ser gay é apenas alguma que vem natural. Amar pessoas sexo diferente ou igual apenas acontecer.
Lucas olhou abismado. Aquele menino de apenas 11 anos — achava — parecia mais maduro que ele. — E você... E g-gay? Mas é muito novo.
— Ser gay não quer dizer alguém seja pervertido ou estuprador. Alguém pode ser hétero e ser isso. — Guilherme disse enquanto deliciava com o bolo.
Lucas beliscou a panqueca que tinha pegado, perdido em pensamentos. —Uhh! E por que está aqui? Quero dizer... Não precisa falar se não quiser!
Guilherme fez pouco caso. — Não tenho problema! Meus pais nunca se amaram, saber, minha mãe acabou grávida no colegial, e seus pais obrigaram a ser casar. Não que isso seja motivo... Mas não tinham maturidade. Mae trabalhava demais... E meu pai... Um vabagundo. — Suspirou.
— Lamento!
— Tudo bem! O caso é... Eu... Sou meu afeminado, eu sei... Mas é natural, não forço... E meu pai era bem preconceituoso... E sempre gritava... Ou batia muito na minha mãe, quando não me batia. — Havia certa amargura na voz do menino. Mesmo tão pequeno tinha visto lado horrível da vida.
— E foi assim que veio para cá? — Lucas indagou.
Guilherme terminou o bolo e partiu para comer os biscoitos. — Um dia... Quando cheguei da escola, eles estavam brigando... E ele batia na minha mãe... Mas quando me viu.
— O que ele fez? Gui? — Lucas ficou com medo que aquele homem tivesse violentado aquele menino.
Guilherme olhou determinado. — Ele quis me bater, mas minha mãe decidiu que estava cansada disso, e optou dar um basta. Ela o matou, na minha frente... Com vários tiros. — Falou.
Lucas sentiu os olhos arderem. Sentia penalizado pelo grande terror e mal que aquele menino passou, ainda tão jovem. — Eu... O que aconteceu com ela?
— Foi presa. — Guilherme disse naturalidade. — Mas mudando de assunto, você foi expulso de casa por seu gay?
— Nenhuma coisa e nem outra.
— Então como você veio parar aqui? — Perguntou curioso.
— Bem, um homem loiro me atropelou, acho que você deve conhecer, Henrique!
Nessa hora o moreno arregalou os olhos. — Você está bem? Está ferido? — Indagou preocupado.
— Não, estou não! Só foi uma pancadinha de nada, mas Henrique insistiu para me trazer aqui, eu estava bem cansado por andar tanto que acabei aceitando.
— Você fez bem, eu fiquei surpreso em saber que Rique te atropelou, ele é super cara, ele me encontrou na rua quando eu não tinha mais para onde ir, tinha fugido do orfanato, fazia um mês que eu estava na rua, ele me viu roubando algo para eu comer... Eu me envergonho de ter feito isso, mas continuando. — Disse dando gole na sua vitamina.
— Ele falou comigo, no começo eu fui muito arisco, mas fui me simpatizando com ele, Rique me deu comida, me trouxe para esse lugar faz um ano, estou bem aqui, eu gosto daqui, eu conheci pessoas que passara pelo que eu passei, conheci histórias trágicas. Mas eu sou grato por ter cruzado o meu caminho com ele, pois agora eu tenho um teto, comida na mesa, sou paparicado pela cozinheira, aprendi a ler direito, muito diferente do futuro que eu poderia ter se eu ainda estivesse na rua. — Disse sorrindo.
Os olhos de Lucas estavam ardendo pelas lágrimas acumuladas, ele coçou o olho disfarçadamente, enxugando as lágrimas teimosas que escorreu.
— Fico feliz por você, Gui... Posso te chamar assim?
— Claro! Todos me chamam assim. — Eles sorriram um para o outro, depois de alguns minutos eles terminaram a deliciosa refeição.
— E agora? O que fazemos? — Indagou.
— Bem, nessa hora algumas pessoas têm aula, eu só tenho aula de tarde, então eu passo o dia na cozinha ajudando Tia Adriana, mas ela às vezes me expulsa de lá para eu me divertir, tem aula de pintura, música, esporte e minha aula favorita, dança. — Então, vamos para aula de dança agora? — Perguntou olhando ao redor, ele viu algumas pessoas deixando o refeitório.
— Sério que você quer ir para aula de dança? Eu pensei que você preferia ir para aula de esporte. — Disse coçando a nuca. — Bem, hoje você é o meu guia, e lógico que eu quero conhecer a sua aula favorita, e eu vou logo dizer, eu sou péssimo em dançar. — Disse dando um sorriso sem graça.
— Não importa, a professora é uma ótima dançarina, ela vai te ensinar bem, vamos! — Disse puxando Lucas, o mesmo não aguentou e soltou uma risada alegre.
Os dois praticamente correram pelo corredor, e conseguiram chegar a tempo na aula. O local era grande salão praticamente sem moveis. O chão de madeira envernizado chegava a brilha, no fundo da sala, a parede era toda de espelho. Do outro lado, havia uma barra de ferro na horizontal que seguia toda parede, do tipo para balé ou algo parecido.
Lucas reparou que havia uma media de 15 alunos, de todas as idades, e vestiam calças bem coladas, blusas folgadas e alguns usavam tops. Roupas que permitiriam os movimentos com maior fluidez.
Guilherme colocou-se em posição mais para final de todos, e Lucas ao seu lado. A professora era uma mulher de cabelos loiros e corpo escultural, mas parecia bem simpática.
Ela cumprimentou a todos e conversou pouco, além de explicar um pouco do que teria na aula.
Não demorou em a música apossa de todo ambiente. Ela escolheu um pop para iniciar a aula. Ela fazia os movimentos por partes, e mandava os alunos repetirem diversas vezes, e somente quando decoraram, partia para próximo,
Lucas teve dificuldade de fazer no começo, mas aos poucos fora pegando o jeito. Quase no final da aula, conseguia repetir sem muitos erros.
Nos últimos 15 minutos, a professora fez repetirem toda a coreografia ensinada, o que formou uma dança de movimentos lindos e divertidos. A aula durou uma hora, e todos terminaram suados e respirando fundo.
Ela os orientou em movimentos de alongamento, para que não tivessem dores musculares depois, e finalizou a aula. Aos poucos todos os alunos saírem, e por ultimo professora.
Lucas admirou o menino ir até o aparelho de som.
— O que vai fazer? Não iremos com os outros? Sei lá, tomar banho. Estou todo suado. — Ditou. Aproximou-se do espelho e analisou sua figura descabelada e ofegante.
— Vamos dança mais uma música, agora somente nos dois. — Guilherme ditou.
— Uhh. Okay. Qual?
O menino sorriu quando as primeiras notas invadiram o local, e a oz de Lady Gaga soou.
— Não creio! Sério? Ela? — Lucas perguntou abismado. Nem em sonho dançaria música dela.
Mas antes que realmente constatasse, viu sendo puxado pela criança e obrigado a dança.
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Henrique só se deu de conta o que estava fazendo, quando estacionou o seu carro na frente do abrigo arco-íris, e olhou pela janela.
— O que eu estou fazendo? — Indagou para si mesmo. Era o seu horário do almoço, ele era para estar num restaurante ou até numa lanchonete almoçando, mas não, estava aqui para ver o ruivo de ontem à noite. Ele passou o dia ansioso e curioso para ver como o belo ruivo estaria. Deixando o seu pensamento de lado, Henrique saiu do carro e ligou o alarme, ele foi entrando e cumprimentando alguns jovens sorridente, um sentimento de orgulho e satisfação sempre toma quando ele ver essas pessoas antes tristes, perdidas agora com um sorriso no rosto.
Henrique se aproximou da recepcionista, que estava ocupada no telefone, ele acenou e esperou ela terminar.
— O que deseja Henrique? — Indagou depois que desligou o telefone.
— Lembra-se do garoto ruivo que eu trouxe ontem à noite? Então, eu queria saber se ele está aqui, e onde, se não for incomodar. — Disse gentil.
— Que isso, estou aqui para ajudar Henrique. Aquele garoto está com o nosso pestinho, Guilherme, eu vi os dois na aula de dança, você onde, neh?
— Sei sim, obrigado Carlota! — Disse sorrindo.
Eles se cumprimentaram, e dando um último sorriso para a mulher, Henrique começou andar na direção das salas de aula, para uma especialmente. Quando ele estava perto do salão a voz de Lady Gaga ecoava no ar. Andando devagar para não fazer nenhum barulho, Henrique entrou pela porta, ficando longe do espelho e se encantou pela cena.
Guilherme e Lucas estavam dançando. Lucas estava um pouco desajustado, mas parecia se diverte, Gui era sempre radiante dançando. Os dois pareciam que estava dançando aquela música fazia tempo, pois quando chegou ao refrão, Lucas parecia se soltar mais, e para a surpresa de Henrique, Lucas começou a dançar bem direitinho a coreografia, os passos perfeitamente feitos.
Ele parecia que estava sorrindo, o corpo suado, todo despojado na dança. O coração de Henrique acelerou vendo o ruivinho sem filtro todo distraído dançando, todo alegre, e sorrindo. O corpo dele se movimentava perfeitamente, parecia tão sensual e bonito.
Depois que a música chegou ao fim, Lucas se abaixou e ficou respirando ofegante e para não deixar passar aquele momento e por merecido. Henrique começou a bater palmas.
O corpo de Lucas enrijeceu com o barulho das palmas, e tentando olhar pelo espelho e pelo grito que Guilherme dele, o seu rosto, antes vermelho pelo esforço da dança, agora estava mais vermelho ainda. Se virando aos poucos ele viu Guilherme no colo de Henrique, o abraçando, aquela cena deixou de lado o seu constrangimento e sorriu.
— O-oi... — Lucas atropelou-se com as palavras. Estava com tanta vergonha. Queria abrir um buraco no chão e desaparece. Onde já se viu... Larga de ser idiota, com vergonha de um homem, Ditou para si mesmo em pensamento.
— Rique! — Guilherme gritou e saiu correndo para o loiro. Foi abraçado com carinho por esse. Era tão óbvio a felicidade da criança ao ver o outro.
Lucas aproximou-se devagar. — E ai, atropelador de inocentes. Tudo bem?
Henrique deu radiante sorriso ao endireita-se e ainda segura Gui com um braço. — Estou bem... Estava indo almoça e resolvi dar uma passada... Para ver como estão as coisas.
— Estava ensinando-o a dança, mas seu corpo e muito duro. Não leva jeito. — Guilherme disse todo altivo.
Lucas fez ia dar uns cascudos de brincadeira nesse, mas correu para trás de Henrique. — Bem, acho mesmo está na hora do almoço. Obrigado novamente por permitir dormiu nesse lugar. E bem legal que faz por essas crianças e jovens.
— Não faço sozinho. Vivemos de doação de pessoas dispostas em ajudar, além de voluntários que prestam seu tempo... — Henrique disse.
Lucas olhou aquele homem lindo. — Será quê... Eu posso ajudar? Saber, se voluntario. Meu irmão vive dizendo sou vagabundo faço nada dia todo. Seria legal... Ajuda. — Disse encolhendo os ombros.
Guilherme olhava curioso. Achava engraçado a formar que aqueles dois agiam. Pareciam dois lobos dançando em volta um do outro, como dança de acasalamento. Acabou rindo com sua comparação.
— Eu vou lá tomar banho e ir almoça. Não quero perder a comida da tia Adriana. Tchau Rique e Luc. — E antes que os adultos falassem algo, saiu correndo.
— Pelo visto fez amizade com ele. — Henrique ditou.
— Sim, e uma criança inteligente e divertida, e pelo visto já sofreu muito. — Lucas disse. — Me fez entender...
— O quê? Fez entender o quê? — Deu um passo para mais perto do ruivinho lindo. Sentia ganas de embalá-lo em seus braços e cuidar para sempre dele.
Lucas suspirou. — Meu irmão declarou que é bi... Eu fiquei irritado, disse coisas cruéis. E quando fui procurar por um dos meus amigos, acabei descobrindo que os outros dois também eram gays. Então é meio surpreendente que meus dois melhores amigos e irmão sejam gay e nunca percebi.
— E homofóbico?
Lucas percebeu certa dor na voz de Henrique, e queria retirá-la de lar. — Não diria homofóbico, mas fui estupido. Aquela criança... — Apontou para onde Guilherme tinha saído. — Me fez percebe que somente por que meu irmão ou amigos são gays, não quer dizer são menores ou sem valor... Ou menos homens. Fui idiota. Como sempre, um infantil.
Henrique estendeu a mão e brincou com algumas mexas ruiva. — Não se maltrate assim. Na vida erramos, e se reconheceu em tempo, isso quer dizer que não é estupido. Não é crime que precise de um tempo para lidar com isso.
Lucas acenou. — Tenho pedir desculpa a Dan. Será que... Seria abusar demais se me desse carona até em casa?
— Claro, vamos apenas despedirmos de Gui, e o levo. Sim!? — Henrique falou gentil, de forma que fez Lucas arrepiar-se todo.
Sorrindo sem jeito, Lucas se afastou de Henrique e inclinou para a direção da porta, percebendo jeito do ruivo. Henrique abriu um lindo sorriso. Eles se entreolharam, mas Lucas rapidamente desviou o seu olhar para a porta, os dois começaram a andar, para fora da sala. Quando chegaram perto dos dormitórios, eles viram que Gui ia abrindo a porta.
— Gui! — Chamou Lucas. Guilherme se virou e sorriu, fechando a porta Guilherme se aproximou deles.
— Sim? — Perguntou sorrindo.
Se abaixando, Lucas ficou de frente a ele. — Eu vim me despedir, preciso voltar para casa, pois eu preciso conversa com o meu irmão...
— Você nunca mais vai voltar né? — Perguntou triste.
— Claro que eu vou voltar, agora que eu arranjei um professor de dança... Adorei te conhecer moleque. — Disse bagunçando o cabelo de Gui o fazendo bufar e rir. — Eu vou vir, prometo! Mas tenho certeza que eu não vou vim só! Até outro dia! — Disse dando beijando a testa de Guilherme, mas para sua surpresa o garotinho o abraçou, no começo Lucas ficou sem reação, mas logo retribuiu o abraço apertado, um sentimento o dominou. Ele conheceu aquele pivete fazia poucas horas, mas ele já estava grudado na sua pele.
— Volte mesmo viu? Se não, eu mando o Henrique te atropelar de novo! — Disse os fazendo rir.
— Agora eu tenho que tomar banho, pois já já vai ter o almoço e estou com uma fome. Tchau Rique. — Disse dando um último abraço em Henrique, ele foi direto para o dormitório.
— Eu gosto desse garoto, todos aqui gostam!
— Ele tem algo que todos gostam dele.
— Você está chorando? — Indagou Rique.
— Que? Chorando? Puff, você esta imaginando coisas, vamos logo cara. — Disse andando para a recepção, na verdade ele estava sim, ele já estava com saudades daquele pivete, e com certeza ele voltaria para vê-lo e claro, ajudar esse abrigo que agora ele passara a gosta. Sorrindo, Henrique o acompanhou. Eles deram tchau a Carlota e seguiram para o carro de Henrique.
— Onde é o seu endereço? — Indagou ligando o carro, Lucas deu todas as instruções do seu prédio. — Sei onde fica, e sei também que no caminho dele tem uma lanchonete que tem uma comida maravilhosa, bem... Será que você toparia almoçar comigo? Como amigos, claro!
Lucas sorriu vendo Henrique todo sem jeito. — Toparia, é que estou sem dinheiro! Desculpa! — Disse mordendo o lábio superior.
— Eu convidei e eu pago! — Disse já relaxado. — E não ouse reclamar.
— Ok! — Disse Lucas olhando para a janela.
Os dois pararam em das filiais do Mcdonald e ambos pediram mega lanche, com direito a sobremesa. Lucas riu muito ao lado daquele homem. O conhecia apenas 24hs, mas sentia que o conheceu a vida inteira.
Ficaram quase uma hora na lanchonete, e depois que o loiro pagou a conta, retornou ao carro. Henrique estacionou diante do belo prédio e virou-se para seu ruivinho. Céus! Já o chamava de seu.
— Está entregue. Tem certeza que não quer suba com você? — Indagou.
— Tenho! Meu irmão é uma pessoa maravilhosa, e seu perdoara. Não serei maltratado ou algo assim, não se preocupe. Mas... Depois te ligo... E... Vou voluntária no centro. Tchau... — Acenou sem jeito. Saiu apressado do carro, antes que perdesse a coragem. Não sabia explicar, mas algo dentro de si recusava-se afastar daquele homem.
Lucas entrou no condomínio e acenou para o porteiro. Foi cauteloso ao entrar elevador e demorou em abrir a porta. Suspirando, criou coragem e destrancou, entrando. Torceu para que Dan não tivesse em casa, porém assim entrou, deparou-se com seu irmão sentado no sofá.
Daniel levantou e encarou seu irmãozinho. No segundo depois, moveu-se e rodeou o corpo de Lucas com seus braços, de forma tão apertada que poderia sufocá-lo.
Lucas retribuiu o abraço, mas assustou, foi o outro afastou e deu um soco na sua cara, fazendo-a cambalear para trás.
— Ei, idiota.
— Seu... Seu pivete inconsequente. — Daniel gritou e apontou para irmão. — Saber como estou louco atrás de você? Ate na polícia fui... Por Deus Luc... Eu não posso perdê-lo como perdi nossos pais. Por que fez isso?
Lucas massageou onde levou o soco. Nada grande, apenas pegou desconcertado, contudo não esperava menos de seu irmão.
— Desculpa... Eu estava confuso e precisava de um tempo. Sinto muito se o deixei preocupado. — Lucas disse. — Desculpa... Desculpa por tudo que fiz, mas eu precisei sair, e cara... Foi a melhor coisa que eu fiz.
Daniel o olhou sem entender nada. — Vem, vamos nos sentar e explico o que fiz esse tempo todo que estava 'desaparecido'.
Lucas pegou a mão de Daniel e o levou para o sofá, sorrindo ele começou a contar tudo, que foi na casa de Miguel, que andou sem rumo, que foi quase atropelado, nesse momento Daniel gritou e procurou um ferimento nele, não achando nada, fazendo suspirar aliviado. Lucas continuou a conta sobre o loiro e sobre o abrigo.
— Dan, o Abrigo Arco-íris me fez abrir os olhos. É um lugar extraordinário, e as pessoas que ajudam com isso são demais, o loiro que quase me atropelou ajuda lá... Mas cara, as pessoas de lá especiais, principalmente o pivete, Guilherme o nome dele, você tem que conhecer. Ele é tão pequeno, inteligente, engraçado, mas a vida foi tão cruel com ele, ele me contou a sua história Dan, fiquei com queixo caído e com uma enorme vontade de chorar... Daniel, eu percebi que eu fui um preconceituoso de merda contigo e com Miguel, me desculpa, por favor... Eu vi pessoas naqueles lugares que foram expulsos de casa, foram agredidas, crianças... Crianças, eles são apenas crianças, essas pessoas que não aceita não são pessoas, são um bando de bastardos que não merecem viver.
Nesse momento Lucas não aguentou e começou a chorar, Daniel vendo o estado do seu querido irmão o abraçou, Lucas repetia sussurrando "Me perdoa, me perdoa, por favor,!"
Daniel disse algumas palavras para acalmá-lo, depois que Lucas parou de chorar, só ficou soluçando, ele levantou os olhos vermelhos pelas lágrimas.
— Perdoe-me irmão.
— Meu Lucas! Claro que te perdoou, você é o meu irmãozinho, te amo mesmo você me odiando... Fico feliz que você abriu os olhos e a mente. — Os dois sorriram e Lucas o abraçou apertado.
— Te amo, não quero te perder! — Sussurrou Lucas.
— Te amo também! Amo você cara de capivara. — Disse fazendo Lucas rir.
— Eu preciso ir pedir desculpas a Miguel. Eu não era para ter falado aquelas coisas a ele.
— Concordo! — Disse dando uma tapinha na nuca de Lucas, o mesmo só resmungou, mas não saio dos braços de Daniel.
— Fale-me mais desse cara que te atropelou e desse garoto Guilherme. — Pediu.
— Bem, ele é simpático, vi que tem um bom coração, mas às vezes me irrita... Nome dele é Henrique Sampaio, acho que ele é mais velho do que Gustavo... Melhor eu parar de falar dele e vou falar do pivete, se você o visse, cara, você cairia duro, Gui tem um jeito de cativar as pessoas, o sorriso, tudo! Ele ama dançar, e acredita que eu aceitei participar da aula de dança?
Nesse momento eles riram.
— Pior de tudo, Guilherme me fez dançar Lady Gaga e para acabar de vez, Rique me viu dançar, aquilo foi minha morte.
— Pelo que você falou você gostou muito de lá.
— Sim, e eu estava pensando, e eu já disse a Rique, vou trabalhar lá de voluntário. — Disse saindo do abraço, nesse momento Daniel sorriu.
— Que ótimo, fico feliz que você faça alguma coisa, e parece que você já gosta de lá.
— Quem sabe você e os meninos não vão fazer uma visitinha lá? — Disse mexendo as sobrancelhas.
— Pode até ser, mas precisamos dizer a Gustavo e a Miguel que você apareceu e você ir pedir desculpa a ele, e bem! Vou mandar uma mensagem para Gu e pedir que hoje à noite depois da faculdade a gente se encontrar, e você pode contar essa história.
— Ok! Preciso pedir desculpa a Miguel e quero saber com quem ele está namorando.
Nesse momento Daniel deu um sorriso espertalhão.
— Pera, você sabe? Me conta!!!
— Não, quando você chegar lá saberá! — Disse piscando o olho. Lucas nesse momento franziu os seus lábios num bico.
Continua...
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