Capítulo 19 - Salva pela Nossa Senhora da Bicicletinha Sem Freio

Vanessa Schneider 

Naquela noite eu não dormi. Sério, passei a noite em claro rezando um terço para a nossa senhora da bicicletinha sem freio para me livrar daquela cilada. João me ligara até dizer chega e eu não atendi a nenhuma das ligações, estava com medo dele perceber que eu estava diferente, diga-se de passagem, desesperada.

A cada vez que fechava os olhos, a imagem de uma criança gordinha e com cara de brava igual a de João, aparecia em minha frente, e eu acordava chorando igual um cachorro caído da mudança. Arrisquei acariciar minha barriga e repetir inúmeras vezes "a mamãe já te ama", e depois de notar o que estava falando, praguejar em diversos idiomas que eu havia acabado de inventar.

Sim, meu povo e minha pova, eu já estava aceitando o fato de que eu poderia ser mãe antes dos vinte e cinco, e aquilo não era bom, não era nada bom.

Vomitei igual uma cadela o resto da madrugada, e quando enfim pensei que embalaria em um sono almejado, meu despertador faz as honras de jogar na minha cara que eu tinha que levantar e encarar novamente o laboratório de exames.

Tomei um banho e tomei um café tentando, em vão, espantar o sono. Passei uma maquiagem leve para disfarçar a cara de defunta do norte que eu estava e respirei fundo encarando meu reflexo no espelho.

Chequei meu celular e uma mensagem de "bom dia" apareceu na barra de notificação, era João. Eu não podia mais evitá-lo, não quando eu tinha 99% de certeza de que carregava o xerox da minha decepção na barriga.

Com o coração na mão, respondi:

Bom dia! Precisamos conversar...pode me encontrar hoje a tarde?

A resposta veio um tanto quanto hesitante.

Aconteceu algo? Claro que te encontro, mesmo lugar de sempre?

Eu não queria adiantar o assunto, então decidi responder somente a segunda pergunta.

Mesmo lugar de sempre

Guardei o celular na bolsa e apertei minhas pálpebras bem forte antes de sair do apartamento. Caminhei a passos largos valendo-me de meus fones de ouvido e das minhas incansáveis preces a minha santa favorita, vocês sabem de quem estou falando.

Cruzei a esquina e soltei um gemido de medo ao focalizar meus olhos no estabelecimento que continha a resposta da minha vida. Com certa destreza, abri a porta principal.

-No que posso ajudar? - A moça de ontem questionou assim que me viu.

-Vim buscar o resultado do meu exame... - Sorri amarelo.

-E qual é o seu nome? - Voltou a questionar.

-Vanessa, Vanessa Schneider. - Pigarreei.

-Tudo bem, volto logo. - Ela sumiu pelo extenso corredor.

Naquele instante eu não sabia se chorava ou se rezava descontroladamente. Acho que estava fazendo os dois, pois assim que viu meu estado, a recepcionista veio correndo em minha direção com o resultado do exame em sua mão direita.

-Ei, quer um copo de água ou coisa assim? - Ela segurou minhas mãos.

-Não...obrigada! Este é o resultado? - Apontei para o envelope pardo.

Ela assentiu com certa compaixão e me entregou o papel. Eu sabia que tinha que ler aquilo, mas eu precisava fazer tal coisa juntamente com João Francisco.

(...)

Quando marquei com o embuste em nosso lugar de sempre, eu estava me referindo ao meu próprio apartamento. Não era como se tivéssemos de fato um cantinho para o nosso antro de safadeza e desrespeito ao próximo, mas ainda assim, era um lugar nosso.

Meus olhos estavam fixos no envelope, a cada tic tac do relógio minha cabeça rodava e eu sentia que meu corpo iria desfalecer em poucos minutos.

Beberiquei um copo de água gelada sentindo o líquido rasgar minha garganta, eu era sensível, gente!

A campainha tocou, e num estalo, levantei-me e, num gesto mecânico, abri a porta.

-Senti sua falta! Pensei que a nossa discussão tivesse mudado algo entre nós. - João me puxou para um abraço que eu não correspondi. - O que há com você?

Mantive meu silêncio enquanto eu voltava a andar pelo corredor indo de encontro ao meu quarto. Não precisei olhar para trás para saber que João me seguia fielmente.

-Aconteceu uma coisa, e eu não sei se isso vai acarretar em alguma mudança em nossas vidas. - Falei com cautela.

-O que exatamente aconteceu? - João estava confuso.

-Estive passando mal esses dias, e dadas as circunstâncias em que tocamos nosso relacionamento, suspeitei de uma gravidez... - Decidi ser um pouco direta.

-Você o que? - João berrou, o que me assustou um pouco. - Eu espero que isso seja uma brincadeira de mal gosto, você sabe tanto quanto eu que não podemos ter filhos, Vanessa! Isso é o que? Um de seus jogos para me prender a você? Saiba que isso não vai funcionar, vou continuar com a Fabiana e não quero que você chegue perto dela, voltar com você foi um erro...me esqueça!

João deu meia volta sem ao menos me deixar explicar o objetivo daquilo, eu ainda não sabia se estava, de fato, grávida. Era apenas uma suspeita, mas estava bem claro que ele não queria saber o restante da história.

Decidi não correr atrás dele, já tinha feito aquilo o bastante, e aquelas palavras proferidas por ele, machucaram profundamente.

Mais como em um impulso de raiva, decidi conferir o resultado sozinha, e depois de ler e reler umas quinze vezes, eu me permiti a soltar um suspiro.

Negativo

Graças a Nossa Senhora da Bicicletinha sem Freio eu não estava grávida.

Mais como uma forma de esfregar na cara daquele imbecil que ele estava errado, peguei meu telefone e abri meu Whatsapp. Busquei o contato de João e não me surpreendi ao ver que ele havia me bloqueado.

Pois bem, se era guerra que ele queria, era guerra que ele teria.

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Eita! Quem achou que o João foi um babaca levanta o dedo o/
Parece que dona Vanessa acaba de encerrar um ciclo, o que será que a aguarda daqui pra frente?
Ansiosas para o especial de Halloween?! Nos vemos semana que vem ❤

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