Epílogo
O ambiente estava impregnado de uma mistura densa de esperança e inquietação, enquanto o choro do bebê recém-nascido preenchia suavemente o quarto. Cada respiração parecia carregar a promessa de um novo começo, uma página em branco na história que se desdobrava diante de nós.
Meus olhos se fixaram na minha filha, cansada e frágil, embalando com ternura a pequena vida que acabara de trazer ao mundo. Seu olhar, embora cansado, brilhava com uma mescla complexa de emoções: alegria pelo novo membro da família e preocupação por Morrigan.
O sutil murmúrio das cortinas sendo movidas foi interrompido pela entrada discreta de Hecátia, cujos olhos carregavam uma gravidade inconfundível.
— Hecátia… — minha voz murmurou, carregada de expectativa e apreensão.
A bruxa vidente indicou a porta com um gesto, sugerindo que era melhor conversarmos a sós. No recôndito do quarto, ela compartilhou as notícias sombrias que havia trazido consigo.
— Eu finalmente pude ver — revelou ela, e suas palavras ecoaram no silêncio tenso. — Sinto tanto, Caius.
Hecátia descreveu cada evento, desde a morte de minha esposa até os desdobramentos na guerra que assolava Aranthia. A verdade caía sobre mim como um peso insuportável, e eu mal conseguia suportar ouvir sobre o sacrifício de Morrigan, sobre a luta contra as trevas que habitavam dentro dela.
Não, não, não.
Perdi tudo num piscar de olhos, e a culpa, opressora, tomou conta de mim. Tantas escolhas que eu poderia ter feito de maneira diferente, e agora tudo parecia ter sido em vão. A dor da perda era intensificada pela culpa avassaladora e amarga.
Desabei no chão, sem forças para suportar o peso da responsabilidade e do luto. O que diria a Arya? Como contar que sua filha morreu no mesmo dia em que meu neto nascera? Que sua mãe partira, assim como a doce Elisa.
Como relatar os anos de ocultação da nossa verdadeira origem, e revelar que a própria filha estava amaldiçoada?
Como explicar para ela, Lúcio, os pais de Elisa? Como carregar o fardo dessa culpa avassaladora?
Os pensamentos angustiantes se entrelaçavam, formando um labirinto de dilemas insuportáveis. Cada palavra a ser proferida parecia trazer consigo o peso de uma vida inteira de escolhas equivocadas.
— O que eu fiz? — gritei, para Hecátia, para mim mesmo, para os deuses, para Abaddon, para o universo que parecia desmoronar ao meu redor. A culpa reverberava, pesada, amarga, um fardo que eu não conseguia suportar.
Enquanto eu era consumido pela tragédia, a culpa se tornava um fardo insuportável, um peso que se acumulava nas costas de um homem que perdeu tudo.
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