Capítulo 34

Corremos por horas sob o manto da noite, a escuridão envolvendo-nos como um aliado furtivo. Meus pés tocavam a terra com urgência, o som dos galhos quebrando sob a pressão do nosso avanço ecoava na quietude da floresta. A lua lançava sua luz pálida entre as folhas, delineando caminhos à nossa frente.

Finalmente, decidimos parar para descansar, nosso fôlego exalando em pequenas nuvens de vapor no ar fresco da noite. O solo sob nós ainda reverberava com a energia da nossa fuga, e a sensação de liberdade pulsava em minhas veias.

Sentamo-nos em uma clareira tranquila, as sombras das árvores dançando ao nosso redor como espectadores curiosos. O cansaço pesava sobre nós, mas a euforia da fuga mantinha nossos sentidos alerta. O calor do corpo de Asher ao meu lado era reconfortante, um contraste acolhedor com a frescura da noite.

Enquanto recuperávamos o fôlego, nossos olhares se encontraram, e uma tensão sutil pairou no ar. Aquela pausa, envolta pelo murmúrio suave da floresta, provocava uma sensação de formigamento que se estendia por todo meu corpo.

— Como voltaremos para Eldoria? — perguntei, tentando dissipar a estranha tensão que irradiava de mim.

— Vamos contornar Zeranthia e evitar a capital, então seguiremos até encontrarmos uma embarcação até lá. — sua voz profunda reverberou por todo meu corpo — Logo você estará com a sua família, Morrigan.

— Mor — sussurrei sem conseguir me conter — Meus amigos me chamam de Mor.

Um sorriso lateral, tão típico dele, surgiu em seus lábios, causando uma reação profunda em mim.

— E se Naeli estiver certa? — indaguei, tentando afastar a desconhecida sensação que crescia em mim — E eu acabar atraindo a Sociedade para minha casa.

— Mesmo que ela esteja certa, o que acho difícil — seu desgosto transpareceu em suas palavras, revelando o desprezo pela bruxa — Sua irmandade está bem protegida, resistiu aos fanáticos por muito tempo. Lá é mais seguro do que vagar por Aranthia ou ficar com bruxos que mentiram para nós, Mor.

A última palavra foi pronunciada com suavidade, como se ele estivesse testando meu apelido delicadamente em seus lábios. Uma corrente sutil de calor deslizou por minha pele, e meu coração pareceu dançar em resposta à intimidade inesperada daquela simples palavra. Era como se Mor, ao ser pronunciado por Asher, tivesse adquirido uma nova tonalidade, uma melodia particular que ressoava profundamente dentro de mim.

— Ela não mentiu, apenas omitiu, e entendo o porquê — apesar de tudo, meu apreço por Naeli persistia — Só não compreendia minha necessidade de voltar.

Asher retirou sua sacola, uma expressão visivelmente contrariada pairando sobre seus traços, mas ele optou por não contestar o assunto. De lá, ele extraiu uma maçã e um pacote envolto em folhas, revelando, ao desembrulhar, um suculento pedaço de carne.

O aroma defumado da carne dançou pelo ar, provocando minha salivação involuntária, enquanto a tonalidade vermelha da maçã brilhava à luz da lua, tornando-a irresistivelmente apetitosa.

— Infelizmente, essa não podemos guardar para depois, mas espero encontrar animais pelo caminho — compartilhou ele, seu olhar expressando algo que não pude decifrar.

— Para quem era avesso a se alimentar de animais... — deixei escapar, entre risos, relembrando o dia em que nos conhecemos, há pouco mais de dois meses. Embora parecesse ter sido há muito tempo.

Asher uniu-se às risadas, um som que parecia ter sido extraído de um lugar profundo e reservado, reverberando através do silêncio noturno e ressoando por todo o meu corpo.

Ao abrir minha própria sacola, deparei-me com uma cena digna de um pequeno tesouro. Além da carne e da maçã, descobri uma muda de roupa cuidadosamente dobrada, um cantil que presumi conter água, algumas frutas frescas e, para minha agradável surpresa, uma adaga.

Os dedos exploraram a fria textura do metal da adaga, enquanto meu olhar absorvia cada detalhe da arma. A lâmina, cintilante à luz da lua, evocava uma sensação de poder e familiaridade há muito perdida. Uma onda de saudade preencheu-me, recordando os dias de treinamento com Caleb.

— Você está... — Asher murmurou após um tempo em silêncio, sua expressão carregada de hesitação enquanto escolhia cuidadosamente suas palavras. — Faz muito tempo que não se alimenta, você está com fome?

Minhas bochechas se tingiram de rubor, captando a insinuação por trás de suas palavras. Embora já houvesse passado um longo período desde minha última ingestão de sangue, as vicissitudes recentes haviam relegado a fome a um segundo plano em minha mente.

— Consigo suportar mais tempo sem me alimentar, graças ao meu lado bruxa. — murmurei timidamente, tentando dissimular a reação involuntária que perpassou meu corpo após sua pergunta.

— Se quiser, pode se alimentar de mim. Precisa estar forte até chegarmos em Eldoria.

Minha vergonha se intensificou ao perceber a oferta, e eu respondi, envergonhada:

— Você também precisa. — meus olhos se desviaram brevemente — Acredito que encontraremos algum animal de porte no caminho.

Os olhos negros de Asher fixaram-se intensamente em mim, e ele declarou:

— Você fez isso por mim, Mor. — um sorriso suave surgiu em seus lábios — Gostaria de retribuir. O sangue vampiro também restaura nossa força.

Essa revelação me pegou de surpresa. Quando ofereci meu sangue a Asher, presumi que meu lado bruxa supriria suas necessidades. Percebi, então, que havia muito a aprender sobre minha própria natureza.

O silêncio pairou entre nós, um momento carregado de antecipação e indecisão. Meu olhar encontrou o dele, profundezas negras e misteriosas refletindo uma serenidade que eu não ousava imaginar. Uma hesitação se instalou em mim, e eu permaneci imersa na complexidade da oferta que pairava no ar.

Asher, com sua calma característica, chegou mais perto, a proximidade entre nós se tornando um convite tentador. Seus dedos acariciaram meu rosto com ternura, como se buscasse dissipar qualquer receio que permeasse minha mente, e então ele ofereceu seu pulso lentamente. A pulsante linha azul de suas veias criava um contraste intrigante com a palidez de sua pele. Encarei aquele ponto vulnerável por um instante, meu corpo vibrando com uma mistura de ansiedade e curiosidade.

— E se... nós trocássemos sangue? — murmurei timidamente, as palavras saindo como um fio de voz trêmulo — Funcionária para nos saciar?

Asher assentiu despreocupadamente, como se sua própria segurança fosse uma consideração secundária.

Me aproximei de forma hesitante, meus lábios pousando em sua pele delicadamente. Assim que minhas presas penetraram em sua pele, um arrepio percorreu meu corpo.

O gosto ferroso do sangue misturou-se com uma doçura indescritível, envolvendo minha língua como um elixir proibido. O aroma metálico intensificou-se, entrelaçando-se com um perfume único e almiscarado que pertencia apenas a Asher. As sensações não se limitavam à minha boca; reverberavam por todo meu corpo, criando um formigamento que se concentrava abaixo do umbigo.

Tentei respirar para acalmar as emoções vertiginosas, mas a explosão de prazer me consumia, desafiando qualquer tentativa de controle. Fui envolvida por um turbilhão de sentimentos, uma maré crescente de calor e êxtase.

Enquanto me debatia contra as ondas de sensações, percebi um gemido involuntário escapar dos lábios de Asher. Rouco e contido, como se ele tentasse segurar a todo custo. E foi nesse instante que perdi o controle, entregando-me à voragem de emoções que se desencadeou, sem rumo, perdida.

Cada fibra do meu ser pulsava com uma eletricidade frenética. Uma nova vivacidade parecia percorrer meu corpo, enquanto um calor inexplorado se espalhava, roubando meu fôlego e dissipando qualquer hesitação.

Os momentos seguintes escaparam da minha compreensão. Em um instante fugaz, minha boca abandonou seu pulso, deslocando-se para o calor do pescoço de Asher, minhas pernas envolvendo sua cintura com uma intensidade selvagem. Ele estava tenso sob mim, seu corpo vibrando como se travasse em uma batalha interna, uma que escapava à minha compreensão.

A percepção tardia de que talvez estivesse ultrapassando limites se infiltrou, mas cada parte de mim resistia a abandonar as sensações que me consumiam. Foi um desafio doloroso separar meus lábios de sua pele quando meu corpo clamava por mais.

Ergui lentamente minha cabeça, direcionando minha atenção para seus olhos, temendo o que poderia encontrar ali. Íris profundas, tão negras quanto obsidianas, pareciam irradiar uma emoção que me escapava. Seu corpo permanecia tenso como uma corda de arco, sua respiração ofegante e um rubor sutil colorindo sua pele pálida.

Essas sensações eram novas para mim, meu corpo ainda ansiando por algo que não conseguia definir. Me entreguei ao êxtase, perdida nas sensações do seu corpo contra o meu, até que a crua realidade do que fiz me atingiu como uma onda, acompanhada por uma vergonha esmagadora.

Meu corpo tensionou, desviei o olhar, o rubor incendiando todo o meu rosto. Desajeitadamente, comecei a desemaranhar nossos corpos, sem palavras para expressar meu pesar, desejando, que de alguma forma, um buraco se abrisse no chão e me levasse embora.

De repente, suas mãos envolveram meu rosto, forçando-me a encarar seus olhos que pareciam tentar comunicar algo. O contato me fez corar ainda mais, ainda que eu não entendesse o motivo.

Sem aviso, seus lábios se fundiram aos meus com uma suavidade que desencadeou uma onda de sensações desconhecidas. O contato parecia dissolver todo nervosismo e tensão, levando-me a relaxar em seus braços. Sua língua, carinhosa, acariciou meus lábios, buscando entrada como uma súplica delicada.

A fusão dos nossos lábios era como uma dança de emoções intensas, um encontro inesperado que inflamava meu corpo com uma mistura de desejo e incerteza. Cada movimento transmitia uma linguagem silenciosa, estabelecendo uma conexão visceral entre nós.

As mãos de Asher, firmes e seguras, contornaram minha cintura, criando um vínculo que transcendia as palavras. A medida que o beijo se aprofundava, eu me sentia envolvida por uma névoa de paixão, minha mente mergulhada na vertigem de sentimentos contraditórios.

O tempo parecia suspender-se enquanto explorávamos esse território desconhecido. Minha respiração, anteriormente acelerada pela vergonha e pela novidade das sensações, começou a encontrar um ritmo calmo, acompanhando a dança lenta e sensual dos nossos lábios.

A ansiedade inicial foi substituída por uma corrente de calor que se espalhava, um fogo interno alimentado pelo toque suave e determinado de Asher. Cada instante desse beijo era como um capítulo inexplorado de uma história que mal começara.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top