Capítulo 27
Um suspiro de alívio se libertou de mim, envolvendo-me na certeza reconfortante de que Asher persistia entre os vivos, enquanto Naeli permanecia ao nosso lado, imersa em batalhas intensas, alheia à minha presença.
Asher foi o primeiro a perceber minha chegada. Girou a cabeça na minha direção, seus olhos intensos expressando uma mistura de surpresa e alívio. Após subjugar seu oponente, entregou-se completamente ao momento, fazendo meu corpo tremer de antecipação. Cada passo que me aproximava dele ganhava uma urgência palpável, uma ânsia crescente pelo aguardado reencontro.
Quando Asher voltou-se para mim, segurou meu olhar com uma intensidade que ecoava através do tempo não vivido. Seu rosto, marcado por linhas de determinação esculpidas pela batalha, transbordava emoções não ditas. Era como se cada encontro adiado, cada palavra não pronunciada, ganhasse vida naquele instante.
O mundo ao nosso redor desvanecia, eclipsado pela presença magnética dele. Nossos destinos entrelaçavam-se novamente, e meu coração, ainda desacostumado a reconhecer seus próprios anseios, batia em sintonia com a dança frenética dos meus passos.
Um grito de dor perfurou o ar, desviando minha atenção para Naeli, caída à direita. Seu corpo albergava uma espada, seus olhos repletos de uma emoção indistinta. O sangue fluía, e um temor gelado me envolveu.
No entanto, algo em mim hesitou. O corpo, relutante em se afastar de Asher, parecia resistir ao chamado de auxílio à minha amiga. Era como se uma parte de mim se agarrasse a cada passo, ansiando permanecer perto do vampiro. Contudo, antes mesmo de me dar conta do que estava acontecendo, minha magia agiu, atingindo a adversária de Naeli com uma onda de energia. Corri em sua direção, examinando-a com inquietação.
A vampira-bruxa só percebeu minha presença naquele instante. Seus lábios se curvaram num sorriso distorcido pela dor. Ao fixar seus olhos na bruxa atingida, suas feições transformaram-se em crueldade, olhos injetados com uma emoção enigmática.
— Prometi vingança pelo meu amado, e a terei, sua vadia traidora! — rugiu Naeli, dirigindo-se à bruxa agora levantando-se com dificuldade.
O olhar da mulher desconhecida encontrou o meu, surpresa marcando sua expressão. Ela avançou em minha direção mas parou abruptamente, sua atenção fixa em minha mão estendida para Naeli, choque marcou sua feição.
A mulher abriu a boca e um vislumbre de presas me pegou desprevenida, ela também era bruxa-vampira. Sua pele pareceu perder a cor, a palidez intensificada pelos cabelos negros e longos. Seus olhos cinzentos, únicos, refletiam uma emoção indecifrável, uma familiaridade estranha pairando sobre ela.
Naeli avançou, cortando a conexão com a desconhecida. Ódio governava os movimentos da vampira, mas sua adversária movia-se com uma determinação calculada.
Instinto puro me impeliu à frente, o sangue recentemente absorvido infundindo vigor em meu ser. A bruxa não antecipou meu avanço. Conjurei um feitiço de contenção, meu pentagrama desenhando-se no chão ao seu redor.
Minha magia entrelaçou-se com a dela, absorvendo sua essência vital. Seus olhos exibiam pesar, como se quisesse expressar algo, mas meu ataque silenciava suas palavras. Suas mãos estenderam-se na minha direção, mas a esperada contraofensiva não veio.
Uma lágrima silenciosa traçou seu rosto. Algo nela era estranhamente familiar, uma conexão inexplicável que eu não compreendia. Feri-la parecia rasgar algo dentro de mim, provocando uma agonia indescritível. Apesar dos sussurros entusiasmados, instigando-me a prosseguir, eu estava pronta para libertá-la, encerrando essa batalha interna entre o desejo de avançar e uma compaixão emergente, que eclipsava a lógica sádica dos sussurros.
No entanto, eu não tive escolha, nem tempo para tal coisa. Não quando Naeli avançou com a espada ainda manchada com seu sangue, e a enterrou com brutalidade no peito da mulher. Seu sangue espirrou em meu rosto, causando um choque que reverberou por todo o meu ser.
Ela puxou a espada com uma risada sádica e fria, como se arrancasse a própria essência da escuridão. Chamei minha magia de volta, um tumulto de energia confusa, enquanto meu instinto sussurrava para salvar a desconhecida. Sua atenção, um olhar que cortava como lâmina, permanecia em mim, um equívoco flagrante, pois deveria focar-se em Naeli, cuja crueldade emanava um temor arrepiante.
Sua boca carnuda se abriu em um sorriso de pesar, lágrimas escorrendo por seus olhos brilhantes, carregados de uma emoção indecifrável. Minhas mãos se estenderam, como se tentassem romper as barreiras invisíveis entre nós.
A espada de Naeli desceu, implacável, uma dança de destruição que ecoava como uma tragédia desoladora. Eu não tive tempo para reagir, para impedir. Cada golpe, como uma sinfonia cruel, rasgava algo dentro de mim. Avancei, estendendo a mão, buscando desesperadamente deter a lâmina que encontrou meu braço, fazendo-me sibilar. Choque me envolveu, um medo desconhecido que ecoava em agonia; cada ferida infligida na desconhecida parecia reverberar em minha própria carne.
Caí para trás, o ar cortado por um turbilhão de emoções, sem distinguir se a dor vinha do golpe em meu corpo ou da mulher agora indefesa. Braços envolventes me sustentaram, mas o cheiro familiar de Asher, que costumava ser um refúgio, perdeu-se na tempestade.
Meu pentagrama já não abraçava a bruxa-vampira; ela tentou resistir, suas mãos erguendo-se em um escudo fútil. Nada disso impediu Naeli, cujas feições tornaram-se distorcidas e irreconhecíveis. Nem mesmo a chegada de uma bruxa e um anjo foi capaz de desviar sua atenção da mulher.
Dois homens surgiram do nada, afastando aqueles que se interpunham na defesa da mulher. Agarrei os braços de Asher, buscando ancoragem enquanto meu corpo tremia sob um pavor incompreensível.
— Chega! — Asher vociferou. — Vamos embora, ela já está a salvo.
Mas Naeli não ouviu, imersa em um mundo onde só existiam elas duas.
Um fogo caótico e revoltado irrompeu dela, atingindo a mulher com uma força cruel que fez cada fibra do meu ser se retesar em antecipação. Naeli mantinha uma mão erguida, e um sorriso macabro se estampava em sua face retorcida de ódio. Asher me segurava com força, tentando me afastar da cena, mas meu corpo se recusava a se distanciar.
Quando as chamas finalmente cessaram, a mulher jazia caída no chão. Sangue cobria todo seu corpo, e eu soube, num impulso visceral, que era o fim. Não importava que ela fosse parte vampira; éramos mais fortes, resistentes e imortais, mas não éramos indestrutíveis.
Seus olhos cintilantes viraram-se para mim, fazendo-me prender a respiração. Ela parecia lutar para se manter acordada, mas persistia por seu último instante.
"Me perdoe." A mulher sussurrou, e agora, com meus sentidos retornando, pude ouvir suas palavras, embora não as compreendesse.
Um grito agudo e dilacerante ecoou quando o último suspiro deixou seu corpo, por um instante, achei que vinha de mim. Era um som que reverberava não apenas nos ouvidos, mas nas entranhas, carregado de tristeza e agonia, como se a própria essência da dor se manifestasse naquele lamento.
Um anjo, desesperado e apressado, irrompeu, suas asas cortando o ar com a força de uma tempestade. Seus olhos, verdes como a floresta em que cresci, encontraram a bruxa-vampira agora morta, e um novo grito escapou de seus lábios. Era uma expressão de pura aflição, como se sua alma estivesse sendo despedaçada diante de todos.
Seu olhar desviou-se para Naeli, que tinha se aproximado de mim, e o ódio ardente brilhou intensamente ao identificar a espada manchada de sangue em suas mãos. Em seguida, seus olhos encontraram os meus, e uma chama de reconhecimento pareceu brilhar por um instante antes de ser engolida por uma fúria palpável.
A angústia impregnava o ar, enquanto todos naquele lugar testemunhavam sua dor. A cena desdobrava-se como uma pintura de sofrimento, cada detalhe carregado de emoção e desespero, formando uma composição trágica que ecoaria na memória de todos ali.
Asher mudou seu aperto, deslizando sua mão pelo meu braço até segurar a minha com firmeza, como se quisesse ancorar-me diante da angústia que permeava o ambiente. Naeli gesticulou para os dois homens que lutaram ao seu lado, seus olhares injetados com urgência.
— Precisamos partir — pronunciou o vampiro, sua voz ecoando com uma mistura de urgência e preocupação, como se quisesse nos conduzir para longe do caos que se desdobrava diante de nós.
A urgência de Asher contrastava com minha própria hesitação, criando um abismo entre a realidade gritante e a melodia soturna que ecoava em meu interior.
Tudo que se seguiu foi como um borrão para mim. Mais pessoas se juntaram a nós, passos apressados, escudos mágicos erguidos, uma fumaça negra criando uma barreira enquanto feitiços de ocultação eram recitados. Talvez tenha havido uma luta, talvez tenha ouvido gritos e sentido o cheiro ocre da morte.
Eu não saberia dizer, pois minha mente ainda estava presa naquela mulher estranhamente familiar, no zumbido que rugia em meus ouvidos e na dor e tristeza que permeavam meu corpo. A cada passo, suas feições marcadas em mim, e suas últimas palavras se repetindo de forma incessante, substituindo os sussurros macabros.
As palavras de perdão ecoavam como um mantra incessante, misturando-se com a melodia amarga da batalha. A escuridão nos engolia, mas era a sombra daquela mulher, o último vislumbre da tragédia, que persistia em assombrar meus pensamentos, como uma pintura vívida em um quadro de desespero.
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