Capítulo 26
Nas mãos de quem lê, o poder de transformar tinta em magia 🔮 ✨
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Para comemorar, nada mais justo que um capítulo quentinho pra vocês 💜
Naqueles dias sombrios, o tempo escorria como areia entre meus dedos, cada grão marcando um desespero silencioso. A fome me devorava, tornando um pão duro e água suja uma bênção indesejada, mas ainda assim, meu corpo cedia à necessidade básica. Aquele ritual de subsistência aconteceu uma única vez, embora eu jurasse que se passaram mais de cinco dias, a contagem perdida na escuridão da masmorra.
A incerteza dançava ao meu redor, uma sombra fantasmagórica que se alimentava da minha esperança fragmentada. Quanto tempo permaneci naquele abismo? As paredes úmidas e os grilhões, testemunhas silenciosas, pareciam guardar segredos mais profundos do que eu podia conceber.
O rei ordenara meu retorno à masmorra, abandonando-me naquele recinto fúnebre, sem qualquer noção do que o futuro reservara.
A fome queimava como brasas, uma labareda constante que devorava não apenas meu corpo, mas também minha resiliência. Em meio à escuridão, eu abraçava uma resignação angustiada, uma aceitação sombria de que um futuro repleto de tormentos me aguardava.
Quando os guardas retornaram, eu não ofereci resistência. Minha alma parecia ter se perdido em um nevoeiro de desespero, e eu permiti que me arrastassem por corredores desconhecidos, meu corpo seguindo como um fardo sem vontade própria. Não houve protestos, apenas a aceitação melancólica de meu destino.
Jogaram-me em uma gaiola, uma estrutura metálica que rangia sob meu peso. A frieza do metal gelou minha pele, e a confusão reinava enquanto tentava compreender o propósito daquela prisão móvel. Uma capa negra envolveu o mundo ao meu redor, obscurecendo o pouco de luz que ainda alcançava meus olhos. Aquelas barras pareciam impregnadas com os mesmos feitiços que as paredes da masmorra, uma barreira que sufocava qualquer vestígio de minha habilidade vampírica ou de meu poder mágico.
A escuridão tornou-se minha única companheira, uma presença densa que se infiltrava em minha alma. Busquei minha magia, meus instintos vampíricos, mas apenas um vácuo se apresentou, uma ausência que ecoava dentro de mim como um grito silencioso.
Vazio, essa era a única sensação que persistia. O arrependimento, um sabor amargo que se enraizava em minha língua, enquanto minhas lembranças se desvaneciam como sombras em fuga. Não sabia quem eu era, não sabia se ainda restava alguma parte de mim que não estivesse perdida. O peso da incerteza era tão tangível quanto as barras que me aprisionavam, envolvendo-me em um abraço sufocante.
O movimento da gaiola anunciou nosso deslocamento, e, não muito tempo depois, decidi que o sono poderia ser uma bênção naquele momento. No entanto, todos os meus tormentos pareciam persistir, seguindo-me mesmo no esquecimento temporário.
Acordei com um turbilhão de sons caóticos - lâminas cortando o ar, gritos desesperados, gemidos de dor e um estranho farfalhar de asas. A sonolência ainda me envolvia, minha mente pesada demais para decifrar a cacofonia. No entanto, o som das asas provocou uma alucinação, transportando-me para uma lembrança que parecia distante e, ao mesmo tempo, tão vívida.
Caius e Arya, com suas asas desdobradas, uma negra como a própria escuridão, outra branca e resplandecente como o sol. Voavam pelo céu, rindo e brincando como crianças encantadas. Eu os observava com um sorriso radiante no rosto, embora uma pontada de tristeza se aninhasse no fundo de meu ser pela impossibilidade de me unir a eles nos céus.
A euforia dos meus devaneios foi interrompida quando o pano que encobria a gaiola foi brutalmente arrancado, a luz do ambiente me cegando por um momento. Minha visão se ajustou, revelando Caius e minha mãe diante de mim, sorrindo como se nada estivesse errado. Pisquei, surpresa, e a visão se desfez como fumaça. Tentei desesperadamente agarrar os fragmentos daquele sonho febril, ansiando permanecer ao lado da minha família, mesmo que apenas na ilusão.
Uma figura enigmática, vestida nas indumentárias da Sociedade Sagrada, mexia na gaiola, seu rosto oculto pela capa que caía graciosamente. A porta se abriu, revelando um convite implícito para enfrentar meu inevitável destino.
Arrastando-me com uma apatia pesada, coloquei relutantemente os pés para fora da gaiola. A mulher estendia a mão, aguardando pacientemente minha saída. Este era o meu fim, eu pensava, surpreendida por ter perdido a noção do tempo durante o trajeto até a prisão.
Ao absorver o cenário ao meu redor, a realidade se desdobrou como um turbilhão caótico. Uma batalha fervilhava com brutalidade, envolvendo guardas reais, membros da Sociedade, bruxos, humanos e... anjos, com suas asas majestosas e espadas reluzentes, todos envoltos em uma dança mortal.
Quando finalmente fixei meu olhar na mulher a minha frente, tudo pareceu girar em confusão. Ela percebeu minha incerteza e retirou seu capuz, seus olhos fixos nos meus. Olhei para Elorah, a vidente do rei, com medo e surpresa, sem compreender completamente o que estava ocorrendo.
A mulher bufou impacientemente e se aproximou de mim, sussurrando palavras ininteligíveis. Subitamente, os grilhões caíram aos meus pés, uma liberdade inesperada que me atingiu como uma onda.
Toda minha magia e resistência vampírica se chocaram em mim de uma vez, deixando-me atordoada. O mundo girou com essa nova sensação, e eu cambaleei para frente, sendo amparada por Elorah, cujo olhar revelava uma mistura de receio e cautela.
Com sua proximidade, seu aroma me atingiu de maneira avassaladora, minhas presas estalaram involuntariamente, revelando um instinto que eu mal podia controlar.
A bruxa me surpreendeu, estendendo seu pulso em minha direção com um aviso solene:
— Apenas o suficiente para que tenha forças para fugir, Morrigan.
Arregalei os olhos, surpresa não apenas pela oferta, mas também pela revelação de que ela conhecia meu verdadeiro nome. Seus olhos penetraram os meus, como se desvendassem segredos guardados nos recantos da minha alma.
Aquilo parecia uma péssima ideia; fazia tanto tempo desde que me alimentara pela última vez, e a fome devorava cada pedaço da minha sanidade... mesmo assim, afundei as presas em seu pulso, dominada pelo desespero. Seu sangue fluía para dentro de mim com uma urgência que denunciava minha longa abstinência. A cada gota, uma ânsia primal se apoderava de mim, e aos poucos, meu corpo recuperava um pouco de vida.
— Mãe — uma voz exalou ao fundo, carregada de preocupação evidente.
Eu sabia que estava sem controle, mas não conseguia me obrigar a me afastar dela. Estava exausta demais, minha mente envolta em uma névoa de fome e confusão. Entretanto, Elorah era uma bruxa poderosa; suas mãos tocaram em mim, e uma eletricidade dolorosa percorreu meu corpo, forçando-me a soltá-la como se uma descarga de realidade me atingisse.
Braços fortes envolveram a vidente quando ela tropeçou para o lado, e meus olhos se fixaram na figura que murmurava "Mãe" de forma desesperada. Parecia uma alucinação, pois a criatura que amparava a mulher era Damien, o Príncipe que havia dançado comigo.
— Estou bem, não se preocupe, filho — Elorah disse de forma suave — Precisamos nos apressar.
— Vamos tirá-la daqui. — Damien se dirigiu a mim, encarando-me pela primeira vez desde que aparecera.
Dei um passo assustada para trás; eles eram aliados do rei, provavelmente queriam me levar para a Prisão. Olhei ao redor desesperada, procurando uma rota de fuga.
— Não há necessidade disso, menina — Elorah falou enquanto fitava meus olhos assustados — Viemos para resgatá-la, somos das Irmandades da Luz, todos nós.
Ela gesticulou a nossa volta, e encarei em dúvida todos aqueles bruxos e anjos. Talvez eu estivesse louca, talvez ainda me restasse alguma esperança, pois segui os dois com passos trôpegos. Os guerreiros pareciam estar nos escoltando, impedindo qualquer um de se aproximar de nós. Tudo a nossa volta era brutal; os humanos e bruxos leais ao rei lutavam com uma precisão impressionante.
— A guerra se aproxima, e eles estão preocupados em atacar a nós? — vociferou uma nova voz — Deveriam estar preocupados com o verdadeiro inimigo.
Olhei para a nova figura que caminhava ao nosso lado, sem realmente absorver suas palavras. Um homem grande e musculoso, com asas que se estendiam em suas costas. O anjo percebeu minha atenção e acenou para mim, um sorriso discreto curvando seus lábios robustos.
A sensação de estar entre aliados desconhecidos, em meio ao caos da batalha, era como tentar dançar no fio da navalha, enquanto o mundo ao redor explodia em cores e sons destrutivos.
Mais sons de batalha me alcançaram, e me concentrei na confusão que se estendia alguns metros à frente. Mas todo o resto desapareceu quando meus olhos caíram sobre Naeli, lutando bravamente. Todo o ar saiu dos meus pulmões quando avistei, não muito longe, Asher.
Num instante, qualquer preocupação e receio me abandonaram. Nada mais importava além de chegar até eles. Corri com toda a velocidade que conseguia, apesar de ouvir alguém me pedindo para parar. Meus pés batiam no chão com força, rivalizando com as batidas aceleradas do meu coração. Nada mais importava, eu só precisava alcançá-los.
As emoções fluíam como uma correnteza, inundando meu ser. A ansiedade, a alegria e o alívio misturavam-se, formando uma sinfonia de sentimentos intensos. Cada passo era uma jornada em direção à reunificação com eles, e meu coração pulsava em sintonia com a urgência do momento.
Naeli enfrentava a luta com graça e força. Seus movimentos eram uma dança de destemor, uma coreografia que inspirava coragem. Asher estava ali, resiliente no campo de batalha. A visão dele dissipou as sombras que pairavam sobre minha alma, trazendo um raio de esperança.
As vozes ao redor se tornaram murmúrios distantes, abafados pela pulsação acelerada do meu próprio ser. O campo de batalha transformou-se em um palco de emoções, e eu avançava, guiada pela necessidade visceral de estar ao lado deles.
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