Capítulo 23

Seis dias se desenrolaram desde o caos no Palácio, transformando a estalagem em nossa prisão involuntária. Naeli, nossa única conexão com o mundo lá fora, se aventurava ocasionalmente em busca das notícias que dançavam pelos corredores do reino.

A armadilha invisível revelou-se astuta, prendendo seis bruxas na teia que tecera. Uma onda de culpa me arrastou, questionando se as medidas extremas daquela festa foram desencadeadas pelos dois guardas cuja vida se apagou por minha mão.

Na sufocante quietude da estalagem, nos tornamos prisioneiros de nossa própria ansiedade. Asher e Naeli, em um duelo verbal eterno, ecoavam a tensão que impregnava o ar escasso. O medo pairava como um espectro, entrelaçando-se com o estresse que nos consumia, enquanto a fome sussurrava seus lamentos nas entranhas vazias.

Cada segundo se estirava como uma ferida aberta, a incerteza da situação ressoando como um eco incessante. O estresse pintava nossas expressões, olhos injetados de medo, e a fome que devorava a paciência em nossas reservas exauridas.

Naeli nos confidenciou que, até o momento, nossa investida contra as bruxas da Sociedade permanecia um segredo. Contudo, o reino não permanecia alheio à caçada dos culpados. A celebração ainda seguia seu curso, mas o espectro da incerteza lançava sua sombra sobre o Palácio.

A segurança fora ampliada como um escudo reluzente. Aquele que ousasse se aventurar nos corredores do poder corria o risco de se enredar nas teias de uma busca incansável.

Fugir do reino tornara-se uma jornada incerta, os portos vigiados como sentinelas implacáveis. O relógio da nossa sorte girava em compasso com os murmúrios do reino, e nossas opções se reduziam a escolhas arriscadas e terreno minado.

Chegamos a um plano de fuga ousado e repleto de riscos, mas com a promessa de êxito se executado com precisão.

Naquele dia, Naeli desencadeou uma ameaça direta ao castelo, uma manobra ousada para inquietar as mentes reais e concentrar suas forças no cerne do poder. Os detalhes exatos da ameaça permaneciam velados para mim, envoltos em mistério e segredo. Contudo, logo os rumores se espalharam como fumaça pelo reino, sussurravam sobre o Palácio mergulhado no caos, uma dança tumultuada alimentada pela intriga e pelo medo.

Tudo estava meticulosamente preparado, desde os pertences essenciais até uma embarcação aguardando silenciosa em um cais distante da capital. Amigos da vampira asseguraram essa rota de fuga. O tempo era um aliado traiçoeiro, e nossas esperanças residiam na arte da fuga rápida e na benevolência dos deuses.

À medida que nos aproximávamos do momento crucial, a ansiedade se entrelaçava com a antecipação, como se o destino estivesse pendurado em um fio invisível, pronto para oscilar entre a liberdade e a captura.

Apesar da ameaça iminente, a realeza persistiu no último dia da celebração, não ousando cancelar a festa. Enquanto a festividade atingia seu auge, nós nos preparávamos para a tão aguardada busca pela liberdade.

Naeli, portadora de nossas esperanças, partiu antecipadamente para finalizar os detalhes com seus aliados. Aguardávamos impacientes, a tensão no ar aumentando à medida que o tempo se esticava, e ela não retornava.

A ansiedade tornou-se palpável, envolvendo-nos como uma névoa densa. O medo por ela permeava meus pensamentos, enquanto Asher, com seu discernimento afiado, já sugeria a possibilidade de uma fuga solitária por parte dela.

Não podia ser verdade. Naeli não nos ajudara naquele dia por mero acaso; ela nos guiara pelo castelo, compartilhando conosco uma rota para a liberdade. Abandonar-nos agora seria uma contradição que eu relutava em aceitar.

A inquietação de Asher ecoava pelo quarto, seus passos frenéticos quase abrindo um buraco no chão. Seu nervosismo, contagioso como uma febre, envolvia-me em uma espiral de pensamentos confusos. Já não conseguia discernir a linha tênue entre a confiança e a desconfiança, presa em uma teia de incertezas enquanto aguardávamos o destino que a lua iluminava implacavelmente.

O vampiro, sucumbindo à impaciência, decidiu se aventurar em busca de Naeli, deixando-me com a incumbência de aguardar. Enquanto ele desaparecia nas sombras da noite, tornou-se minha vez de peregrinar ansiosa pelo cômodo, o nervosismo me consumindo em um frenesi incansável.

Minhas divagações foram abruptamente interrompidas por uma batida insistente na porta. Eu estava tão imersa em meus próprios pensamentos que negligenciei meu entorno. Parei, meu olhar fixo na entrada, ouvindo atentamente. A princípio, imaginei ser Asher, já que ele havia insistido para trancar a porta.

No entanto, não era apenas uma respiração solitária ecoando do outro lado. Eram muitas, uma sinfonia desordenada de sons que permeava a madeira da porta. Merda, merda, merda.

A incerteza sibilava em meu âmago enquanto eu avaliava as opções diante de mim. Descartando a porta, confrontada com a cacofonia de respirações do lado de fora, optei pela janela. Sem pensar duas vezes, já que a queda não representaria minha sentença de morte, abri-a e me lancei na escuridão da noite.

A queda não era significativa, mas o solo me recebeu com uma brutalidade surpreendente, o impacto desorientando-me por um instante. Ao recobrar a consciência, percebi meu erro imediatamente. Deveria ter avaliado a situação antes de dar aquele salto impulsivo. A rua, agora diante de mim, estava repleta de guardas reais, membros da Sociedade Sagrada e um punhado de bruxas.

Meu coração acelerou descontroladamente, as batidas ressoando por todo o meu corpo. O medo me envolveu como uma sombra sinistra, e eu encarava a cena diante de mim, desnorteada.

Antes que pudesse formular um pensamento ou tomar uma decisão, um feitiço me atingiu de surpresa, lançando-me com uma força cruel contra a parede próxima. O impacto expulsou o ar dos meus pulmões, deixando-me momentaneamente sem fôlego diante da súbita reviravolta.

Um dilúvio de feitiços impiedosos me atingiu antes que eu pudesse erguer um escudo defensivo. Uma dor avassaladora, como uma tempestade infernal, envolveu-me, fazendo-me cambalear atordoada.

As bruxas recuaram, dando lugar aos avanços impiedosos dos guardas. Desferi golpes desesperados, meus punhos cerrados em uma tentativa de resistência. O primeiro a tentar me conter caiu no chão com um golpe certeiro no queixo. O segundo foi mais difícil; ele bloqueou meu soco e revidou com um chute no estômago.

Eu cambaleei para trás e caí no chão duro da rua. A dor latejante se espalhou pelo meu corpo enquanto eu lutava para recuperar o fôlego. Os guardas se aproximaram lentamente enquanto eu tentava me levantar.

Desesperada, tentei invocar o pentagrama, mas minha energia estava quase esgotada. O pentagrama faiscou brevemente antes de desaparecer, levando consigo qualquer lampejo de esperança que eu ainda sustentasse. O peso da derrota pairava sobre mim, enquanto eu enfrentava a inevitabilidade de ser envolvida pela escuridão que se fechava ao meu redor.

As correntes foram colocadas com força, causando desconforto nos meus pulsos. Eu me debatia, lutava e resistia com todas as minhas forças, mas sabia que era uma batalha perdida. Continuei lutando até que meus braços cederam e minha visão foi obscurecida pelo sangue que escorria da minha testa.

Tudo ao meu redor perdeu o foco enquanto eu lutava para manter a consciência. A dor latejante se espalhou pelo meu corpo enquanto eu tentava me libertar das correntes que me prendiam.

Meus últimos pensamentos antes de finalmente cair no esquecimento, foram uma pequena prece, desejando sinceramente que Asher e Naeli não tivessem enfrentado o mesmo destino difícil que agora se desdobrava para mim.

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