Capítulo 21
O sorriso do Príncipe iluminou seu rosto, irradiando satisfação enquanto estendia a mão na minha direção. Com hesitação, inclinei-me em uma breve reverência, antes de unir nossas mãos e sentir seus dedos da outra extremidade envolverem respeitosamente a região pouco acima da minha lombar.
Diferentemente da dança com Asher, onde me movia suavemente, com ele eu estava rígida, meus movimentos travados pelo nervosismo que aquele homem evocava.
Por que ele me convidou para dançar? Perguntas sem resposta giravam incessantemente em minha mente, enquanto nos deslocávamos pelo salão, atraindo olhares curiosos de todos ao redor.
— A propósito, sou Damien Vittorio Taradir. — Sua voz ressoou pelo meu corpo devido à proximidade, intensificando minha rigidez.
Estava prestes a revelar meu nome, mas hesitei. Péssima ideia. Ele não deveria saber quem eu sou. Já era ruim o suficiente que visse meu rosto; por que não escolhi uma fantasia com máscara? Definitivamente, usar meu verdadeiro nome era uma ideia terrível, mas então, qual deveria escolher?
— E a senhorita é? — incentivou ele, notando minha hesitação.
— Luna, Vossa Alteza. — soltei, talvez instigada pela busca de auxílio da Deusa da Lua.
— Apenas Damien está suficiente. — Ele recuou ligeiramente para estudar meu rosto. — Sem sobrenome?
— Sem família, Alteza. — Minha resposta foi rápida, transmitindo claramente minha preferência por manter certas fronteiras.
— E você é de Zeranth? — O Príncipe enfatizou o "você", mostrando-se à vontade com intimidades.
— No momento, sim, Vossa Alteza. — Minhas respostas fluíam, uma tentativa de ocultar qualquer hesitação.
Damien girou-me em seus braços, proporcionando um vislumbre rápido de Asher, cuja expressão tensa denotava preocupação. Não estava sozinho nesse desconforto.
Na volta seguinte, meus olhos caíram nos nobres reunidos ao redor do tablado. Uma sensação desagradável tomou conta de mim, pois percebi que todos observavam a cena. As expressões variavam de curiosidade a desconforto, como se o simples ato do príncipe de Aranthia dançar com uma plebeia fosse um ultraje.
Damien notou meu desconforto, e seus olhos seguiram a direção dos meus. Sua mão ousada desceu um pouco, alojando-se em minha lombar e puxando-me para mais perto, em uma ação quase obsessiva. Prendi a respiração nervosamente; aquela proximidade era completamente inadequada, especialmente em meio à realeza e, indiscutivelmente, com o Príncipe.
A música parecia se prolongar indefinidamente, meus passos duros acompanhando os seus, tão confiantes e descompromissados. Pelo menos, as perguntas pareciam ter cessado. Tudo o que eu desejava era que aquela dança terminasse logo para que eu pudesse retornar à segurança reconfortante de Asher.
Num movimento que me fez pular de susto, o homem conseguiu reduzir ainda mais nossa distância, pressionando meu peito contra o seu. Respirei fundo em busca de ar, e essa talvez tenha sido a pior ideia que eu tive. Seu aroma me invadiu, uma mescla doce com algo cítrico. O calor do seu corpo me inundou, mesmo através de sua roupa requintada e espessa. No entanto, não foi o cheiro que fez minha boca salivar, mas a lembrança da realeza ali, parada diante do julgamento, comemorando satisfeita a morte de uma "bruxa".
Sem pensar, minha mão, que descansava em seu ombro, subiu até seu pescoço, apertando com firmeza, enquanto a outra apertava sua mão. Estava um pouco ofegante, tentando controlar o desejo raivoso de enterrar meus dentes nele. Podia sentir minha magia em uma corrida frenética, tentando emergir e agir. Sussurros intensificaram-se em minha mente, tentando me incentivar a algo que eu não compreendia.
O Príncipe interpretou minhas ações de forma completamente equivocada, pois a mão que estava na minha a puxou para sua nuca e, em seguida, desceu, apertando minha cintura com um frenesi notável.
A música acelerou, e nossos passos acompanharam o ritmo, como se estivéssemos em uma corrida frenética rumo a um objetivo indefinido. O salão tornou-se um borrão, e eu engolia em seco, sentindo a música se aproximar do seu grandioso fim. Os músicos atingiram o ápice antes de encerrarem com maestria. Ao fundo, o rei discursava algo, mas minha atenção estava congelada no príncipe, que me fitava de volta com uma expressão indecifrável.
Com um esforço palpável, desgrudei nossos corpos. Ao sair do transe, uma onda de constrangimento me atingiu, ciente de como a cena deve ter parecido para todos os presentes.
Damien foi ágil, segurando minha mão antes que eu pudesse me desvencilhar completamente.
— Você irá comparecer nos próximos dias de celebração? — Ele questionou com a voz rouca.
— Talvez. — Respondi evasiva, retirando minha mão da sua e lhe dedicando uma reverência.
Girei nos calcanhares antes que ele pudesse entender completamente o que eu estava fazendo e saí apressada em busca de Asher.
O vampiro estava próximo da mesa do banquete, no mesmo lugar onde o vi durante a dança. Não consegui entender sua expressão; seu rosto estava fechado, seus olhos apertados, e quando parei na frente dele, percebi um tique em sua mandíbula.
— O que foi aquilo? — Asher questionou, sua voz mal passava de um sussurro, mas era grossa, e ainda a senti retumbando.
— Eu não faço ideia — respondi com sinceridade — Não sei por que o Príncipe quis dançar comigo.
— Não estou falando da dança. — Suas palavras saíram em meio a um grunhido — Vocês estavam... deixe para lá.
O vampiro simplesmente virou as costas e seguiu para onde a multidão ia, pisando duro, sua forma tensa.
— Onde vamos? — perguntei enquanto me apressava para segui-lo.
— Você nem ouviu o que o Rei disse, Luna? — Ele retrucou sarcástico enquanto me observava de soslaio, um grunhido de irritação escapando dele.
Então ele estava ouvindo minha conversa. Bem, a verdade era que ouvi o rei dizendo algo, só não captei o quê, não que eu fosse admitir. Por algum motivo, ele estava bravo comigo.
Segurei suas mãos, parando seus passos; a maioria das pessoas já se encontravam no que naquele momento eu percebia ser um enorme jardim. Olhei em seus olhos procurando respostas, mas não encontrei nenhuma naquele abismo negro.
— O que foi? — perguntei afinal, minha voz transmitindo minha insegurança.
Asher desviou seus olhos dos meus e me puxou delicadamente para continuarmos andando. Depois de um tempo que pareceu infinito, ele finalmente parou em um canto isolado do jardim e me encarou.
— Vocês estavam agarrados. — Ele soltou, sua voz derramando desgosto.
— Oh, não, eu... — Por que ele estava tão bravo? Seria pelo seu ódio pela realeza? — Eu estava faminta.
Nada além da verdade, ou talvez, quase toda ela. Não seria bom dizer que eu estava em um transe estranho, ouvindo vozes sussurrando para eu fazer algo questionável.
Asher arregalou os olhos em compreensão, então toda sua postura relaxou, daquele jeito despreocupado que só ele conseguia fazer.
— Melhor manter Príncipes longe do cardápio, Luna — ele sorriu de lado — Arriscado demais.
— Eu diria que aprendi minha lição. — Brinquei, tentando dissipar a tensão.
Asher assentiu, os olhos faiscando divertidos, me fazendo sentir um misto de alívio e gratidão pela sua reação compreensiva.
— Vamos, então. Talvez uma caminhada noturna pelo jardim ajude a clarear a mente. — Ele ofereceu o braço, e eu aceitei, agradecendo pelo momento de descontração.
À medida que meus olhos se deleitavam com o jardim, uma sensação de deslumbramento se apoderou de mim. Era vasto, repleto de tons exuberantes de verde, com flores delicadamente espalhadas, criando uma sinfonia visual. Labirintos de caminhos se entrelaçavam por todo lado, oferecendo a promessa de descobertas encantadoras.
Enquanto vagávamos pelas trilhas silenciosas, a conversa leve fluía, tornando-se um antídoto eficaz contra as tensões recentes. O suave sussurrar das folhas e o canto distante das cigarras contribuíam para a atmosfera noturna, envolvendo-nos em uma paz bem-vinda.
O aroma das flores noturnas impregnava o ar, envolvendo-nos em uma fragrância doce e tranquilizadora. A cada passo, eu me sentia mais conectada à noite, deixando para trás as sombras da dança real e abraçando a serenidade da escuridão.
À medida que a noite avançava, eu buscava manter um equilíbrio delicado entre minha consciência e as trevas que se insinuavam à minha volta. O jardim, como um mosaico de mistério, revelava-se aos poucos, e eu me via mergulhada em sua beleza enigmática.
A noite passou rápida e confortável, e eu não cruzei o caminho com o Príncipe novamente, o que era ótimo. Como Asher havia previsto, todos estavam bêbados, festejando como se não houvesse fim, não era sempre que se podia celebrar dentro do castelo dourado.
Avistei um homem de manto negro, suas vestes mais simples do que as do líder da Sociedade ou aquele que estava no estrado. Seus passos eram duros, seu semblante fechado, como se fosse um grande incômodo estar na companhia do povo.
Continuei com a atenção fixa no homem, enquanto ele entrava em um dos labirintos. Nessa altura, quase todos estavam próximo do banquete lá dentro ou caindo bêbados do lado de fora; a realeza já havia se retirado, aparentemente já tendo gastado muito tempo com seu próprio povo.
O membro da Sociedade deve ter escolhido aquele caminho para se afastar. Parecia tranquilo e abençoadamente vazio, uma ótima escolha, de fato... para mim.
Fitei Asher com um sorriso travesso; ele estava olhando para a mesma direção.
— Nada de Príncipes, mas e quanto aos fanáticos? — Perguntei com uma sobrancelha arqueada.
— Acho que está na hora de você aprender a comer sem fazer bagunça — Asher retrucou, rindo.
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