Capítulo 14
— Vamos tentar de novo! — insisti com determinação.
— Mantenha a calma, Caius. Vamos encontrar uma maneira. — Selene tentou tranquilizar-me, embora o desespero traísse seus olhos.
Seu olhar se fixou no mapa detalhado de Aranthia que repousava sobre a mesa de carvalho polido.
— Persequi Viam Retiae. — Selene repetiu o encantamento, mas a gota de sangue permanecia obstinadamente imóvel.
— É frustrante. Este feitiço é tão poderoso, deveria funcionar. — Sua voz revelava derrota, um suspiro escapando como testemunha de seu desânimo. — É possível que tenham feito algum tipo de bloqueio.
— Não. — Hecátia entrou no cômodo, sua presença enigmática preenchendo o ar. — Até mesmo eu estou encontrando dificuldades para rastreá-la. É como nas visões que tenho, uma névoa densa obscurecendo o caminho. Isso sempre aconteceu.
— E você não consegue perceber se alguém a sequestrou? Se foram eles... — Minha voz tremia, o desespero transparecendo a cada palavra.
— Minhas visões são limitadas, apenas sinto que ela está viva. — Hecátia me encarou, seus olhos adquirindo aquela qualidade esfumaçada que precedia suas visões. — Diferentemente de sua filha. Ela está preocupada, seu estado é frágil, e a curandeira está cuidando dela. Arya sente sua apreensão, Caius. Ela sabe que algo está terrivelmente errado além do simples desaparecimento.
Minhas mãos tremiam levemente, e eu lutava para manter a compostura. Olhei de Selene para Hecátia, buscando respostas que pareciam esquivar-se de nossos esforços. As emoções tumultuavam dentro de mim, uma tormenta furiosa de preocupação e medo.
Eu precisava ser forte, tanto por Morrigan quanto por Arya e seu futuro filho. Mas a tormenta de emoções dentro de mim estava difícil de conter. Enquanto a incerteza pairava sobre nosso círculo, o medo daquilo que estava por vir crescia como uma sombra opressora.
— Por que vocês três estão trancados aqui? — Lúcio indagou ao abrir a porta, sua voz trovejante ecoando na sala.
— Estamos tentando localizar Morrigan — respondeu Selene com suavidade.
— A garota têm dezenove anos, provavelmente está por aí dando uma volta. — Seu olhar varreu a sala, examinando cada um de nós. — Sabe o que é curioso? O nível de desespero e essas reuniões secretas. Acham que sou cego? Ou que Arya não percebeu nada disso? É por causa disso que ela agora está sob os cuidados da curandeira.
Lúcio se aproximou, suas sobrancelhas franzindo enquanto observava nossos rostos em busca de qualquer sinal de trapaça. Seu semblante sério estava cercado por uma barba rústica, e sua expressão denotava uma mistura de ceticismo e cautela.
Selene respirou fundo, suas mãos inquietas agora repousando sobre a mesa de carvalho. Seu olhar encontrou o de Lúcio com firmeza, mas também com um toque de culpa.
Olhei para Hecátia, cujos olhos esfumaçados permaneciam fixos no mapa de Aranthia, como se buscasse respostas nas linhas desenhadas.
Lúcio soltou um suspiro exasperado, sua expressão amolecendo ligeiramente.
— Se há algo que não sei, vocês precisam me contar. Não somos apenas um bando de desconhecidos aqui. É da minha filha que estamos falando.
— Sim! Ela é sua filha e você parece tão despreocupado. — minha resposta saiu exaltada. — Estamos aqui porque estamos preocupados. Já se passaram quatro dias desde o desaparecimento dela, e tudo o que queremos é encontrá-la.
O olhar de Lúcio se fixou em mim, e em um piscar de olhos, sua expressão mudou, adotando um negro absoluto, como se sua forma lupina estivesse lutando para emergir por um instante fugaz.
— Por que você tem tanta certeza de que Morrigan está bem? — Hecátia perguntou, interrompendo o que quer que o lobo pretendesse dizer.
A atmosfera parecia prestes a explodir, enquanto todos enfrentávamos as incertezas e os segredos que haviam sido mantidos.
Lúcio olhou para Hecátia, seus olhos voltando à sua tonalidade normal, embora o turbilhão interior permanecesse visível.
— Ela conversou com Arya durante o eclipse, perguntando se talvez a Deusa atenderia seu pedido. — Lúcio falou, sua voz baixa, mas ainda assim suas palavras ecoaram pelo ambiente.
— Ela é jovem, nunca saiu daqui, então talvez tenha decidido sair para um passeio, talvez em busca desse pedido. — Acrescentou em tom pensativo.
— Talvez? — minha voz soou autoritária. — Você está baseando a vida de sua filha em um "talvez"?
Lúcio soltou um rosnado baixo, sua voz misturando-se a um tom de desafio.
— Acha que estou apenas parado sem fazer nada? A matilha inteira está tentando rastrear o cheiro dela. Enquanto isso, os bruxos estão realizando feitiços para encontrá-la. O que me preocupa é que os três estejam agindo secretamente, como se estivessem escondendo algo. E pior ainda, parecem mais propensos a acreditar no pior cenário possível, como se não fosse sequer uma opção que ela esteja bem.
O ar ficou pesado com a tensão entre nós. Lúcio estava certo em expressar sua preocupação, mas nossas ações eram motivadas pelo amor e pelo desejo de proteger Morrigan.
Selene lançou um olhar compreensivo a Lúcio. — Nós não estamos escondendo nada, Lúcio. Todos nós estamos angustiados com o desaparecimento de Morrigan. E, como você, tememos pelo pior, mas também mantemos a esperança.
— O que estão fazendo? — indagou Caleb ao entrar no sótão, trazendo consigo uma pitada adicional de tensão.
— A herdeira das trevas está despertando. — A voz de Hecátia cortou o silêncio, carregada de um tom enigmático. Seus olhos, enredados em espirais de fumaça, pareciam capturar todo o conhecimento do universo. — Morrigan Bellevoir em breve comprirá a promessa.
— Bellevoir? — questionou Caleb, franzindo as sobrancelhas, claramente confuso.
Meu coração acelerou. A presença de Caleb e o conhecimento que ele e Lúcio ganhariam eram o último cenário que eu desejava. Era um quebra-cabeça perigoso demais para compartilhar com eles, e a sombra da guerra que pairava ameaçadoramente sobre nós me aterrorizava.
— Eu exijo saber que merda está acontecendo aqui! — bradou Lúcio, sua voz um trovão furioso que sacudiu as paredes do sótão.
Lancei um olhar acusador a Hecátia, minha mente desesperadamente buscando uma saída.
— Caius, você sabe que isso não foi intencional. Não ouse me olhar assim. — Hecátia começou a explicar, sua voz endurecendo à medida que falava. — Foi uma visão, algo que não posso controlar. Chegou a hora de contar a eles.
Engoli em seco, a negação profunda me consumindo. Como poderia revelar o segredo que mantive enterrado por tanto tempo?
— Não acho...
— Agora porra, conte agora de que merda estão falando! — Lúcio esbravejou me interrompendo.
Selene se ergueu lentamente, aproximando-se do lobo furioso com uma calma admirável. Sua mão repousou com suavidade sobre o ombro de Lúcio, uma âncora silenciosa de conforto. Então, seus olhos se encontraram com os meus, uma breve inclinação de cabeça transmitindo uma mensagem clara: era hora de revelar tudo.
Desviei o olhar para Hecátia, cuja determinação estava espelhada em seus olhos enevoados.
Suspirei, derrotado, e comecei a contar... tudo. Os segredos obscuros que carregávamos, as escolhas difíceis que fizemos e o inevitável confronto que se aproximava. As palavras saíram lentamente, cada frase uma espada atravessando minha alma enquanto revelava as verdades há muito tempo enterradas.
Conforme as revelações se desenrolavam, um misto de choque, raiva e preocupação se espalhou pelos rostos dos lobos. O ar estava carregado de tensão, uma eletricidade palpável que refletia o peso das decisões passadas e o iminente confronto que nos aguardava.
— Você! — Lúcio vociferou, apontando na minha direção, sua raiva transformando a palavra em um rosnado ameaçador. — Escondeu isso de Arya? Escondeu de todos nós? Agora minha filha está por aí, sem saber do perigo que a ronda, seu maldito.
Como um raio, Lúcio se lançou em minha direção. Seu corpo sofreu uma metamorfose abrupta, transformando-se em uma figura imponente de lobo. Suas patas derrubaram algumas das coisas no sótão de Selene enquanto ele avançava implacavelmente em minha direção, sem hesitar nem por um segundo.
A fúria em seus olhos era uma chama incandescente de desespero e traição, uma manifestação visível do tormento que ele estava sentindo.
Meu coração disparou em pânico, mas não tive tempo para processar o que estava acontecendo. Instintivamente, ergui uma barreira mágica para me proteger, mas o impacto do lobo de Lúcio a atingiu com uma força avassaladora. A barreira estremeceu e cedeu sob o ataque, e o impacto me lançou para trás, meu corpo colidindo com a parede do sótão.
Ouvi as vozes distantes de Caleb e Selene gritando, suplicando para que o lobo feroz de Lúcio recuasse. A tensão estava sufocante no ar, uma mistura de medo e adrenalina que formava um nó em meu estômago.
Preparava-me para revidar, mas Hecátia rapidamente me envolveu em uma espécie de casulo mágico. O casulo oferecia uma proteção temporária contra o ataque de Lúcio, mas também me impedia de fazer qualquer movimento agressivo.
— Já chega! — A voz da vidente ecoou, cortando através dos rosnados. — Temos problemas maiores para enfrentar.
A transformação de Lúcio começou a reverter gradualmente, suas feições lupinas cedendo lugar à forma humana. Selene trouxe roupas para ele, que logo estava vestido novamente, seus olhos lançando-me um olhar carregado de hostilidade.
Lúcio deu um passo à frente, seus dedos cerrados em punhos tensos. — Vou contar a elas. — Sua voz era firme, carregada com a determinação de um pai aflito.
— Não, você não vai. — Hecátia brandou, sua voz soou com autoridade. — Arya já está frágil o suficiente, e isso não fará bem a ela ou ao bebê que carrega. Além disso, neste ponto, revelar a Morrigan só aceleraria o desencadeamento da maldição.
A bruxa começou a circular pelo cômodo, seus olhos perdidos entre as visões que a transcendiam. Finalmente, ela escolheu uma das cadeiras e se sentou, lançando um olhar a cada um de nós.
— Agora, todos sentem-se. Vamos resolver isso como os seres civilizados que somos. — Sua voz continha um misto de urgência e serenidade, um convite para a razão prevalecer sobre a ira e o desespero que se apoderaram de nós.
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