Capítulo 08

Depois de dias remoendo minhas inquietações, minha mente estava uma bagunça de pensamentos conflitantes. Pesava cuidadosamente os prós e contras de compartilhar meus sentimentos com alguém, tentando equilibrar a necessidade de desabafar com o medo de ser incompreendida.

Elisa e Caleb surgiram como as escolhas mais óbvias. Neles que eu depositava minhas esperanças de compreensão e apoio.

Analisei suas características e dinâmicas de relacionamento, buscando uma resposta.

Caleb era um amigo excepcional, com quem compartilhava uma cumplicidade única. No entanto, embora desejasse me ajudar, eu sabia que ele poderia não compreender totalmente meus anseios. Além disso, Caleb tinha o hábito de me pressionar, investigando cada canto escuro da minha mente até obter as respostas que desejava.

Por outro lado, Elisa era uma alma gentil e calorosa. Embora talvez não entendesse completamente meus sentimentos, ela possuía o dom de ouvir sem julgar. Sua doçura e inocência eram um refúgio seguro para mim.

No momento, Elisa era a opção mais segura, alguém em quem eu poderia confiar para me ouvir sem questionar.

Encontrei-me diante da porta dela, meu coração batendo ansiosamente no peito. Quando Elisa abriu a porta, fui envolvida por seus braços acolhedores em um abraço apertado que dissipou todas as minhas apreensões.

Ela segurava uma xícara de chá fumegante, cujo aroma doce e reconfortante preenchia o ar. Sentamos juntas em um banco de madeira desgastado.

O lugar era aconchegante, um refúgio onde segredos poderiam ser compartilhados e lágrimas derramadas.

Hesitei por um momento, sem saber como começar, mas o olhar calmo e reconfortante de Elisa me encorajou a falar.

Contei a ela sobre o encontro com Asher, as emoções turbilhonantes que me assombravam e os questionamentos que atormentavam minha mente.

Era como se um redemoinho de pensamentos opostos estivesse me puxando em direções diferentes, desafiando a harmonia entre minha verdadeira natureza e as expectativas que me foram impostas desde a infância.

Sua presença acolhedora me incentivava a me abrir completamente, a revelar as profundezas do meu ser.

Elisa escutava atentamente, expressando compaixão e empatia em seu rosto enquanto minhas palavras encontravam seu caminho até ela.

Ao compartilhar cada detalhe, cada turbulência emocional, senti como se estivesse liberando um fardo que carregava em minhas costas.

— Então... ele é bonito? — perguntou ela com um sorriso travesso nos lábios, quando enfim terminei de falar.

Eu tinha acabado de contar que sentia vontade de comer pessoas, mas é claro que sua atenção estava totalmente voltada para a aparência do vampiro que conheci.

— Isso realmente importa? — questionei, tentando desviar o foco da conversa.

Com um risinho, ela respondeu:

— Sim, uma descrição detalhada é completamente necessária.

Revirei os olhos, mas acabei descrevendo Asher, talvez com detalhes excessivos, considerando sua reação.

— Você realmente prestou atenção, não foi? — disse, enquanto seu tom de voz continuava brincalhão.

— Esse não é o ponto... — respondi, tentando trazer a conversa de volta para a questão principal.

Ela ponderou por um momento antes de continuar:

— Certo, bem, se você está sentindo essa vontade incontrolável, talvez seja melhor experimentar antes que perca o controle.

Fiquei olhando para ela perplexa, sua solução parecia tão simples, como se não estivéssemos falando de algo que ia contra tudo o que eu havia sido ensinada.

Uma mistura de curiosidade e incerteza se espalhou dentro de mim. Eu sabia que a sede de sangue estava cada vez mais forte, e a perspectiva de experimentar era tentadora.

Mas uma parte de mim ainda resistia, questionando...

Suspirei profundamente, tentando organizar meus pensamentos em meio a essa tempestade interna.

— Mas não sabemos se eu tenho o poder de apagar memórias, Lis — respondi, minha voz trêmula. — E além disso, não é errado? Afinal, não é isso que o caminho da Luz nos ensina?

Elisa mergulhou em profunda reflexão, seus olhos fixos em algum ponto distante, como se estivesse pesando cuidadosamente suas palavras.

— Não sou a melhor pessoa para falar sobre isso, mas será que não existe algum feitiço para apagar memórias? — ela sugeriu, sua voz carregada.

Bem, se existia, certamente não fazia parte dos grimórios da Luz. Eu sabia que Selene guardava alguns grimórios sombrios em seu porão, embora ninguém me permitisse espiar esses feitiços.

— Não que eu conheça. Mas enfim, essa não é a questão... — murmurei, minha voz vacilante. — Perguntei se você não acha errado fazer isso...

Elisa me olhou nos olhos, suas feições transmitiam empatia e compreensão.

— Se você apenas se alimentar e o deixar ir, não, eu não acho errado, Mor — ela respondeu suavemente.

Suas palavras trouxeram um alívio para minha alma atribulada. Mas uma dúvida persistia, uma sombra de inquietação que eu não podia ignorar.

Elisa percebeu minha inquietação e, em um gesto inesperado, se aproximou de mim. Seus longos cabelos dourados sendo puxados sobre o ombro, revelando a delicada curvatura de seu pescoço.

Por um momento, senti o cheiro doce de sua pele, a pulsação do sangue correndo em suas veias.

— Experimente — disse ela suavemente, inclinando o pescoço em minha direção. — Você não está mexendo com a minha memória, nem fazendo algo contra minha vontade.

Fiquei olhando-a fixamente, aturdida pela sua proposta. Elisa estava disposta a me oferecer a oportunidade de satisfazer minha sede de sangue, sem causar danos a ninguém.

A ideia parecia tão fora dos limites da minha compreensão, tão temerária e perigosa.

No entanto, Elisa notou minha perplexidade e revirou os olhos, como se estivesse impaciente com minha hesitação.

— Você tem vontade de experimentar, vamos Mor, eu confio em você! — insistiu ela, sua voz firme.

Seu apelo reverberou em meu interior, ecoando nas profundezas da minha mente atormentada.

Era tentador ceder à sua oferta, explorar o desconhecido e buscar uma solução para minha sede insaciável. Um turbilhão de emoções me envolveu, alimentando minha insegurança e meu desejo.

Aquilo seria uma traição aos ensinamentos que me foram incutidos, uma transgressão de tudo o que eu acreditava.

Enquanto lutava com minhas próprias contradições internas, o olhar sincero de Elisa permaneceu fixo em mim, cheio de compreensão e solidariedade. Era como se ela pudesse ver além da minha aparência e vislumbrar a luta que se desenrolava em minha alma torturada.

Algo que Caius me disse piscou no fundo da minha memória:

— Caius disse que era perigoso experimentar,  que eu poderia perder o controle — protestei, repetindo as palavras ditas um dia para mim.

— Mor, você não vai me machucar, confio em você! — retrucou ela de forma concisa.

Uma prova, uma simples prova. Talvez ela estivesse certa, eu inevitavelmente sucumbiria e poderia facilmente desencadear uma verdadeira tragédia.

Minha mente se agitava com inquietação enquanto eu ponderava sobre as possíveis consequências da minha fraqueza. Com o coração apertado, sentia uma mistura de medo e desejo conflitantes, como uma tempestade furiosa dentro de mim.

Me aproximei de Elisa e, lentamente, toquei seu pescoço com meus lábios, sentindo a pulsação de suas veias contra minha boca.

Uma onda de excitação percorreu meu corpo, uma mistura arrebatadora de anseio e receio.


Por um instante, permanecemos imóveis, envoltas em um silêncio carregado de expectativa. Eu podia sentir o aroma sutil do seu perfume mesclado com o cheiro tentador do sangue que corria sob sua pele.

Seria capaz de me controlar? Seria capaz de parar quando necessário? Ou seria arrastada para um abismo de prazer insaciável, perdendo a noção de tudo ao meu redor?

Mas, a confiança que Elisa depositava em mim era como um farol em meio à escuridão. Eu sabia que tinha que confiar em minha própria força, em minha capacidade de resistir ao chamado do sangue, mesmo quando ele pulsava tão próximo de mim.

Com um movimento lento e cuidadoso, desci minhas presas e pressionei contra a pele macia de Elisa, sentindo a textura delicada se ceder sob minha pressão.

Um sabor metálico e intenso inundou minha boca, despertando meus sentidos mais primitivos. O gosto do sangue era ao mesmo tempo doce e amargo, uma mistura arrebatadora que envolvia minha língua e desencadeava uma sensação indescritível de êxtase.

Cada gota de sangue que eu bebia era como um elixir, fortalecendo meu ser e aplacando temporariamente minha sede insaciável.

O calor vital se espalhava por todo o meu corpo, uma energia pulsante que me fazia sentir viva como nunca antes.

Minhas mãos tremiam levemente, um reflexo da batalha interna que se desenrolava dentro de mim. O desejo de me alimentar era intenso, uma fome insaciável que clamava por saciedade.

Mas também havia um fio de consciência que me mantinha ancorada, que me recordava dos perigos que espreitavam em cada gota de sangue.

Havia uma linha tênue que eu precisava percorrer, controlando minha sede voraz para não me perder em um abismo de prazer desenfreado.

Com cada gole cuidadosamente medido, uma sensação de satisfação e alívio se apoderava de mim. Minhas mãos deixaram de tremer, revelando a calma que eu encontrava dentro da batalha interna que se desenrolava.

Ao afastar meus lábios do pescoço de Elisa, soltei um suspiro, sentindo-me aliviada por ter conseguido resistir à tentação de ir além dos limites.

Eu sabia que aquela experiência tinha sido um ponto de virada, um passo corajoso em direção ao desconhecido que me aguardava.

Em silêncio, abracei Elisa com força, sentindo a gratidão e a ternura se entrelaçarem em meu coração. Aquela amizade, aquele apoio incondicional, eram um tesouro inestimável em meio às minhas angústias.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top