Precisa-se

No caminho para casa pensei em Tom e me senti culpada por ter deixado Theo me deixar tão sem chão, senti como se o tivesse traido, mesmo que no momento eu não soubesse bem o que nós erámos.
No momento em que eu passei pela porta da sala vi Tom sentado no sofá com a televisão desligada, quando a porta abriu vi ele agarrar rápidamente o controle e liga-la, sorri ao perceber o que ele estava fazendo.

- Oi Tommy. - Eu disse ainda sorrindo.- O que tem de bom na TV hoje?

Me joguei ao seu lado no sofá, mas claro mantendo uma distancia razoável.

- Ah só os programas de sempre.

Na tela o jornal acabava de começar, vi sua bochecha corar.

- Josh está em casa? - Perguntou Rachel enquanto colocava sua cesta no balcão da cozinha.-

- Está no quarto. - Respondeu Tom.-

- Então vou deixar vocês se constrangendo sozinhos por um tempo.

Eu ri, mas Tom não. Rachel subiu as escadas e não houve nenhuma palavra até o barulho do sapato dela no piso desaparecer.

- Como foi o passeio?

- Exatamente o que eu precisava.

- Fico feliz. Entao...

- Tom. - O interrompi.- Foi exatamente o que eu precisava porque foi hoje que eu percebi que preciso ser honesta com você sobre como eu me sinto e o porquê me sinto assim.

Seus olhos me encaravam com alguma esperança, eu não sei o que ele queria ouvir, mas eu diria totalmente o contrario.

- Eu não posso ficar com você, pelo menos não agora nessa fase onde a grávidez da Melissa vai ser o centro de tudo, ela vai precisar de você mais do que eu preciso e eu não vou aguentar estar tão perto daquilo que eu não posso dar para você.

Ele segurou minhas mãos rápidamente me fazendo ficar de frente para ele e começou a massagea-las.

- Mas você pode meu amor, eu não desisti da nossa família ela só vai ser um pouco maior do que pensavamos.

Eu sorri enquanto sentia as lágrimas quentes molharem minha bochecha. Você já percebeu o quanto lágrimas de tristeza são quentes e dolorosas?

- Tommy agora é a parte da honestidade. Eu não posso mais ter filhos, o que aconteceu comigo me deixou impossibilitada de gerar outra criança.

Tom piscou uma vez, duas, três. Suas mãos nas minhas começaram a suar, seus olhos encheram e transbordaram de lágrimas.

- Eu não sei o que dizer.

- Ta tudo bem.

- Não Em, eu deveria dizer alguma coisa.

Nesse momento a porta se abriu e Melissa entrou sorrindo.

- Tarde demais. - Eu disse me levantando do sofá.-

Caminhei até o meu quarto e o peso daquele momento era tão grande que eu me sentia carregando uma pessoa enquanto subia as escadas. Eu não queria ouvir o que Melissa ia dizer pra ele, não queria saber o que os dois estavam conversando, eu só queria desaparecer.

     
...

Duas semanas duram uma eternidade quando tudo o que você tem é dor dentro de você, os dias eram longos demais e as noites pareciam não ser suficientes para que eu pudesse descansar.
Ter o meu próprio filme de terror dentro da minha casa só tornava tudo pior, cada comodo daquela casa se tornou uma possibilidade de que aquele buraco no meu peito se tornasse maior. Tom e Melissa estavam cada dia mais próximos, a barriga de grávida ainda nem estava ali, mas isso não impedia Tom de passar cada segundo do seu tempo com a mão grudada naquela barriga e eu não podia ver aquilo, porque eu não podia me permitir ter raiva de um bebê.
Estava sentada no meu quarto encarando a parede quando Rachel entrou, milagrosamente quieta e contida.

- Posso sentar e assistir a parede com você?

Assenti com a cabeça.

- Eu só estou assistindo a parede porque sua irmã está assistindo a minha TV no meu sofá.

Ela suspirou.

- Olha se você quiser ocupar a mente e sair um pouco daqui eu tenho uma ideia.

- Rachel. - A encarei com desconfiança.-

- Calma. - Ela pegou um folheto do seu bolso e me entregou. - Não deve pagar muito e deve ter muito trabalho, mas no momento acho que seria bom para você.

Era um folheto de "Precisa-se de Garçonete". Encarei o papel, meu sonho sempre foi ser fotógrafa, as vezes a vida parece ter vida própria, pois eu não consigo imaginar nada no mundo que me faria desistir da faculdade e ir embora e agora meu possível futuro é esse.

- Obrigada Rach.

Era um pequeno café em frente ao central park, não era tão ruim. Quando passei pela porta e o sininho anunciou minha entrada o rapaz que estava no balcão se virou imediatamente e ainda limpando o balcão me desejou bom dia.

Me aproximei lentamente do balcão e quando eu estava de frente para ele finalmente pude ver seu rosto.

- O garoto do central park que me acertou com a bola certo?

Ele riu.

- Na verdade foi meu irmãozinho que é apenas uma criança, lembra?

Sorri para ele.

- Pelo menos você se lembra de mim.

- Como eu esqueceria Emma?

E lá estava aquele jeito dele de pronunciar meu nome que fazia meu corpo todo se arrepiar.

- Você tem uma memória ótima! - Eu disse sem graça.-

- Só para coisas importantes.

Pude sentir minhas bochechas esquentando lentamente até pegarem fogo.

- Por falar em coisas importantes, preciso falar com seu chefe. - Balancei o folheto para ele.-

Ele franziu a testa.

- Você quer trabalhar aqui?

- Quero, por quê?

- Nada, você só não se parece com uma garçonete. - Eu ri, mas minha risada soou nervosa. - Não que você não possa se dar bem no cargo. Eu só quis dizer que...

O interrompi

- Tudo bem Theo.

Ele parou de tentar falar e sorriu ao ouvir seu nome.

- Espere aqui.

Ele sumiu para dentro do restaurante e voltou alguns minutos depois com um sorriso vitorioso.

- O emprego é seu!

- Não tem graça.

- Não estou fazendo nenhuma palhaçada.

Ele deu de ombros.

- Como você fez isso? Eu nem fiz a entrevista.

- Você lembrou meu nome, vai ser uma boa garçonete, sei que vai.

Eu sabia que talvez aquela não fosse a maneira certa de começar, mas naquele momento eu não estava podendo rejeitar coisas fáceis.

...

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