O SUBORNO

Saudades? Eu tava.

Esse capítulo aperta meu coração.


Capítulo 16 – O Suborno

Eu tremia. Abri a porta de casa com o coração na mão, os olhos molhados e o choro preso na minha garganta. A sensação de estômago embrulhado, se misturava com a dor de cabeça e eu sentia que desmoronaria a qualquer segundo.

Não sabia o que pensar, não queria acreditar na hipótese de Jungkook simplesmente aceitar a dinheiro, mas tinha medo do que meu pai poderia fazer. Ele poderia ameaçá-lo, chantageá-lo, Deus, ele era capaz de acabar com a vida do Jun só por isso.

A sensação de que eu poderia ter impedido, corrido atrás dele e o impedido de entrar no carro, me acertou segundos depois, quando percebi que daquela vez poderia ser pior. Jungkook poderia não aceitar, poderia me escolher e eu não sabia o que aconteceria se ele fizesse.

Era inútil e inocência minha pensar que se eu o impedisse de entrar agora iria resolver alguma coisa, porque em algum momento ele ficaria sozinho e meu pai conseguiria o que queria, mas o sentimento de que eu poderia ter adiado era maior.

E me senti culpado por não ter pensado nesse final antes, por não ter desconfiado que as coisas poderiam acabar assim em algum momento. Que Jun poderia acabar se machucando ainda mais por estar ao meu lado.

Eu estava tão envolvido nele, em tudo aquilo que ele poderia me oferecer, na realidade onde ele gostava de mim, que não percebi o óbvio, que não percebi antes o erro que eu estava cometendo ao corresponder seus sentimentos.

Fechei a porta atrás de mim e me escorei nela, me sentindo enfim em um lugar seguro, onde eu poderia chorar e me esconder do mundo, porque eu estava com medo, preocupado o suficiente para sentir uma dor quase física com as hipóteses que passavam pela minha mente.

— Jimin? — Taehyung perguntou ao me ver chorando e não hesitou a vir em minha direção. — Meu deus, Min. O que aconteceu? — Seu questionamento me fez chorar ainda mais.

Porque eu era um egoísta de merda e isso era o que tinha acontecido. Jun poderia naquele momento estar sendo espancado ou chantageado, poderia perder tudo na vida, poderia até estar correndo perigo. Eu não sabia até onde meu pai iria, até onde ele estaria disposto a ir para esconder aquilo do mundo.

— Ji, você tá me assustando. Pelo amor de Deus. — sua voz era desesperada e ele tentava me trazer para perto, me abraçando em uma tentativa de me confortar.

Eu não queria pensar na realidade em que eu perderia ele. Jungkook era como um sonho. Ele acelerava meu coração e me deixava bambo, ele parecia me completar, parecia me aquecer e agora era mais do que necessário pra mim.

Eu sabia que estava sendo egoísta, mas eu só conseguia pensar em tudo, em todas as vezes em que ele esteve ali. De dançarmos uma valsa na sala da sua casa, de o defender na escola, de tentar o animar no dia do seu aniversário, de deitar sobre o seu peito, de rir durante um filme, de fazer piadas que me distraiam de algum pensamento ruim, da compreensão na sua voz, na maturidade em suas atitudes, do seu olhar enquanto me segurava perto e dos beijos que pareciam feito sob medida pra mim.

De como ele sempre esteve ali.

E me senti mais estupido ainda, por não ter notar até aquele minuto, que eu já o correspondia a muito tempo.

Eu acho que amo ele — disse com a voz falha, a percepção me tomando, meus olhos transbordando e o sentimento machucando meu peito. — Eu amo ele, Tae. — Taehyung me encarou como se não entendesse.

— Isso não deveria ser algo bom?

— Eu acho que meu pai está com ele agora — eu contei com um nó na garganta, que parecia me cortar a cada palavra dita. — Eu vi ele entrar em um carro e ele não atende o telefone.

— Não fode. — Tae murmurou olhando nos meus olhos, descrente de toda aquela merda. — Não. Não. O Jun não é como eles. Ele realmente te ama, Jimin. Ele me falou isso. Ele não iria embora assim. Precisa confiar nele.

— Eu confio — Minha voz saiu como um fio fraco e quebradiço. — Eu quero confiar. Quero mais do que tudo, mas to com medo do que meu pai pode fazer com ele. — Funguei, sentindo meu corpo tremer e o medo e desamparo me dominar. — Ninguém nunca negou. O que acontece se ele negar? — Minha voz era machucada, histérica, preocupada e eu sabia que Tae agora conseguia entender o problema, porque seu olhar também ficou carregado de receio. — O que acontece, Tae?

— Eu não sei... — Ele murmurou tão preocupado quanto eu. — Deveríamos ligar para a polícia?

— E dizer o que? — Questionei perdido, porque eu adoraria denunciar o filho da puta. — Não sabemos o que está acontecendo e muito menos onde eles estão. — Eu estava tremendo, meu peito doía e a cada segundo parecia mais difícil de respirar.

— Calma, Ji. — Taehy disse tentando me ajudar a levantar. — Vem, vamos pro sofá, você precisa beber uma água, está quase tendo uma crise de pânico. — Eu me deixei ser levado e o abracei quando ele me sentou no sofá. — Precisa se acalmar, não vai poder fazer nada por ele se tiver tido um ataque do coração. — Ele suspirou retribuindo o abraço. — Ele é forte e esperto, vai ficar bem. — Ele murmurou, tentando se convencer daquilo. — Ele vai ficar bem. Você vai ver. — Ele parecia tão preocupado quanto eu, mas tentava disfarçar, tentava me acalmar e eu amava ele por isso, mas era injusto, porque ele também tinha o direito de chorar.

— Taehy... — Eu iria dizer que estava tudo bem ele chorar. Que ele não precisava se fazer de forte por mim, mas então o barulho da porta se abrindo chamou minha atenção e eu achei que estava enlouquecendo ao ver Jun ali, com uma cara assustada, avaliando a nossa situação com calma.

— O que tá acontecendo? — questionou entrando no apartamento, vindo em nossa direção.

Ele parecia bem, inteiro e seu semblante era calmo, mas meu olhar parou em sua mão, que carregava um envelope vermelho e estufado, um que eu já conhecia bem o suficiente para saber o que significava e a percepção do que era aquilo, apertou o meu peito, porque eu estava errado.

— O que tá acontecendo? — Taehyung repetiu com a voz molhada, se levantando para abraçá-lo com força, chorando em seu ombro. Eu me encolhi, sem saber o que fazer. — Porra, nunca mais saia da merda do meu campo de visão.

— Por que tudo isso? — ele perguntou perdido.

Eu senti uma lágrima escorrer pelo o meu rosto, uma diferente das outras, porque não era medo do incerto, era por saber que ele havia feito uma escolha, que eu não tinha sido a escolha e que por mais cruel que fosse, era o melhor pra ele.

Sem conseguir me conter, eu me levantei, engolindo o choro. Ele ficaria melhor sem toda essa merda, era egoísmo meu querer que fosse diferente. Eu conseguia sentir os cacos no meu peito, porque eu havia acreditado no amor dele, havia feito de tudo para acreditar que seria diferente, mas era melhor que ele tivesse aceitado. Eu não gostava de pensar no que poderia acontecer se ele me escolhesse.

E eu nem poderia pedir isso pra ele, não depois de tudo, não depois de ter quebrado seu coração tantas vezes, não depois de toda a dor que eu tinha causado. Ele merecia mais e talvez ele tivesse percebido isso, talvez meu pai tivesse conseguido o convencer de que eu não valia a pena.

E dessa vez eu não sabia o que fazer, eu não podia ficar bravo por ele quebrar o meu coração, por ele escolher me deixar, eu não poderia pedir que ele ficasse, por mais que eu quisesse, eu não prestaria aquele papel. Isso apenas complicaria ainda mais as coisas e não precisávamos disso.

— Porque tá chorando? — Ele questionou tentando se soltar do Tae, mas quando deu um passo em minha direção foi automático me afastar. Ele notou o movimento e parou onde estava.

Eu engoli o fôlego, não conseguindo olhar em seus olhos, porque eram os mesmos olhos que pareciam me amar e eu não queria ter aquela conversa, não queria ouvir o término, não com ele.

Eu preferia acreditar que tudo aquilo não tinha sido falso, que ele não tinha feito apenas para se vingar ou algo assim, porque esse não era ele, não combinava com o garoto doce que eu conhecia. Jun poderia ser tudo, mas não era cruel.

E o fato dele estar tão calmo apertava o meu peito. Eu não queria olhar em seus olhos e ver que talvez eu estivesse errado novamente, que talvez aquilo não significasse nada e que era tão fácil pra ele me deixar.

Meu peito convulsionou e eu tentava ao máximo engolir o choro desesperado e magoado que tentava a todo custo sair.

Está tudo bem — Eu respondi segurando o fôlego, encarando minhas mãos, que tremiam, incapaz de me acalmar. — Eu... eu consigo entender.

Ah não — Um barulho afogado e decepcionado saiu de Taehyung, e talvez ele tivesse notado naquele segundo o que eu já tinha visto.

— Não precisamos passar por isso. — Eu assenti com a cabeça, um pouco desesperado e o pensamento do quão irônico era a situação passou pela minha cabeça. — Acho que dessa vez vou ser eu a fugir... — Comentei com um riso doloroso, tentando afirmar que tava tudo bem, mesmo que não tivesse.

— O que? — Ele resmungou baixo e eu neguei.

— Jun... tá tudo bem. Não precisa explicar. — Eu me abracei, tentando me fazer parar de tremer. Eu precisava me acalmar, ou realmente iria acabar em um hospital naquela noite. — Eu não sei o que ele te disse ou o que aconteceu, mas eu não quero ouvir você dizer. Não precisamos materializar o fim, podemos apenas, seguir como era antes. — Meu olhar se prendeu no dele sem a minha permissão, ele parecia confuso, triste e preocupado, sua boca abria e fechava, mas ele não dizia nada.

Tomado por um impulso nervoso, com o pensamento de que talvez eu nunca pudesse dizer aquilo a ele. Eu me aproximei o suficiente para o abraçar uma última vez, ele não retribuiu, o que doeu, porque talvez ele não quisesse mais ficar perto de mim.

— Eu... — Eu respirei fundo, sentindo o cheiro dele e droga, eu amava pra caralho o cheiro dele. — Eu te amo, Jun. — Murmurei entre o choro, molhando sua camisa e teria ficado ali por mais um tempo, se ele não tivesse me segurado pelos braços e me afastado de seu corpo.

— Tá falando sério? — Ele questionou me olhando nos olhos. — Você me ama, ama, tipo amor de casal ou como você ama um filhote de cachorro? — Eu o encarei confuso e ele parecia um pouco chocado, incrédulo e perdido.

— É, Jun, eu te amo, amo. — Reforcei sem entender o porque aquilo era importante agora.

— Sem segundas interpretações ou pensamentos? — Voltou a questionar, me olhando de canto de olho.

— Sem segundas interpretações ou pensamentos. — Afirmei novamente.

— Então que porra de papo é esse de fim e voltarmos ao que éramos antes? — Ele questionou parecendo bravo e totalmente descrente. — Porque vocês tavam chorando, que merda toda é essa?

— Você tava com o meu pai. — Afirmei, finalmente conseguindo me acalmar. — Eu vi você entrando no carro dele.

— Eu tava. Ele me emboscou na faculdade e disse que precisava falar comigo. — Falou calmamente.

— Você aceitou o dinheiro? — Taehyung questionou mesmo sem necessidade, porque estávamos vendo na mão dele.

— Fala disso? — Apontou pro envelope. — É seu pai me ofereceu um patrocínio generoso. — Deu de ombros. — Pensei em comprar uma pizza hoje e levar você pra viajar no final do semestre.

— Jun. Do que tá falando? — Eu disse confuso. — O dinheiro é uma chantagem. Ele não falou nada sobre você ter que terminar ou algo assim?

— Ele falou muita coisa, Ji. Sendo sincero, eu não ouvi metade. — Respondeu com um olhar carregado de afeto, enquanto tentava me puxar pra perto. — Ele é só um bundão que acha que pode controlar a sua vida, mas ele não pode. — Ele me circulou com os braços. — Se você quiser terminar, eu não posso te obrigar a ficar comigo, mas se você também me ama, não tem nada que possa impedir a gente.

Eu senti meus olhos molhados novamente, uma parte de alívio e outra carregada de medo. Me permiti ser acolhido por seus braços um pouco mais, ouvindo seu coração batendo.

— Porra, eu quase morri do coração. — Ele voltou a resmungar. — Eu fiquei preocupado. Vocês dois chorando. Você falando sobre término. Pensei que tava me dando um fora.

— Você consegue entender que não é tão simples, certo? — Eu murmurei em seus braços.

— O que quer dizer?

— Quer dizer, Jun. Que aquele bunda mole não tá acostumado a ouvir não ou a ser feito de otário. Quando ele descobri que vocês ainda estão juntos, ele vai aparecer pra cobrar explicações e a porra pode ficar séria. — Taehyung explicou pro irmão. — Ele pode te ameaçar ou fazer alguma outra coisa.

— É perigoso e eu não quero ter que ir pro hospital, porque meu namorado foi achado espancado em algum beco. — Eu respondi me sentindo frágil e triste.

Namorado? — Ele murmurou engraçadinho e eu me afastei para encarar os seus olhos, querendo o repreender, mas o sorriso em seu rosto me amoleceu. — Eu não to preocupado e se fosse vocês também não ficaria. — Disse levando uma das mãos até o meu rosto, enxugando uma das lágrimas. — Eu sabia que ele viria uma hora ou outra atrás da gente e eu to preparado.

— Preparado como? — Questionei preocupado que ele tivesse alguma ideia perigosa e completamente fora de base.

— Apenas confie em mim. Eu vou resolver as coisas. 


| ALWAYS |

A história tem 18 capítulos, mas como o 18 é curtinho, esse pode ser considerado o penúltimo. 

Espero que tenham gostado!

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