010 | Eu e você...
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TRÊS MESES
As coisas pareciam ter voltado ao normal, mesmo que internamente algo vivesse em uma eterna pergunta. Eu havia saído de férias e já estava de volta, e não podia negar que me sentia fisicamente cem por cento mais ativa e confortável com meu ambiente. Meu breve sumiço havia feito muito dos meus colegas de trabalho aprenderem novas formas de não deixar tudo virar bagunça e era bom. Capitão Kim estava satisfeito, havia insistido e me prometido uma promoção assim que voltasse, o antes candidato, agora era prefeito e a nova direção estava agradando muitas pessoas, até mesmo eu.
Ainda que tudo parecesse ótimo e seguindo melhor do que nunca, uma parte minha tinha mudado e estava inquieta. Jimin tinha feito o que disse semanas atrás, eu estava feliz por ele, viver algo no qual você não é e nem gosta é igualmente como não viver. Eu estava bem, mas me sentia estranha.
Provavelmente eu iria me arrepender do que pensaria, mas sentia saudades da sua tentativa de impedir qualquer silêncio entre nós. Mantinhamos contato, entretendo o tempo entre nós era diferente e dificilmente isso rendia algo.
— Aconteceu alguma coisa? — Me atentei para Hoseok quando ele se acomodou na mesa onde eu estava, encostando-se confortavelmente com os braços recuados. — Desde que voltou das férias tá mais calada.
— Estava pensando que não aproveitei o tempo direito, muitas coisas para fazer. — ele concordou.
— Eu entendo, quando tirei as minhas não conseguir de fato descansar, todos dias Jude inventava uma brincadeira nova para brincarmos. — Eu achava fofo o modo como ele sempre comentava sobre a esposa e a filha alegremente. — Mas eu acho que não é só cansaço.
— Acha?
— Bem, ouvir por aí que viram você saindo com alguém, isso é bom.
— Ouvir? Viram? Ainda quero saber quem é o passarinho verde que vem te contando as coisas. — Ele sorriu e oscilou a cabeça. — Mas não foi exatamente sair, só estava tentando conhecer alguém novo.
— Já é um começo, deu certo? — Larguei o que fazia.
— Acho que não, não foi nada sério — fiz uma careta.
— Eu fico feliz que você esteja conhecendo pessoas, até mesmo só amigos. É bom.
— Nem lembro como faz isso — apoiei os braços na mesa, respeitando fundo. — Mas não foi nada demais.
— Será que não foi? Você parece bem pensativa.
— Não sei Hoseok, eu acho que tá tudo muito bom por aqui e eu devo focar no meu trabalho.
Tentei apenas me desvencilhar daquela conversa e cada um foi fazer o que era necessário. Os dias até então estavam calmos, sem casos mais graves.
— Ruby, o capitão tá chamando você — Mollie, uma colega se esticou, acenando para mim enquanto avisava. Dei um sinal positivo e juntei os papéis sobre minha mesa sem me preocupar se estavam tão organizados como antes, me dirigindo até a sala. Pela janela transparente, o vi conversar no telefone e posteriormente, fui notada e entrei na sala.
— Vou providenciar isso de imediato senhora Park, fique tranquila, agradeço a confiança. — Ouvi o final da ligação e apenas ignorei, fechando a porta, escutando o som do click do telefone sendo encaixado. — Algum problema, capitão? — me virei para ele.
Na primeira vez que tive contato direto com Kim Namjoon, minha primeira impressão foi apenas de um civil que estava pelas redondezas cuidando das suas compras, para depois conhecê-lo como capitão e foi mais fácil do que eu havia imaginado. Acreditava que ele seria mais difícil e impaciente de conviver e trabalhar e positivamente me surpreendi.
— Nenhum até o momento — Suas bochechas ficaram mais realçadas. — A senhora Park acabou de me ligar fazendo um pedido pessoal, mas infelizmente eu não poderei fazer, terei que participar da reunião com os outros setores ainda hoje e pensei que você poderia cuidar disso.
— Do que se trata?
— Ela pediu que alguém fosse encontrar o filho mais velho dela, pelo que compreendi ele saiu e pediu sigilo, que o prefeito não soubesse disso. — Enquanto balançava minha cabeça como boneco de estante, eu me fiz a pergunta se realmente ninguém sabia do que tinha acontecido meses atrás, porque nada que conseguisse pensar explicava aquela escolha ser dada para mim. — Acho que a relação de família deles é um tanto agitada.
— Aparentemente sim — concordamos e me foi entregue as informações necessárias para saber onde ele estaria. Preferia trocar de roupa, visto que teria que evitar que o prefeito soubesse da chegada do filho mais velho. Não fazia parte das minhas obrigações servir de guarda para alguém mas por ser um pedido aparentemente mais delicado, não me importei. Peguei um dos carros emprestados e me dirigi até o aeroporto mais próximo dali.
Em certo momento, olhei para a tela do meu celular, esperando uma mensagem dele. Fazia um bom tempo que não conversamos e uma parte minha imaginava que ele iria falar quando voltasse, ao menos para que eu não me sentisse tão idiota e tivesse criando ainda mais vínculo naquilo.
— É tão idiota isso — Sussurrei comigo mesma, apoiando meu braço na janela aberta, sentindo a brisa espalhar meus fios, me vendo pega por sentimentos que eram tão recentes e ainda assim, tão intensos e profundos. Não sabia quando exatamente tinha começado a gostar da ideia de vê-lo mais uma vez, tinham sido somente poucos meses e ainda assim, parecia tão longos
O trajeto era de quase 60 minutos, tinha muito tempo para pensar sobre minhas próprias intenções com ele e como eu poderia fugir, se assim, fosse a melhor maneira de lidar.
Assim que cheguei, estacionei no espaço para carro, tirando o cinto de segurança e indo para fora do carro. Adentrei o aeroporto, observando algumas pessoas entrando e saindo, outras conversando ou apenas seguindo para seu destino. Busquei Jimin por onde os passageiros chegavam, olhando para a tela e para o papel com o número do seu voo. Ele já havia chegado.
De súbito, meu celular começou a tocar e quando peguei, vi o emoji de cigarro que tinha colocado em seu contato.
— Jimin? — escutei um risinho do outro lado.
— Estou te vendo daqui. — Olhei em volta, procurando-o. — Você continua tão bonita quanto a última vez que nos vimos.
— Obrigado pelo elogio, mas onde você está? — Continuei o procurando, até que parei para pensar. — como você sabia que era eu que viria, Park Jimin?
— Eu pedi um favor a minha mãe para isso acontecer.
— Você contou a ela? — Voltei a caminhar, tentando identificar onde ele estava.
— Só elogiei muito a policial que me ajudou quando eu me senti tão assustado por ser preso. — um arzinho escapou do meu nariz. Ele poderia estar tudo naquele momento, menos assustado.
— Vou fingir que acredito — ele mais uma vez riu.
— Eu gosto como você me entende e me lê, Ruby.
— Seus elogios estão incríveis hoje park, mas não esqueça que vim a serviço, onde você está?
— Estou aqui fora, perto do carro.
Me virei no mesmo instante em que ele disse aquilo, indo até a saída.
— Seria mais fácil se você me ligasse, não? Vai que sua mãe desconfia de algo ou até mesmo, o meu chefe com um pedido tão pessoal. — Já do lado de fora, caminhei de volta para o carro e mais uns vez o busquei, não encontrando. — É sério Jimin, onde você está? Você não está aqui, se estiver brincando comigo…
Sutilmente uma mão cobriu totalmente minha visão e pude sentir, bem perto da minha nuca a respiração branda trazendo o cheiro tão característico do gloss de Tutti frutti.
— Eu queria ser romântico e fazer uma surpresa. — disse e contornei meu corpo, virando para vê-lo. Mesmo que fosse patético dizer isso, eu estava com saudades desses seus joguinhos. — Eu não acho que minha mãe ou seu chefe se importem tanto com duas pessoas como nós tendo algo.
— Arrisco dizer que seria um detalhe curioso para eles. — arqueei minhas sobrancelhas. Ele estava tão bonito e cheiroso, seus cabelos pareciam mais escuros do que a última vez e maiores também.
Ficamos bem perto, eu conseguia sentir seus dedos se enroscando na aba onde era costume do cinto da calça ficar, me trazendo para mais perto dele.
— Todos ficariam bem curiosos — oscilou as sobrancelhas. — Mas não me importa muito, só quis fazer uma surpresa pra você, o que achou?
— Achei bom — balancei a cabeça de um lado para o outro. — Estava achando que você nunca voltaria.
— Eu disse que ia voltar Ruby, que tinha mais algo que me fazia querer passar mais tempo aqui. — Ele inclinou a cabeça em minha direção, aproximando-se e depositando um beijo no canto da minha boca e devolvi em seguida, o mesmo gesto, sorrindo em sincronia com ele.
Meu coração bateu mais rápido e senti um friozinho suave no estômago.
— Que bom, né? — Ele afirmou. — E como foi lá?
— Eu passei nas duas últimas etapas, agora só preciso esperar os avaliadores me dizerem se isso é um sim ou não.
— Parece ser muito difícil isso, não é?
— Um pouco, mas eu tô tentando. — fiz que sim.
— E vai conseguir. Agora é melhor a gente, sua família deve tá esperando. — fiz menção de pegar a chave do bolso, sentindo sua mão sobre a minha.
— Antes da gente ir, podemos ir a um lugar? — nos encaramos por alguns segundos e disse:
— Não sei que devemos…
— Prometo que vai ser rápido. — Dei uma pausa. E mais uma vez Jimin me olhava com aqueles olhinhos semelhantes a um cão molhado na chuva.
— Tudo bem, mas eu vou dirigindo.
— Sim senhora, policial Ruby — Fez continência.
Será que tudo isso era um sonho e eu estava vivendo em uma realidade paralela no qual um homem doce e às vezes falador demais tinha conseguido despertar sentimentos tão apaixonantes em mim? Estava começando a cogitar que sim.
— Para onde vamos? — Assim que adentrei o carro o liguei, pondo meu cinto, Jimin empurrou algumas mochilas no banco de trás, acomodando-se na frente.
— Pode seguir, quando estiver perto, eu aviso — deu uma piscadinha.
Jimin prolongou por todo caminho o mistério de onde era para ir, todavia, conhecia toda a localidade como a palma da minha mão. Seguimos por um caminho onde só carros passavam e era um pedaço de rua asfaltada grande até a outra cidade mais próxima, sem absolutamente nada tão próximo para arrancar minha atenção.
Observei sua expressão serena aproveitando a brisa, com metade do rosto para fora, até deu uma risada comigo mesma admirando sua feição, a maneira como seu queixo flexionava enquanto unia os lábios, umedecendo-os.
— É aqui — enunciou, avisando onde era o lugar, ou melhor, o nada. Além da extensão de terras e a pista onde estávamos, só existia um campo de grama com uma montanha onde se dava para avistar uma árvore solitária no topo.
— Aqui? — Parei aos poucos, estacionando no canto, um pouco afastado da mão contrária a minha ida.
— Aqui — virou para mim e assentiu, virando e abrindo a porta. Desde que o vi pela primeira vez sentir que ele tinha um jeito diferente e até mesmo livre de ser, acho que de fato era isso no fim das contas.
Sair logo em seguida, dando a volta para encontrá-lo. Ele olhava para o caminho inclinado da ladeira íngreme, até a única estrutura natural presente ali.
— Vamos, quero te mostrar mais de perto. — segurou minha mão e vi, observei com certo deleite, a maneira como entrelaçou os nossos dedos, guiando para mais perto do seu peito.
— Se isso for alguma brincadeira…
— Não é brincadeira… — disse firme, contornando para que seus olhos só tivessem a mim para ver. — Você confia em mim, Ruby?
Uma pergunta simples e que parecia já ter sua resposta, mas quis verbalizar, acenando a cabeça e dizendo:
— Acho que sim.
— Acha? — levantou um dos pares de sobrancelhas. Dei uma erguida de cenho.
— Confio sim, só não sei onde vamos, não ter certeza me deixa nervosa, sabia?
— Percebi. Vamos ter um momento a sós e esquecer qualquer outra coisa, então não pense em nada a mais que isso.
— E sua carona de volta para casa?
— Pode fazer isso depois — se moveu e me levou junto, dando os primeiros passos em direção a inclinação, seguindo até o que sugeria ser o topo. — Eu sei que parece confuso
— Isso, ótima opção de palavra, confuso, isso soa exatamente confuso, misterioso. — Ele soltou um arzinho pelo nariz. Continuamos subindo e subindo e parecia que nunca ia chegar. Isso me fez lembrar meus treinamentos e como eu ficava depois deles.
— Eu só quero que você conheça um lugar que eu gosto, você me mostrou o seu, é justo agora eu te levar pra conhecer o meu.
— Verdade, justo…— nos olhamos e apenas buscamos um ao outro. Assim que apertei suas mãos, seus dedos apertaram de volta.
Subimos como uma escalada romântica de dois pombinhos extremamente apaixonados. Jimin fazia graça, contando como estava sendo divertido me mostrar e que planejou fazer isso assim que voltasse.
— Eu queria te trazer aqui a noite, as coisas ficam bem mais bonitas — Chegamos e pude admirar a árvore bem ao nosso lado. Não tinha frutas, mas belas flores brancas que eram levadas pelo vento ou caiam no chão, formando um tapete de pétalas murchas ou recém caídas. — Aqui as luzes da cidade não afetam muito, quando escurece podemos ver a lua e até outros planetas se tivermos um telescópio.
O modo como ele dizia pausadamente e um sorriso surgia do canto dos seus lábios, me contagiando fez com que eu percebesse aquela mesma sensação de antes, coração acelerado, boca seca e tudo parecia ser só nós. Era tão claro como o céu naquele dia, eu tinha me apaixonado por ele.
ele se lançou no chão, sentando na grama, dando um tapinha do seu lado, o que já me fez entende-lo.
— Assim a visão é melhor — seus olhos se moveram de um lado para o outro e tive a sensação que sua palavra tinha um sentido a mais.
— Alguém pode passar aqui e ver a gente, sabia? — Me sentei e consequentemente deitei, observando de primeira os raios do sol que passavam por entre as poucas flores que caiam, no fundo, o céu parecia maior do que o normal, tendo assim uma melhor visão.
— E isso é um problema? — Virou o rosto. ele parou e apenas permaneceu ali, perdi a resposta antes mesmo de encontrar.
— Não para mim, mas não sei como seu pai iria reagir.
— Deixei de me importar sobre o que ele acha a muito tempo — aproximou em passos de pinguins o seu rosto até mim, tocando meu nariz no seu.
Um sonho real, dormi acordada ou a realidade. Ele me fazia sentir como se tudo em mim se concentrasse apenas em meu coração batendo acelerado. A sua volta era tão real, tão verdadeira.
Também me encostei, sentindo nossos narizes se esfregarem e o ar quente se tornar ainda maior em nosso redor. O arco da sua boca bem rente ao meu, em uma troca de afeto e enchendo meu coração de ainda mais sentimentos.
— Eu pensei que a gente poderia fazer isso mais vezes, sem ficar pensando muito no que as pessoas achariam.
— Parece bom — ele oscilou e se aproximou, juntando nossos lábios, tocando meu rosto com um dos dedos e levando o outro até meus cabelos. — Parece muito bom.
— Que bom que gostou — Afirmei. — Contei pra minha mãe que conheci uma pessoa e que eu gosto dessa pessoa, o suficiente para voltar e ficar aqui.
— E ela?
— Ela me disse que quando estiver confortável em apresentar a pessoa a ela, ela estará lá para nos apoiar — mexeu o nariz. — só não sei como vou te apresentar a ela.
— Como assim? Por que?
— Não sei se vou te apresentar como a Policial que eu deixei me prender e me encantei de primeira ou… — arqueou a sobrancelha, desviando o olhar, fazendo careta.
— Ou? — tentei fazer com que continuasse, mas ele se virou, passando uma das pernas para o outro lado e ficando sobre mim, com os cotovelos apoiando seu peso.
— Ou… — fixei o olhar no seu gesto, sentindo sua aproximação, o seu beijo sobre o canto dos meus lábios, deixando meus lábios entreabertos. — como minha namorada, ainda preciso saber se você acertaria essa última parte.
— Tudo isso parece tentador, mas acho que foquei mais no “ Policial que eu deixei me prender ” — ele esticou o canto da boca para moldar ou tentar formar uma desculpa,
— Foi um erro de fala.
— Ah, erro de fala, não é? — ele confirmou. o segurei entre minhas pernas, empurrando para o lado e invertendo nossas posições. Seus olhos nem tiveram tempo para piscar e quando percebeu, estava sobre ele, sentada em cima do seu quadril. — Erro ou falta de atenção?
— Não sei, só lembro da parte da policial bonita — meu sorriso se esticou e toda a minha postura voltou a cair. Dei um breve riso.
— Eu aceito. — Por último disse, sem esquecer do que ele havia dito. — se é isso que falta, mas só com uma condição.
— Qual?
— Não pretendo prender mais meu namorado, não daquele jeito. — pisquei para ele.
— Se depender de mim, esse momento só será nosso — me trouxe para ele, abraçando meu corpo. Segurei seu rosto, beijando com mais veemência, ao ponto das nossas línguas vibrarem uma contra a outra e sons ecoarem baixinho. — Eu te falei que íamos durar para sempre, não falei? Essa é a nossa oportunidade.
— Eu e você para sempre.
Não sabia exatamente o quanto o para sempre duraria, eu só queria que fosse tempo o bastante para que eu e Jimin pudéssemos descobrir juntos o nosso destino.
FIM.
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