009 | Durar para sempre
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Onde estávamos até minha casa levava cerca de dez a quinze minutos. Morava no mesmo lugar desde dos meus vinte anos e já era conhecida pelos moradores dali por não ficar muito em casa e quando estava, poucos percebiam. Era a noite quando inventei de mostrar meu álbum de formatura para Jimin e trazê-lo ali, não sei se era uma ideia muito inteligente da minha parte, mas era melhor do que andar por ali.
— Não vamos acordar ninguém? — sussurrou bem atrás de mim e me perguntei o motivo dele estar sussurrando.
— Eu moro sozinha Jimin, no máximo quem tá aí é o rosquinha, mas ele tem um sono pesado o bastante para entrarmos e ele não perceber.
— Quem é rosquinha? — sentir seu olhar sobre meu ombro, focando em meus olhos.
— O gato da vizinha que às vezes vem aqui — Abrir a porta, contornando minha atenção para ele e esticando o braço para procurar o interruptor. — Ele gosta do meu sofá e dos biscoitos de leite que eu compro.
— Ele parece sortudo— Quando achei o interruptor, entrei, ligando a luz, deixando um micro sorriso escapar dos meus lábios.
— Se você fizer carinho nele, ele vai gostar de você — dei espaço para ele se ocupar, entrando no meu espaço, absorvendo aos poucos o novo ambiente, o meu ambiente. Diferente da delegacia, minha casa se tornou um lugar que por várias vezes me senti desconexa e estranha.
Tirei meus saltos que doíam meus dedos e relaxei contra o gelado do chão, seguindo até o sofá e me acomodando. Procurei pelo gato e ele estava no mesmo lugar de sempre, deitado e dormindo. Até mesmo escutei ronronar.
Jimin se aproximou, sentando ao meu lado, fixando minha atenção dele, demorando alguns instantes para admirar a presença do park por ali, inclinando meus ombros para frente e respirando pesadamente para trás. Em um estalo recordei do que precisava fazer e o pedir para esperar, indo até um cômodo pequeno entre a cozinha e a sala, buscando meu álbum e achando bem escondido, sujo com a poeira devido ao tempo ali guardado, mas intacto, voltando até onde ele estava.
Assim que me virei para a minha sala, rosquinha estava no colo de Jimin, aproveitando a chance para ganhar carinho.
— Acha que ele gostou de mim? — avaliei a situação, fazendo uma pequena pausa para dar a resposta.
— Você deu o que ele queria — Sentei ao seu lado. — Aqui está o que eu falei — entreguei a ele. Gostava daquele álbum, principalmente para relembrar o que vivi antes de tudo o que sou hoje.
— Curioso para saber como você era antes.
— Não mudei praticamente nada, aparentemente, talvez os cabelos, deixei de alisá-los e optei pelo natural —
— E continua incrivelmente bonita — abriu o álbum e a primeira foto que viu foi a minha, estava com o uniforme padrão, cabelos lisos e presos, ao meu lado alguns colegas. Jimin ergueu o olhar para mim e me senti envergonhada, o jeito como pairou e apenas me encarou de repente, não me dando tempo para me preparar me pegou totalmente.
Ele voltou a atenção e mostrei algumas fotos que eu gostava, em uma específica, ele apontou.
— Acho que vi esse aqui lá quando você chegou no evento. — apontava para Hoseok e afirmei.
— É o Hoseok, não éramos tão amigos nessa época, mas nós falávamos.
— E esse? — Apontou para o Anthony, meu falecido marido.
— O Anthony, ele também trabalhava aí com a gente, mas acabou falecendo por conta de uma pneumonia grave, foi tudo muito de repente. — expliquei. Se fosse meses atrás, falar isso doeria bastante, todavia, deixou de doer e passei apenas a sorrir quando lembrava dos bons momentos. — Tínhamos cinco meses de casados, nem chegamos a completar um ano, foi tão estranho que naquela época eu pensava que seria apenas um pesadelo que eu acordaria no dia seguinte e ele estaria lá, comigo.
— Nunca estamos prontos para perder as pessoas. — Passou mais algumas fotos, fechando o álbum, levando uma das suas mãos até as minhas, encostando a medida que sua pupila dilatava, segurando. Virei a palma, sentindo um calor no coração assim que nossos dedos se entrelaçaram.
Um tempo depois, quando as pessoas começaram a dizer que eu deveria encontrar alguém, conhecer novas pessoas, eu senti que ainda não estava pronta e que precisava ter um tempo meu onde eu pudesse de fato me sentir confortável com a ideia de me envolver com outro alguém. Antes até tentei com alguns que pareciam legais, mas ou eram babacas demais ou me queriam apenas para uma noite. Acho que com o Jimin foi o único caso de uma noite que eu realmente achei interessante e me entreguei, não sei se era pela lábia dele ou por me sentir estranhamente atraída depois de todo esse tempo.
— Acho que isso é normal, entende? Mesmo não estando preparados, um dia isso vai acontecer. — Ele se encostou mais para perto de mim e fiz o mesmo, repousando minha cabeça em seu ombro.
Tinha esquecido como essa sensação poderia ser estranha, do coração batendo mais rapidamente, da mão suada e das borboletas no estômago.
— Nada dura para sempre. — o gatinho ainda estava em seu colo, não se incomodando com a nossa conversa.
— Eu acho que nós podemos durar para sempre.
— Acha? — levantei o olhar, encontrando o brilho intenso e a sensação de mergulhar na profundidade de ser a única na qual tinha toda a sua atenção . Ele confirmou, o que me fez mirar nos nossos dedos e voltar para ele, sentindo-me como um quadro sendo admirado pelos olhos angulados e estreitos. Mais uma vez meu coração parecia bater mais rápido e meu corpo ficou ainda mais quente.
Vi quando Jimin se aproximou mais um pouco interrompendo seu ato na metade do caminho, esperando por alguma resposta minha e correspondi, completando o espaço que faltava em nós, juntando nossas bocas e sentindo uma sensação de déjà vu percorrer cada parte do meu ser. Era diferente daquela vez, não tinha riscos de alguém aparecer ou as câmeras pegar, não tinha a sensação de que eu estava arriscando minha carreira, nada além do que eu queria: ele. Eu só pensava como aquele homem imprudente, petulante e que preferia ficar a noite toda algemado comigo tinha conseguido me afetar e fazer com que eu confiasse apenas no que eu sentia, sem me culpar ou me sentir pressionada.
— Vem aqui — fiquei de pé, segurando sua mão, vendo-o ter cuidado e pondo o rosquinha em um dos sofás.
— Onde vamos? — Apontei para uma direção, piscando para ele.
— Vamos ali.
— Vou precisar memorizar meus direitos? — Direcionei pelo canto dos olhos. Ele estava com um micro sorriso.
— Depende, se você me acompanhar, não vai precisar.
— Huh, parece interessante.
Caminhei em direção ao meu quarto, mas antes de chegarmos, seus braços me puxaram e eu o envolvi, abraçando sua cintura enquanto ele apoiava seus braços em meus ombros, roçando nossos narizes, fazendo cócegas. Soltei um risinho com a sensação em meu nariz, tendo sensações mais intensas e quentes quando começou a beijar meu lábio inferior, pressionando nossas peles e por fim ocasionando um arrepio em minha nuca.
— Dessa vez não vai me algemar depois de terminarmos, né? — Olhei para fora do seu campo de mira, pensando se seria uma boa ou ótima ideia.
— O que acha de terminarmos primeiro e depois decidirmos essa parte? — Sugeri, descendo minhas mãos e subindo-as mais uma vez, agora por debaixo da camiseta.
— Ótima ideia — Tirou meus pés do chão em um só movimento. O abracei com minhas pernas em torno dele, vendo-o dar as costas para empurrar a porta que seguíamos, encontrando meu quarto e ficando a vontade para entrar nele.
Seria a primeira vez que trazia alguém ali? Provavelmente sim, meu segundo espaço, nem tão íntimo quanto a delegacia, entretanto, ainda mais confortável.
Ele encontrou a cama e me deitou nela, vindo por cima, beijando meu rosto e até fazendo algumas cócegas ao descer as mãos por minhas coxas, conseguindo algumas risadas. Nos beijamos e parecia que quanto mais estávamos juntos e nos entregavamos, aquela faísca ficava mais intensa, tomando controle de tudo.
★
Alguns minutos mais tarde, permanecemos na cama, sob os lençóis. Os dedos de Jimin acariciavam minha perna sobre seu corpo e a outra fazia o mesmo movimento em meus cabelos.
Senti seu cheiro contra meu rosto, o calor da sua pele e o frio que pouco a pouco sumia conforme esfregavamos nossos pés e mãos um no outro.
— Você estava certa, sabia? — Disse de repente, me deixando sem entender. — Se eu quero mudança, eu preciso mudar.
— Ação e reação, fatores básicos e sempre funcionam — murmurei, fechando os olhos e apreciando o seu carinho, descansando meu rosto em seu peito. — Mas no que exatamente nisso, eu estou certa.
— Eu preciso fazer o que gosto e confiar. Uns meses atrás fiz uma audição virtual e passei na primeira etapa, são três, a segunda é pessoalmente e eu precisaria viajar pra fazer. — Abrir os olhos e prestei ainda mais atenção. — falei com meu pai, mas ele não deu muita atenção.
— É uma ótima oportunidade para começar a mudança.
— Eu não sei se consigo.
— Pensando dessa maneira e não tentando primeiro, fica difícil — ele desceu o olhar, me pegando. — Vá em frente e tente Jimin, não deixe de tentar.
— Bem…— mordeu os lábios. A tensão em seu rosto se formou.
— O que foi? — elevei uma das sobrancelhas.
— Se fosse umas semanas antes de vim para cá, eu ia sem pensar duas vezes, mas agora…eu tô começando a pensar que ficar aqui não deve ser tão ruim — apertou os braços que se formaram em volta de mim, me apertando gentilmente.
— Não temos nada sério Jimin, não quero que se prenda do que quer por causa de mim.
— Podemos ter algo sério e eu também quero você.
— Mas o seu sonho e o que você gosta, é o que deve seguir primeiro. — em seus lábios se formaram um biquinho, seus olhos miúdos pareciam úmidos e me olhava como um cachorrinho molhado. — não me olhe assim, sabe que estou dizendo a verdade.
Mirei para o outro lado da cama, mas ele me guiou até que estivéssemos frente a frente.
— Podemos sair, ter encontros, porque o na delegacia não considero muito um encontro e…e depois…— se calou.
— Depois?
— Não sei, não depende só de mim.
— Você tem que pensar na sua audição e seguir os seus sonhos.
— Eu vou, mas eu volto pra ficarmos juntos mais uma vez e depois de novo e de novo.
— Muitas vezes assim? — brinquei.
— Durar para sempre, lembra? — Eu queria acreditar de verdade nas suas palavras, queria que fosse fácil me convencer naquilo, mas eu tinha medo, eu tinha muito medo de me apegar e nada daquilo durar para sempre.
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