007 | Ir ou ficar

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   Eu e Hoseok ficamos em um espaço nem tão afastado e nem tão próximo das pessoas e do pequeno palco, já podia ver o capitão Kim saindo do carro, em seguida dando a mão para uma senhora sair e posteriormente um homem mais velho, mais duas outras pessoas saíram e uma delas chamou bastante, senão totalmente, a minha atenção. Até que minha postura corporal mudou e olhei discretamente para meu parceiro e colega de trabalho, só para ter certeza que ele não havia notado a minha mudança.

— Eles parecem bem legais, não acha? — ele sussurrou baixo, mas deu perfeitamente para ouvi-lo, só não estava atenta o suficiente para forçar as palavras saírem da minha boca. Minha atenção se direcionou para uma das pessoas que fazia companhia ao candidato, Jimin acompanhava a senhora que foi a primeira a sair, timidamente escondendo-se ao lado dela.

Candidato, todos têm família que eram advogados e um filho novato na cidade. Eu deveria ter percebido esses detalhes, essas coincidências dos momentos anteriores, mas estava tão presa dentro da minha própria bolha que mal chegou em meus pensamentos essa possibilidade.

— São a família do candidato? 

— Uhum, a mulher e os dois filhos. Sabia que um dos filhos dele foi preso recentemente?

— Ah, imagino — Não havia comentado com Hoseok que foi eu que prendi um dos filhos do candidato alguns dias atrás. Fiz que sim e em um estalo, algo passou por minha mente e indaguei a ele: — Aliás, ultimamente você tem tido muitas informações, não?

— Gosto de ficar informado sobre as coisas que acontecem ao meu redor — vi sua piscadinha e seu sorriso soslaio.

Quando vimos mais a frente, o capitão Kim nos olhava, acenei para ele e ele fez o mesmo. De palmas foram cinco minutos e de discurso, mais quinze. O candidato a prefeito Park Juyeon fez questão de enfatizar as melhorias que faria e as coisas novas que traria a cidade, o que animou praticamente todos. Mas nada daquilo me importou, não quando eu brigava com as pessoas que estavam em frente a mim para ter um espaço, uma visão dele, um só momento para ter certeza até aquilo era real. Era tão real que senti o cheiro do seu perfume, o gosto de Tutti frutti do seu gloss, as suas mãos macias enrolando meus cachos envolta dos seus dedos e o arrepio que refazer mentalmente tudo isso causou em mim. Eu estava estranhamente tentada por park Jimin.

Ruby, Ruby, é só um estranho que tentou te subornar, porque você continua achando ele atraente e se preocupando com ele.

A voz dentro da minha mente tinha toda a razão.

Peguei uma garrafa d'água e bebi, umedecendo meus lábios, desistindo de tentar vê-lo, ignorando e prestando atenção no que eu estava fazendo, devolvendo a mim a postura e finalmente voltando ao meu eu.
   Mais tarde, quando todos se reuniam para fazer perguntas a ele, fui chamada para conversar.

— O prefeito me convidou para um evento privado que ele irá fazer a noite, pediu que eu convidasse alguém de minha confiança, quero que vocês dois vão para casa e troquem de roupa, iremos nos encontrar na delegacia. — Disse o capitão. Ele parecia animado e gostando muito de tudo ali. Tanto eu como o Jung concordamos, e fizemos o que nos foi dito.

Fomos embora, deixando a outra equipe no lugar. Pedir uma carona a Hoseok que sem problemas, aceitou e no caminho foi pedindo minha opinião sobre o que vestir e como seria o lugar. Eu não fazia a mínima ideia, só tinha certeza que se fomos convidados pelo capitão, era porque aquilo significava algo bom.

Me despedi brevemente dele e fui para a minha casa, encontrando rosquinha deitado no sofá de dois lugares. Rosquinha era o gato da vizinha que de um dia para o outro começou a me fazer companhia, gostando da comida que eu dava e dos carinhos que eu dava. Era uma companhia agradável e ajudava a não me sentir tão sozinha naquela casa.

— O que você acha? — fui até ele, segurando o vestido. — Eu acho esse bonito.

Não sabia exatamente como seria esse evento, porém arriscava um palpite que todos estariam de terno ou gravata e que teria muitas pessoas que um dia não me dei bem. Escolhi um vestido que poderia se encaixar em simples e em elegante ao mesmo tempo, não havia vestido muitas vezes, apenas uma para ser específica, na festa para entregar a medalha por conduta honrosa do meu falecido marido.
Ainda me sentia estranha por ver Jimin naquele palco, ao lado da família, me sentia estranha e pensativa, assim como ele também parecia diferente, mentalmente longe enquanto seu corpo fazia o trabalho mais difícil de marcar presença. Me questionei se assim como eu, para ele estava sendo estranho ignorar e fingir que nada daquilo aconteceu.

Não esperamos muito, o capitão Kim chegou cinco minutos depois e nos guiou até seu carro. Dirigiu nos contando sobre o prefeito e suas promessas para melhorar e ampliar a delegacia, trazer mais segurança e diminuir os índices de crimes na cidade, em princípio, em relação a drogas. Aquilo parecia promissor, esperava também que as leis fossem melhoradas para evitar que alguns miseráveis pudessem escapar facilmente.

Chegamos em uma região que havia ouvido falar apenas uma vez, tinha visto alguns caminhões de construção e construtores indo para lá, sendo o mesmo caminho que dias atrás eu havia visto Jimin. Não era coincidência e eu sabia perfeitamente. Quando chegamos mais a diante, vi algumas casas prontas e outras ainda pela metade.

— Precisaremos saber de alguma coisa, senhor? — Hoseok vestia uma camiseta de manga branca, sem gravata, calça social e sapatos do mesmo estilo, sem perder o seu jeito e ainda acrescentando algo que facilmente passaria despercebido por quem fosse que estivesse nesse evento.

— Apenas que teremos que manter tudo o mais pacífico por aqui. — Parecia difícil aquilo. Assim que entramos na residência, avistei Lim, um dos conhecidos que já tinha discutido por achar que poderia usar seus artifícios fracos para assustar eu e meus colegas. Se a ideia era manter tudo pacífico, seria um feito que seria difícil de conseguir.

Demos passos em direção a Park Juyeon, o Kim foi o primeiro a cumprimentar e fizemos o mesmo esse seguida.

— Ruby Peiroz e Jung Hoseok candidato, esses são os policiais que mais confio e que já trabalharam comigo nos casos mais difíceis.

— Que bom conhecê-los — estendeu sua mão, me cumprimentando e posteriormente o Jung. — Precisaremos de pessoas confiáveis ao nosso lado para melhorar ainda mais a cidade.

— Estaremos aqui se for preciso, candidato — Enunciei, recebendo uma afirmação sutil dele.

— Fiquem a vontade para conhecer alguns apoiadores meus, tenho certeza que terão uma ótima conversa.

Olhei só meu redor, forçando um sorriso de agrado. Não era o meu estilo ir a eventos tão “exclusivos”, ainda assim ultimamente isso estava acontecendo com bastante frequência. Encontrei um cantinho e de repente uma senhora se aproximou, conversando e compartilhando gostos em comum, acabei descobrindo que era a mãe do Park, seu jeito de sorrir com os olhos era bem semelhante com o jeito dele. Meu amigo se encontrava distante e até nos comunicamos com uma encarada, o famoso “socorro” foi transmitido um para o outro.

Deixei a taça de champanhe junto com algumas outras vazias.

— Eu poderia ir ao banheiro? — perguntei.

— Claro, fica no segundo andar — me acompanhou até as escadas. — a penúltima porta a esquerda

— Obrigada — Agradeci e subir as escadas, seguindo pela esquerda. Quando encontrei o banheiro só quis respirar fundo, como se aquele ato trouxesse mais da energia social que estava se esgotando. Lavei as mãos e no que fui seca-las, escutei uma melodia que vinha de onde estava, no que sair, percebi uma movimentação na sala se estar, vi que todos estavam hipnotizados com Jimin ali, como havia visto horas atrás. Sua voz soou inconfundível desde da primeira vez que o ouvi, tão reconfortante e intensa. Repousei minhas mãos nas paredes, apreciando de longe ele. De certa forma, não conseguia vê-lo vestido em um terno agindo como um pateta igual aos tantos outros, seu jeito era diferente, único. Era possível que essa rebeldia expressiva tivesse me afetado naquela noite.

Mal terminou e o observei sendo arrancado de onde estava por quem parecia ser seu pai. Meus olhos viram quando sussurrou algo no ouvido do park, trazendo bruscamente para as escadas enquanto recebiam a atenção de todos que estava presente. Nem mesmo a mãe conseguiu parar o marido que prosseguiu até chegar às escadas, subindo-as e trazendo o filho junto. Pisquei, saindo de mim mesma, voltando correndo para o banheiro, na esperança que eles não tivessem me visto, não fechando a porta por completo.

Escutei passos agressivos, sussurros e uma agitação que vinha de fora.

Como eu sairia dali?

— O que você tem na cabeça quando achou que isso seria uma boa ideia? — Não podia fingir que não ouvia a voz de Juyeon ou sair dali e provocar mais um clima desconfortável, principalmente sabendo que meu chefe, o capitão, não iria se agradar com aquilo. Me silenciei, esperando que fossem embora, mas muito pelo contrário, escutei o que parecia ser uma pancada ou talvez um tapa. — Na frente de todos Jimin, já não basta me envergonhar tendo um filho que foi preso recentemente?

— Não fiz nada pai — ele também estava ali. — Aquilo foi tudo um mal entendido.

— Isso o que você acabou de fazer não é coisa de homem, você deveria gastar sua energia terminando a faculdade e sendo como seu irmão, seguindo o caminho da nossa família. — escutei a respiração de Jimin.

— Eu não quero, não é isso que eu sou e eu já falei pai, não vou mudar pra agradar você ou qualquer um.

— Você é uma vergonha para mim. — Desviei o olhar para a brecha entre mim e a porta. — Seu maldito…. — algo o interrompeu.

— Não Juyeon, não faça isso, por favor — não via o que estava acontecendo, mas ouvir quando a mãe acelerou o passo, se juntando a ele. — depois, depois conversamos, o Jimin só estava tentando te orgulhar, animar os convidados, por favor…

— Não vai ser cantando ou sei lá o que ele quer fazer que vai me trazer orgulho, muito pelo contrário. — Disse. Aquilo tinha soado tão grosseiro e estúpido. Minha mente tentava processar se era o mesmo homem de cumprimentei minutos atrás. — Melhor descermos, não posso deixar nossos convidados sozinho e você, não saía do quarto, não quero ver sua cara hoje, se aparecer lá novamente terei o prazer de te colocar naquela cela mais uma vez e deixar que te tratem como um criminoso.

Um silêncio, apenas passos de afastando.

— Sim senhor..  — Murmurou Jimin.

Olhei para a parede à minha frente, focando ali, lembrando do que ele tinha me dito antes. Escutei uma porta abrir e mais alguns passos, quando senti que não deveria ter mais ninguém, decidi sair. Já tinha ouvido muito para permanecer ali, naquele evento.

Quando finalmente estava fora, uma porta se abriu atrás de mim.

— Ruby? — Fiz uma careta ao escutá-lo. Sair correndo fingindo que não ouvir me chamar seria mais difícil de explicar.

Me virei, olhando os meus pés antes de erguer e encontrar os seus olhos.

— Desculpa Jimin, eu não queria escutar o que aconteceu, eu vou embora. — dei passos para trás, em direção às escadas.

— Não, tudo bem, é bom saber que alguém escutou quem ele verdadeiramente é dentro de casa. — Seus olhos estavam inchados e vermelhos, assim como a ponta do nariz. — Não precisa ir embora, não vá embora Ruby, não dessa vez.

Era mais do que um pedido. Meu peito se pressionava dentro do meu corpo, meu coração me dizia para ficar e escutá-lo, cuidar dele e dizer que todas aquelas palavras estavam erradas, que não era nada daquilo que Juyeon disse, entretando minha mente dizia que eu deveria apenas ignorar e ir embora.

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