006 | Olhos da verdade
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Uma semana tinha se passado e estava muito ocupada para me ousar relembrar as memórias do que aconteceu. A cidade estava em festa, uma festa para garantir votos de um dos novos candidatos a prefeito da cidade, tudo sendo a mesma palhaçada de sempre. O capitão da delegacia separou alguns policiais para monitorar o lugar, uma equipe considerável e para minha sorte, ou não, eu estava em um desses grupos, Hoseok também. A ruas se encontravam decoradas, com bandeirolas, barracas de comida e também entretenimento, sabíamos que momentos como esse eram bem comuns de um ou outro “cidadão de bem” se estressar e querer agredir o outro.
— Quer saber de uma curiosidade sobre esse candidato? — O Jung se esticou para me falar. — Os outros falaram que ele é um advogado muito conhecido por fora, tá tendo ajuda de alguns que já conhecemos.
— Se ele for o que diz que o cliente é inocente e todo aquele drama, já sei que terei muitos dias de meditação e terapia. — minhas palavras o fez rir e arqueei a sobrancelha. Aquilo não era engraçado, quando eu me sentia estressada pelas coisas que aconteciam sempre meditava e fazia uma sessão para conversar sobre o que me incomodava.
— Não é pra tanto, falaram também que ele é pulso firme, toda a família tem um dedo no direito.
— Deve ser muito bom ser da família deles, né? — O encarei, Hoseok mais uma vez riu e negou.
— Espero que ele possa melhorar as coisas por aqui.
— Ele fazendo a parte dele, se ele ganhar e se tornar prefeito, não vai ser mais do que a obrigação. — ele concordou e eu dei um micro sorriso, voltando a atenção para as crianças que brincavam nos brinquedos. Todos os moradores pareciam bem contentes e estavam aproveitando.
— Hey, me solte, eu não roubei nada — virei o rosto apenas para ver um grupo de policiais, um deles segurava o garoto que tentava se debater e se afastar dele, ambos os adultos alterados e outro até mesmo com a arma em mãos.
— Ruby, onde vai? — Jung foi muito lento e eu já estava bem próxima ao grupo de policiais, queria entender o que estava acontecendo e porque eles estavam detendo uma criança. — Ruby!
— Só vou ver o que tá acontecendo — ele parou ao meu lado após correr para me alcançar. — Eu posso saber o que está acontecendo por aqui, senhores? — Eu conhecia aqueles homens, tinham entrado alguns anos depois de mim e já tinham uma lista de reclamações maiores do que qualquer criminoso.
— Esse piralho roubou uma das barracas — Disse um deles, olhei para o garoto e dei um sorriso, tentando diminuir a tensão que ele sofria.
— Eu não roubei nada seu babaca estúpido, eu comprei, pode ir lá e perguntar — o menino respondeu, levando um puxão pelo braço.
— Você não vai acreditar nesse ladrãozinho, não é policial? — minha fisionomia estava tão séria que assim que ele curvou os lábios para minha, o meu sorriso começou a sumir.
— Se ele diz que comprou, vamos na barraca e perguntar a vendedora, não é policial? — Devolvi a pergunta. Eu tinha um pressentimento que eu deveria ir a fundo naquilo e eu iria. — E por favor, policial Rick, não é necessário portar a sua arma nesse momento, a criança não é perigosa para nenhum de nós.
— Sim senhora. — Apoiei meus braços atrás do quadril, esperando que ele guardasse e assim que fez, olhei para a criança. — Não há necessidade de segurar o garoto assim também.
— Se eu não segura-lo ele pode reagir policial Peiroz, não viu como ele estava agindo como um selvagem? — Encarei o homem, não dizendo absolutamente nada, esperando que meu silêncio fosse compreendido e assim que foi, guiei a criança para o meu lado, caminhando e pedindo sua ajuda para me levar até onde havia comprado.
— Não senhora, o garoto realmente comprou aqui, eu mesma vendi a ele. — A senhora respondeu o que eu sentia. Só de olhar o garoto, os seus olhos, que ele dizia a verdade e que eu acreditava no que ele falava.
— Obrigada, perdão atrapalhar. — Sorri gentilmente e quando me virei, apenas esperei o mínimo em uma situação como essa.
— Eu achei errado senhora.
— Não trabalhamos para achar nada policial, deveria fazer o mínimo que é um pedido de desculpas para o garoto, os três. — Hoseok enunciou tudo o que eu queria dizer, mas se dissesse não ficaria apenas nisso, perderia toda a paciência que tinha.
Eu sabia exatamente o que eles tinham achado “errado”, um garoto preto, correndo com algo em mãos sem companhia, nem precisava dizer o que de verdade aquele policial achou. Desde que eu estava ali, como policial, situações desconfortáveis como essa aconteciam, na verdade, muito antes de me tornar policial eu aprendi a lidar com aquilo sem perder a minha razão.
— Eu imagino exatamente o que aconteceu aqui policiais e devem imaginar o quão errado isso se trata, senão sabem agir como policiais e vivem de seus próprios achismos, é perigoso tê-los junto a nós, estamos aqui para proteger todos, todos os moradores… — Prosseguir. Segurei a mão do garoto. — Estou esperando um pedido de desculpas ao garoto.
— Ruby, ele é só uma criança — relaxou os ombros, dando as costas.
— Policial Ruby, em nenhum momento te tratei intimamente para que você me tratasse. — Os olhares me cercaram. Uma tensão tão tensa estava por ali, olhares nos avaliavam com curiosidade. Nunca tive medo ou abaixei a cabeça para preconceitos seja dentro ou fora do meu trabalho e não admitiria que houvesse ali. — Depois do pedido de desculpas, eu quero que os três saiam daqui e voltem para a delegacia.
— Mas o capitão…
— O capitão Kim me deixou como a responsável do grupo que cuidaria desse evento, confiou a mim as decisões e se eu quiser, na próxima reunião, pedirei pessoalmente para colocar os três para lavar as privadas das celas dos prisioneiros. — Enfatizei minhas palavras.
Tentaram dizer algo em murmúrios e reclamações, mas nada saiu a não ser grunhidos.
— Desculpa garoto, foi um erro que não irá acontecer.
— Pode ter certeza que não irá — Não só pediria para colocá-los para lavar as privadas, como também faria a caveira dos três com todo o prazer.
— Desculpe garoto.
— Foi um mal entendido.
— Melhor saírem antes que o capitão chegue com o candidato e veja isso — os homens assentiram. Só queria que saíssem da minha frente e foi o que fizeram. — Tudo bem com você? — Levei o garoto até um banquinho e sentei ao seu lado.
— Tirando aqueles idiotas, estou bem, só quero ir pra casa comer minhas balas — balançou o saco com vários doces. Minhas bochechas elevaram e dei um tapinha carinhoso em seu ombro.
— Cuidado com os dentes viu, muitos doces fazem mal — ele deu os ombros, como quem não se importava. Levantamos. O garoto foi embora, ansioso para chegar em casa e se divertir com seus doces.
Sentir uma presença se achegar, vendo hoseok, assentir para ele.
— Eu e a Jade já conversamos muito sobre isso, sabe? — oscilei. — Tenho medo do que podem fazer para machucar fisicamente ou emocional a Jude, não queria que ela passasse pelo que esse garoto passou.
Ninguém deveria passar, mas era uma herança de muito antes de nós, uma herança que assim como o garoto, eu também carregava. Não seria fácil, mas iria lutar até o fim.
— Jude é uma garotinha forte Hoseok, até porque os pais dela são fortes também — Cutuquei seu ombro e ele me abraçou, devolvi o abraço de lado. — O que podemos fazer é não fechar os outros para isso, e ensinar as próximas gerações sobre como o racismo e o preconceito pode e deve ser combatido.
— Verdade. Você fez praticamente aqueles idiotas mijarem nas calças, vou ensinar a Jude fazer o mesmo.
— Meu desejo era chutar a cara dos três. — finalizei aquela conversa.
Fomos fazer uma patrulha já planejada, recebendo a informação que o candidato estaria chegando e iria fazer um discurso no palco para os moradores.
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