Mulheres (I)

Bryan é o único que tem acesso à estação São Preto além da segurança nacional e alguns especialistas responsáveis no caso 568 e no misterioso caso de Flamingos até os próximos dias. Hoje, especialmente, abriu-se a exceção para todos os funcionários apanharem seus pertences e entregarem as chaves dos respectivos setores da estação.

Alcides, um bigodudo de 38 anos, aprendiz de Bryan, segue seu mestre mais por obrigação do que por prazer em aprender algo. Ele presta toda a sua atenção nas luzes dos balcões, uma vez que apresentaram um estranho curto momentos atrás.

Sob a plataforma de embarque, Alcides entedia-se, pois sempre achou que, com um número módico de pessoas na estação, menos problemas surgiriam. Contudo, as circunstâncias atuais não se mostram nenhum pouco com os ensaios de sua mente. Decerto, não há reclamantes, mas ficar na sala dos funcionários o dia todo sem fazer nada além de ir dar uma olhada na entrada ou acompanhar Bryan aqui, ou ali, é por demais enfadonho para alguém com alguma percentagem em proatividade. Por mais que ache interessante a ideia de trabalhar descansando, por mais contraditório que pareça, nunca imaginou que descansar pudesse cansá-lo tanto. E, em um ponto de vista mais assíduo, não é uma vantagem muito grande ser um dos únicos a ir trabalhar. Constantemente, ele se pergunta até quando o governo aguentaria pagar salário para funcionários públicos que não estão trabalhando.

Um ventinho sai do túnel atrás de si e o velho cheiro de máquinas surge. Por um momento ele sente a nostalgia da breve chegada de um metrô. Contudo, o veículo não chega. Não há nada funcionando no momento, mas Alcides ainda fecha os olhos e sente o ventinho bater no seu macacão.

— E agora? — pergunta Bryan na sala dos condutores.

— Ainda não! — responde Alcides automaticamente, se virando rapidamente para os balcões. Assustado, limpa os olhos, averiguando a iluminação da bilheteria.

Por pouco deixara seu devaneio levá-lo completamente. São poucas às vezes nesses últimos dias que ele vai até a plataforma de embarque. Aliás, Bryan também. Aparentemente, a ordem expedida pelo general Onofre é que nenhum dos responsáveis pelas estações, por esses dias, avance para a plataforma de embarque. Por essa razão, a estação em sua maioria das vezes se resume a uma breve iluminação até as bilheterias. O mundo depois das catracas já não lhes diz mais a respeito.

As únicas desculpas para ter acesso ao lado de dentro, no momento, são atendimentos a pedidos dos especialistas entretidos no interno da estação, o que não é o caso ali, pois a estação São Preto ainda não teve nenhuma aproximação física de entidades investigativas governamentais até o momento. São apenas Bryan e Alcides que dão conta da estação e, decerto, uma picadinha na luz ou qualquer outra falha boba na energia já é o suficiente para Bryan interpretar uma urgência e partir para os reparos. Ao menos já é alguma coisa para fazer.

Voltando a olhar para o túnel, Alcides sobressalta ao dar de cara com uma mulher bem na sua frente.

— Olá! — cumprimenta disfarçando o susto.

— Oi... — diz uma ruiva, lhe entregando umas chaves e um crachá.

— Não. Isso você pode ficar — informa Alcides abrindo um sorriso.

— Ah! Ok! — a funcionária responde, indo embora.

— Você não está prestando atenção, não é, Alcides? — reprimenda Bryan, saindo da sala dos condutores. — A luz já está acesa!

Alcides olha para a bilheteria do outro lado, agora com a iluminação consertada, mas, se quer, tem alguma reação, pois está intrigado com outra coisa. Depois, se vira para o túnel do metrô atrás de si, confuso.

"O que ela estava fazendo lá dentro?"

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top