All too well
Notas:
A história do manhwa se passa na segunda vida deles, e na Ruby tentando conquistar o marido para que ele fique ao seu lado. Mas em sua primeira vida que não foi tão explorada nem na novel, eles foram um casal que foi a ruína, destruindo todos ao seu redor, e é nessa linha do tempo que se passa a fanfic. De como foi a primeira vida e as motivações de Rudbeckia para escapar de seu Inferno pessoal.
Espero que gostem. ♡
Vomito minhas tripas em uma busca compulsiva por controle. Ao menos meu corpo gostaria de ter controle.
Casada com um homem que não estimo, obrigada por tantas vezes ser uma espécie de pássaro cantarolando e agradável. O que pensariam ao ver as minhas verdadeiras cores?
-Ruby? -Ouço a voz de meu marido na porta. Reviro os olhos, é óbvio que ele está chateado, sua esposa saiu no meio do banquete importante. Como eu poderia não ser perfeita?
-Já estou saindo. -Me limito a responder. Aprendi com meu irmão que mesmo insatisfeita, tudo que posso fazer é seguir em frente.
Tento normalizar meu estado o mais rápido possível, meu corpo pequeno ainda treme decorrente ao vômito, mas me encaro no espelho. Não consigo enxergar vida em meus olhos, mas passo um pouco mais de maquiagem na bochecha, tentando suavizar a palidez.
-Pronto. -Digo ao vê-lo, sem encarar seus olhos.
-Tudo bem? -Seu tom é ameno, mas não deixo me levar por isso.
-Tudo sempre está bem. -Respondo saindo de seu campo de visão, indo de novo para o banquete.
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Esse quarto parece uma jaula. As luzes impedem que os monstros apareçam, mas gostaria de ficar apenas no breu, perdida para sempre, não podendo ser tocada por alguém.
Não preciso de abraços, eles sempre vêm acompanhados de tapas, e no fim estou entorpecida com o cheiro do meu sangue, em feridas que preciso esconder.
Encaro a escrivaninha, e tem um álbum de pequenos retratos. Algo que Ellen, minha cunhada, me entregou.
Suspiro pensando no quão idiota ela é por ao menos tentar. Todos sabemos o final. Aquele marido trágico pode ter sido uma criança fofa, mas nada impede que aquela espada atravesse meu corpo.
Rezo todas as noites para qualquer Deus que existir, que isso aconteça. E seja o fim, de uma vez por todas. Suportaria o banho de sangue, se significasse que seria a última vez.
Mas não consigo deixar de tocar aqueles retratos, e encarar a família que parecia em alguns momentos felizes, até serem tão monótonos que dá angústia.
Crianças que foram deixadas órfãs. Que ideia patética para tentar me fazer ter estima por Iske. Ela acha que teria compaixão de sua história triste?
Minha história é marcada por sangue, lágrimas e amor. Um amor vermelho, tão destrutivo que nunca me permitiu respirar.
Tudo que preciso de Iske é que ele me estime, o suficiente para que eu sobreviva até o nosso grande final. Não importa realmente, sempre estivemos condenados.
Olho novamente para a escrivaninha, e ali está a carta de Cesare, e tenho vontade de voltar ao banheiro e vomitar tudo novamente. Pensar nele me enoja.
Mas Cesare precisa aprender uma lição, e minha vida será o custo dessa lição. Talvez a vida de diversos inocentes, mas tanto faz, eu queimei no Inferno em vida, e continuarei queimando na morte.
Sem poder para lutar contra a família Borgia, continuarei aqui, sendo a cotovia de Sistina, uma moeda de troca, mas sempre linda. O suficiente para eles conseguirem seus soldados e resultados.
Respiro fundo encarando a janela. O mar é tão grande que nunca verei a mesma onda duas vezes. Gostaria de ser uma imensidão assim, bela e temível, mas infelizmente, estou presa em um corpo frágil, que se quebra todas as vezes.
Nunca vou confessar o quão quebrada estive, muito mais do que todos os meus ossos.
Provavelmente é o tipo de história que Ellen e Iske iriam ansiar ouvir, e catalogar meus comportamentos com justificativas de traumas, mas a vida é muito mais que o passado, e não posso me dar o luxo de repensar minhas ações. Estou quebrada, mas minha casca ainda está inteira, e enquanto estiver, estarei sobrevivendo.
É tarde demais para pensar no passado, e a verdade inegável que não ouso dizer em voz alta, é que eu sei que escolhi esse caminho. Almejo esse final.
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-Ruby. -A voz de Iske é firme e ameaçadora, escondo o tremor que sinto toda vez e encaro seu rosto.
-Está irritado, maridinho? -Debocho diante dele, e sei que ele está se controlando, tentando não começar uma briga. Mas eu quero brigar. -Não fique assim, não foi nada demais. Não é mesmo, Ellen?
Sua irmã me encara, e sinto vontade de fugir, não por seus olhos serem ameaçadores, mas por me encararem com pena.
Há uma fagulha de dúvida do motivo de Ellen suportar todos os meus caprichos e atitudes ruins, e às vezes, parece que ela consegue ver através da minha casca, e me mantém aqui.
Eu odeio suas atitudes.
-Diga para o seu irmãozinho o papel de bobo que ele está fazendo por se irritar com uma situação tão frívola quanto essa. -Coloco meu leque perto de seu queixo, e Iske o arranca da minha mão.
-Pare com isso, Ruby. Compre quantos vestidos quiser, mas pare com isso. -Meu marido patético cede facilmente aos meus caprichos.
Seguro um suspiro, isso já está me esgotando, não aguento mais fazer o mesmo papel todas as vezes. Nem sei mais o que inventar de comprar.
Nessa altura, achei que Iske teria cortado minha cabeça fora, ou ao menos encontrado uma forma de me enviar de volta, mas por enquanto, estou aqui. E estamos vivendo o Inferno, mas em uma perspectiva matrimonial, estamos juntos.
-Você nem ao menos presta atenção nos meus pedidos, quero sapatos, Iske. Sapatos.
-Compre-os também. Faça o que quiser. É o que sempre faz.
-Como duquesa Omerta não tenho o privilégio de escolher os melhores sapatos desse seu reino? -Respondo, tendo a ousadia de pegar meu leque de volta.
-Nunca neguei seus pedidos. Seus armários estão cheios de tudo que me pediu, mas e você? Alguma vez fez algo que eu pedi?
Solto uma risada sem humor, e é involuntária.
-Deixe isso para lá, Iske. -Ellen se pronuncia, e encaro seu rosto, às vezes gostaria que ela revidasse. Seria muito melhor poder odiá-la.
-Vocês me incomodam profundamente. Chamem a Freya para brincar. Vou escolher meus sapatos, não quero ser incomodada. -Vou até a porta e abro, sinalizando que os quero fora da minha visão.
Ellen é a primeira a obedecer, quase como se fosse minha empregada, ao invés de minha cunhada.
Iske ainda está parado no mesmo lugar, e posso o ouvir suspirar, e seus olhos já não estão ameaçadores, apenas parece suplicar. Como se eu estivesse fora de controle.
-Talvez se você fosse mais velha, entenderia o que estou pedindo. -Ele me diz antes de sair, e isso de verdade me acerta.
Bato a porta com toda a força que meu pequeno corpo possui.
Que ideia esse canalha tem de mim? Que sou jovem e imatura? E estou fazendo todas as coisas erradas por ser a filha do papa?
-Talvez sejam tão idiotas que nunca vão ver através da minha interpretação.
Durante toda a minha vida estive condicionada a ser como uma princesa, a única filha do papa, e todos encaravam como se a minha família fosse amorosa, alguns até invejavam minha posição, como se Cesare e Enzo fossem os melhores irmãos, e que tenho sorte de tê-los ao meu redor para me proteger.
Mas é tudo uma grande fachada. Estou acorrentada, e odeio cada segundo dessa vida. E talvez esteja sendo persistentemente egoísta em não cometer suicidio logo. Estou prolongando essa vida miserável, e as vontades dos Borgias, e arrastei tantas pessoas nessa correnteza de miséria.
Estou com tanta raiva, raiva de tudo que estou constantemente vivendo.
Sapatos espalhados pelo meu quarto, são tantos, e provavelmente uma pessoa comum não conseguiria usar todos, mas não preciso usá-los no meu pé, apenas preciso os ter, para deixar explicito meu lugar como duquesa, uma nobre egoísta, arrogante e que vive em um imenso luxo.
Mas não foi esse o papel hoje. Encaro a caixa de sapato preta, é um presente do Cesare, e me descontrolei quando vi Ellen segurando. Estive a ponto de ter tudo a perder, e tratá-la mal foi apenas instinto.
-Meu marido ficou irritado apenas comigo tratando sua irmã mal. -Abro a caixa de madeira, puxo o sapato, e tiro de um fundo falso um pequeno pote, que contém um veneno poderoso. -O que ele fará ao descobrir que vou matá-la?
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The breaking point.
-Sabia que viria. -Digo sorrindo, vendo esse reino medíocre estar em um imenso caos, fogo se alastrando pelas ruas, gritos desesperados.
Ótimo, agora todos estamos no mesmo Inferno.
Meu marido se aproxima calmamente, me encarando com raiva.
-Qual o motivo de tudo isso? -Solto uma risada sem humor.
Será que não fui suficientemente clara?
-Realmente preciso dizer?
Iske nega com a cabeça, e percebo que meu nobre cavaleiro treme um pouco. Acho que o desconcertei demais.
-Pare de inventar desculpas. Você poderia ter tomado uma decisão diferente. -Sua voz saiu embargada, e ouso dizer que ele está sendo muito forte na minha frente, segurando lágrimas traiçoeiras.
Sei como é o sentimento, em toda minha vida estive segurando meus sentimentos, vivendo no meu caos interno, e expressando um mínimo de emoções.
Pela primeira vez encaro seu rosto sem qualquer atuação. Estamos no mesmo mundo, vivendo o mesmo Inferno. Pela primeira vez realmente me sinto sua esposa.
-Sim, poderia ter dito a você. Poderia ter traído minha família. Mas qual seria o sentido? Essa foi a decisão que tomei. -Dou um passo à frente, dessa vez, essa sou eu. Rudbeckia de Borgia, estrelando minha vida, assumindo minhas verdadeiras ações. -Meu irmão matou a princesa de Omerta, tudo por mim, por esse casamento ter acontecido.
-Não precisava ter sido assim. -Ele diz em um tom controlado.
-Oras, por favor, Iske. Eu matei sua irmã. -Digo em alto e bom tom. Me aproximo o suficiente e toco o seu peito. -Fui eu quem fez isso.
-Por quê? -Seus olhos me olhavam com raiva, mas seu semblante era mágoa pura.
Sorrio para ele. Isso me trouxe paz. Estamos agora compatíveis. Destruídos, quebrados e errados.
Somos um verdadeiro casal.
-Se refere ao motivo de tê-la matado? Eu nem mesmo a odiava. -Me afasto dele, e deixo que ele pense o que quiser. -Aqui estão os papéis do divórcio, acho que nos sentimos muito ansiosos por isso em alguns momentos. Mas ainda não assinei, então sou ainda sua esposa. Acho que é um bom momento, Iske.
Gesticulo com os braços e demonstro a vastidão de destruição que plantei.
-Esse é meu presente de casamento. Afinal, ainda somos um casal. Deixe-me partir agindo como sua esposa.
Iske aponta sua espada para meu pescoço, e sei que ele precisa desse momento.
-Casal? -Ele grita, e sua voz demonstra o quanto ele está lutando contra seus próprios sentimentos. Seguro a lâmina da espada, e vejo algumas gotas de sangue escorrerem. Não importa mais, deixo meu corpo sangrar livremente. -Esse tempo todo estávamos só brigando entre nós. Você matou minha família, e eu cheguei ao ponto de matar a sua. Como pode dizer que somos um casal?
-Idiota, essa é a prova de que somos um casal de verdade. Encare ao redor. Nosso amor incendiou o reino. -Dou um largo sorriso. Estamos na mesma página, sendo traduzidos de enormes conflitos para o amor verdadeiro. -Olhe para essa linda briga de casal.
Iske nega com a cabeça, e percebo que algumas lágrimas escaparam.
-Todos os dias sonhava com a destruição desse mundo, é só aqui que posso te mostrar minhas verdadeiras cores. Você tornou meu sonho realidade.
-Eu faria qualquer coisa por você. -Ele expressa com seu rosto em profunda dor.
Mantenho o sorriso, mesmo que meu corpo tenha tremido.
-Sinto muito. -É tudo que posso dizer, e estou sendo sincera.
Iske abaixa sua espada, e encara meus olhos, e ele perde a luta contra seus sentimentos, e vejo lágrimas brotarem em seu rosto.
-Isso não é amor, Rudbeckia. Isso é o oposto. Esse Inferno que estamos vivendo era tudo que eu não queria para você.
Encaro seriamente, e estou caminhando para uma rua sem saída. Meu marido permitiu que tudo fluísse, então faço o mesmo, e pela primeira vez em anos penso em como a vida poderia ser diferente.
-Esse é o amor que eu conheço. -Confesso pela primeira e única vez. Iske acena, e percebo que ele nunca irá me perdoar, mas conseguiu me entender, e deixo uma lágrima solitária escorrer.
Esse marido na minha frente, que sempre parecia sério e sem graça, nunca ria das minhas piadas de mal gosto. Parece o tipo de homem que teria incendiado o próprio reino para que o Inferno me abandonasse.
E talvez, se eu tivesse uma nova chance, teria deixado que o motivo do incêndio fosse outro.
-Eu nunca fui amado como em um conto de fadas. -Ele retorna a falar. -Mas tenho certeza que o amor não é assim. O amor de verdade não entra em combustão, ele brilha como uma luz de estrelas. -Iske respira fundo, e torna a trazer sua espada para meu pescoço. -Gostaria que pudéssemos ter tido a chance de descobrir o amor.
Chegamos ao fim. Nós dois sabemos disso.
Tudo que Iske diz faz sentido pela primeira vez, e o silêncio recai sobre nós, e apenas os gritos de socorro são ouvidos. É tarde para nós.
O que somos é raro, e estamos quebrados. Somos um belo mosaico de corações partidos. O fogo chegou até nós.
-Por favor, não hesite. Queria ter a certeza de tê-lo ao meu lado no meu último momento. Esse é meu último desejo, como sua esposa. -No rosto de Iske outras lágrimas escorrem, e vejo a espada tremer.
Esse momento é apenas nosso. E sei que ele consegue fazer o que tem de fazer. Sempre quis que ele me libertasse, e Iske fará. Irei abandonar esse mundo que apenas me destruiu.
-Amo você. -Ele diz em meio às lágrimas. -Muito, Rudbeckia.
Não tenho tempo de dizer que também o amo. Sua espada atravessa meu pescoço.
Meu amado, Iske. Meu salvador, aquele que me arrancou do Inferno.
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Levanto sobressaltada.
-Senhora? -Minha empregada pessoal me chama, e encaro o quarto, completamente confusa.
Me lembro de tudo muito bem. Lembro da dor de minha cabeça saindo do corpo, de o amar tanto.
-Senhora, o Cardeal Valentino está procurando-a. -A empregada continua falando.
Me dou conta de que já vivi esse momento, abro a janela rapidamente, o vento bate no meu cabelo e isso é vívido demais para ser apenas um sonho.
-Diga a ele que já irei. Por favor, saia. -Ela acena e me deixa sozinha.
Sento no chão, abraçando meus joelhos. Apenas com meus pensamentos, lembrando de tudo muito bem, eu estava lá. Fomos como uma oração sagrada, e sangramos até o fim, todo nosso amor queimou o nosso ao redor até restar apenas cinzas.
Lembro dos olhos de meu marido.
-Iske. -Choro lembrando de nossos últimos momentos. Ainda não somos casados, e não sei o motivo, mas temos a chance de fazer tudo diferente. -Eu lembro de tudo, Iske, podemos conhecer o amor dourado do qual você disse.
Notas finais:
"Minhas experiências amorosas têm me ensinado difíceis lições, especialmente minhas experiências com amor louco. As relações vermelhas. Aquelas que vão de zero a mil milhas por hora e então batem no muro e explodem. E isto foi horrível. E ridículo. E desesperador. E emocionante. E quando a poeira baixou, foi algo que eu jamais quis reviver. Porque há algo a ser dito sobre quando somos jovens e precisamos tanto de alguém, você pula de cabeça sem olhar. E há algo a se aprender por esperar todos os dias por um trem que nunca vem. E há algo a se orgulhar por seguir adiante e perceber que o amor de verdade brilha dourado como luz das estrelas e não desaparece ou então entra espontaneamente em combustão. Talvez eu escreva um álbum inteiro sobre este tipo de amor se eu encontrá-lo em algum momento." Taylor Swift, prólogo Red.
Talvez em algum momento, eu retorne com a segunda vida deles, e como eles foram do amor vermelho ao amor verdadeiro, encontrando o amor dourado que o Iske queria para eles. Um amor que brilha verdadeiramente, e como Ruby o fez ficar ao seu lado, e ele conseguiu demonstrar a dimensão do amor que ele sempre sentiu.
Recomendo a leitura do manhwa e da novel. Ruby e Iske são um dos melhores casais que já existiu e canonicamente swifties hahaha. ♡
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