Chapter Eleven

Música do capítulo:
Dark Paradise (Lana Del Rey)

Não se esqueçam de comentar e favoritar se gostarem do capítulo, obrigada!

— Já está tudo pronto para levar a Jenna para Dallas — o meu pai avisa. — Eles vão chegar lá amanhã à tarde.

      — Eu sei, o meu voo está marcado para às duas horas — digo, sem mostrar nenhuma emoção.

      — Falei com a Margot, ela vai chegar lá amanhã de manhã também. Já o Noah, a gente não tem certeza se ele vai poder ir.

      — Não me importa quem vai ou não, pode, por favor, me dar licença, tenho que arrumar as minhas coisas para viajar.

      — Você não precisa ficar sozinha, Lara, a sua mãe não ia querer isso — o meu pai diz.

      — Por favor, não fale por ela, eu quero ficar sozinha, preciso colocar a minha cabeça no lugar. Agora, por favor, me dá licença. — Não queria ser grossa, mas ele não tinha me deixado sozinha desde que ela morreu e eu preciso ficar sozinha agora.

      — Tudo bem, eu e a Candice vamos voltar para Dallas agora, qualquer coisa me liga.

      — Façam uma boa viagem — digo, mas não olho para ele, que está em pé, parado do meu lado.

      Ele se abaixa e beija a minha testa, vai em direção à porta e sai.

      Faz dois dias, já faz dois dias que eu não a vejo mais, dois longos dias que eu estou tentando desesperadamente não chorar, faz dois dias que eu não escuto mais a voz dela.

      Todos os seres humanos passam por isso, todos os seres humanos vão perder alguém na vida, é normal filhos terem que se despedir dos pais porque sabem que eles vão morrer, é o ciclo da vida, um dia todos passam por isso.

      Mas mesmo tendo essa certeza, não se tem a noção da dimensão de quanto vai doer dizer adeus. Não é só uma pessoa que morreu, são aqueles que te deram à vida, são os que te ensinaram a amar, o certo e o errado, te amaram mais que a própria vida, são as pessoas que sempre estiveram ao seu lado.

      Ela pode ter sido a pessoa mais complicada e teimosa que eu já convivi, ela pode ter sido tudo isso. Pode ter feito escolhas estúpidas, mas ela sem dúvida foi a melhor pessoa que eu já conheci, amava as pessoas com a coração aberto, se entregava para todos os seus projetos.

      Nunca, em um milhão de anos, eu encontraria uma mãe tão perfeita quanto ela, nem sempre sabia dizer o que eu precisava ouvir, nem sempre me entendia, mas sempre esteve ao meu lado, sempre acreditou nas minhas escolhas e me apoiou, me deu a mão e me ajudou a me erguer.

      — Estou brava com você! — Apoio a minha cabeça no sofá e me desabo a chorar.

      Você podia ter me dito antes, podia ter me avisado que estava doente, podia ter me dito que estava piorando, que estava com dor. Por que guardou essa merda de segredo com você? Eu estava aqui todos os dias, perguntando se você estava bem, se você precisava de alguma coisa. Eu estou aqui agora e você não está mais...

      Não adianta mais eu brigar com você, nunca adiantou, né? Você nunca me escutou.

      Respiro fundo, os meus pulmões não estão recebendo mais oxigênio de tanto chorar e uma crise de Asma começa no meio de todas as minhas lágrimas. A sensação da falta de oxigênio é a mesma do luto. Alguém pressionando seu peito com uma tonelada que te impede de respirar, mas diferente da Asma, não tem um remédio para o luto, essa dor não vai passar tão cedo.

      Vou até o meu quarto e pego uma bombinha para Asma perto da minha cama. Tento concentrar toda a minha a atenção na minha respiração, tento parar de chorar. Fico uns minutos assim, me esforçando muito para não chorar mais.

      Levanto da minha cama e vou para o banheiro, tiro a minha roupa e entro embaixo do chuveiro. Tem alguma coisa, algum modo de esquecer tudo isso?

      Fico muito tempo debaixo da água quente, não consigo fechar os olhos e não ver ela em cima daquela cama de hospital.

      Saio do chuveiro, me enrolo em uma toalha e vou para o meu quarto, sento na minha cama do mesmo jeito, preciso pensar qual é o próximo passo, o que eu tenho que fazer.

      Não consigo pensar em nada, a minha mente só vê o rosto dela, aquele sorrisinho fraco no rosto dela.

      O meu celular começa a tocar do meu lado.

      — Alô... — Nem vejo quem é, apenas atendo.

      — Como você está? — É a voz do Noah do outro lado da linha.

      — Bem... — digo, a maior mentira que eu já disse.

      — Eu sinto muito, Lara.

      — Está tudo bem, o meu pai disse que você não vai conseguir vir para o enterro.

      — Não consigo sair daqui agora, sinto muito mesmo.

      — Está tudo bem, Noah. Como estão indo as coisas aí? — pergunto, por educação, mal estou escutando o que ele está me dizendo.

      — Estou me acostumando ainda, queria estar aí com você, poder te abraçar.

      — Obrigada.

      — Entendo como você está se sentindo... — ele diz, só consigo soltar um tom de sarcasmo.

      — Não, você não entende, Noah, você querendo ou não nunca perdeu ninguém, nunca perdeu alguém que fosse tão próximo de você, não da maneira que uma mãe é para uma filha, não diga que você entende.

      — É acho que você está certa, mas a Jenna foi bem mais do que só a sua mãe para mim. Ela foi uma grande mulher, certa sobre todas as suas decisões.

      — Sim, ela era...

      — Acho que vou para Los Angeles no final do mês, pode me ligar para o que for preciso, tá, estou aqui para você.

      — Obrigada, Noah. — Um silêncio entre nós. — Preciso ir, tenho que arrumar a minha mala.

      — Tudo bem, eu te ligo mais tarde.

      — Tá...

      Desligo o celular e fico olhando para o porta-retrato que está à minha frente, uma foto de família, tem eu, a minha mãe e o meu pai. Eu ainda era bem pequena, apenas um bebezinho.

      Tenho que fazer a mala — me lembro.

      Eu sei o que eu tenho que fazer, mas agora não tenho vontade nenhuma de fazer.

      Me levanto e vou pegando qualquer peça de roupa do meu armário e colocando dentro de uma mala.

      E quando eu vou pegar mais um cabide para colocar dentro da mala, percebo que mais da metade das roupas do meu guarda-roupas estão em cima da mala.

      — Não preciso fazer isso agora, né... — Respiro fundo, ergo a cabeça e me olho no espelho à minha frente, o meu rosto está vermelho, os meus olhos estão inchados. Não estou bem. — Você consegue fazer isso, só precisa parar um pouco e respirar fundo.

      Digo para eu mesma, quero me convencer de que eu vou ficar bem.

      O meu celular que está em cima da cama, começa a tocar. Penso que pode ser o meu pai, mas é só o Sam.

      — Você está bem? Eu fiquei sabendo o que aconteceu.

      — Estou bem, como você soube?

      — Não precisa mentir para mim, Lara, a Megan me contou.

      — Ah, tá...

      — Está em casa?

      — Estou arrumando as coisas para ir para Dallas. Por quê?

      — Estou indo aí, você precisa de um amigo agora.

      — Na verdade, não vem eu quero ficar sozinha, preciso organizar as coisas aqui em casa antes de ir.

      — Só abre a porta, acabei de chegar aqui. Ele ignora tudo que eu tinha dito.

      — Como você é teimoso...

      Saio do quarto e abro a porta para ele, e de fato ele já está aqui.

      — Vem cá. — Ele apenas me abraça e eu abraço ele forte.

      — Eu estou bem. — Tento não chorar mais, mas isso é muito difícil, ele faz com que eu me sinta acolhida, me faz bem, como se eu não estivesse sozinha.

      — Não precisa mentir para mim, eu já passei por isso, Lara, você não está bem.

      Não respondo ele, apenas fico abraçada com ele, me controlando o máximo para não desabar completamente.

      — Preciso arrumar a minha mala. — Tento me soltar dele.

      — Quer ajuda?

      — Já coloquei as coisas na mala, só preciso arrumar.

      — Eu te ajudo...

      — Tá bom, se você já está aqui, pode me ajudar - digo, com um sorriso fraco no rosto.

      — Vamos ver a bagunça que você fez.

      A gente vai para o meu quarto, todas as roupas estão jogadas no chão. Sam não diz nada, apenas começa a juntar as roupas do chão.

      — Deixa que eu faço isso — digo, pegando a camisa a mão dele.

      — Vai ficar lá quanto tempo?

      — Acho que uma semana, não muito mais do que isso.

      Sento na cadeira e tento pensar, tento colocar a minha cabeça no lugar. Sam não diz nada, me olha algumas vezes, junta as minhas roupas do chão, dobra algumas e coloca dentro da mala.

      — Que horas é o voo? — ele pergunta.

      — Às duas — digo.

      — Precisa trocar de roupa então, eu te levo no aeroporto.

      Fecho os olhos e tudo que eu vejo é a minha mãe, quero tirar ela da minha cabeça, quero poder pensar em qualquer outra coisa.

      — A sua mala está pronta, coloquei umas roupas mais básicas — Sam diz, sorrio fraco para ele, agradecendo. — Que roupa você quer colocar para viajar?

      Olho para baixo e percebo que ainda estou enrolada na toalha. Sam me olha, observando como eu ajo, está esperando eu fazer alguma coisa.

      Levanto e vou até ele, passo a minha mão pelo pescoço dele e ele me observa, puxo ele e o beijo. Tudo que eu quero agora é tirar a imagem da minha mãe na cama do hospital, da minha cabeça e, sinceramente, não estou me importando como é que eu vou fazer isso.

      — Lara... — Ele se afasta de mim.

      — Preciso da sua ajuda, Sam, preciso de você. — Puxo ele mais uma vez e ele não me impede mais.

      Aos poucos encontramos a minha cama, eu deito e o Sam deita em cima de mim.

      — Não posso fazer isso com você assim. — Sam para mais uma vez.

      — Por favor, estou te pedindo.

      — Não, Lara, não assim, você não precisa de mim, precisa enfrentar o luto.

      Ele levanta a cama e eu continuo ali, deitada, sem saber o que eu devo fazer.

      — Coloca uma roupa, vou te esperar lá em baixo. — Ele pega a minha mala e sai do quarto.

      Levanto da cama, pego um conjunto de moletom, lavo o rosto, prendo o cabelo em um rabo de cavalo e estou pronta. Pego a minha bolsa e confiro se está tudo certo, então vou encontrar o Sam no carro.

      Ele está com a cabeça encostada no banco do carro. Não diz nada quando eu entro no carro, apenas me leva para o aeroporto como disse que faria.

      Faço o check-in, me despeço do Sam. Entro na fila para entrar no avião, que já está preste a decolar. Acho o meu lugar dentro do avião, tomo alguns calmantes e fecho os olhos.

      Quando chego em Dallas tudo que eu quero é deitar e dormir, ainda estou sonolenta pela quantidade de comprimidos que eu havia tomado.

Quando eu acordo já é o dia do velório, apenas coloco uma roupa preta qualquer e vou para o cemitério que ela vai ser enterrada.

      — Oi, Lara. — A tia Margot vem me abraçar. — Como você está, minha querida?

      — Você sabe... — Forço um sorriso.

      No meio da sala está o caixão da minha mãe, rodeado de pessoas, elas estão conversando baixo, mas ninguém parece dar atenção, ninguém parece realmente estar aqui pela minha mãe.

      — Quem colocou isso aqui? — pergunto, me referindo às flores em cima do caixão.

      Pego aquele buquê de flores e coloco no chão, está cheio de flores para todos os lados.

      — Ela não gostava de flores, porque lembrava enterros — Margot lembra. — Mas acho que podemos deixar essas aqui hoje.

      Concordo com ela apenas movimentando a cabeça, o caixão está fechado, mas eu sei que ela está aqui e o meu coração dói.

      — Margot? — Ouço uma voz chamar a Margot, a mesma me solta e vira de costas.

      — Jacob, você veio. — Me viro para ver e é um homem alto, bonito, com os cabelos castanhos. A Margot abraça ele bem forte. — Essa é a Lara, a filha da Jenna.

      — Nossa, você é muito parecida com ela. — Ele me analisa.

      — Quem é você? — pergunto.

      — O meu nome é Jacob, fui um colega de escola dela. — Ele me estende a mão.

      — Prazer, desculpa a minha indelicadeza.

      — Está tudo bem. O que aconteceu com ela? — ele pergunta.

      — Ela estava doente... — resumo.

      Ele se afasta da gente e vai até o caixão.

      — Lara, está tudo pronto para levar a Jenna — o meu pai aparece do meu lado, junto com a Candice.

      Quem vai levar o caixão até o cemitério onde ele vai ser enterrada é o meu pai, o Ansel, o Peter e era para o meu avô ajudar, mas ele não parece bem.

      — O vovô está melhor? — pergunto.

      — O Lucas vai levar — o meu pai diz.

      — Se importa se eu ajudar? — Jacob vira para a gente, o meu pai olha ele de cima a baixo e o cumprimenta com um aperto de mão.

      — Claro, a Jenna estaria muito feliz de te ver aqui — Margot diz.

      — Vou chamar todo mundo aqui... — o meu pai diz e se afasta da gente.

      A Margot me puxa para fora do salão e aos poucos as pessoas vão saindo também. A Gillian e a El vêm para o nosso lado e seguram a mão da Margot, que está com lágrimas nos olhos.

      Prometi para eu mesma que não iria chorar, mas está muito difícil.

      Andamos devagar, ao lado do caixão que está sendo levado. Todos caminham de cabeça baixa, em silêncio.

      Paramos quando chegamos no lugar que ela vai ser enterrada, o buraco no chão já foi cavado. Os meninos colocam o caixão no chão, em cima da lona verde que cobre a cova e se afastam.

      O pastor que conduz o velório diz algumas palavras sobre a vida, como a vida nessa Terra é uma passagem curta, o que importa é a nossa vida que ganhamos no mundo espiritual. Quando ele termina de falar, chama a tia Margot para fazer um breve elogio fúnebre para a minha mãe.

      — Bom, eu não sei muito bem por onde começar porque eu iria ficar aqui por dias contando todas as nossas histórias e como elas sempre foram melhores com a Jenna ao meu lado, então vou falar das partes boas de estar com ela. A Jenna sem dúvida foi a melhor amiga que eu pude ter ao longo de toda essa vida, a gente sempre teve os mesmos sonhos, as mesmas vontades e paixões, mesmo as nossas personalidades sendo completamente opostas em muitos pontos, a gente se conhecia perfeitamente bem para saber o limite uma da outra. Para ser sincera, acho que nada do que tivemos e temos foi o que construiu a nossa amizade, mas sim o que éramos uma com a outra. A Jenna é a minha alma gêmea e eu sei que, independente de qualquer coisa, assim como já me disseram há um tempo, ela não nos abandonaria se não soubesse que estamos preparados para o que vem agora. Eu perdi a melhor amiga que eu poderia ter no mundo, mas nunca vou deixar de agradecer por ter tido ela do meu lado, eu sei que ela está em um lugar melhor agora... Vejo você um dia desses, Jen!

      Ela larga o microfone e vem em minha direção, todos estão me esperando para dizer alguma coisa.

      — Eu pensei bastante sobre isso, sobre a morte. Todos nós sabemos que vamos ter que dizer adeus uns pros outros, mas quando chegar a hora, a dor por mais esperada que seja, não temos ideia do quanto de fato vai doer. A minha mãe sabia que iria morrer, mas em nenhum momento planejamos como seria o seu enterro. Ela não me entregou um lista de pessoas que gostaria que estivessem aqui agora. Ela poderia ter me dito isso, mas resolveu guardar segredo. Tenho certeza que ela conseguiu afetar todos aqui de alguma maneira, por isso vocês vieram dizer adeus à ela. Obrigada por terem vindo. Não preciso dizer a vocês como ela era especial, não quero dizer, acho que nem conseguiria. Só quero me despedir dela...

      Largo o microfone e ando até o caixão dela.

      — Mãe, se você puder me ouvir, quero te dizer uma coisa: Eu queria que você tivesse sido chata comigo, queria que tivesse me perturbado todos os dias, queria que você me cobrasse para fazer coisas sem sentido, e não tivesse me apoiado nas minhas escolhas. Porque só assim eu poderia dizer adeus à você sem me sentir tão mal. Tive a sorte de te conhecer e de te chamar de mãe, sou grata por isso. Se eu pudesse te pedir uma coisa, só uma coisa, mãe. Por favor, não esconda mais segredos de ninguém, mesmo que você acredite que vai ser melhor para os outros ao seu redor... Eu te amo.

      Me afasto do caixão dela e vou abraçar o meu pai, as minhas lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto mais uma vez.

      O pastor pega o microfone mais uma vez e diz algumas palavras, já não estou prestando mais atenção.

      A gente combinou de colocar algumas coisas pessoais no caixão da minha mãe, coisas que nos lembrassem dela.

      O meu pai coloca a aliança de casamento deles, a Margot coloca uma foto delas pequenas, o Jacob trouxe um MP3, o Peter traz um papel e eu... eu quero deixar aqui o meu coração, mas deixo com ela um colar que ela me deu.

      Ela disse que era um amuleto da sorte, que se eu carregasse comigo para onde eu fosse sempre ficaria bem. Vou deixar com ela, não acho que exista amuleto no mundo que vá me fazer ficar bem.

      Então é a hora de dizer adeus, aos poucos vão jogando terra em cima do caixão que está na cova profunda e escura.

      As pessoas que estão aqui, aos poucos vão indo embora.

      — Minhas condolências, Lara. — A Candice me abraça.

      — Obrigada.

      Limpo as lágrimas e aos poucos várias pessoas vêm até mim e me dizem essas mesmas palavras. No fim da tarde, o túmulo está totalmente coberto e só estão eu, a Margot, o meu pai, o Jacob, o Peter e o Ansel.

      — Eu ia dar para a Jenna, mas acho que você vai gostar de ouvir isso, Lara, a sua mãe era muito especial para mim. — Jacob me entrega um pequeno Pen Drive.

      Ele não diz adeus, mas vai embora.

      — Tenho uma coisa para vocês, a Jenna me pediu para entregar isso — Peter diz, com três envelopes na mão.

      — Obrigada — Margot agradece, eu apenas fico olhando para o envelope pardo na minha mão.

      — Se precisar de qualquer coisa, Lara, pode contar comigo — Peter diz, me abraça, dá um beijo suave na minha testa e vai embora.

      — Você vai ficar bem, querida? — Margot pergunta.

      — Acho que a parte mais difícil já foi.

      — Quer eu eu te leve para casa? — o meu pai pergunta.

      — Eu estou de carro, vou ficar aqui mais um pouco, tá, podem ir.

      Os três me olham, sorriem fraco sem acreditar muito nas minhas palavras, me abraçam e vão embora.

      E então eu estou finalmente sozinha com ela.

      — Não tenho muito mais a te dizer, mãe, vou só sentir muito a sua falta.

      Fecho os olhos e choro, não tem mais nada que eu possa fazer por ela, absolutamente nada.

      — Acho que tenho que ir agora, mãe. Você vai ficar bem, né? — pergunto, tenho que perguntar, mas ninguém me responde.

      Depois de uns minutos tentando evitar de ir embora eu finalmente vou. Entro no carro e dirijo até a minha casa.

      Está frio, a porta dos fundos está aberta, é por ela que o ar gelado passa.

      Tiro a minha roupa e coloco um pijama, vou direto para o quarto da minha mãe, pego o meu computador e plugo o Pen Drive que o Jacob havia me dado.

      É um vídeo, a minha mãe é muito nova, parece ter uns dezesseis ou dezessete anos, está no quarto de alguém, sentada à frente de um piano. Ela não parece feliz, tem um olhar triste.

      — Não quero fazer isso, amor — ela diz para o Jacob, que aparece em cena.

      — Você disse que o seu pai gostava de ouvir você cantando, vai ser legal você cantar para ele uma última vez — Jacob diz.

      — Eu só quero escrever uma coisa cafona que todos querem ouvir, na verdade, você sabe que eu não quero fazer isso, acho que nem consigo.

      — Eu te ajudo, você escolheu uma música, né?

      — Jacob... — Ela deita a cabeça no ombro dele.

      Jacob se ajeita ao lado dela e o piano começa a ser tocado por ele. Ele toca duas vezes a mesma parte do começo esperando ela começar.

      — Todos os meus amigos me dizem para seguir em frente, estou deitada no oceano, cantando sua música...

      Ela começa a cantar, os seus olhos estão fechados e a sua voz parece tentar segurar o choro.

      — Ah, foi assim que você cantou, amar você para sempre não pode ser errado, mesmo sem você aqui, não vou seguir em frente. Ah, é assim que nós somos...

      Jacob olha para ela, mas não para de tocar o piano.

      — E não há remédio para as lembranças, seu rosto é como uma melodia, que não sai da minha cabeça, sua alma está me assombrando e me dizendo, que tudo está bem, mas eu queria estar morta... morta como você... Ela para de cantar. — Eu não consigo mais, Jacob. — A minha mãe se levanta e as lágrimas rolam pelo seu rosto.

      — Continua... — Jacob diz, ela limpa as lágrimas e volta a cantar.

      — Toda vez que fecho os olhos, é como um paraíso sombrio, ninguém se compara a você, tenho medo de você não estar me esperando do outro lado...

      Ela termina de cantar e se desaba a chorar, o Jacob se levanta e abraça ela.

      — Estou aqui, amor — ele diz.

      — Isso doí muito... — ela diz, abraçando ele forte.

      Então eu estou chorando junto com ela, naquela época ela tinha perdido o pai dela e hoje eu perdi ela, mas agora, nesse momento, choramos pelos mesmo motivo. Perdemos as nossas pessoas importantes no mundo.

      Deixo o computador de lado e pego a carta que o Peter tinha me dado, têm duas folhas dentro do envelope.

Minha princesa,

      Eu escrevi essa mesma carta umas vinte vezes, acho que é o único lado bom de saber que vai morrer, posso dizer para você que vai ficar tudo bem depois que eu partir, não é um despedida tão repentina assim.

      Hoje é dia 23 de julho, estou na Alemanha, procurando tratamento para a doença que eu acabei de descobrir que não tem cura. Pelo visto parece que eu vou morrer mais cedo do que eu pensei, e se você está lendo isso, eu já morri. Ainda não tenho certeza de como esse pedaço de papel vai chegar nas suas mãos, mas seja como for, mesmo que a nossa última lembrança juntas tenha sido a nossa despedida no aeroporto com você bêbada. Está tudo bem, tá.

      Eu realmente achei que nunca, nem em um milhão de anos, eu pudesse amar tanto alguém como amei o seu pai, mas eu amei, eu amo. Você é a minha estrelinha, a parte de mim que eu mais tenho orgulho.

      É muito difícil ter que dizer adeus, ainda mais para mim. Porque eu, como sua mãe, queria ver você crescer, se formar e ter filhos, queria poder te incomodar muito mais, mas o nosso tempo não permite. Lembra, dias atrás quando o Noah foi para a faculdade e você estava morrendo de saudade, se questionando porque o Universo tinha que mudar tudo e eu disse: o Universo está se ferrando para os nossos planos.

      Desculpa, tá, por não estar aí com você, mas ainda vão ter milhares de pessoas à sua volta para comemorar todas as suas conquistas, todas as que eu não puder participar. E mesmo que eu não esteja lá fisicamente, ainda sim vou estar com você, dentro do seu coração vou estar mais viva do que nunca, vou estar mais saudável do que sempre estive.

      Eu te amo, minha princesa, você é tudo que eu tenho de especial no mundo inteiro. Desculpa mais uma vez, por não ser a melhor mãe do mundo, por não ter te amado desde o começo, mas você é e sempre será tudo que eu tenho e me importo.

       A minha vida mudou muito quando você apareceu e eu vi os seus olhinhos, quando você pegou na minha mão.

      Agora, não lembro se já te contei, mas eu te dei esse nome, Lara, porque quando eu estava grávida eu conheci uma menina com esse mesmo nome, ela tinha sofrido muito na juventude, mas ela foi forte, e estava se esforçando para melhorar, para ser feliz. Espero que você consiga ser igual a ela, tá, tão forte e feliz do que ela estava tentando ser.

      Lara, eu sinto muito mesmo, mas quero que você seja feliz, não é porque eu não vou mais estar aí do seu lado que você precisa sofrer, tá. Eu sei o quanto isso vai doer e sei que vai passar.

      Seja tudo o que você quiser ser, seja sempre a melhor versão de si mesma e, acima de tudo, seja feliz, meu amor.

Com amor,
Jenna.

Hey, obrigada por ter chegado até aqui. Primeiramente, queria deixar claro que essa obra é uma parceria com a larissahenkes e que esse capítulo foi escrito por ela.

Deixem suas opiniões, feedbacks e críticas construtivas.

Nos vemos no próximo capítulo.

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