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Passar em simulações de combate e escolher a melhor resposta dentro de uma prova era completamente diferente do que estávamos indo enfrentar. Bom...era novo para mim. Midoriya e toda a turma 1-A, possuíam experiência com vilões.

Mastiguei a torrada a contragosto e tentei não me comparar, precisava focar em resgatar Eri. Faltava apenas uma hora para a operação começar. Espero não hesitar. Conferi o relógio pela milésima vez e me obriguei a vestir um sorriso cordial com a entrada de Kirishima na cozinha.

- E aí, como você está?- ele me cumprimentou, animado como sempre.

- Estou bem e você?- menti, cerrando o punho debaixo da mesa.

- Tô bem...vamos ter que tomar muito cuidado com aquelas balas, né?- Eijiro relembrou e eu assenti devagar- Fala sério, não vai parecer fraca se admitir que está com medo.

- Isso foi bem másculo da sua parte, Kiri.- ergui as sobrancelhas e ele cruzou os braços.

- Miranda, essa frase é minha!- reclamou e eu dei risada, arrancando um largo sorriso dele.

Ele provavelmente percebeu meu nervosismo...Kirishima é um ótimo amigo.

- Que bom que não estou carregando esse fardo sozinha.

- Sei bem do que você está falando, manter a residência em segredo não foi fácil- concordei, apesar de saber que não teria conseguido falar com ninguém além do Izuku- Mas estamos lutando pelo mesmo objetivo desde que descobrimos a existência dela, você nunca esteve sozinha.

- Você tem razão. Obrigada, Kiri.

Ouvir isso me fez perceber que Midoriya deve ter se sentido tão culpado e pressionado quanto eu...ele só teve a imensa consideração de pôr seus sentimentos de lado para me consolar naquela noite.

Devia ter prestado mais atenção nele.

Tomei o resto do suco e levantei para lavar o copo. Eijiro se escorou no balcão e pegou uma maçã do cesto, entrando em detalhe sobre o homem que derrotou nas ruas. Fiquei tão investida no seu relato e na possibilidade de atirarem em alguém dentro da missão, que tardei a perceber quem apareceu às minhas costas.

- Gente, temos que ir. Vocês estão prontos?- Izuku intrometeu-se baixinho, da porta.

Finalmente vamos acabar com esse arrependimento.

- Sim.- Kirishima e eu confirmamos em uníssono.

Prometo que vou dar o meu melhor, Eri.



Nos reunimos com o resto da equipe no local designado e identifiquei alguns rostos familiares. Eu não via tantos heróis juntos desde o exame de licença provisória. Ajustei o tecido do uniforme sobre o meu corpo e repassei as informações que recebemos até agora, estremecendo ao perceber quem vinha na minha direção.

A última pessoa que eu queria ver hoje.

Aizawa franziu os lábios em reprovação de onde estava. Yuri Kayama caminhava de maneira exibida em seu traje, bagunçando os fios preto-azulados com o charme barato que facilmente dissimulava as garotas ao seu redor. Pelo menos, esse tipo de influência, ele não possuía mais sobre mim.

- Você fica bonita de uniforme.- Yuri elogiou, ignorando o olhar fuzilante que recebia de Eraser.

Por que ele age como se ainda tivéssemos intimidade?!

- Hoje não, Kayama.- usei seu sobrenome para tentar instituir uma distância.

- Ainda tá nessa, então- meu ex-namorado cruzou os braços, desacreditado- Mira, o que eu preciso fazer pra você me perdoar?

Virei a cara discretamente, querendo escapar da situação...a questão era fazer isso sem chamar atenção. Yuri soltou uma risada fraca e fez menção de recuar, provavelmente ciente de que eu não responderia tão cedo.

Graças a Deus, estamos quase no quarteirão deles e preciso me concentrar.

- Se tiver qualquer problema na missão, basta gritar e vou correndo até você.- Kayama prometeu em tom carinhoso.

Só pode ser brincadeira!

- Pode ficar tranquilo, não sou nenhuma donzela em perigo.- juntei toda a coragem dentro de mim e retruquei com um sorriso cínico.

E lá se vai a minha tentativa de não atrair atenção.

Midoriya estampava uma mistura de confusão e orgulho ao me encarar à esquerda. Aizawa, por outro lado, nem se dava ao trabalho de disfarçar o contentamento diante da cena. Sir Nighteye parecia desinteressado na comoção, algo pelo qual eu era imensamente grata.

Já o Mirio...acho que Yuri vai ter muito o que explicar. Felizmente, exatamente 1 minuto após a nossa interação, o sinal foi dado e pude respirar aliviada.

Temos coisas bem mais importantes para resolver.

Às 8h30 em ponto, a força policial avançou, sendo contra atacada quase no mesmo segundo por um massivo punho. Como previram nossa chegada?! Os homens da frente foram arremessados com a queda do portão e eu trinquei os dentes ao ser puxada por Aizawa, evitando que eu fosse atingida pelos escombros.

Essa foi por pouco, não posso ficar dependendo dele.

Izuku, no entanto, foi rápido a reagir e salvar um dos policiais do vilão. Midoriya é mesmo impressionante. Estava pronta para tomar a visão do grandalhão quando Ryukyu o confrontou e afirmou que seu time cuidaria dele.

Fomos instruídos a continuar, porém, vários inimigos travavam a passagem. Ele deve ter mandado os subordinados para ganhar tempo. Assim, tivemos que nos separar dos outros heróis e prosseguir com números reduzidos.

Se estiver preparada, as dificuldades não aparecem. Repeti, determinada a expulsar qualquer dúvida que ousasse me travar, todos desempenhavam um papel crucial nessa operação.

Vou fazer o que estiver ao meu alcance.

Tenho que chegar até a Eri!

Usei o bastão para me livrar do yakusa na minha direção e invadi a mansão com o restante da equipe. Sir Nighteye liderava o caminho pela memória que obteve na loja de brinquedos e nós corríamos ao seu encalço enquanto Eraser especulava sobre a estratégia de Overhaul.

- É aqui, tem uma passagem encoberta.- Nighteye parou abruptamente em frente a um vaso de flores, retirando-o para executar a sequência vista.

Três homens surgiram das escadas para nos impedir e fomos obrigados a dividir o grupo novamente, deixando que Bubble Girl resolvesse a situação. Descemos para o subsolo e cobrimos apenas alguns metros até que uma parede indicasse o fim da linha.

A partir daí...tudo começou a desandar.



Aparentemente, não éramos os únicos com informações privilegiadas. De alguma maneira, eles descobriram como meu poder funciona, consideraram uma ameaça e me prenderam nessa espécie de porão. Eraser, obviamente, estava sendo vigiado ao meu lado.

Foram perspicazes ao priorizar a captura dele.

A única coisa que me consolava era saber que Mirio driblaria todas as mudanças que armaram para nos atrasar com sua permeação, Overhaul não fugiria sem uma briga. Ele se certificará disso...preciso acreditar que sim. No momento, cada um deles enfrentava uma batalha acirrada: Tamaki se voluntariou para imobilizar três vilões sozinho, Kirishima e Fat Gum lutavam com outros dois e Midoriya tentava encontrar Mirio com Sir Nighteye.

Eu deveria estar lá com eles!

Verifiquei os arredores em busca de uma rota de fuga e xinguei em frustração, o Bakugou já teria pensado em algo...ah, chega de lamentar. Existe uma vantagem a ser explorada: eles estão mantendo distância por não entenderem as condições para ativar minha individualidade, mas continuam dentro do meu alcance.

A porta está do outro lado do cômodo, protegida pelo mais alto.

Se eu criar uma distração para que Aizawa escape, aumento as chances de sucesso da operação. Talvez até dê para sairmos juntos. Primeiro, afrouxar as amarras e comunicar Eraser do plano. Segundo, roubar a visão do mais próximo para agitá-los, nocautear esse babaca e arrancar a venda do Aizawa. Por último, apagar os poderes dos restantes e recuperar meu bastão para garantir nossa vitória...não estou confiante para derrubá-los com minha noção de combate físico.

Se o Katsuki estivesse aqui, me bateria por duvidar.

Por que estou pensando nele numa hora dessas?!

Bati minha bota no chão repetidas vezes para transmitir a mensagem em código morse, cuidadosa ao estampar ansiedade no rosto e não levantar suspeitas. Aizawa entendeu o recado e, ao final, abaixou a cabeça em consentimento de forma discreta.

- Para de balançar essa perna, pirralha!- o do meio reclamou, puxando sua arma para enfatizar a ordem.

Simulei medo e me retrai ao obedecer, arrancando gargalhadas do quarteto. Ótimo, continuem acreditando que sou essa garotinha apavorada. Terminei de soltar as cordas e chequei se Aizawa estava pronto pelo canto do olho, era agora ou nunca.

- Isso que dá mandar crianças para...- ceguei-o antes que terminasse a frase e parti para a ação.



Ainda bem que nos reunimos com Midoriya e Nighteye a tempo, quebrar essa parede seria problemático sem o Izuku. Mirio....não, Lemillion era inacreditável. O lugar estava em pedaços, Overhaul machucado e Eri, atrás dele. Ele fez tudo sozinho. Meu alívio durou cerca de 5 segundos ao perceber a gravidade de seus ferimentos e ouvir as provocações do Overhaul.

- Que patético...foi tudo em vão, Lemillion. Se não tivesse vindo salvá-la, ainda teria sua individualidade e poderia seguir com seu sonho. Está vendo o que você faz, Eri? Você só destrói.

Raiva, como jamais senti, me invadiu e minhas pernas se moveram automaticamente em sua direção. Esse filho da puta vai pagar. Izuku me ultrapassou com facilidade e por um triz, não acertou o chute nele.

- Eu serei o seu adversário- Sir Nighteye anunciou seriamente- Ajudem o Mirio e a Eri.

Ignorei a voz que me implorava para arrebentar a cara dele e recuei conforme ordenado. Eri estava coberta pela capa de Lemillion e ele parecia prestes a desabar, apesar do sorriso que exibia para a garotinha. Midoriya ofereceu apoio Lemillion e eu avisei Eri que a levaria.

- Desculpa por ter demorado tanto.- disse para ambos, franzindo o cenho.

- Vocês chegaram na hora certa, vamos levar ela em segurança.- Lemillion nos tranquilizou.

Em resposta, ela apenas escondeu o rosto molhado em meu peito. Acariciei seu cabelo devagar e prometi que ficaria tudo bem a partir de agora. Uma promessa que também durou pouco...Eraser sumiu no minuto seguinte e o chão foi completamente desfigurado.

Caralho, não acredito que pegaram ele de novo!

A disputa entre Overhaul e Sir Nighteye se intensificou e nós apressamos para alcançar o corredor. Faltavam menos de 20 metros. Virei para conferir a situação num ato instintivo e quase cai de joelhos ao assimilar o que acontecia na minha frente.

"Guarde a sua individualidade para o momento certo, Taker."

Essa foi a última instrução que recebi de Sir Nighteye e pode acabar sendo a última coisa que escutei dele porque hesitei. O grito do Mirio perfurou a atmosfera e eu jurei que faria Overhaul se arrepender do dia que nasceu. Midoriya se antecipou e nos deixou para trás, se desdobrando para usar o terreno destruído ao seu favor.

Passei o braço de Mirio pelo meu pescoço e segurei a Eri com afinco. Dando o meu máximo para compensar o excesso de peso que me retardava e não derrubar o bastão no trajeto. Cada milésimo contava. Entramos no corredor e acompanhei os dois até uma distância razoável, anunciando que voltaria para ajudar o Midoriya.

- Aguentem firme, por favor.- coloquei Eri no chão e sua mão agarrou o tecido do meu traje, pedindo que eu ficasse.

- Ele vai te matar, não volte.- protestou em pânico e abaixei para ficar na sua altura.

- Não sou tão forte quanto o Lemillion, mas preciso mesmo ajudar meu amigo. Eu vou ficar bem...você pode me esperar só um pouquinho?

Ainda assustada, ela confirmou de olhos marejados e eu agradeci com um abraço breve.

- Eri, ela precisa ir- Mirio explicou, cambaleando no processo- Tem dezenas de pessoas aqui que vieram para te resgatar...nós vamos até elas.

Meu coração se despedaçou ao fazer, porém, girei os calcanhares e refiz o caminho. Trincando os dentes numa tentativa falha de clarear minha mente, lutar desse jeito era arriscado...o ódio te faz perder os detalhes importantes. Preciso me recompor. Um raciocínio que se dissipou rapidamente, Overhaul estava absorvendo o companheiro para repor suas forças.

Ele é maluco...jogadas cuidadosas não vão servir. Parei num relevo afastado o suficiente para manter posição e roubei tanto a visão quanto a audição de Overhaul, sentindo o olhar preocupado de Sir Nighteye sobre mim. Midoriya, por outro lado, exibia um semblante determinado ao retirar a estaca de sua coxa e a quebrar em desafio.

Se o derrotarmos logo, Nighteye pode sobreviver.

- Agora, Deku!- gritei, firmando o bastão como apoio.

Overhaul se irritou com a súbita desvantagem e tornou o solo ainda mais instável, exatamente como previsto. Izuku desviou dos destroços e utilizou o Detroit Smash para encerrar a disputa. O barulho foi quase insuportável, mesmo com o equipamento feito para isolar o som, eu teria ficado surda se tivesse escolhido um local mais perto dos dois.

Fundir-se com aquele cara deve ter dado mais resistência a ele, não é normal sair ileso de um soco do Midoriya. Pelo estrondo, sei que era o suficiente para nocautear a maioria dos vilões. A realização fez com que arrepios subissem pela minha espinha, Overhaul era um monstro.

- Eu não avisei que era pra levar essa garota com o Eraser?!- Overhaul esbravejou, para ninguém em específico- Eri, se você não voltar, eu vou ter que sujar as minhas mãos novamente.

Esse babaca só fala merda!

- Deku, temos que acabar com isso agora.- alertei, ele ainda parecia se recuperar do dano causado ao seu corpo.

Midoriya concordou, ofegante, preparando-se para desferir outro soco quando me coloquei ao seu lado. Toda vez que Izuku ataca, o golpe ricocheteia. Fiquei com medo de atrapalhar, consciente de que ele é superior em velocidade e poder ofensivo. Porém, dava para ter feito a diferença, nem que fosse só para cansar o Overhaul.

Chega de se arrepender, eu estou aqui...ainda dá para mudar o rumo da história.

Nosso adversário se pôs de pé, desnorteado por ter seus sentidos desligados, e usei o bastão para bagunçar seu equilíbrio de vez. Acertei alguns golpes enquanto me familiarizava com o terreno danificado e falhei em perceber que Overhaul também se adaptaria às condições impostas. Ele fingiu que desviaria para que eu mudasse o ângulo do ataque, roubando minha arma na sequência.

- Você só veio para dar suporte, né? Aposto que acredita naquela baboseira de fazer do mundo um lugar melhor. É com isso que pretende realizar seu sonho?- apalpou meu bastão para confirmar e o inutilizou em segundos- Com sua individualidade, sugiro que se contente em ficar na retaguarda.

Izuku se enfureceu com o comentário e eu ergui a mão para ele, sinalizando que não me importava. Quer dizer, ele tocou na ferida...mas não era o momento para admitir.

- Uma hora vai ter que devolver meus sentidos e essa brincadeira vai acabar. Está escutando, Eri? Já quebrei o bastão dela, na próxima quebro o pescoço. Quer mesmo que isso aconteça?

Por quantos anos ela teve que aturar isso?

Vou calar a boca do desgraçado.

Cerrei o punho e travei no meio caminho ao notar que passos se aproximavam. Eri estava cedendo às ameaças de Overhaul. Midoriya me encarou de canto, confuso, e relatei o problema, pedindo que ele convencesse ela a ficar com Lemillion.

No entanto, em questão de minutos, a situação fugiu inteiramente do meu controle e presenciei uma luta surpreendentemente equiparada entre Midoriya e Overhaul graças a interferência da Eri. Entendendo, por fim, que todos eles estavam em outro nível.

Será que o Bakugou já chegou a se sentir assim?

Acho que não...a individualidade dele é tão útil quanto a do Midoriya.



Dois dias se passaram desde a operação de resgate, onde Midoriya acabou sendo o fator decisivo para salvarmos Eri e a individualidade de Mirio foi permanentemente apagada. A notícia de que Sir Nighteye não resistiu foi anunciada neste final de tarde.

Izuku e Mirio estavam com ele na hora, Midnight havia me dado a opção de faltar o treino para visitá-lo...mas não tive coragem de encará-lo depois do meu fracasso. Saber que Eri estava finalmente segura era um consolo, entretanto, principalmente para Mirio. Bufei, incapaz de processar todos os eventos e me forcei a comer outra lasca do salmão grelhado.

- Você está mais estranha do que o normal- Bakugou acusou com o hashi na mão- O que aconteceu na agência?

- Nada, só cansaço.- cortei o assunto, evitando contato visual.

- Fala logo, eu não sou idiota.- ele insistiu e as lágrimas que eu segurei, caíram sem aviso- Esquece que eu perguntei.

Katsuki se pôs de pé, claramente incomodado em ter que lidar com sentimentos alheios, e andava em direção a pia quando o impedi.

- Agora vai ter que me escutar.- segurei seu braço e ele arregalou os olhos em surpresa.

- Tá, só me larga!- exclamou, retornando para a cadeira à minha frente.

- Acho que finalmente entendi porque nos colocaram para trabalhar juntos.


Nota da Autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor <3


- Qual a razão hein, Miranda? Será que teremos o Bakugou dando conselhos?! 

- O que acharam da "Taker" em ação? E das pequenas mudanças no plot?   

- Demorou de novo, mas em minha defesa, eu tava na reta final da faculdade. Enfim, feliz natal e feliz ano novo adiantado, anjos! Espero que estejam todos bem.

-  Muito obrigada pelos 6k de leituras na fic!


Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams

link da playlist da fic na bio

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