20


- Eu não sei...você quer namorar?- a proposta escapou por instinto.

Cacete, eu pedi o Katsuki Bakugou em namoro.

- Namorar?- Bakugou repetiu, nocauteado- Eu não sou um cara de declarações e baboseiras.

-Se isso fosse importante pra mim, não estaríamos tendo essa conversa.- prossegui com a explicação, temendo que meus batimentos fossem audíveis- To falando mais pra esclarecer uns pontos, tipo...eu não to interessada em mais ninguém, você tá?

- Claro que não, garota.- Katsuki negou rápido e o alívio preencheu minhas expressões- Mas vamos assumir um namoro do nada? Eu nem pedi autorização pro Aizawa.

- Para alguém que detesta baboseiras, você me parece bem preocupado com detalhes.- cruzei os braços, recuperando a compostura com um sorriso de canto.

- Uma coisa não tem nada a ver com a outra- Katsuki argumentou, semicerrando os olhos vermelhos-sangue- Só quero fazer isso direito.

Agora você me desmontou de novo.

- Podemos continuar como tá agora e depois resolver a parte burocrática.- dei ombros, fingindo casualidade apesar do embrulho no meu estômago. 

Espero que não atrapalhe a nossa sintonia nos treinos.

- É, vamos deixar do jeito que tá.- Katsuki concordou, engolindo em seco- Agora eu vou dormir. Vai também, garota.

- Tá bom, boa noite.- assenti com os lábios curvados e ele se aproximou rígido.

- Boa noite, Miranda.- Bakugou selou um beijo na minha testa, me deixando vermelha da cabeça aos pés enquanto saia da cozinha apressado.

Jogou baixo, Katsuki! Como vou dormir assim?



No dia seguinte, Aizawa apareceu para tomar café no alojamento e Bakugou evitou sequer olhar na minha direção. Estava inquieta e receber o "bom dia" radiante do Midoriya só serviu para me deixar mais ansiosa, eu não podia continuar escondendo algo tão importante dele. 

Tive a impressão de que havia algo por trás da visita do Eraser e suei frio com a possibilidade dele ter novidades sobre o processo judicial do Yuri. O pavor que o Mineta estampava no rosto, entretanto, me divertiu um pouco. Queria mais é que ele cagasse nas calças, porém, acabaria com a tortura dessa praga até o final da aula.

As provas começavam em três dias e a turma estava agitada, revisando os conteúdos um com os outros. Eu agradeci mentalmente pela bagunça, já que as avaliações ocupariam a mente de todos e diminuía as chances de notarem o meu envolvimento com o Katsuki.

As palavras dele ainda ecoavam em meus ouvidos, reforçando que não servia para um relacionamento e se contradizendo ao mencionar a permissão do Aizawa. Realmente não esperava que o Bakugou viria com algo tão ultrapassado.

Mas foi bonitinho, pena que o Aizawa mataria ele. 

Balancei a cabeça para dispersar a imaginação e terminei minha refeição sem nenhuma resposta para a presença inusitada do meu padrinho. Segui para a sala com o caderno do Midoriya em mãos, sendo parada pelas meninas no corredor. Elas queriam garantir que eu estava bem depois do episódio com o Mineta e foram super compreensivas quando falei da denúncia. 

As aulas foram compostas por atividades e eu passei a manhã inteira com o peito apertado, sopesando as situações mal-resolvidas que me cercavam. No intervalo, amassei o rascunho do texto e prometi que me livraria desses fardos pela centésima vez. 

Kirishima me acompanhou na fila do refeitório e Bakugou era uma sombra em meu encalço, meu corpo reagindo a cada respiração dele. Não conseguia associar uma palavra do que o Denki e Sero comentavam empolgados. 

Por que o Katsuki acordou tão bonito hoje?!

Espiei o cabelo indomado pelo canto do olho e segurei o impulso de ajustar a gola da camiseta branca que o vestia com perfeição. Que estado deplorável, Miranda. Do jeito que a coisa anda, eu provavelmente derrubaria a bandeja se o Katsuki triscar em mim por engano.

Senti alguém me cutucar e virei com um semblante confuso, esbarrando no infeliz do Mineta. Franzi o nariz em desgosto e escutei o Bakugou cerrar a mandíbula. 

- E aí, Mineta- Kirishima cumprimentou normalmente e eu cruzei os braços.

O seu crime é ser legal demais, Kiri.

- Posso falar com você, Miranda?- Mineta pediu baixinho e eu neguei.

- Se veio pedir perdão, esquece, nada vai me fazer mudar de ideia.- soltei ríspida e Mineta arregalou os olhos pela exposição; Kirishima nos assistia mais perdido do que cego em tiroteio.

- Miranda, você não precisa me perdoar, mas por favor não me entrega pro diretor.- Mineta suplicou lacrimejando- Eu faço o que você quiser...eu viro o seu lacaio!

- Você não apanhou o suficiente ontem, porra?- Bakugou interferiu, tendo que olhar pra baixo pela gritante diferença de altura.

- Katsuki, eu dou conta dele.- murmurei, resoluta.

- O que diabos tá acontecendo?- Kirishima se pronunciou, enfim. 

- Isso é um assunto particular!- Mineta esganiçou como uma criança birrenta.

Pude visualizar o Bakugou arrastando a cara do Mineta pelo chão do refeitório quando Denki pausou a fofoca com Sero e impediu que ele partisse pra violência.

- Qual foi, Bakugou...virou segurança dela?- Denki entrou desavisado na conversa e Kirishima puxou o fôlego, nervoso- O que tá rolando, Mirandinha?

Só falta o Kiri lembrar do dia que dormi no quarto do Bakugou.

- Tudo sob controle.- menti, vestindo um sorriso forçado- E o Mineta tava de saída.

Mineta tremeu com o tom passivo agressivo em que envolvi a última frase e Katsuki esboçou um fragmento de sorriso. Os estudantes que acompanhavam a cena se dispersaram, pegamos a comida e seguimos como se nada tivesse acontecido.  Vez ou outra, Sero e Denki cochichavam indiscretamente, mas ninguém abordou o elefante na sala. 



Pela tarde, tivemos um tempo livre e aproveitei para fazer a denúncia. Tinha decidido que reportaria pro meu padrinho, definir se levaria pros superiores ou puniria sozinho, ficaria por conta dele. Eu não tinha condição de lidar com outro escândalo...Aizawa vai saber o que fazer.

- Oi Aizawa, você tá muito ocupado?- entreabri a porta do escritório, ele gesticulou para que eu entrasse.

- Não, ainda bem que você apareceu.- Aizawa bloqueou a tela do computador- Eu já ia mandar te chamar.

- O que aconteceu?- indaguei com a testa franzida.

- Então...anteciparam o julgamento do Kayama, Miranda.- Aizawa suspirou e eu gelei, esquecendo completamente do motivo pelo que vim aqui.

A minha intuição não falhou.

- O que?! Eles disseram que levaria mais um mês pra dar andamento na papelada.- neguei, o coração martelando contra o peito- Não entendi nada.

- Aparentemente, abriu uma vaga na Corte e o juiz resolveu dar prioridade para o seu caso. Separe uma boa roupa, vou te buscar amanhã logo depois do almoço. 

- Espera aí, nesse horário eu tenho aula prática com o All Might.- lembrei, percorrendo o escritório com passos agitados. 

- Eu já informei a U.A, não se preocupe.- garantiu, pendendo a cabeça para a direita ao me fitar condescende- Só preciso que descanse bem.

- Tá bom...acho que consigo fazer isso- pisquei atônita, Aizawa exibiu um sorriso reconfortante.

- Ficarei com você durante todo o processo.- Eraser prometeu e eu curvei os lábios sutilmente.

- Obrigada, Aizawa.- me acomodei no sofá, desacelerando- Por tudo.

- Não precisa ficar me agradecendo, você não merecia estar passando por isso.- Aizawa me corrigiu e eu quis muito abraçá-lo.

- Às vezes desconfio que tenho imã para maluco.- brinquei, pondo os braços na nuca.

- É bom que jogue fora, então.- levou a caneca de gatinho boca, um presente que comprei, e tomou um gole demorado.

- Sobre isso...vim te procurar por causa de outro maluco- suspirei, Eraser levantou uma sobrancelha- O Mineta invadiu meu quarto ontem pra tentar me ver no banho.

Aizawa quase se engasgou com o café e gastei mais tempo tentando acalmá-lo do que realmente explicando a situação Depois de se certificar que eu estava bem, meu padrinho se comprometeu a manter o caso ocultado dos alunos e tomar as devidas medidas contra o Mineta. No fim da noite, a perturbada véspera do julgamento, saber que tinha alguém como ele na minha rede de apoio foi o único motivo para que eu conseguisse pregar os olhos.




Frequentei as aulas para evitar que a ansiedade me consumisse viva, não conseguia sustentar duas frases sem me perder no tópico. O julgamento nublava toda e qualquer menção dos meus outros problemas. Mal consegui comer e o Bakugou chegou a estalar os dedos na minha frente pra chamar minha atenção. Quando Izuku me parou com um semblante alarmado, resolvi avisar os meus amigos mais próximos por mensagem. 

As horas passaram tortuosamente lentas e eu revirei o armário em busca de uma roupa adequada, acabando numa camisa gola alta branca e calça jeans. Eraser foi pontual e nós chegamos no tribunal com antecedência.

Fazer uma denúncia era fácil comparado com a tarefa de respirar dentro desse tribunal, rodeada por desconhecidos em trajes formais que decidiriam o meu futuro. Yuri Kayama estava há uma distância considerável de mim, mas eu sacrificava um pouco da minha sanidade a cada segundo que passava no mesmo ambiente que ele. 

Me avisaram há pouco que precisariam do meu testemunho e minhas pernas balançavam agitadas enquanto o advogado defendia aquele filha da mãe. As mentiras contadas se embolavam no meu ouvido e eu repassava o texto como uma sagrada oração. 

Eu tenho provas, vai ficar tudo bem.

Cerrei a mandíbula e não notei que a minha pressão caiu até sentir o lugar girar. Devia ter comido mais no almoço. Aizawa tencionou a postura ao meu lado, ele sempre me lia com facilidade. Exibi uma expressão inabalada e me obriguei a segurar a onda.

- Você tá hiperventilando.- Eraser mencionou, preocupado- Quer sair um pouco?

- Não, vai passar.- disse mais pra mim do que pra ele,  Aizawa respeitou minha decisão.

Em cerca de meia hora, o nosso advogado sinalizou que era a minha vez de depor e recitei o juramento constatando que diria somente a verdade. O silêncio tomou a atmosfera e eu inclinei  o tronco para perto do microfone, contendo a crise que ameaçou comer minhas palavras.

Aizawa acenou a cabeça em apoio e gastei toda a coragem que possuía para narrar a noite que me condenou a uma existência sinuosa. Yuri, entrementes, reagiu a cada palavra como um cordeiro injustiçado. Retornando para o meu assento, os advogados tiveram espaço para reiterar as suas colocações e observei o Júri sopesar os votos.

Para a minha decepção, o veredito acabou sendo adiado. Aizawa deu um aperto leve no meu ombro como tentativa de consolo e pedi licença para ir ao banheiro. Dentro da cabine, deixei que o desespero tomasse forma, chorando como uma criança acuada até que eu me sentisse vazia. Quando me recuperei, sequei o rosto calmamente e ergui o queixo para a sair. 

- Pensa bem no que você tá fazendo- Yuri murmurou brando às minhas costas e eu estremeci- Ainda dá tempo de voltar atrás, Mira.

- Nunca mais me chame assim.- girei os calcanhares e sibilei, ríspida.

- Vai mesmo arruinar a minha vida por causa de um deslize?!- Kayama fulminou, revelando a personalidade degenerada que nos levou até aqui.

- Quem arruinou a sua vida foi você...e o resto fica por conta do Juiz.- cortei a discussão e segui o meu caminho, Yuri permaneceu no meu encalço. 

- Ficou louco?!- Midnight o puxou discretamente pelo braço, meu padrinho apareceu logo atrás e ela se virou para nós- Me desculpe por isso, Miranda.

Eraser me trouxe para perto de maneira protetora e fuzilou o Yuri com o olhar conforme avançávamos na direção do corredor.




Bakugou

Miranda avisou que ia faltar o treino por causa do julgamento e a Mirko ficava um inferno quando focava em só um aluno. Encarei a mesa vazia, impaciente com a demora, a essa altura o tribunal já fechou. Alonguei os braços doloridos enquanto requentava a comida na frigideira e chequei o meu celular pela centésima vez.

Se ela não aparecer em cinco minutos, eu vou mandar mensagem. 

Apaguei o fogo e levei o prato pra sala, tentando me livrar da reação que essa cozinha desencadeou. Não conseguia parar de repetir aquele beijo...e meu corpo queimava com a maldita necessidade de vê-la. Precisava saber o que caralhos aconteceu no julgamento, se ela estava bem e se mandaria aquele filho da puta pro inferno com minhas próprias mãos.

Espiei o celular de esguelha e mordi o peixe mais forte do que deveria com a ausência de notificações. Para piorar, Deku, Kirishima e Todoroki desceram para esperar a Miranda. Lancei um olhar torto quando tentaram sentar comigo, fazendo questão de justificar meu ponto.

- Vou ter uma indigestão se ficar olhando pra essa sua cara.- apontei o hashi, imperativo- Vaza, nerd de merda!

- Que horror, Kacchan.- Deku se retraiu com o insulto, mudando pro sofá.

- To muito atrasado?!- Mirio interrompeu e eu revirei os olhos.

Isso aqui tá igual a casa da mãe Joana!

- Não, ela ainda não chegou.- Todoroki respondeu em tom morno.

- Ainda bem, perdi a hora fazendo vitamina...ela vai precisar repor as forças.- o maluco do milhão balbuciou, tirando a jarra da sacola.

- Que másculo, Mirio!- Kirishima elogiou animado- Eu quero muito provar.

- Só se for agora!- Mirio espelhou a loucura dele e eu fiz careta.

- Ei, vocês estão atrapalhando a minha janta!- resmunguei alto.

- Hoje não, Bakubro.- Eijiro me repreendeu com o cenho franzido.

- Como é, caralho?!- exigi, levantando da cadeira.

O barulho da maçaneta girando levou o meu foco e esqueci até o que eu tava comendo. A ventania de fora bagunçava os fios ônix, cobrindo o rosto que tirava o meu sono.

- Finalmente, Miranda!- Deku correu para a entrada e eu cheguei perto de destruir o cômodo inteiro para ter um momento a sós com ela- Como você está?

Você não deve explicações a ninguém, garota.

Bastou uma troca de olhar para ver que estava esgotada dos pés à cabeça. Desconfiava que andou chorando pelo nariz avermelhado e quis esganar o imprestável do Kayama. Mirio, Todoroki e Kirishima foram até ela e eu contive o instinto de me aproximar, escorando na parede para simular desinteresse. 

- Cansada.- tirou o blazer escuro, exalando pesadamente- Mas acho que fomos bem.

- A sentença não sai no mesmo dia do julgamento?- Todoroki perguntou, eu bufei com a estupidez dele.

- Eles tem um prazo de até 30 dias pra dar o veredito.- Deku respondeu e a Miranda confirmou.

- Aí, tá tomando suco de que?- Miranda perguntou, inocente.

- De abacaxi, o Mirio que fez.- Kirishima estendeu o copo que usava e ela aceitou- Prova um pouco, Mirandinha!

Qual é a tua, cabelo de merda?! Isso aí é um beijo indireto!

Arregalei os olhos e no calor do momento, explodi o meu telefone sem querer. O barulho de vidro  estilhaçando veio em seguida, Miranda tinha derrubado o copo pelo susto e verificar se ela se machucou foi automático. 

- O que diabos foi isso?- Miranda questionou assustada e um bando de figurantes surgiu na escada. 

- Vocês não tem mais o que fazer não?!- abri passagem entre os curiosos e enfiei a mão no bolso, defensivo- O celular é meu e se eu quiser tacar da janela, eu posso, porra!! 




Miranda

Meu estômago embrulhava, apesar de não estar com fome, e nenhum lençol era capaz de me confortar diante da possibilidade de liberarem o Yuri. O Japão não é modelo se tratando dos direitos das mulheres. Encarei o teto com o coração acelerado e pulei da cama, abrindo a conversa com o Bakugou num impulso. 

Putz, esqueci que ele fritou o celular dele.

Revivi a cena, procurando um motivo pro súbito descontrole e uma risada nasalada me escapou ao considerar o Kirishima como culpado. Imaginar o Bakugou com ciúmes era meio absurdo. Pus um moletom cinza, arrumei o cabelo com os dedos e sai em passos leves. As chances dele estar dormindo são altíssimas, mas preciso arriscar...tem horas que só ele me acalma. Nem que seja só dividindo o silêncio. 

Bati na porta devagar, checando os arredores para garantir que não seria pega, e Katsuki apareceu em questão de segundos. Os olhos vermelho-sangue se anuviaram e a carranca usual se desmanchou pelo o que parecia ser surpresa ao me ver. 



Nota da Autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor <3


- Eu estava morrendo de saudade de vocês!! A fic completou 2 anos em Maio e o plano era terminar antes para comemorar na data certa, mas não deu. Minha vida tá uma correria e com o lançamento da minha primeira música Bloody Love, eu realmente não consegui conciliar. O que posso prometer é que, independente do tempo que leve, continuarei atualizando para vocês! 

- A Miranda e o Bakugou estão cada vez mais apaixonados e não sabem como lidar com o turbilhão de emoções enquanto escondem o que tem da turma. Yuri tá quase recebendo o que merece e Aizawa protetor é meu ponto fraco, Mineta será o próximo a rodar.

- Espero que a espera tenha valido a pena! O capítulo foi de certa forma, uma forma de esfriar os nervos...e mesmo amando colocar fogo no parquinho, entendo que essas calmarias são importantes para o rumo da história. Amo vocês!! Estamos quase no final. 


Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams

link da playlist da fic na bio

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