19


Mirko se apresentou com um sorriso orgulhoso e eu levantei para cumprimentá-la, o aperto de mão foi firme. Ela seria a minha favorita se Hawks não tivesse me salvo naquela noite. Ainda escondia o meu desconforto com a menção do Yuri atrás de um semblante confiante e lembrava  que o Kayama não tinha mais acesso a mim.

Bakugou foi informado que o seu mentor, Blue Jeanist, foi escalado para uma operação por um período indeterminado. O diretor prosseguiu com a explicação sobre o novo treinamento, enfatizando que seria uma ótima oportunidade por estarmos sem agência. Concordei com um sorriso contido e prometi honrar os ensinamentos do Sir Nighteye.

Dei uma lida rápida no cronograma dos treinos e arregalei o olho com o resumo dos exercícios, todos pareciam ser exigentes. Era disso o que eu precisava. Combinamos os horários e voltamos para a aula do All Might implicando um com o outro por puro nervosismo. 

Kirishima acenou entusiasmado assim que entrei e me inteirou do que perdi nos últimos minutos, conseguimos finalizar o trabalho dentro do prazo. Espiei na direção do Katsuki com o Midoriya e ruborizei ao encontrar aquele vermelho-sangue me encarando de volta. Abaixei a cabeça, folheando o caderno numa tentativa de disfarçar o flagra.

Por que ele sempre me desmonta?!

Os comentários agitados do Izuku sobre o caso de estudo eram audíveis da minha cadeira, levando os meus pensamentos para longe novamente. A situação com Katsuki estava meio resolvida, mas não fiz esforço algum para abrir o jogo com o Midoriya...faltava coragem. 




Não estávamos nem na metade quando agradeci mentalmente por ter feito uma refeição leve antes de vir, quase vomitei depois do último soco que levei. Se já cheguei a considerar a Midnight como um desafio, a Mirko era um campeonato inteiro. Esvaziei a garrafa de água num gole e à minha esquerda, Bakugou parecia tão esgotado quanto eu.

Mirko nos mandou recomeçar o circuito de flexões e pranchas. Pelo fim dos exercícios, ela pediu que eu e o Katsuki nos enfrentássemos. Exausta, alonguei os ombros e sinalizei para darmos início. A noite trouxe uma espécie de névoa e diminuiu as minhas chances de acertar a corrente nele. Mirko se afastou conforme as explosões ecoaram, levantando fumaça pelo terreno.

- Quero que lutem sério- Mirko gritou e eu estalei a língua em irritação, desejando ter o meu bastão comigo- Porque ninguém brinca em serviço lá fora!

Se está preparada, as dificuldades não aparecem.

Desviei do AP shot por milésimos e parti para o ataque ao tirar sua visão. Preservaria o resto de energia que me restava; tinha a impressão que a audição de Katsuki estava danificada demais para reconhecer meu posicionamento no escuro.

Bakugou xingou, faíscas dançando em ambas as mãos. Balancei a corrente inutilizada e decidi testar a sorte num arremesso médio. Para a minha surpresa, Katsuki reagiu ao barulho a tempo e não consegui impedir o sorriso com a promessa de violência que brilhou em seus olhos. 

É disso que eu to falando.

- Tá me subestimando, garota?- Katsuki esbravejou, limpando o suor da têmpora.

- Jamais, Katsuki.- repliquei doce- Apenas testando o seu alcance!

- Quem tem problema com alcance aqui é você, porra!- Bakugou se ofendeu e atirou uma das bombas que guardava no bolso erroneamente- Não vai tirar minha visão pra sempre...e quando eu te pegar, você vai desejar não ter nascido.

- Mal posso esperar.- disse, recolhendo a corrente.

O cansaço do treino era mera memória diante da possibilidade de vitória. Focaria em combate físico e mostraria do que eu sou feita para a Mirko.   

- Merda, passei do horário.- Mirko surgiu no centro do campo- Vocês estão liberados por hoje.

Bakugou e eu nos entreolhamos frustrados com a ausência de resultado. Empatar não era bom o suficiente. Faz tempo que nos colocam para lutar em dupla...não um contra o outro. Assim, esperamos Mirko sair e não precisamos trocar uma palavra sequer para retomar a briga. 

Num acordo silencioso, deixamos as individualidades de fora e viramos uma bagunça de chutes e socos. Manter a disputa equiparada me custava cem vezes mais pelo tempo que perdi pós-sequestro; Bakugou parecia sentir essa desvantagem. Logo vacilei no intervalo de golpes e Katsuki não hesitou em usar a brecha para me derrubar na grama. 

- Te peguei, garota!- Bakugou me prendeu com o peso do seu corpo.

Com os rostos praticamente colados e as respirações ofegantes se misturando, a adrenalina que pulsava trazia à tona toda a tensão reprimida. Não conseguia mais fingir que estava satisfeita em saber que o sentimento era recíproco. Procurei algum vestígio de rejeição na expressão dele, que agora descia o olhar para a minha boca envergonhado, e tomei a iniciativa. 

Katsuki arfou com surpresa, mas correspondeu o beijo, seguindo os meus movimentos por puro instinto. Emaranhei meus dedos nos fios loiros molhados pelo suor e ele mordiscou meu lábio inferior, agarrando minha cintura com gosto. Eu literalmente derreti nos braços dele. 

Quando nos afastamos para recuperar o ar, a minha ficha caiu. Levantei do gramado e Bakugou remanesceu estático. Caralho, será que ele queria mesmo?  Abri e fechei a boca numa tentativa de me desculpar, só que não consegui falar nada. O desespero bateu e eu simplesmente corri, as articulações queimando a cada passo dado. Meu coração saltava conforme avancei na porta e tomei um susto com o Kirishima assistindo TV.

- E aí, Miranda!- Eijiro cumprimentou simpático.

- Kiri! Me diz que você tem chocolate.- perguntei, nervosa.

- Não...na verdade, o Bakugou me contou que você tem alergia.- Kirishima franziu as sobrancelhas em preocupação- O que aconteceu?

- Ele contou, foi? Que desgraçado.- soltei baixinho enquanto rondava o cômodo.

- Vocês estão passando muito tempo juntos mesmo.- Kirishima riu- Nunca te vejo xingar.

- Isso...não vem ao caso.- fugi do assunto, ruborizando.

- Porque você está agitada desse jeito? E toda descabelada?- Eijiro me fitou de cima a baixo.

- Eu tava treinando.- menti, balançando a cabeça em negação.

- Nossa, a Mirko pega pesado então.- Kirishima checou o relógio e eu concordei- Já são quase 10 horas, por que o Bakubro não voltou com você?

Meu Deus, eu deixei ele lá.

- Acho que to passando mal.- inventei uma desculpa para ir pro quarto.

- Quem vai vomitar?- Katsuki irrompeu pela porta como um furacão e eu voltei uns degraus.

- Ninguém.- me apressei a negar, cruzando os braços na defensiva.

- Quem devia vomitar era eu!- Bakugou semicerrou os olhos- Depois do que você aprontou.

- Não é o que você está pensando.- justifiquei, balançando a cabeça em negação.

- Gente, espera aí...eu tô muito confuso.- Kirishima ergueu as mãos- Alguém quer me explicar o que aconteceu nesse treino?

- Nada!- respondemos em uníssono.

- Tá bom, eu vou dormir.- Eijiro desistiu com um suspiro.




Bakugou passou reto por mim depois da conversa com o Kirishima e eu relutei contra a vontade de puxá-lo pela camisa para impedir. Queria esclarecer esse mal-entendido, porém, era melhor deixar a poeira baixar. Me livrei do traje de herói e liguei o chuveiro enquanto refletia. Aquele provavelmente foi o primeiro beijo dele...eu estraguei tudo indo embora. 

Ele chegar bem na hora que eu menti que ia passar mal foi a cereja do bolo. Larguei a toalha para entrar no banho, mas paralisei ao ouvir barulho de passos. Enrolei o pano sobre o corpo de novo, espiando a comoção pelo vão da porta. A pessoa caminhava pro banheiro e pelo tamanho do sapato, eu já sabia de quem se tratava. 

Cerrei o punho, sem acreditar na audácia do filho da puta. Destranquei a porta e esperei para ver até onde ele iria. Observei a maçaneta girar, meu sangue fervendo, e roubei a visão dele no mesmo instante que abriu a porta.

- Perdão! Eu juro que não faço mais, por favor não me machuca!- Mineta se colocou de joelhos, pateticamente- Você me bota pra fora e devolve a minha visão no corredor.

- Ah, eu vou devolver.- garanti e ele vestiu um semblante aliviado- Depois de te ensinar uma lição pra ver se você vira gente!

- Miranda, eu faço o que você quiser!- Mineta implorou, mas era tarde demais, a minha palma já estralava com toda a força pelo rosto dele- Aí aí...tá querendo me matar?!

- Quietinho, moleque.- ordenei, apontando o dedo na cara dele- To pensando se vou te reportar pro Aizawa ou pro diretor.

- Que porra tá acontecendo?- Katsuki apareceu, seguido por Momou, Uraraka, Tsuyu e Mina no encalce- Vim te chamar pra jantar e esse encosto tá ajoelhado aqui.

Chamar pra jantar? Tipo um encontro?

Não, que loucura, só descer pra comer.

- Pois é, mas relaxa que ele não veio propor casamento.- brinquei, ácida e Katsuki revirou os olhos- O Mineta veio me espiar no banho e levou uma surra.

- Bakugou, é você?- Mineta procurou pela voz dele- Eu não toquei na sua namorada!

- Não sou namorada dele.- neguei constrangida e as meninas se entreolharam.

- Cala a boca, sua uva estragada!- Katsuki ignorou o comentário e Mineta encolheu com medo de apanhar mais- Bateu nele o suficiente?

Assenti, prendendo a toalha com mais força, repentinamente consciente da cena. Uraraka percebeu e cutucou Momou, que agiu rápido ao ler o meu incômodo. 

- Bakugou, melhor você levar o Mineta pra fora. Vamos deixar a Miranda se trocar e conversar um pouco entre meninas...deixa que a gente assume daqui.- Momou coordenou e Katsuki não precisou de mais nada para arrastar o Mineta rispidamente.

Só consegui relaxar quando a porta bateu. Coloquei um pijama folgado e desabei na cama, envolta na segurança que estar somente com meninas me passava. Essa escola me mudou muito mesmo, há 1 ano eu nem sabia como agir com amizades femininas. Agradeci pelo apoio e elas enfatizaram que eu não precisava me preocupar com nada. Mina insistiu em secar o meu cabelo e Momou buscou uma máscara facial para passarmos. 

Acabei contando do tapa que dei no Mineta, gastando insultos no processo e fiquei tão atordoada que esqueci o quão faminta estava. Meu estômago roncou no meio do relato e Tsuyu saiu com Uraraka para buscar comida. Elas só foram embora depois que garantiram que eu estava calma o suficiente pra dormir. 




Bakugou

A desgraçada não saia da minha cabeça....a sensação de encostar nos lábios dela me consumia por inteiro. Eu via o seu rosto sempre que fechava os olhos e meu corpo não descansava. O episódio com o Mineta só serviu pra me condenar de vez, esbarrar nela de toalha foi demais.

Por sorte, a vontade que eu tinha de arrebentar aquele indigente era maior do qualquer coisa. Revirei os lençóis, inquieto, e levantei da cama. Peguei o celular da cômoda e mandei mensagem pra Miranda, pedindo que me encontrasse na cozinha agora. Não dava pra engolir essa história que ela me beijou e quis vomitar. 

Verifiquei se o corredor estava vazio e desci sem fazer muito barulho, Miranda chegou pouco depois. Estava enrolada num suéter roxo com uma calça quadriculada folgada, uma combinação bizarra que ela conseguia fazer funcionar.

- Oi, Katsuki.- Miranda cumprimentou baixinho e um arrepio subiu pela minha nuca.

Que caralho, ela só falou o meu nome!

Essa garota me quebrou.

- Oi.- cruzei os braços na defensiva- Você tá bem?

- To sim, as meninas me ajudaram.- Miranda escorou no balcão.

-  Vai reportar aquela praga, né?- ela fez que sim- Ótimo, quero mais que ele se foda.

- Eu também.- afirmou, convicta- Mas você não me chamou aqui pra falar do Mineta.

- Não.- cocei a garganta e cheguei mais perto dela- Eu...

- Olha, queria te pedir desculpa pela confusão no treino.- Miranda me interrompeu e eu fechei o semblante, não entendia qual era a dela- Fugir de você foi ridículo e eu gostei muito de te beijar, então a situação com o Kirishima foi um tremendo mal-entendido.

Miranda despejou as informações num só fôlego, nublando a minha mente com aqueles olhos exageradamente esverdeados. Quando a vi ruborizando por minha causa foi impossível raciocinar. Segurei o rosto dela e a beijei sem pressa dessa vez. Ela passeou pelas minhas costas, aprofundando o beijo, mas eu parei de sentir o seu toque. 

- Miranda...não to sentindo nada.- avisei, estranhando a sensação.

- Foi mal.- ela devolveu o meu tato- Acho que ativei minha individualidade sem querer.

- Por que você cheira a shampoo de bebê?- soltei com a testa franzida.

- Ah, glicerina é a única coisa que acalma minha pele em crises de alergia.- Miranda explicou devagar e voltou o foco para mim- O seu perfume tem um fundo de bambu, não tem?

- Aham.- engoli em seco com a aproximação dela- Não me beija.

- Por que, Katsuki?- provocou, sorrindo. 

- Porque você tem um efeito esquisito sobre mim!- recuei com o coração acelerado- O que a gente vai fazer, hein? 

- Eu não sei...você quer namorar?



Nota da Autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor <3


 Quem é vivo sempre aparece! Então, o primeiro cap do ano veio no último dia de janeiro.

- Será que eles vão namorar ou fugir do compromisso?! A Miranda tomando iniciativa em tudo foi o meu motivo do meu surto. Amei o beijo deles. 

Também tivemos a tão esperada surra no Mineta...porque promessa é dívida. Vocês pediram no começo da fic, quase 2 anos atrás, e cá estamos.  


Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams

link da playlist da fic na bio

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