17


Atravessar os portões da U.A com uma feição neutra foi uma das coisas mais difíceis da minha vida. Entregar qualquer emoção colocaria minha turma em risco...a Eri em perigo, e pioraria a situação da mãe do Bakugou. Acenei para Midoriya uma última vez e me convenci de que os veria novamente. No instante que pisei nas ruas desprotegidas, lembrei que não combinei um local de encontro com um suspiro. 

O medo se misturava com a raiva e adrenalina corria veloz pela minha corrente sanguínea. Aizawa entenderia a mensagem por trás de "emergência familiar", Midnight e ele são os únicos que sabem sobre a morte do meu pai. Andei metade de um quarteirão até avistar um moreno alto, coberto inteiramente de queimaduras suturadas num beco. Os olhos claros me cumprimentaram com um sorriso satisfeito e eu o segui com naturalidade, controlando as pernas trêmulas que ameaçavam me denunciar. 

Dabi...altamente perigoso.

Izuku anotou que ele manipula chamas azuis.

- Boa garota.- o vilão sussurrou antes de me empurrar pelo portal escuro. 

Fechei os olhos e apareci numa espécie de sala, cercada pelos membros da liga dos vilões. Suor frio escorria pelas minhas palmas conforme eu associava os rostos às informações que recebi e procurava por brechas na segurança, ainda não conseguia achar sinais de um refém.

- Onde ela tá?- demandei, incapaz de esconder a angústia.

- Já era hora, Dabi.- Shigaraki ignorou minha pergunta e a loira de uniforme escolar, Toga, riu empolgada- Quero testar a individualidade dela.

O sequestro foi uma encenação?!

Shigaraki sinalizou para que a Toga abrisse a porta e Twice, um homem mascarado num traje preto, surgiu acompanhado. A criatura que ele trazia era pior do que me descreveram. Algo vindo direto dos meus piores pesadelos, e caminhava diretamente para mim. 

- Não a mate.- Shigaraki ordenou áspero e eu engoli em seco.

Aizawa e Midoriya me avisaram dos Nomus, sobre a resistência absurda que ganhavam com as modificações, mas nada me preparou para encarar esses monstros num vestido rodado. 

Chega de desculpas, eu posso fazer isso.

Só preciso aguentar até que os reforços cheguem.

Eles podem estar mantendo a mãe do Bakugou em outro cômodo. Dabi me impulsionou para perto do Nomu e me obriguei a esquecer das desvantagens, precisava de uma mente limpa se quisesse ter alguma chance. Firmei meus pés em busca de estabilidade ao estudar seus movimentos e logo fui arremessada na parede. Ele era bem mais rápido do que eu antecipei. Pisquei atônita, esperando que fosse um erro de cálculo e desviei do soco que vinha com dificuldade, a dor era tanta que a minha respiração queimava. 

Como vou rebater?!  

Pressionei minha costela numa tentativa de aliviar meu fôlego e deixei que meu corpo reagisse aos próximos golpes. Sobrevivi a lutas importantes, fui treinada por heróis incríveis e não vou me render a ninguém sem uma boa briga. Foquei na defesa e usei a força do adversário contra ele. No entanto, sabia que essa estratégia não funcionaria por muito tempo e o Nomu se acostumaria com meu padrão de ataque.

Se usar direito, qualquer coisa pode virar uma arma.

Decidi tirar sua visão primeiro, usando os segundos de confusão para verificar os objetos disponíveis e parei na cadeira em que Shigaraki ocupava no começo. Vai ter que servir. Roubei sua audição para garantir total desnorteamento e me apressei a quebrar o móvel em suas costas. O rasgo no meu vestido ecoou com a manobra e eu franzi os lábios pela gastura, meus ouvidos tiniam pelo menor dos sons devido a sensibilidade dobrada.

Não vou durar muito sem o equipamento.  

Preciso de algo mais letal.

O Nomu, além de não recuar, agora tinha consciência do meu posicionamento. Ele foi rápido em girar o corpo na minha direção. Cerrei os punhos na frente do meu rosto e estabeleci uma barreira desajeitada, levando o impacto do soco em cheio. 

Xinguei ao errar a projeção do chute, porém, logo dei sequência à troca de golpes. Entre intermináveis minutos intercalando entre defesa e ofensiva, sentia que os meus ataques não estivessem causando dano algum. O Nomu tinha o dobro do meu tamanho e eu estava encurralada. Shigaraki, Toga, Dabi e Twice formavam um círculo ao meu redor, assistindo a minha ruína em cada ponta da sala. 

- Quando se está preparado, as dificuldades não aparecem.- murmurei baixinho para mim. 

Limpei o sangue que respingava da minha boca e ergui o queixo com uma confiança irracional. O Bakugou provavelmente riria disso. Expulsei o nome do pensamento e agarrei os destroços da cadeira, ignorando as farpas que atravessavam minha pele para fincar a madeira na sua cabeça. Em meio ao cansaço, devolvi os sentidos do Nomu por acidente e tive meu pulso torcido pela criatura. Suprimi o grito que ameaçou me escapar e me preparei para revidar com o outro braço.

- Ela é dura na queda.- Dabi elogiou com escárnio.

- Já vi o suficiente.- Shigaraki concluiu- Vamos sedá-la.

Twice soltou um lamento e uma comemoração simultaneamente. O Nomu praticamente congelou com sua declaração, Toga puxou uma agulha da saia e eu arregalei os olhos em pânico. Ficar inconsciente aqui é uma sentença de morte...preciso enrolar eles.

- Espera!- disparei e Toga pendeu a cabeça com meu pedido- Vocês não me perguntaram se eu me juntaria a liga dos vilões. 

- Você tem interesse em cooperar?- Twice iniciou doce e terminou impiedoso- Tem alguém com cara de idiota por aqui, caralho?!     

- Silêncio.- Shigaraki estalou a língua, removendo uma das mãos e meu coração ousou ter esperanças com o estrondo vindo do corredor- Nós temos companhia.




Bakugou

Ficar parado ia contra todos os meus instintos. Aizawa saiu há mais de 48 minutos, insistindo que era uma operação restrita aos profissionais e eu rondava meu quarto pela centésima vez. Os fragmentos do sequestro tornavam a situação ainda mais insuportável, não conseguia imaginar um cenário em que ela sairia viva. 

Eu quase não escapei. 

Se passasse mais um segundo nesse cubículo, iria perder a cabeça...então desci para a sala. No meio da escada, tive a infeliz realização de que não fui o primeiro a ter essa ideia. Era só o que me faltava. Cerrei a mandíbula e tentei recuar discretamente, mas era tarde demais.

- Kacchan, boa noite.- Deku cumprimentou preocupado- Teve alguma notícia da Miranda?!

- Não.- coloquei as mãos no bolso e ele franziu a testa- Você tem?

Que caralho, eu pedi informação pro inútil do Deku?! 

- N-Não.- ele negou, surpreso com a pergunta.

Revirei os olhos e estava prestes a voltar pro dormitório quando ouvi um ruído vindo de fora. Pulei alguns degraus e empurrei o Deku do caminho, escancarando a porta principal em segundos. Essa desgraçada ainda vai me matar. Miranda mal se aguentava em pé e parecia a protagonista de uma série apocalíptica com esse vestido rasgado. Isso sem mencionar os hematomas que cobriam a pele marfim e o cabelo manchado de sangue, não entendia mesmo como ela continuava bonita nesse estado. 

- Como você escapou?!- questionei atordoado.

O cansaço nos olhos esverdeados sumiu ao me encontrar, brilhando com uma euforia que apagou todos os pensamentos da minha cabeça. Ali eu tive certeza que estava fodido...me importava mais com ela do que com qualquer um na minha vida. 

Miranda pisou em falso e eu agarrei sua cintura antes que desabasse no concreto, meus batimentos dispararam conforme ela grunhiu em dor. Movi meu braço para o ombro e a deitei com o máximo de delicadeza que pude, apoiando sua cabeça no meu colo. Procurei por ferimentos graves e a respiração dela diminuiu drasticamente. Medi a sua pulsação, relaxando a postura ao confirmar que estava apenas desmaiada.    

- É melhor você acordar, garota.limpei um pouco do sangue seco no seu rosto- Te busco até no inferno se morrer agora.

- Meu Deus- Deku surgiu atrás de mim- Precisamos levar ela para Recovery Girl!

- Você fica.- ordenei, levantando a Miranda com cuidado, ele congelou- Avisa o Aizawa que estamos com ela.

- Bakugou! Ainda bem.- Hawks pousou na frente do alojamento, parecia ter corrido uma maratona- Ela precisa ir pro hospital.

- É o que eu estou fazendo.- retruquei impaciente, seguindo meu caminho- O que diabos aconteceu? Por que a Miranda apareceu aqui sozinha?

-  A Miranda queria passar num lugar antes do hospital e me driblou quando eu neguei.- Hawks coçou a nuca, desconcertado- Ela fingiu concordar, mas roubou meus sentidos e correu assim que paramos o carro.

- Você devia ter vergonha, velhote.- contive a risada e balancei a cabeça em negação, apesar de também estar impressionado.

- Eu não esperava que ela tivesse condições de fugir depois de enfrentar um Nomu.- Hawks enrijeceu a postura.

- Foi estupidez da parte dela.- comprimi os lábios, segurando-a com mais força.

- Realmente...ela deve se importar muito com você.- Hawks soltou e eu vesti um semblante confuso- Não querem que eu compartilhe isso com você e a Miranda provavelmente não vai contar, mas a liga usou a sua mãe como isca. A Toga conseguiu se transformar nela, sendo mais específico, e a Miranda não hesitou em cumprir com as exigências deles para salvá-la. 

Eu ainda estava processando a ideia dela ter vindo pro alojamento atrás de mim, não tinha condições de digerir que ela foi tão longe pela minha mãe. Hawks não tentou puxar assunto e foquei em levá-la até o hospital para me manter são. 




Miranda

Quando abri os olhos, estava devidamente coberta numa cama gelada e tive a impressão de ter acordado de um longo pesadelo. O ambiente hospitalar que me cercava, entretanto, descartou a possibilidade por completo. Fiz um esforço para me sentar e encontrei Aizawa conversando com um enfermeiro. Vê-lo desencadeou memórias da luta contra a liga dos vilões, me deixando consciente das bandagens espalhadas pelo meu corpo. 

- Ela acordou.- Aizawa interrompeu o homem e correu para o meu leito- Como está se sentindo?

- Bem.- disse com certa dificuldade.

O enfermeiro acionou uma senhora de jaleco, que se apresentou como médica do plantão, e logo começou a conferir meus sinais vitais.  

- Por quanto tempo eu apaguei?- perguntei, estranhando a garganta seca.

- Quatro dias.- Aizawa respondeu por ela e eu escancarei a boca- A turma vem dividindo os horários de visita comigo.

Imaginar os meus amigos arrumando tempo para isso fez com que algo no meu peito se aquecesse, eu não os merecia. Precisava agradecê-los pessoalmente.

- Já posso sair?- me direcionei para a médica.

- Você chegou aqui com várias fraturas e perdeu muito sangue no caminho.- a médica explicou metodicamente- A Recovery Girl conseguiu reverter o quadro, porém, requisitou duas semanas em repouso. 

- Tudo isso?!- reclamei com certa indignação. 

- Sim.- ela enfatizou e eu comprimi os lábios- Mas você pode terminar a recuperação no dormitório, vou receitar alguns remédios e te libero hoje à noite.

Relaxei os ombros e Aizawa passou a mão no topo do meu cabelo.

- Nunca mais faça isso.- Eraser me puxou para um abraço, cauteloso para não me machucar no processo e eu prometi pedir ajuda na próxima.

- Hawks deixou um presente para você.- Eraser estendeu uma caixinha e eu franzi as sobrancelhas- Disse que estava orgulhoso.

Rasguei a embalagem e me deparei com uma corrente, a nova arma que ele sugeriu durante o acampamento. Era bem parecida com a que o Scorpion usava no Mortal Kombat e o cabo estava personalizada nas cores do meu uniforme, abri um largo sorriso. 

- Você pode agradecer ele por mim?- Aizawa assentiu sereno.




Bakugou

Treinar sem ela era esquisito. Comer sozinho era pior ainda...e eu a odiava por ocupar tanto espaço na minha mente. Aquela maldita conversa com o Hawks embrulhava o meu estômago toda vez que eu via a sua cadeira vazia ou passava pelo sofá em que jogamos videogame. 

Apertei o hashi com mais força inconscientemente e acabei os quebrando no meio da refeição. Xinguei em frustração, decidindo subir para estudar quando o Deku passou correndo por mim. Estava pronto para gritar com ele, mas travei com o que ouvi.  

- Gente, a Miranda acordou!- Deku anunciou empolgado.

Finalmente, garota. 

Vozes se misturavam conforme ele dava mais informações para o resto dos figurantes e Aizawa entrou com Miranda no encalço. Dormia e acordava esperando por notícias do hospital, porém, não estava preparado para encará-la depois de tudo. 

- Que bom que você não morreu.- disparei por impulso e Miranda soltou um riso divertido.

- Ainda preciso virar número 1, Katsuki.- retrucou afiada.

O comentário deveria me irritar...mas a possibilidade de competir com essa desgraçada por algumas décadas me animava mais do que eu estava disposto a admitir. A sala pareceu esquentar e tive que cortar contato visual, notando a atenção da turma sobre mim. Fechei o semblante, me virando para tirar satisfação com os desocupados. 

- O que foi em, caralho?!



Nota da Autora:

não esqueça de votar e comentar, por favor <3


- Será que estamos caminhando para uma confissão ou eles vão negar até o último segundo?

- Me esforcei para trazer uma cena de ação decente, espero que tenham sentido um pouco dessa adrenalina com a Miranda e aproveitado as cenas fofas! Amo vocês, obrigada por lerem.

- Curiosidade: essa é a primeira capa com cor...talvez seja simbólico, hein.


Tiktok: japadreams | Insta: japa_dreams

link da playlist da fic na bio

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